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I. A IN Q U IS IÇ Ã O E P IS C O P A L E O P O D E R S E C U L A R D os decretos do Quarto Concilio de Latrão, 1215.

M ansi, X X I I . 982 ss

[A Ig re ja no século doze foi p ertu rb ad a por v árias espécies de heresias, sendo a s m ais perigosas as dos albigenses e valdenses. O s prim eiros eram mani- queus n a teo ria e rigorosam ente ascéticos n a prática, em bora seus adversários os acusassem de excessos antinom ianos. O s valdenses com eçaram tentando recuperar o que pensavam te r sido a sim plicidade d a Ig re ja apostólica. M as êles, com o tantos o u tro s grupos que com eçaram com o m esm o propósito, tendiam a um sectarism o intran sig en te. O T erceiro Concilio de L atrã o em 1179, sob A le­ x an d re I I I , pediu o auxílio do poder secu lar: “ E m b o ra a disciplina da Ig re ja não leve a efeito retribuições cruentas, contentando-se com o julgam ento sacer­ dotal, ela, contudo, é aju d ad a pelos regulam entos dos príncipes católicos, de modo que os hom ens freqüentem ente busquem o rem édio salu tar p o r tem or de in correrem em castigos corporais. P o r co n s e g u in te ... decretam os que (os albi­ genses) e os que os sustentam , dando-lhes apoio, estão sob anátem a, e proibim os sob pena de anátem a que alguém ouse abrigá-los em sua casa ou em seu país, de ajudá-los ou de te r negócios com êles” (cap. 27, M ansi X X I I .231; D enzin- £er, n.° 4 0 1 ). Inocêncio I I I deu início em 1208 à cruzada contra os albigenses, m as não conseguiu e x tirp ar a h eresia; em 1220 a inquisição papal foi confiada aos frades e im posta às côrtes episcopais.]

3 . . . . H ereges convictos devem ser entregues a seus superiores seculares ou a seus agentes pára o devido castigo. Se forem clérigos, prim eiram ente devem ser d estitu íd o s. Os bens dos leigos serão con fis­ cados; os dos clérigos serão aplicados nas igrejas das quais recebiam seus subsídios.

. . . Se um senhor tem poral n egligen cia em cum prir o pedido da Ig reja de p u rifica r sua terra da contam inação da heresia, será excom ungado pelo m etropolitano e pelos outros bispos da província. S e deixa de se em endar dentro de um ano, o fa to deve ser com unica­ do ao sum o p on tífice que declarará seus vassalos livres do juram ento de fid elid ad e e oferecerá suas terras aos católicos. Ê sses exterm ina­ rão os hereges, serão donos da terra sem discussão, e a preservarão n a verdadeira f é . . .

Os católicos que tom arem a cruz e se devotarem ao exterm ínio de hereges gozarão da m esm a ind u lgên cia e p rivilégio dos que se d irigem à Terra S a n ta . . .

7. D eterm inam os, além disto, que cada arcebispo ou b em pessoa ou através de seu arcediago ou outras pessoas capazes e dign as de confiança, visitará cada um a de suas paróquias nas quais se diz que há h ereg es; fá-lo-á duas vêzes ou, pelo menos, um a vez por an o. Obrigará três ou m ais hom ens de boa reputação, ou se fôr necessário tôd a a vizinhança, a ju rar que se qualquer um dêles souber de algum herege, ou de alguém que freqüente reuniões secre­ tas, ou de pessoa que p ratica coisas e costum es d iferentes dos que são com uns aos cristãos, que o com unicarão ao b isp o. O bispo deve cham ar os que forem acusados para que se lhe ap resen tem ; e, a não ser que se p urifiqu em da acusação, se incorrerem no êrro anterior, receberão o castigo canônico . . .

