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“Vocês são a Antiga Federal de Química?”. “Vocês são o Colégio Agrícola da UFF?”. Essas são perguntas recorrentes para @s professor@s, alun@s e técnic@s administrativ@s do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – o IFRJ. A origem do que hoje é nomeado IFRJ remonta a fusão de duas

instituições referendadas no campo da educação técnica e profissional, a saber: a Escola Técnica Federal de Química e o Colégio Agrícola Nilo Peçanha. A primeira tem suas origens no curso de Química Industrial que funcionava na Universidade do Brasil, atualmente UFRJ, na década de 1940 e que ao longo do tempo foi sendo expandida até conquistar uma unidade própria na região do Maracanã no município do Rio de Janeiro e, posteriormente outra unidade no município de Nilópolis na Baixada Fluminense, tornando-se então o Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica de Química de Nilópolis (CEFETEQ, CEFET Química de Nilópolis). A segunda é uma instituição centenária cuja fundação data de 1909 também como Escola Técnica com foco nas áreas agrícolas e veterinária, sendo futuramente incorporada a Universidade Federal Fluminense (UFF) na qualidade de Colégio Agrícola.

O IFRJ traz em si anos de História com múltiplas versões sobre os caminhos que trouxeram a instituição até aqui. Atualmente distribuído em 15 Campi, mais a sede da reitoria, oferta vagas de ensino na educação básica, na graduação e na pós-graduação. Mas quem somos nós? Qual a relação que os Institutos Federais estabeleceram com a formação profissional?

Cabe antes uma apresentação do lugar de onde falamos. Somos três professor@s da Educação Básica, Técnica e Tecnológica (EBTT), lotados em diferentes

Campi do IFRJ e atuando na área de Ciências Humanas,

sendo duas professoras de História e um professor de Sociologia, todos lecionando no Ensino Médio e Técnico,

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modalidade regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Com intuito de apresentar nosso campo de atuação, falaremos brevemente, sobre a história dos Institutos

Federais (IF)1. A Rede Federal de Educação Profissional

e Tecnológica tem sua origem no início do século XX, com as Escolas de Aprendizes Artífices, criadas em 1909 pelo Presidente Nilo Peçanha, que ofereciam ensino profissional primário. A despeito de serem transformados em Liceus Industriais, no fim da década de 1930, a mudança pouco alterou os objetivos das antigas instituições (MANFREDI, 2002). A partir de 1942, com a Reforma Capanema, surgiram as Escolas Industriais e Técnicas, no lugar dos Liceus, com o objetivo de oferecer a formação profissional em nível

equivalente ao do secundário2. No ano de 1959, as

Escolas Industriais e Técnicas passaram à categoria de autarquias e foram denominadas Escolas Técnicas Federais. Em 1978, devido ao crescimento e evolução, três delas se transformaram em Centros Federais de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro, do Paraná e de Minas Gerais. Em 2008, os CEFET contavam com

1 Ressaltamos que no volume 1 desta série um panorama mais aprofundado da criação e funcionamento dos IF foi apresentado, no entanto, optamos por indicar um breve panorama para facilitar a compreensão de nossos leitores.

2 Quase simultaneamente a criação da Lei Orgânica assinada no dia 30 de janeiro sob o nº 4.073 que cria o ensino secundário, também foi criado o Decreto nº 4.048, de 22 de janeiro de 1942 que instituía o SENAI. (SCHWARTZMAN, BOMENY e COSTA, 2000)

uma rede de 36 Escolas Agrotécnicas, 33 CEFET com suas 58 Unidades de Ensino Descentralizadas (UNED), 32 Escolas Vinculadas, uma Universidade Tecnológica Federal e uma Escola Técnica Federal (OTRANTO, 2010).

Em 29 de dezembro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 11.892 (BRASIL, 2008a) que criou 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e instituiu a Rede Federal de Educação Profissional vinculada ao Ministério da Educação constituída pelas seguintes instituições: Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – Institutos Federais; Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR; Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET-RJ e de Minas Gerais – CEFET-MG; Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais. Apesar da proposta da criação dos IF ter como resultado imediato a expansão da rede federal de ensino – o que obviamente aumenta o número de vagas para docentes e discentes –, ao ampliar a oferta de cursos em localidades muitas vezes afastadas dos grandes centros urbanos fica a importante ressalva de que os Institutos Federais são instituições que apresentam uma estrutura diferenciada, uma vez que foram criados pela agregação/transformação de antigas instituições profissionais e a criação de novos campi, o que leva a diferenças internas importantes.

