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Idosos deiam para trs o sedetarismo e a solido para ivestir em atividades de lazer

No documento Revista Múltipla (páginas 54-57)

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Em uma quinta feira chuvosa, trinta idosos trocam gargalhadas e passos de dança ao som da dupla sertaneja Rony e Roniele. Nesse ambiente, no centro de Belo Horizonte, também há uma mesa repleta de frutas, bolachas, bolo de chocolate e re- frigerante. Ingredientes de uma receita de- liciosa: a amizade. Regada a descontração e passeios, a amizade é o sentimento que motiva as reuniões semanais do Grupo de Convivência Amigos Melhor Idade. “Nos- sos passeios são diferenciados, por isso os especiais são lotados. A gente brinca, tem pagode, uma programação cultural inten- sa. Ninguém gosta de ficar parado!”, exalta um dos fundadores do grupo, o senhor Il- mar Costa, que já vendeu quase todas as vagas da excursão de carnaval para o lito- ral do Espírito Santo.

Para a atriz e dançarina Arlete Luiz de Barros, 60, o Amigos é uma família. A artista começou a carreira aos 40 anos e atualmente é voluntária no grupo. Com um sorriso animador e um semblante tranquilo, Arlete conta que seu trabalho é distrair e divertir os outros, além de ajudar. Tudo com muito amor e carinho. “Se todo mundo tivesse carinho com as pessoas, não só com os idosos, o mundo seria melhor”, observa a atriz.

Arlete de Barros revela que várias pes- soas do grupo nunca tinham entrado em um ônibus de viagem e agora têm a opor- tunidade de ir para a praia e dançar ao som de música ao vivo. “As viagens são muito tranquilas, os mais ‘novos’ e fortes ajudam os outros. Se forem dançar e o salão estiver muito cheio a gente abre para o mais idoso dançar”. Para a atriz, o que faz uma pessoa ficar velha é a tristeza

e a angústia, por isso a animada dançarina “pretende levantar muita gente”.

A solidariedade entre os idosos é uma característica desta faixa etária. “É interes- sante ver como eles se preocupam uns com os outros e ajudam no nosso trabalho, pois avisam se alguém não está presente ou se não se sente bem”, destaca a guia turística Cássia Amormino Rocha. Para a guia, a pontualidade, o respeito com o profission- al e o interesse que os idosos demonstram em aprender sobre a história do local e as peculiaridades das regiões são algumas das vantagens de trabalhar com estas pes- soas.Bengala, cama, solidão e sedentarismo não são termos associáveis a estes idosos. Nos últimos anos, a terceira idade tem se consolidado como uma faixa etária ativa que, mesmo com alguma limitação, tem plena capacidade de realizar atividades interativas. A expectativa de vida saltou de 30 anos em 1900 para 73 anos em 2009. Mas essa longevidade nem sempre é per- feita e sem dificuldades. Ainda há o estig- ma de que o idoso deve ficar enclausurado em casa, sem autonomia e, muitas vezes, infantilizado pela família.

É nesse ambiente que as atividades de lazer entram em cena e contradizem velhos conceitos. Segundo a gerontóloga Marília Oliveira Santos, 38, as atividades recreativas são um dos fatores respon- sáveis pela sociabilização, auto-estima, saúde física e psicológica dos mais velhos. A depressão, vista por muitos especialis- tas como o “mal do século” para a terceira idade, pode ser amenizada com as ativi- dades de lazer.

A participação em viagens insere este

Itegrates do Grpo de covivêia “Amigos Melhor Idade”: viages, lazer, diverso e sade

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O público em um meio em que se sentem

capazes, tornando-os mais seguros em suas atividades cotidianas. Grande parte dessas pessoas apresenta melhoras sob males comuns à terceira idade como, por exemplo, a depressão. É o que relata a sen- hora Maria das Mercês Silva Ferreira, 81, que, após uma viagem com uma empresa especializada em turismo para a terceira

idade, livrou-se da depressão. “Por dentro, todos nós que temos acima de 60 anos, temos é 16. Sentimos uma alegria que não tivemos a oportunidade de sentir no pas- sado”, enaltece Maria.

A professora de português Maria Mo- rais, conhecida como Naná, esbanja um olhar encantador, formado por belos olhos azulados. “Eu viajo somente nos passeios de curta duração. Quando é para dormir eu não vou, pois não gosto de passar a noite fora de casa”. Já sua vizinha Clarice Ma- fra Macedo é extremamente vaidosa. Com

joias e maquiagem a tiracolo, apresenta um vasto currículo de viagens, já que não tem outras preocupações. “Viajamos para o Brasil todo, de Norte a Sul. Fomos de avião para Porto Alegre, Gramado, Santa Catarina e Camboriú”.

Cuidados especiais Cuidados especiais

Apesar de serem organizadas e tra- zerem benefícios, as viagens normalmente são feitas sem a presença de um profis- sional de saúde. A maioria das agências de turismo alega que a contratação invia- bilizaria o preço da viagem. A ausência desse serviço é sentida por alguns idosos, como a dona de casa Maria das Dores Per- digão, 74, integrante do grupo Amigos. Ela viaja, normalmente, de 5 a 6 vezes por ano e conta que esses passeios algumas vezes são marcados por acontecimentos imprevisíveis: um amigo dela faleceu na volta de Aparecida do Norte. Eles estavam próximos à cidade de Oliveira e não havia nenhum profissional da saúde.

