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UFPA no circuito da cooperação Sul-Sul: internacionalização, integração regional

e políticas institucionais

Gilmar Pereira da Silva, Marcelo Galvão-Baptista, Ronaldo Marcos Lima Araujo e Hilton P. Silva

Universidade Federal do Pará - UFPA, Brasil

Jacqueline Cunha da Serra Freire

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB, Brasil

Introdução

A Universidade Federal do Pará (UFPA) é a maior instituição pública de ensino supe- rior na região amazônica. Fundada em 02 de julho de 1957, a UFPA celebra 60 (sessenta) anos no corrente ano de 2017.

A Amazônia é marcada por sua complexa e dinâmica realidade econômica, política, social, cultural e ambiental, constitui-se de uma região de aproximadamente 7,5 milhões de km² e integra 9 (nove) países em sua dimensão de Pan-Amazônia ou Amazônia Inter- nacional, que são: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

A região amazônica abriga em sua vasta extensão territorial a maior floresta tropical do mundo, a maior bacia hidrográfica do planeta, a maior reserva de biodiversidade e banco genético do mundo, e uma das mais ricas províncias minerais existentes na Terra, tendo o seu presente e futuro pautado como questão de interesse mundial nos mais diver- sos e altos foros políticos e científicos do mundo, pela importância da Amazônia na regu- lação do clima no planeta, abundância de recursos naturais, desafios do desenvolvimento sustentável na perspectiva de explorar tais recursos sem destruição (ARAGON, 2014).

Baixos índices de desenvolvimento humano na Amazônia contrastam com a vastidão de suas belezas, riquezas e sociobiodiversidade. Historicamente os indicadores sociais da região têm sido inferiores aos de outras partes do Brasil. O Índice de Progresso Social (IPS) Amazônia1, derivado do recente Índice de Progresso Social (IPS)2, possibilitou não

mais avaliar o progresso social da região exclusivamente a partir de indicadores econômi- 1 . Originalmente concebido para abranger a escala global, há iniciativas nacionais e subnacionais emergindo, em que se destaca o IPS Amazônia, promovido pela rede Progresso Social Brasil e liderada pelo Imazon em parceria com a SPI na Amazônia Legal, abrangendo os nove estados que compõem a Amazônia Legal no Brasil – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins. Tal iniciativa vem ao encontro das questões formuladas pelo IPS Global e recorre aos mesmos métodos estatísticos, buscando, no entanto, contextualizar e refletir sobre a realidade social e ambiental da região amazônica.

2 . O IPS, lançado em 2013 pela Social Progress Imperative (SPI) - http://progressosocial.org/ -, avalia o progresso social dos países por meio de um modelo matemático que agrega uma ampla variedade de indicadores sociais e ambientais recentes e de fontes públicas e fidedignas (SPI, 2014a). O índice se diferencia de outras medidas de desenvolvimento como o IDH e o Produto Interno Bruto (PIB) principalmente por excluir variáveis econômicas no seu cálculo e incluir apenas indicadores sociais e ambientais. O relatório global do IPS 2014 avaliou 132 países a partir de 54 indicadores (SPI, 2014a). (http://imazon.org.br/PDFimazon/Portugues/livros/ IpsAmazonia2014.pdf, p. 12).

cos, para incorporar também indicadores sociais e ambientais. O IPS médio da Amazônia de 57,31 revelou que é inferior ao da média nacional, de 67,73. Comparada com outras regiões do Brasil, a Amazônia apresenta um IPS inferior em todas as dimensões – Neces- sidades Humanas Básicas; Fundamentos para o Bem-estar; Oportunidades – e em quase todos os componentes3 de cada dimensão.

No contexto amazônico, historicamente, a internacionalização e a integração regional têm sido elementos constitutivos das políticas institucionais da UFPA, razão de no pre- sente artigo a centralidade da discussão enfocar algumas das experiências e perspectivas dessa Instituição no circuito da cooperação Sul-Sul, sendo o objetivo geral do estudo analisar a internacionalização, integração regional e as políticas institucionais implemen- tadas pela UFPA, com ênfase na cooperação Sul-Sul no contexto da América Latina e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Metodologicamente, o estudo está referenciado na pesquisa descritiva, como abor- dada por Cervo et al (2007), e apoiado em revisão de literatura e análise documental. Lakatos e Marconi (2003) argumentam que o primeiro passo da investigação científica contempla dois enfoques principais, que são a pesquisa documental e a bibliográfica, sendo a primeira aquela em que se recorre a fontes primárias e a segunda, a fontes se- cundárias como marcantes. A análise de documentos, a exemplo de projetos, relatórios, Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), entre outros, aliada a estudos científicos de pesquisadores sobre a Amazônia, são a base do presente estudo.

