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Projetos de internacionalização na comunidade lusófona

A internacionalização da pós-graduação brasileira como confluências de culturas no mundo lusófono: possibilidades

3. Projetos de internacionalização na comunidade lusófona

No Brasil a CAPES, fundação do Ministério da Educação, tem como ações permanen- tes oito planos de atividades, entre elas: avaliação, bolsas e cooperação internacional. O objetivo desta última é desenvolver as atividades da pós-graduação brasileira no contex- to mundial. A Cooperação Internacional da CAPES busca apoiar os grupos de pesquisa brasileiros por meio do intercâmbio internacional, buscando a excelência da nossa pós- -graduação. As ações são coordenadas pela Diretoria de Relações Internacionais (DRI).

Semelhante ao Brasil, em Portugal a FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – tem um programa específico que se destina a apoiar seletivamente atividades da comunidade científica e das suas instituições e a promover o seu desenvolvimento e internacionalização, este programa é o Fundo de Apoio à Comunidade Científica (FACC). Um destaque que a internacionalização tem, na nossa percepção a partir desta pesquisa, é uma clareza e um acento em vincular a internacionalização ao desenvolvimento socioeconômico do país, 5 . BRASIL. Ministério da Educação. CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- perior. PORTARIA Nº 59, DE 22 DE MARÇO DE 2017. Publicado no Diário Oficial da União. Secção 1, p. 51, 22/03/2017.

6 . BRASIL. Ministério da Educação. CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe- rior. Plano nacional de Pós-graduação 2011-2020. Brasília: DF: CAPES, 2010, p. 35.

assim, nos demais países da comunidade lusófona, destacamos a título exemplificativo, Angola, Moçambique e Macau.7

Fazendo um balanço acerca de ciência e tecnologia em Angola, o Professor Mario Fresta8, então Vice-Reitor para Assuntos Científicos da Universidade Agostinho Neto

(UAN), posteriormente Reitor em Exercício da UAN e, Vice-Presidente da Associação das Universidades de Língua (AULP); afirmou que “o estatuto remuneratório, as con- dições de trabalho e as condições sociais dos pesquisadores são absolutamente insufi- cientes.

Para ele, A Ciência, tecnologia e Inovação realizada em Angola “tem sido, de forma geral, escassa e fortuita, de qualidade variável, de discutível relevância e impacto socio- econômico.”

Ele diagnostica, “mesmo lá onde existem políticas públicas bem definidas, faltam os mecanismos de implementação eficazes, a boa gestão dos programas e projectos e o fi- nanciamento, digamos o financiamento possível, ainda que parcial. Quando a maior parte ou a totalidade do financiamento vem (aparentemente) do exterior, a CTI vai obedecer às políticas de origem desses mesmos fundos”.

Na época apontava os caminhos para superação do quadro – e que em nosso ver permancem atuais: “ é necessário (i) identificar os principais problemas nacionais poten- cialmente resolúveis pela CTI e seleccionar os prioritários; (ii) estabelecer a capacidade (existente ou mobilizável) de financiamento e alocá-la aos programas e projectos cientí- ficos aprovados; (iii) abrir concurso público, através dos respectivos editais, para os mes- mos; (iv) contratar as instituições que mais garantias derem de cumprir com os termos de referência e alcançar os resultados definidos; (v) e fazer o necessário acompanhamento, monitorização e avaliação, faseada e final”.

Em Moçambique quando na década de 80 do século passado, precisamente em 1986, em uma reunião com reitores de universidades, em Harare, (Zimbábue), o Banco Mundial considerou “o ensino superior em África como um luxo para o qual os países africanos não estavam preparados”9.

A partir dali e com as reconfigurações econômicas impostas pela nova ordem mundial que se estabelecera, começa-se uma drástica redução dos fundos públicos e institucionais para a pesquisa científica nos países afros, quantitativos estes que já eram baixo em face dos enormes problemas vividos por aqueles países e cujo decréscimo precariza ainda mais a premente formação de quadros científicos para pesquisa e ensino e afastando ou- tros docentes e pesquisadores para atividades mais rentáveis ou ainda, pela multiplicidade de atividades remuneradas, não poder aperfeiçoar a formação própria e se dedicar a for- mação do pessoal discente.

7 . PORTUGAL. Regulamento do fundo de apoio à comunidade científica (FACC) Diário da República, 1.ª série, N.º 41, 27 de fevereiro de 2015, p. 1246-(37). Disponível em <https://www.fct.pt/apoios/facc/regfacc>.

8 . ENTREVISTA: Prof. Mário Fresta. “O Estatuto Remuneratório, as condições de trabalho e as condições sociais dos investigadores são insuficientes...”. In: Ciencia.ao. Disponível em<http://ciencia.ao/k2-user-groups/ entrevistas>.

9 . CRUZ E SILVA, Teresa. Liberdade acadêmica e ensino superior em Moçambique. Maputo: S/N, 1990, p. 214, disponível em <www.codesria.org/img/pdf/Teresa¬_Cruz_e_Silva_17_May_2010.pdf>.