Como exemplo, este artigo é escrito por três docentes de realidades bastantes distintas e ambas internas ao IFRJ. A primeira docente, licenciada em História, é lotada no Campus Arraial do Cabo, situado na Região

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dos Lagos, que por sua característica geográfica litorânea é uma reserva extrativista de pesca artesanal com forte presença do turismo. A segunda professora, também formada em História, atua no Campus Rio de Janeiro, localizado no bairro do Maracanã, região urbana do município do Rio de Janeiro, vivenciando um forte histórico da tradição da formação técnica em Química. Formado em Ciências Sociais, o terceiro professor leciona Sociologia no Campus Pinheral, unidade que possui as dimensões de uma fazenda situada no Sul-Fluminense, bem como um forte enraizamento da formação agrícola.

Partindo então de nossa pluralidade, destacamos algumas diferenças que atravessam a tensão entre particularidade e generalização. Qualquer narrativa de experiências vividas se encerra em um local e um tempo específicos e a sua representação corre o risco de simplificar realidades complexas (GADDIS, 2003). Aceitamos o desafio para trazer algumas diferenças entre os campi3. A estrutura (equipamentos e espaço físico) disponibilizada para realização de pesquisa é bastante diferenciada entre os campi e, sobretudo, entre as áreas de conhecimento. Fruto da herança na formação técnica, muitos laboratórios de ensino/ pesquisa foram montados a partir das ações, demandas

3 Ressaltamos que nos referimos aqui sobre a experiência específica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). Esse também foi criado, como citado acima, de acordo com a Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, mediante a transformação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis e a integração do Colégio Agrícola Nilo Peçanha, até então vinculado à Universidade Federal Fluminense.

e conquistas deste corpo docente e discente que, em suas áreas do conhecimento, conquistaram recursos internos e externos para consolidar sua atuação para além da sala de aula. Porém, os projetos de pesquisa e extensão na área de Ciências Humanas têm conseguido espaço físico e estrutura no contexto do IFRJ?

Acreditamos que há avanços, mas não o bastante. A realidade pós-lei de criação dos IF foi a entrada maciça de docentes mestres e doutores com experiência e desejo no fazer pesquisa e extensão. Assim, os editais internos de incentivo e fomento à Pesquisa e Extensão (PIBIC, Prociência, PIBIEX e Pró-extensão) foram sendo cada vez mais disputados e, a cada projeto contemplado, novas mudanças práticas foram sendo impostas, tais como a simples ampliação de exemplos de gastos permitidos para que esses não mencionassem apenas vidrarias, reagentes químicos e insumos laboratoriais. Ao ocupar os espaços e ao construir juntos, a pesquisa e extensão em Ciências Humanas no IFRJ vêm crescendo. Dois dos autores deste artigo orientam pesquisa de iniciação científica e projeto de extensão, lutando também em seus cotidianos para que esse trabalho seja reconhecido em sua carga horária e não compreendido como “algo que deve ser feito se sobrar tempo ou se for vontade d@ professor@”.

Em nossas múltiplas realidades, algumas unidades possuem gestão na qual há o incentivo e reconhecimento às ações de pesquisa e extensão em Ciências Humanas, enquanto em outras essa se torna uma prática de resistência. Como “política geral” temos os editais

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que, mesmo limitados, tornam-se brechas que nos permitem o status de “pesquisa institucional na área de Ciências Humanas”. É bem verdade que tal status não é garantidor de condições de trabalho, como espaço para realizar reuniões de orientação e/ou leituras e escrita, mas é um passo à frente, uma demarcação, um reconhecimento.

No que tange ao Ensino, para refletir acerca do papel d@ professor@ de Ciências Humanas no Ensino Médio e Técnico, precisamos aprofundar um pouco mais em nossas especificidades: o ensino integrado entre as disciplinas técnicas e de ensino médio. Quais os desafios dessa cultura escolar em relação às Ciências Humanas? Alvo de reformas ao longo da história da educação, quais as práticas cotidianas desse conjunto de disciplinas na rede federal? Passemos a uma discussão acerca das Ciências Humanas no Ensino Técnico.

Ciências humanas e ensino técnico: entre