Na perspectiva da consecução do objetivo geral proposto neste estudo, elegeu-se con- siderar algumas experiências prioritárias para registro e análise por parte de quem tiver interesse no assunto, situadas entre as décadas de 1980 e o momento presente, nomeada- mente a criação da Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais (ARNI) que, pos- teriormente, originou a Pró-Reitoria de Relações Internacionais (Prointer); a participação na Associação de Universidades Amazônicas (UNAMAZ); a criação da Casa Brasil-Áfri- ca (CBA) e da Cátedra Brasil-África de Cooperação Internacional; a cooperação bilateral com Cabo Verde; o envolvimento no Programa de Alianças para a Educação e a Capaci- tação (PAEC), criado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em parceria com o Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB) e o Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI/Capes).

Sinteticamente relatadas, tais experiências estão situadas na confluência de discussões teóricas sobre internacionalização da educação superior e da Cooperação Sul-Sul (CSS), evidenciando, em termos de resultados e à guisa de conclusão, a importância de redes de cooperação bi e multilateral para o fortalecimento das atividades fins de ensino, pesquisa e extensão, ancoradas no tripé qualidade acadêmica – pertinência social do conhecimento – interculturalidade.

3 . Os componentes da Dimensão 1 “Necessidades Humanas Básicas” são Nutrição e Cuidados médicos bási- cos, Água e saneamento, Moradia e Segurança pessoal. A Dimensão 2 “Fundamentos para o Bem-estar” inclui os seguintes componentes: Acesso ao conhecimento básico, Acesso à informação e comunicação, Saúde e bem- -estar, Sustentabilidade dos ecossistemas. A Dimensão 3 “Oportunidades” contempla os componentes Direitos individuais, Liberdade individual e de escolha, Tolerância e inclusão, Acesso à educação superior.

Internacionalização e Cooperação Sul-Sul no Contexto da Educação Superior: apontamentos teóricos e contextuais

O processo de internacionalização das universidades é elemento constitutivo de sua natureza institucional no Ocidente, num contexto em que historicamente emerge como uma comunidade acadêmica internacional motivada e mobilizada pela nova forma de co- nhecimento representado pela instituição universitária europeia em tempos medievais do século XI. Verger (1999) aborda em seu estudo que era comum a presença de “repúblicas” como espaço para albergar estudantes estrangeiros que circulavam entre universidades na Europa, que desde 1088 já contava com a reconhecida primeira instituição, a Universida- de de Bolonha, na Itália.

Ao abordar a história das universidades em sua obra, Charle e Verger (1996) eviden- ciam que a instituição universitária no Ocidente emerge e se desenvolve sob o signo da internacionalização. Os autores traçam uma historiografia desde o século XI ao momento contemporâneo e evidenciam que a circulação internacional, é marcante na instituição universitária.

A polissemia conceitual é um traço marcante no debate sobre internacionalização. No estado do conhecimento produzido por Morosini (2006) sobre internacionalização da educação superior, a autora aborda diversas conceituações, entre as quais a dimensão internacional marcante no século XX e que se configura mais incidental do que organi- zada; a educação internacional relacionada à razões políticas e de segurança nacional no contexto norte americano entre a 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria; a internacionalização da educação superior como formulação pós Guerra Fria e mais recentemente expressão de estratégias no bojo da globalização e regionalização das sociedades.

Nessa perspectiva polissêmica, convém também situar a abordagem de Knight (2005), que argumenta serem muitos os conceitos em torno da internacionalização, perpassando simultaneamente pelo menos três tipos muito diferentes de atividades transnacionais: projetos internacionais de desenvolvimento; comércio e parcerias internacionais; e em- presas e o comércio internacional. Para a autora, a repercussão na educação superior implica reconhecer que o conceito é mutante e entre países e regiões assume significados específicos.

Objetivando melhor situar o debate sobre internacionalização, suas conceituações e implicações, Knight (2004, 2005) explicita definições referentes ao ensino superior ou pós-secundário; instituições de ensino superior e provedores; a distinção entre interna- cional, transnacional e mundial; globalização; os diferentes níveis – nacional, setorial e institucional – ou o país, o setor e o estabelecimento; a cooperação internacional (vertical e horizontal) (FREIRE et al, 2017).