Entretanto, é comum empresas terem fichas que apresentam um histórico de saúde dos idosos. Assim, alguns cuidados são peculiares ao convívio com esse pú- blico: evitar quedas, passeios por lugares planos, prática de alongamentos, uso de bonés, sapatos leves, ter sempre uma gar- rafa de água por perto e lembretes refe- rentes a medicamentos com hora marca- da.

O público da terceira idade possui uma notória carência afetiva. Por este motivo, as empresas devem estar preparadas para ter sempre atendentes disponíveis para um bate-papo antes, durante e depois do fechamento de algum negócio.

Conversar é realmente uma das ativi- dades com que o idoso mais se identifica. A aposentada Lourdes Conceição Santana, 74, mora no bairro João Pinheiro, em Belo Horizonte, e para conviver com pessoas da mesma faixa etária freqüenta, em Conta- gem, o grupo Bem Viver. “Sempre viajo com o pessoal da terceira idade. Aparece uma oportunidade e vou embora”, comen- ta dona Lourdes, que não dispensa novas amizades e ambientes diferentes. “Gosto de ficar livre, de bate-papo e das reuniões de dança”.

A sorridente senhora, que sempre gos- tou de seresta e forró, está ligada às ativi- dades proporcionadas nas viagens. “Uma vez participei de um bingo que tinha três celulares e eu ganhei um. E olha que era de uma operadora boa”, comemora. Em uma das viagens, Lourdes se lembra de uma co-

“Gosto de car livre, de bate-papo e das

reuniões de dança”

Lordes Sataa

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incidência prazerosa. Conheceu um sim- pático senhor de 94 anos, que ao contar as histórias sobre a cidade de Contagem, descobriram que a mãe de Lourdes era prima dele.

Assim como Lourdes, existem 15 mil- hões de brasileiros que estão na melhor idade, o que equivale a 8,6% da popu- lação. Segundo estatísticas, este número poderá dobrar daqui a 20 anos. Em Mi- nas Gerais, aproximadamente 2 milhões de indivíduos já se encontram na terceira idade, ou seja, têm mais de 60 anos.

Além de Caldas Novas, as estâncias minerais, Aparecida do Norte e Holambra, na época da festa das flores, são alguns dos destinos mais visitados. Locais como hotéis fazenda, museus, igrejas e cachoei- ras também recebem a atenção dos idosos. Normalmente as empresas de viagens di- videm essas pessoas em dois grupos: os que têm idade entre 65 e 70 anos, que preferem atividades que requerem movi-

mento como caminhadas, hidroginástica, passeios, danças; e o outro grupo, entre os 70 e 90 anos que, muitas vezes, querem apenas tranqüilidade.

Condições nanceiras Condições nanceiras

A prática de viajar entre os idosos deve-se a uma série de fatores como, por exemplo, disponibilidade de tempo e de capital, uma vez que grande parte desse contingente já encerrou ou diminuiu os gastos que antes destinavam a outros se- tores da economia. Outro ponto impor- tante é a maior conscientização por parte desse público no que se refere à importân- cia da atividade física e do lazer como fa- tores que contribuem para uma melhor qualidade de vida. Cada vez mais, a ina- tividade e o sedentarismo são criticados pelos especialistas e médicos. Isso permite que o turismo se destaque como uma al- ternativa não somente de lazer, mas tam- bém, de saúde.

Entretanto, nem todos os idosos pos- suem condições financeiras para viajar. “Tem muito aposentado que está atolado por causa de dívidas com viagens”, alerta a diretora do sindicato dos pensionistas Luiza Martins. Para ela, é inadmissível que a lei federal do estatuto do idoso forneça descontos para viagem somente para quem ganha um salário mínimo. “Por isso faço constantemente viagens de manifesto. Toda vez que eu tiver uma oportunidade vou fazer pressão, senão os governantes não fazem nada”, desabafa Luiza. Já para a atriz Arlete de Barros, o grupo Amigos oferece mais condições para os idosos. “Eles se preocupam com o pessoal que tem uma renda menor. Já as agências de turismo não”, destaca.

A indústria do Turismo tem o que comemorar. De acordo com dados dis- ponibilizados pela Embratur, a receita acumulada no Brasil até setembro de 2010 é 14% maior do que a referente ao mesmo período de 2009.

Este crescimento é parte de uma tendência de segmentação do mercado. Hoje, especialistas em marketing abor- dam a importância das empresas não se voltarem somente ao lançamento de pa- cotes turísticos. Alertam também para a necessidade de criarem novas opções de relacionamento com seus clientes e ofe- recer um serviço diferenciado voltado às reais necessidades de um público especí- fico. As agências de viagens já atentaram para esta realidade. Atualmente, oferecem pacotes especializados ao atendimento das expectativas referentes ao público da me- lhor idade, que tem se mostrado bastante apto ao turismo. Assim, quem ganha são os idosos, que podem viajar e aproveitar esse momento da vida de forma descon- traída e prazerosa.

Os idosos aproveitam a itesa programao ltral elaborada pelo Grpo “Ami-

gos” para os passeios

“É interessante ver como eles se

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