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A criação de um curso de Produção Cultural numa instituição que tinha como tradição o ensino de química, não foi uma das tarefas mais fáceis de concretizar. Estamos falando de um curso que poucas pessoas conheciam e os próprios órgãos legitimadores governamentais não davam a devida atenção. A formação institucionalizada para um produtor cultural já existia em outra IES. Ele tinha sido criado na Universidade Federal Fluminense em 1996 pelo departamento de Artes. Não era o caso do curso do CEFETEQ.

O Campus Nilópolis foi criado em março de 1994, como uma Unidade de Ensino Descentralizada da antiga Escola Técnica Federal de Química do Rio de Janeiro (ETFQ-RJ), oferecendo os cursos Técnicos de Química e de Saneamento, não existindo cursos de graduação. A partir de 1999, o campus passou a ser a sede do

CEFETEQ e criou, em 2002, o Espaço Ciência Interativa, um espaço destinado à formação e treinamento de professores, divulgação e popularização da ciência e suas interações com as mais diversas atividades humanas. Em 2003, o campus passou a ter o Ensino de Graduação. O CEFET de Química de Nilópolis/RJ passa a oferecer à sua comunidade quatro cursos de nível superior: Licenciatura em Química, Licenciatura em Física, Curso Superior de Tecnologia em Química de Produtos Naturais e o Curso Superior de Tecnologia em Produção Cultural.

No começo da década de 1990, várias mudanças sociais aconteceram relacionadas com serviços em diferentes órgãos do serviço público federal. Um número grande de professores e servidores foi deslocado de seus habitat originais para diferentes setores do governo. Em consequência dessa situação, o recém-criado Campus de Nilópolis acolheu vários desses profissionais, e muitos professores vinham da área de lazer/esporte.

Pensando na inserção desses profissionais na estrutura curricular do campus, foi que o prof. Dr. Luiz Edmundo Aguiar, à época diretor geral do CEFETEQ, resolveu, junto com os docentes recém-chegados, criar o Curso Superior Tecnológico em Produção Cultural. O que é um Curso Superior de Tecnologia? É um curso de graduação que abrange métodos e teorias orientadas às investigações, avaliações e aperfeiçoamentos tecnológicos com foco nas aplicações dos conhecimentos a processos, produtos e serviços. Desenvolve competências profissionais, fundamentadas na ciência, na tecnologia,

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na cultura e na ética, com vistas ao desempenho profissional responsável, consciente, criativo e crítico.

Os cursos Superiores de Tecnologia – formação em Tecnólogo foram aprovados em abril de 2001. De acordo com o parecer CNE/CES nº 436/2001,

conforme indicam estudos referentes ao impacto das novas tecnologias cresce a exigência de profissionais polivalentes, capazes de interagir em situações novas e em constante mutação. Como resposta a este desafio, escolas e instituições de educação profissional buscaram diversificar programas e cursos profissionais, atendendo a novas áreas e elevando os níveis de qualidade de oferta. (BRASIL, 2001)

Ainda neste mesmo decreto, lê-se,

O Art. 8º dispõe que os Centros Federais de Educação Tecnológica gozarão de autonomia para a criação de cursos e ampliação de vagas nos níveis básico, técnico e tecnológico da Educação Profissional, este último de nível superior, definidos no Decreto 2208/97. As demais modalidades de cursos superiores e de pós-

graduação continuaram a depender de autorização específica, nos termos do Decreto nº 2306/97. (BRASIL, 2001)

Nesse sentido, o IFRJ teve papel pioneiro por atuar nessa profissionalização e especialização, primeiramente, via o CST em Produção Cultural. Um Curso Superior de Tecnologia promove a formação em campos de conhecimento bastante específicos e delimitados, além de objetivar aos indivíduos a aquisição de competências profissionais que os tornem aptos para a inserção em setores profissionais nos quais haja utilização de tecnologias.

Desta forma, em 2003, o IFRJ campus Nilópolis passa a oferecer o Curso Superior Tecnológico em Produção Cultural. A partir da idéia de relacionar Ciência, Artes e Esportes (criando um tripé que seria a base do curso). O primeiro currículo tinha 5 semestres de duração e fora oferecido somente a noite. Esse primeiro momento durou apenas 3 anos. Esse currículo tinha disciplinas muito voltadas para uma formação direcionada para formar um animador cultural mais do que um produtor cultural. Existia um grande número de disciplinas voltadas para a área da saúde que muito pouco, ou quase nada, acrescentavam ao fazer de um futuro produtor. O que faz um Produtor cultural? Foi uma pergunta que demorou a ser respondida pelos criadores do curso. Sendo a maioria deles vinda da área da educação física e ou da literatura, a idéia de entretenimento e lazer era