O fenômeno da globalização4, reconhecido por Knight (2004, 2005) como processo

de múltiplas e aceleradas transformações mundiais nas décadas recentes, reverbera sig- nificativamente na educação superior em escala planetária. Nesse contexto, argumenta a autora que se destacam cinco elementos do processo de mundialização que repercutem no ensino superior e na dimensão internacional da universidade: a sociedade do conheci-

4 . É mister uma compreensão crítica sobre a questão da globalização, sendo a abordagem de Ianni (1992, 1995) sobre o tema importantes aportes teóricos.

mento; as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs); a economia de mercado; a liberalização do comércio; a governança (KNIGHT, 2005).

Situado nesse contexto da chamada globalização, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) realizou duas Conferências Mundiais de Educação Superior (CMES), em que a questão da internacionalização assume impor- tância e centralidade, respectivamente em 1998 e 2009.

Na CMES de 1998, a Unesco constituiu quatro Comissões para subsidiar os debates em nível mundial e regional, entre as quais destaca-se uma com foco na Cooperação Internacional, contribuindo assim para que na Declaração Mundial sobre Educação Supe- rior no Século XXI: Visão e Ação fosse incorporado o pressuposto de que a cooperação e o intercâmbio internacionais são fundamentais para proporcionar o necessário e indis- pensável avanço da educação superior em todo o mundo. No Artigo 15 da Declaração, o compartilhar conhecimentos teóricos e práticos entre países e continentes é um dos fundamentos da visão à ação, devendo ser perpassado pelo princípio de solidariedade e de autênticas parcerias entre instituições de educação superior, em que a democracia e a interculturalidade, o domínio de línguas, o fomento de intercâmbios, reconhecimento e apoio mútuos, ratificação e implementação de instrumentos normativos regionais e in- ternacionais relativos ao reconhecimento de estudos, entre outros elementos, devem ser parte integrante de todos os sistemas de educação superior.

Na Declaração “As Novas Dinâmicas do Ensino Superior e Pesquisas para a Mudan- ça e o Desenvolvimento Social” resultante da CMES de 2009, a questão da internacio- nalização assume importância maior ainda em relação à CMES de 1998, traduzida em uma seção inteira dedicada ao assunto intitulado “Internacionalização, Regionalização e Globalização”, assim como uma seção voltada para a “Educação Superior na África”. É afirmado na Declaração que “a Cooperação internacional na educação superior deve ser baseada na solidariedade e no respeito mútuo, além de na promoção de valores humanís- ticos e diálogo intercultural” (UNESCO, 2009, p. 4).

No contexto da discussão sobre a UFPA no circuito da Cooperação Sul-Sul (CSS), in- ternacionalização, integração regional e políticas institucionais, objeto do presente artigo, convém resgatar alguns elementos contextuais e conceituais sobre CSS.

Importa conceituar CSS e recorre-se a Souza (2014, p. 12), para quem é “[...] uma relação de benefícios mútuos, horizontalidade e maior participação e controle local dos recursos; e serve ao propósito político de distinguir o fenômeno que ocorre no âmbito Sul-Sul daquele verificado há mais tempo e em extensão maior no âmbito Norte-Sul”.

O contexto do pós Guerra Fria é base da CSS, reconhecida como uma das tendências de destaque no bojo da ascensão econômica e política que reconfigurou as relações do Sul-global, esse último abordado por Pino (2014, p. 57) como sendo uma designação “[...] simbólica para denominar uma ampla gama de nações em desenvolvimento, diversifica- das em suas histórias, origens e tradições, com múltiplos enfoques no que se refere ao poder, à cultura ou à identidade”. O autor faz importante contextualização sobre CSS em seu estudo e situa o Sul-global.

A discussão conceitual e contextual ora abordada é importante pano de fundo para compreensão da experiência da UFPA no que tange à política de internacionalização, em que o diálogo Sul-Norte e Sul-Sul tem sido a tônica, merecendo atenção, nesse artigo, o

circuito da Cooperação Sul-Sul (CSS) no contexto da integração regional com a América Latina, especialmente com a Pan-Amazônia, a cooperação com a África e a interface com Portugal a partir da formação de professores.