I I. A J U S T IF IC A Ç Ã O D A IN Q U IS IÇ Ã O

S. Tomás de A quino (1225-1274), S u m m a Theologica, I I .Q .X I A rtig o I I I . Se os hereges d evem ser tolerados

[E m favor da tolerância: 1 ) 2 Tm 2 .2 4 ; 2) 1 Co 1 1 .1 9 ; 3 ) M t 1 3 .3 0 . Contra a tolerância: T t 3 .1 0 ,1 1 .]

R e sp o n d o : Com respeito aos hereges devem ser feita s duas

considerações: 1 . D o ponto de v ista dos hereges; 2 . D o ponto de v ista da Igreja.

1 . E x iste o pecado pelo qual m erecem não só serem separados d a Ig reja p ela excom unhão, m as tam bém de serem retirados do m undo p ela m orte. Com efeito, é questão m uito m ais séria corrom per a fé, p ela qual vem a vida da alm a, do que fabricar dinheiro falso, com o qual é sustentada a vid a corp oral. P or conseguinte, se os fabrican­ tes de dinheiro falso e outros m alfeitores são ju stam ente castigados com a m orte p elos p ríncipes seculares, com m uito m aior ju stiça podem os hereges ser castigados com a m orte im ediatam ente após o veredicto, e não som ente excom ungados.

2. Mas do lado da Igreja está a m isericórdia, tendo em vista a conversão dos que estão no êrro. P or isto, a Igreja não condena diretam ente, m as só depois de um a p rim eira , e segu n da exortação, como ensina o apóstolo [T t 3 .1 0 ], D epois disto, se ainda continua obstinado no êrro, a Igreja abandona a esperança de sua conversão

e com eça a pensar n a segurança dos outros, separando-o da Igreja p ela sentença da excom unhão; além disto, entrega-o ao tribunal secular para que seja exterm inado do m undo p ela m orte . . .

A rtigo IV . Se aquêles que vo lta m da heresia devem ser recebidos

de nôvo p e la I g r e ja

R espo n d o: A Igreja, de acôrdo com a instituição do Senhor,

estende seu am or a todos, não som ente a am igos, m as tam bém a inim igos que a perseguem [M t 5 .4 4 ] . Ora, um a parte essencial do am or é desejar o bem de seu próxim o e trabalhar para êsse fim . Mas, o bem é d u p lo : existe um bem esp iritu al — a salvação da alm a — que é o p rin cip al objeto do amor, pois é isto que alguém deve desejar por am or para outrem . P ortanto, no que concerne a êsse amor, os hereges que voltam , por m ais vêzes que tenham decaído, são recebidos pela Ig reja para a pen itên cia por meio da qual está aberto para êles o cam inho da salvação.

O segundo bem é aquêle que é objeto secundário do amor, isto é, o bem tem poral, ta is como a v id a do corpo, a propriedade terrena, a boa reputação, a posição eclesiástica ou secular. Ê sse bem não somos obrigados a desejar por am or aos outros a não ser com relação à eterna salvação dêles e dos ou tros. P or conseguinte, se a existência de ta l bem num ind ivídu o é capaz de im pedir a eterna salvação de m uitos, não som os obrigados por amor a querer êsse bem para aquêle in d iv íd u o ; antes, devem os querer que seja privado dêle, pois a eterna salvação deve ser p referid a aos bens tem p orais. A lém disto, o bem de m uitos deve ser preferido ao bem de um.

T odavia, se os hereges que retornam sem pre são recebidos de modo a serem conservados n a posse da vida ou de outros bens tem po­ rais, isto pode ser p reju d icial à salvação dos outros, p ois infecciona- riam a outros se decaíssem , e tam bém se escapassem do castigo outros se sentiriam m ais seguros em cair em h e r e s ia .. . P or isto, no caso dos que voltam p ela prim eira vez, a Igreja não só os recebe para a penitência, m as preserva tam bém suas vidas e algum as vêzes por concessão os restitu i às suas p rim itivas posições eclesiásticas, se dem onstram estar verdadeiram ente convertidos. M as se depois de terem sido recebidos de nôvo d ecaem . . . são adm itidos à p en itên cia se voltam , m as não são libertados da pena de m o r te .. .