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o que dava a tônica do curso. Não obstante, o curso foi muito procurado. Foi com muita dificuldade que o curso começou. Não havia os laboratórios necessários para disciplinas com maior teor pratico; a infraestrutura física e psicológica do campus não tinha sido concebida para um curso de humanas; o corpo discente sofria um

bullying silencioso por parte dos outros alunos. A partir

de 2006, observando as dificuldades encontradas na primeira turma, o curso teve sua primeira mudança. Primeiramente ele passa a ser oferecido pela manhã (a maioria dos produtores culturais trabalham a noite); o currículo sofre sua primeira mudança e o curso passa a ter 6 semestres. A biblioteca passa a ter livros mais direcionados ao curso.

Durante os próximos anos o curso de Produção Cultural começa a ganhar visibilidade dentro e fora do campus. Esse organismo inicialmente estranho agora chama atenção pelas ações, pelo seu corpo discente e por seu campo de atuação e pesquisa. E a necessidade de novas mudanças é premente. Conforme nos diz Eagleton (2005, p. 11),

Se a palavra “cultura” guarda em si os resquícios de uma transição histórica de grande importância, ela também codifica varias questões filosóficas fundamentais. Neste único termo, entraram indistintamente em foco questões de liberdade e determinismo, o fazer e o sofrer,

mudança e identidade, o dado e o criado.

E foram essas questões apontadas por Eagleton que o curso teve que enfrentar para se afirmar. Numa instituição acostumada com certo pragmatismo cartesiano, as discussões acadêmicas, sociais e comportamentais trazidas pelo curso (envolvendo aí corpo docente e discente) provocaram grandes debates. Que só ajudou não só ao curso, como principalmente ao campus. O curso torna-se referencia para além de Nilópolis.

A partir de 2008 o curso começou um novo processo, - sua transformação de CST para Bacharelado. Um trabalho que envolveu duas coordenações e muito suor. Os alunos CST de Produção Cultural eram discriminados em algumas empresas no momento de procurar estagio. A maioria das empresas exigia a formação em Bacharelado, diga-se que até em empresas governamentais. O que era um grande contrassenso visto que os CST eram criações do governo. Além disso, com as mudanças ocorridas no CST, o curso tinha ganhado uma face hibrida, o que o MEC a época chamou de minibacharelado. Tínhamos que aparar as arestas. Desta forma o processo de transformação foi longo. Pois tivemos que apresentar argumentos não só para a comunidade do IFRJ, mas, também para o MEC.

Obedecendo aos critérios que diferenciam um CST de um Bacharelado, um grupo de docentes se encarregou

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de fazer as mudanças. Um dos grandes desafios foi tirar do currículo as disciplinas vinculadas à área da saúde. Não tinha razão em manter disciplinas, como

Primeiros socorros, Recreação, Introdução ao lazer

entre outras na grade. Precisávamos aprimorar o curso criando disciplinas que envolvesse os discentes e que pudéssemos formar profissionais que operassem do plano mais elementar ao mais sofisticado no processo da produção. Conforme Rubin, “a cultura precisa de elementos de organização tanto quanto de elementos de criação, de preservação, de fusão (RUBIM, 2010, p. 13). E foi desta forma que procuramos construir o Bacharelado. Preenchendo as lacunas que o CST não tinha preenchido, trazendo novas disciplinas para o currículo, apresentando novas eletivas.

Em maio de 2011, o Bacharelado em Produção Cultural do IFRJ foi aprovado pelo conselho superior e em agosto de 2011 autorizado pela Resolução do Conselho Diretor. Porém, devido ao processo de avaliação do CST em Produção Cultural no primeiro semestre de 2012, a primeira turma do Bacharelado entra em Nilópolis no segundo semestre desse ano.

Hoje o “estranho no ninho” ocupa um lugar de destaque no IFRJ. É o segundo curso mais procurado dentre os cursos do IF. Nos Institutos Federais, além do Rio de Janeiro, já temos Produção Cultural também em Natal, no IFRN. O Bacharelado em Produção Cultural veio atender a uma demanda do mundo produtivo de “formação de pessoas habilitadas, por meio de um saber acadêmico, técnico e experimental, para a

gestão de produtos culturais” (INSTITUTO, 2015, p. 21). Sua relevância deve ser reconhecida tanto para o desenvolvimento humano quanto para o crescimento econômico, tecnológico e cientifico da região onde está inserido.

O Bacharelado de Produção Cultural, a Baixada