UFPA: políticas institucionais de internacionalização, cooperação Sul-Sul e de integração regional

A trajetória histórica da UFPA em seus 60 anos de existência é marcada, indubitavel- mente, por contribuições significativas e marcantes no desenvolvimento científico e tec- nológico da Amazônia. As políticas institucionais implementadas principalmente a partir de 1985, ano em que a UFPA tem seus primeiros Dirigentes – Reitor e Vice-Reitor – esco- lhidos democraticamente pela comunidade acadêmica no contexto de redemocratização do Brasil pós Ditadura Militar, terá na internacionalização, na Cooperação Sul-Sul e in- tegração regional com a América Latina, especialmente com os países da Pan-Amazônia, pilares importantes da Universidade.

Na gestão acadêmica, no período de 1985 a 1989, destaca-se o pioneirismo da UFPA na criação da Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais (ARNI). Na análise do- cumental empreendida, constata-se que a ARNI emerge sob o signo da cooperação Norte- -Sul e Sul-Sul. Em matéria publicada no Jornal “Beira do Rio”5 (UFPA, 1985) é afirmado

pela primeira coordenadora da ARNI:

... há duas óticas básicas através das quais a cooperação internacional pode se dar na UFPA. Uma é relativa à cooperação com centros e universidades de países centrais industrializados, inserida na chamada relação Norte-Sul (países centrais X países periféricos). Num segundo nível, as relações internacionais Sul-Sul (en- tre países periféricos). (UFPA, 1985, p. 3).

É nesse contexto que a UFPA assina seu primeiro Protocolo de Intenções de Coopera- ção Científica e Tecnológica, no caso com a Colorado School of Mines, no ano de 1985, que possibilitou a realização de intercâmbios entre as duas instituições e investimentos na formação de pesquisadores (UFPA, 1985, p. 3). No âmbito da CSS destaca-se como uma das primeiras iniciativas institucionais a implantação da Casa de Estudos Latino- -americanos, em janeiro de 1986. (UFPA, 1986, p. 5).

Na perspectiva de aprofundamento da CSS, é criada em 1987 a Associação de Univer- sidades Amazônicas (UNAMAZ), a partir de recomendações do Seminário Internacional “Alternativas de Cooperação Científica, Tecnológica e Cultural entre Instituições de En- sino Superior dos Países Amazônicos” (SITAM)6, que aglutinou cientistas, professores

e pesquisadores dos oito países do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA)7. É nesse

contexto que emerge a proposta de se criar um organismo catalizador de esforços comuns 5 . Jornal Beira do Rio-Jornal do Campus, Órgão Informativo da Universidade Federal do Pará, Ano I-Nº 1. 6 . O SITAM foi promovido pela UFPA, por meio de sua Assessoria Especial de Relações Nacionais e Inter- nacionais (ARNI).

7 . Em sua Dissertação de Mestrado, Antiquera (2006) faz importante análise sobre o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) e sua transformação em Organização Internacional (1978-2002), no contexto de discussão sobre a Amazônia e a política externa brasileira.

para impulsionar a produção de conhecimento sintonizado com as necessidades de de- senvolvimento sustentável na região amazônica, fortalecer a cooperação das instituições amazônicas de educação superior e fomentar a melhoria da qualidade no processo de formação de pessoas na região.

Essa Associação foi configurada institucionalmente como uma agência multilateral de cooperação, estatutariamente organizada como uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter acadêmico e científico-tecnológico, com os objetivos de integração regional das universidades e instituições de pesquisa dos países amazônicos, traduzidos em múlti- plas formas de cooperação científica, tecnológica e cultural.

Contando com a assistência técnica da Unesco8, a Unamaz implementou um Progra-

ma Interuniversitário para a Cooperação Amazônica (Programaz) centrado em projetos de educação superior, de pesquisa e de extensão, na perspectiva do fomento da coope- ração científica; tecnológica e cultural entre os países do TCA. As áreas de atuação da Unamaz estiveram focadas em Educação e Cooperação para o Desenvolvimento, Popula- ções Humanas, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Cultura. Lourenço (1992) em seu estudo aborda programas, projetos e estrutura da Unamaz. No livro resultante da III Con- ferência Internacional Amazônia 21: logros para una agenda sustentable e VII Asemblea da Unamaz (2000) há importantes estudos analíticos da experiência dessa organização e das múltiplas ações e cenários prospectivos.

