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No documento Revista Múltipla (páginas 88-90)

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Junte zumbis, vampiros, múmias re- animadas, serial killers imortais, donas de casa com apetite canibal, monstros abissa- is, tomates assassinos, extraterrestres que querem a dominação mundial - com uma sexy donzela em perigo. Adicione (de)efei- tos especiais, baixo orçamento e muita groselha. Esses são os ingredientes básicos que compõem a receita de um bom filme trash.

A palavra trash é inglesa e significa lixo em português. Com temática sem- pre bizarra e ritmo narrativo próprio, os filmes trash emergiram no cenário ci- nematográfico norte-americano nos anos de 1930, com as produções de vários estú- dios independentes da época, e na década de 40 adquiriram o formato existente até hoje. Mas foi nos anos 50 que as temáticas de horror, com toque de sensualidade e grande dose de ficção, tomaram forma.

Para o crítico de cinema e dono do blog Cinematório, Renato Silveira, a prin- cipal característica dos longas metragem trash é o exagero, seja na abordagem dos temas, seja na forma como a violência é retratada. Em relação às produções ele diz que, geralmente, o elenco é formado por atores pouco conhecidos, mas que são sempre reaproveitados. O custo é parte fundamental do processo caracteristica- mente trash. De acordo com Silveira, são sempre produções de baixo orçamento, resultando na má qualidade de cenários e figurinos. “É importante dizer que ser trash não significa ser ruim. Existem ver-

dadeiros clássicos do cinema trash, como os filmes produzidos por Roger Corman, que se tornaram praticamente um estilo” salienta o blogueiro.

Em geral, os filmes trash não são exibi- dos nos cinemas. A razão, segundo os do- nos das salas, é que não existe demanda. Enquanto um filme hollywoodiano com efeitos especiais high tech e de orçamento milionário vende por si só, o trash não atrai o grande público, logo, não paga o custo da exibição na sala de cinema.

Em um mercado de entretenimento competitivo como o de Hollywood, as produtoras de longas metragens under- ground não podem contar com o lucro de milhões de dólares arrecadados nas bilhe- terias para se manterem fora do vermelho. É a venda de mercadorias como t-shirts, canecas, action figures (bonecos), DVDs e pôsteres estampados com imagens/per- sonagens dos filmes que alimenta essa in- dústria.

O nicho de mercado cinematográfico underground representado pelos filmes trash é o outro lado do mundo dos es- petáculos. Em uma ponta estão os meg- aestúdios, como Fox, Universal, Disney e WarnerBros, que lideram o mercado mun- dial de distribuição e produção de longas, faturando cerca de 10 bilhões de dólares anualmente somente com bilheteria nos EUA (dados da biblioteca de análise de trends da indústria de cinema americana, The Numbers). Do outro lado estão os es- túdios independentes, que contam com a

Cartaz do lmeTarântula, dirigido por Jak Arold, em 1955 FO T O S: D IV u LG A ç ã O

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A demanda insistente dos fãs para que seus

filmes cheguem aos cinemas.

O Troma Entertainment é um estú- dio americano que triunfa nesse meio. A empresa produz filmes trash e ostenta o título de estar há mais tempo operando de forma independente no mercado cin- ematográfico mundial, desde 1974. Nesses 36, o Troma foi o palco de entrada de no- mes conhecidos, como o dos atores Kevin Costner, Samuel L. Jackson, da cantora Fergie (The Black Eyed Peas) e da atriz Marisa Tomei. Atualmente, para conseg- uir chegar às telonas, o estúdio incentiva os seguidores, através do site, a ligarem para os cinemas e requisitarem os filmes. A intenção é indicar para os exibidores que existe um público disposto a pagar pelos filmes trash.

As novas tecnologias de gravação e dis- tribuição proporcionadas pela Internet e por novos dispositivos tecnológicos abri- ram novos mercados para os pequenos es- túdios de cinema. O custo de distribuição foi reduzido, ao ser possível disponibi- lizar o download dos filmes no site das próprias empresas, o que tornou obsoleto o uso de intermediários nesse processo. Ao mesmo tempo, a propaganda necessária para “espalhar” os filmes e seus produtos tomou uma dimensão global e igualmente barata. Nada de parques temáticos, pro- moções que divulguem em escala mundial os filmes e nada, nada mesmo, de orça- mentos milionários. Tudo é feito de boca a boca e de link a link.

Revival Revival

Apesar de não serem considerados filmes trash, por se tratarem de longas produzidos por grandes estúdios, na últi- ma década foram refilmados clássicos do terror como “Jason X” (2002), “O Massacre da Serra Elétrica” (2003) e recentemente

“A Hora do Pesadelo” (2010). Se a distinção do que é ou não é trash é feita somente pelo orçamento e estúdio de produção, “Zumbilândia” (2009) deixa em dúvida os fãs. Esse filme trata de um mundo pós apocalíptico em que um vírus trans- forma as pessoas em zumbis sedentos por sangue humano e aqueles que são imunes ao vírus tentam sobreviver. A temática, a narrativa, o roteiro e os elementos de cena indicam um filme trash. Porém cer- tos pontos indicam que se trata de um filme comercial, como a qualidade da fil- magem, o orçamento

milionário e os atores famosos (Abigail Bres- lin, de “A pequena Miss Sunshine”, e Bill Murray, de “Os caça- fantasmas”).

O terreno fica ainda mais difícil de definir quando o diretor de cinema

Quentin Tarantino entra em cena: em seus filmes impera o absurdo, a violência, o excesso de sangue e a sensualidade. A descrição é semelhante à dos filmes trash. Porém, seus orçamentos, em longas como a trilogia “Kill Bill” e “Bastardos Inglórios” (2009) são milionários.

O estudante de publicidade Luiz Gus- tavo Shenk, 22 anos, é fã de filmes trash. O que o atrai nos longas é o exagero das cenas, o excesso de sangue falso e as temáticas de ficção científica. Shenk consome os filmes trash pela internet. “Participo de fóruns, vejo os vídeos no You Tube e sempre que posso compro alguma coisa. Acredito que o trash seja um estilo de fazer cinema”, diz. Para o estudante, filmes como “Zum- bielândia” e “Bastardos Inglórios” são, ao mesmo tempo, trash e uma homenagem a esse estilo bizarro.

Liz Gstavo Shek, 23

anos, fã de lmes trash

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