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Panorama da atuação do Técnico em Assuntos Educacionais no IFRJ: identidade profissional

em construção?

Com a transformação do Cefet Química de Nilópolis em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro em 2008 e o decorrente processo de expansão da Rede Federal desencadeado nesse período, observou-se um aumento significativo do número de vagas para contratação de servidores docentes e técnico- administrativos visando atender às novas demandas institucionais.; dentre eles, os Técnicos em Assuntos Educacionais, aumentando, por um lado, a capacidade institucional relacionada aos recursos humanos para o trato das questões educacionais, mas, por outro, distribuindo o quantitativo desses profissionais de modo pulverizado na instituição, fazendo-o atuar (de modo pouco planejado) em diferentes contextos e espaços organizacionais, muitas vezes com atribuições genéricas, pouco coadunadas com as atribuições previstas para o cargo, que, como anteriormente mencionado, consistem em: coordenar as atividades de ensino, planejamento, orientação, supervisionando e avaliando essas atividades de forma a assegurar a regularidade do desenvolvimento do processo educativo (texto extraído do Edital 42/2006 do processo seletivo para carreira técnico-administrativa do IFRJ).

Vale destacar que nesse cenário de transformação institucional, os Institutos Federais passaram a ter, dentre outras finalidades, a oferta de educação

profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional, promovendo a integração e a verticalização da educação básica à educação profissional e educação superior, otimizando a infraestrutura física, os quadros de pessoal e os recursos de gestão (Art. 6º da Lei nº 11.892/2008). Sob essa nova lógica, criou-se um modelo institucional inovador em termos de proposta político-pedagógica, baseado em um conceito de educação sem similar em nenhum outro país, constituindo-se, conceitualmente, como instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializadas na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as suas práticas pedagógicas.

Nessa perspectiva, ao se falar em otimização dos quadros de pessoal como uma das finalidades institucionais, observa-se a relevância da discussão aqui proposta, uma vez que entendemos “otimização” sob a ótica qualitativa da melhor utilização dos recursos humanos existentes, potencializando e valorizando a atuação profissional diversificada existente, no presente caso, do TAE, nos espaços organizacionais onde seu trabalho, predominantemente educacional, contribua para o desenvolvimento institucional de modo relevante e não acessório. Nesse cenário, esses profissionais

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ocupam papel relevante na atuação institucional e, muito embora não atuem na docência diretamente, são parte significativa e indispensável do fazer educativo de um espaço educacional que se pretenda plural e democrático.

Nesse enfoque, sob a perspectiva crítica apontada no tópico anterior, cabe destacar que a própria nomenclatura “Técnico em ‘Assuntos’ Educacionais” traz consigo um sentido pouco específico, já que a própria compreensão do que sejam “assuntos educacionais” permite diferentes interpretações e concepções sobre o bojo do trabalho ao qual estaria diretamente vinculada a ação do TAE.

O gráfico na página seguinte representa o aumento significativo de TAE, a partir de 2008, ou seja, na última década, o que ratifica nosso pressuposto de que o aumento do quantitativo desse profissional em um espaço de tempo relativamente curto, reforçado pela identidade ainda não consolidada de sua atuação, colaboraram para o não planejamento ou pela pouca reflexão sobre as suas atribuições no âmbito do IFRJ.

Figura 1 – Evolução da quantidade de Técnicos em Assuntos Educacionais no IFRJ na última década

Fonte: Diretoria de Administração Funcional do IFRJ (DAF).

Cabe destacar que, atualmente, nos documentos oficiais do IFRJ, a atuação do TAE encontra-se presente apenas no Regimento Geral, no Capítulo que descreve as atribuições das Coordenações Técnico-Pedagógicas, conduzindo à constatação de que, nesse contexto, a atuação do TAE no IFRJ, na última década, se manifestou, predominantemente nessas coordenações, conforme

mencionado pela previsão do próprio Regimento Geral6,

6 Segundo o regimento geral compete às CoTPs, dentre outras finalidades: participar do processo de implantação do Projeto Pedagógico do IFRJ; subsidiar a reflexão constante sobre o processo ensino-aprendizagem nas diferentes modalidades de ensino ministradas na instituição, acompanhamento pedagógico do desenvolvimento dos currículos dos cursos; identificar os motivos de solicitações de transferências, trancamento de cursos,