A criação da Casa Brasil-África (CBA), proposta por iniciativa do Grupo de Estudos Afro- -Amazônico (GEAM), foi institucionalizada na UFPA por meio da Portaria nº 3313/2006, tendo sido lançada inicialmente em dezembro de 2006, passando a ser a segunda Casa criada em universidades federais brasileiras à época. O apoio de segmentos da comunidade acadêmica e de movimentos sociais negros e afro-religiosos à iniciativa da UFPA merece destaque. Posteriormente, em setembro de 2009, a UFPA lançou a Cátedra Brasil-África. Destacam-se entre as finalidades da CBA e da Cátedra a promoção de intercâmbio científico, técnico e cultural entre a UFPA, instituições e sociedade civil dos países do continente africano; estimular atividades que visem ao desenvolvimento da cooperação mútua Brasil países da África; difundir a língua portuguesa e a cultura brasileira nos pa- íses africanos e a cultura africana no Brasil; apoiar os estudantes africanos e afrodescen- dentes em suas atividades acadêmicas e culturais na UFPA e fomentar sua participação em todos os espaços institucionais; propiciar às comunidades quilombolas um espaço de intercâmbio entre a Universidade, a sociedade civil organizada e suas demandas.

No estudo sobre redes de colaboração e pesquisa internacional com os países lusófo- nos, Silva et al (2014) analisam a importância da cooperação internacional universitária e da inserção da UFPA nesse processo, bem como descrevem o contexto do surgimento e das atividades da CBA e o estabelecimento de parcerias entre a UFPA e a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), em especial as realizações feitas entre 2009 e 2013, constituindo- -se numa importante contribuição para a memória da Universidade.

8 . Para além da assistência técnica da Unesco, a Unamaz contou com a parceria e financiamento do Conse- lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Capes, FlNEP, Fundação Ford, Fundação Rockefeller, World Widelife Fund -WWF, Environmental Defense Fund, International Research Center -IOCR, FAO, PNUMA, Universidade das Nações Unidas -UNU, Communautés Europénnes -CEE, Centre National de la Recherche Scientifique -CNRS, e mais particularmente OEA, UNICEF.

O acolhimento, apoio e fomento de atividades acadêmicas com estudantes do Progra- ma de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G)9 tem sido uma das marcas de atuação

da CBA. Registra-se a presença de estudantes oriundos de países africanos, a exemplo de Angola, Benim, Cabo Verde, Gana, Guiné-Bissau, Moçambique, República Democrática do Congo, República dos Camarões, São Tomé e Príncipe. Para além de países africanos, a CBA tem atuado na perspectiva da integração internacional dos estudantes afrodescen- dentes e aglutinado em suas atividades jovens na diáspora na UFPA oriundos de países da América Latina e do Caribe, a exemplo de Cuba, Haiti, Jamaica, Peru, Trinidad Tobago.

É histórica a aproximação entre Brasil e África10 no contexto da cooperação inter-

nacional. Saraiva (2012) apontara a intensificação dessa relação nas últimas décadas, a partir do registro da presença de 37 Embaixadas e Missões brasileiras permanentes no continente africano em 2011, em contraponto às 17 existentes no início da década 2000.

A política externa brasileira tem-se reconfigurado ao longo das décadas recentes. Data da década de 1960 a aproximação entre o Brasil e a África, analisada por Saraiva (2012) sob o prisma do atlantismo, que para o autor transitou desde a economia do tráfico de pes- soas para o discurso de (re) valorização da cultura afro-brasileira; a ênfase geopolítica do atlantismo sob a égide da Ditadura Militar preocupada com a ameaça comunista em tem- pos de luta por libertação nos países africanos com o apoio de Cuba e de países do leste europeu; seguidos de atlantismo dos interesses diplomáticos e econômicos-comerciais; e, por último, o atlantismo sob o signo da Cooperação Sul-Sul, refletindo com isso “novos” conceitos, políticas, estratégias e práticas.

A cooperação Brasil e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) é sin- teticamente contextualizada por Galvão-Baptista et al (2017) no estudo sobre a experiên- cia recente do Mestrado em Segurança Pública implementado em parceria entre a Uni-CV e a UFPA.

Embora recente, a experiência referida que aponta a cooperação bilateral da UFPA com Cabo Verde, remonta ao final da década de 1970 e início dos anos 1980, em que es- tudantes daquele país arquipelágico na África estiveram inseridos na UFPA no contexto do PEC-G. A partir de então, foi permanente o fluxo de estudantes cabo-verdianos para essa Universidade.

É a partir de trocas de missivas entre as duas universidades e autoridades de Cabo Verde, no entanto, que se dá a assinatura de um Protocolo da UFPA com a Direção-Geral do Ensino Superior de Cabo Verde, sem, no entanto, prosperar. É no ano de 2009 que a