Nesses países, a tendência que cresceu foi a captação de fundos provenientes de doa- dores e/ou outros financiadores sem o envolvimento direto da universidade e, mais espe- cialmente, conforme a autora mencionada, “nas ciências sociais este padrão levou a um crescimento da individualização e do caráter semi-informal da pesquisa.10

Segundo Sawyerr, no artigo “African Universities and the Challenge of Research Capacity Development”11, o diagnóstico das universidades públicas moçambicanas no

contexto da situação que afeta grande parte das universidades africanas nos períodos pós- -meados de 1980 e inícios da década de 1990 se caracterizou pelo seguinte quadro: redu- ção de fundos institucionais para a pesquisa e a dependência crescente de financiamentos externos, que moldaram a pesquisa e o ensino e o fizeram nem sempre de acordo com os interesses de cada um dos países.

Por outro lado, do ponto de vista da produção científica, o que se observou, segundo tal autora, é que a atividade de pesquisa se tornou formatada e frequentemente geren- ciada por interesses e agendas externas, implicando “numa subalternização do papel do acadêmico africano transformado muitas vezes em produtor de informações e reprodutor de um conhecimento não menos vezes situado fora das realidades africanas”, com isso aprofundando cada vez mais o fosso entre ensino e pesquisa, com consequências graves para o desenvolvimento científico e tecnológico daqueles países visto que o diagnóstico em Moçambique pouco se diferencia do resto da realidade da maioria dos países do con- tinente africano, com raras exceções e ilhas de excelência.

Houve uma expansão universitária sem que para isso se tivessem criado condições para o funcionamento de novas instituições superiores, inclusive privadas. A autora men- cionada, em seu alentado estudo, aponta questões ligadas a absoluta falta de infra-estrutu- ra física em boa parte das novas faculdades, recursos humanos e meios auxiliares de tra- balho, como bibliotecas, laboratórios e modernos meios de comunicação, todos precários e docentes a maioria sem dedicação prioritária ao ensino e pesquisa e parte deles só com formação graduada, isto é, com licenciatura e sem mestrado, uma parte e sem doutorado, a maioria, o que implicou quase que como relação causal na queda progressiva e crescen- te da qualidade de graduados e pós-graduados colocados pelas universidades no mercado de trabalho, com todas as graves implicações que isso acarreta quer na reprodução do saber, no que concerne aos que vão lecionar, bem como nas profissões-fins (médicos, en- genheiros, advogados, enfermeiros etc, que não estarão devidamente instrumentalizados para um qualificado exercício da profissão pela qual optou.

Acerca de Macau, as informações contidas em artigo do historiador Wu Zhiliang, his- toriador e administrador da Fundação Macau, no qual discorre sobre a história e realidade dos periódicos em ciências sociais de Macau,12 permite-nos um quadro parcial da situação

da ciência e da pesquisa naquele território da China no qual se fala português.

Segundo ele, “a comunidade científica de Macau assume como sua missão servir a so- ciedade, o que mostra bem a qualidade do intelectual público”. E completa: “esta atitude

10 . Idem, p. 21.

11 . SAWYERR, A. African Universities and the Challenge of Research Capacity Development. In: Journal

of Higher Education in Africa. v. 12, n. 1, p. 213-242.

12 . ZHILIANG, Wu. A História e a Realidade dos Periódicos de Ciências Sociais de Macau. In: Revista

declarada de realismo e pragmatismo tornou-se numa tradição da investigação científica local nos últimos 20 anos”.

Hou Keng, a primeira revista científica de Macau, é uma plataforma de estudos vira- dos para a preparação teórica, face à transição de poderes em 1999, prestando alta atenção aos problemas do desenvovimento político, económico e social de Macau.

Os investigadores levam constantemente em consideração a reflexão do modelo de desenvolvimento e das políticas públicas, propondo, designadamente, sugestões e so- luções sobre assuntos e problemas económicos e sociais para melhorar e optimizar a definição das políticas.

Ele menciona que depois do estabelecimento da RAEM (A Região Administrativa Especial de Macau é constituída pela Península de Macau e por duas ilhas - Taipa e Coloane. Desde 20 de Dezembro de 1999, o nome oficial de Macau é “Região Adminis- trativa Especial de Macau da República Popular da China” (RAEM).) o governo apoia fortemente o desenvolvimento das ciências humanas e sociais, tendo as instituições tanto públicas como privadas, sobretudo as de ensino superior, promovido das mais variadas formas actividades de investigação científica, com o pessoal especializado a crescer, áreas a ampliar, conteúdos a aprofundar e nível a elevar-se cada vez mais.

Ele menciona que temos que reconhecer que o progresso de Macau depende em gran- de medida do apoio e da colaboração da China continental; assim, o desenvolvimento das ciências humanas e sociais também necessita da ajuda, cooperação e participação dos seus académicos.

Com a criação em 2003 do mecanismo formal de consultas e reuniões entre as pro- víncias do grande Delta do Rio das Pérolas e as RAEs, a comunidade científica de Macau reforçou o intercâmbio e a cooperação com o exterior, destas resultando bastantes estudos com peso e impacto.

4. Considerações finais: a AULP como espaço propício para o diálogo e interna-