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que em seu Artigo nº 129 preconiza que o Técnico em Assuntos Educacionais deverá compor a equipe multidisciplinar das CoTP, juntamente com Pedagogos, Assistentes Sociais e Psicólogos. Em menor presença, observa-se sua atuação nas Pró-Reitorias de Ensino e Extensão, para a atuação mais direta com os programas e projetos vinculados à respectiva Pró-Reitoria, como representamos graficamente abaixo:

Figura 2 – Atuação do Técnico em Assuntos Educacionais por Setor em 2017 no IFRJ

Fonte: Diretoria de Administração Funcional do IFRJ (DAF).

bem como o cancelamento de matrícula ou disciplina; contribuir para a melhor integração do aluno através de diagnóstico social, psicológico e psicopedagógico buscando meios e alternativas (programas e projetos) para as situações apresentadas.

Nas CoTP, cujo trabalho consiste essencialmente no atendimento multidisciplinar ao corpo discente, professores e comunidade escolar como um todo, o trabalho do TAE nos parece, em uma primeira análise, de uma forma mais delineada e menos genérica, até pelo que preconiza o Regimento Geral do Instituto. Cabe exemplificar, através de Fontes (2002, p. 43) em trabalho no qual descreve sua atuação como Técnica em Assuntos Educacionais na Coordenação Técnico-Pedagógica do Campus Rio de Janeiro do IFRJ, destacando que a CoTP

desenvolve diversas atividades como: atendimento de alunos, pais e/ou responsáveis , professores;

organização, presidência e

secretariado de Conselhos de Classe; realização de atividades educativas em sala de aula com os alunos; organização de eventos como ciclo de palestras na área da Educação, manutenção de programas de apoio ao aluno como monitoria e assistência estudantil.

Considerando o caráter multidisciplinar do setor, podemos observar que algumas das atribuições destacadas constituem-se em desdobramentos do que prevê o regimento, sendo ações integradas entre os profissionais que compõem a CoTP e não especificamente a ação individual do TAE que, nessa perspectiva, deverá

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atuar de modo articulado com os demais profissionais. Por outro lado, percebe-se, no supracitado trabalho, o interesse da autora em incrementar seu trabalho no setor, enquanto TAE, quando diz que

desde 2011 passei a ser coordenadora da CoTP e além das atividades que já eram realizadas, procurei agregar mais algumas que julgo importantes para o bom funcionamento do setor, trazendo contribuições para os alunos, professores e o campus/ Instituição como um todo. (FONTES, 2012, p. 43)

A fala da servidora reflete tanto o interesse com trabalho e compromisso institucional, como traz a perspectiva da valorização e reflexão sobre o próprio trabalho, enfatizando uma atuação específica no campo educacional, em um movimento de reafirmar a relevância e a especificidade do trabalho do TAE no cotidiano institucional.

Sob diferente perspectiva, observa-se a atuação do TAE nas Pró-Reitorias de ensino (ensino médio- técnico; ensino de graduação e pós-graduação) e de extensão do IFRJ. Nessas esferas, a atuação do TAE se dá na interface entre o “suporte” pedagógico às ações diretamente vinculadas ao ensino que se concretiza nas salas de aulas dos Campi e a atuação na coordenação de programas e projetos, ainda que se possa afirmar

que no desempenho dessas atribuições, muitas vezes predominem ações operacionais genéricas, de cunho estritamente administrativo, em decorrência do pouco delineamento do cargo e da elasticidade de funções que abarcam na realidade institucional.

Em relação aos outros setores do IFRJ de atuação dos TAE, não denominados no gráfico da Figura 2, podemos citar o gabinete da Reitoria, o gabinete da Direção-Geral dos Campi, Diretorias de Ensino, Diretoria da Rede de Assistência Estudantil Secretarias Acadêmicas ou setores afins, o que nos permite afirmar que nesses locais, pela própria finalidade regimental, a atuação genérica do TAE se mostre mais evidente, tornando-se ainda mais necessários a reflexão e o delineamento de atribuições com vistas à consolidação da identidade profissional do Técnico em Assuntos Educacionais.