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A PESSOA E A OBRA DE CRISTO

I , IN Á C IO , B IS P O D E A N T IO Q U IA , c . 112

A E ncarnação A d E p h . V I I . 2

H á um só m édico, da carne e do espírito, gerado e não-ge- rado1, D eus em hom em , vid a au tên tica em m orte, ao mesmo tem po de D eus e de M aria, um tem po p assível e agora im passível1, Jesu s Cristo, Nosso S en hor.

I I . IR IN E U

a . A “ R ecapitu lação” em C risto : A ã v . E a er. I I I .X V I I I F ica , pois, claram ente dem onstrado que o Verbo, que desde o princípio existe com D eus, através de quem tudo fo i feito, e que em todo m om ento estêve presente n a linhagem hum ana, se u niu nos derradeiros tem pos à sua própria criatura e se fêz hom em pas­ sív e l. Podem os, assim , afastar a objeção de quem alega que “ se Ê le n asceu n o tem po segue-se que anteriorm ente não e x istiu ” . Tem os estabelecido que, nascendo, o F ilh o de D eus não com eçou a existir, m as sem pre existiu com o P a i. Tom ando nossa carne e fa ­ zendo-se homem, recapitulou em si a lon ga jornada da estirpe h u ­ m ana e obtendo para nós salvação de modo tão sum ário, para que em Jesu s Cristo recuperássem os aquilo que tínham os perdido em A dão, ou seja, o serm os a im agem e sem elhança de D eu s.

A ã v . H aer. V . X X I . l

. . .D esta m aneira o Senhor se declara F ilh o do H om em , pois recapitula [resum e] em si o hom em original, fo n te da qual brotou

1. C ontraste A d M a g n . V I . 1: “ ...J e s u s C risto que estava com o P ai antes d e todos os séculos e apareceu no cum prim ento dos tem pos” .

a estirpe form ada da m u lh er. A ssim como, subjugado o homem, tôd a a raça descam bou para a m orte, assim tam bém , vitorioso o H om em , ascendem os já para a v id a .

b . A santificação de cada id a d e ã a v id a

A ã v . H aer. I I . X X I I . 4

. . . Ê le veio para salvar, através de si mesm o, a to d o s; enten­ da-se a todos que dÊ le nascem para D eus, sejam crianças, m eninos, moços, jovens ou an ciãos. P or isso é que passou por tôdas as fases da v id a : fèz-se criança para com as crianças, san tifican do a in fâ n c ia ; fêz-se m enino entre os m eninos, san tifican do os dessa idade, tor- nando-se-lhes exem plo de afeto filia l, de probidade e obediência; fêz-se jovem entre os joven s e m odêlo dos jovens, santificando-os p ara o Sen hor; e assim tam bém p ara os hom ens de m ais id a d e. A ssim pôde ser m estre p erfeito p ara todos não som ente para lhes revelar a verdade, m as tam bém para lhes ilum inar cada idade da v id a . F in alm en te, sujeitou-se tam bém à m orte, para tornar-se “ o prim ogênito dentre os m ortos e ter a prim azia em tôdas as coisas” (C l 1 . 1 8 ) , para ser o P rín cip e da v id a que a todos precede e encabeça.

c . A R edenção do p o ã e r satânico

[Form ulação prim itiva da teo ria do preço ex p iató rio .]

A ã v . H a e r Y . I . l

. . . 0 Verbo onipotente e gen u ín o hom em , redim indo-nos a custo de seu próprio sangue, entregou-se a si próprio como resgate p or nós que tínham os sido levados ao ca tiv eiro . D esde que a A p os­ tasia, isto é, o espírito rebelde, Satã, inju stam en te im pôs-se sôbre nós, e, em bora por n atureza pertencêssem os ao Todo-poderoso D eus, alienou-nos da natureza, fazendo-nos seus discípulos, o Verbo de D eus, n a su a lu ta contra o A póstata, agiu justam ente, p ois sendo poderoso em tôd a ordem de coisas e sem qualquer fa lh a em sua ju stiça, resgatando dêle aquilo que lhe p erten cia . N ão p or fôrça, com o Satan ás que desde o p rin cíp io assegurou sua tiran ia sôbre nós arrebatando insaciàvelm ente o que lhe não pertencia, m as por persuasão, ao modo divino, para conseguir o seu d esejo. D esprezou a violên cia e em pregou a persuasão p ara que não fôssem in frin ­ gidos os p rincípios da ju stiça e, assim , não perecesse a criação origi­ n al de D eu s.

2 . 0 Senhor, pois, nos rem iu através de seu sangue, dando sua vida em favor da nossa vida, sua carne por nossa carne. D erra­

mou o E sp írito do P a i p ara que fôsse p ossível a com unhão de D eus e do hom em . T rouxe D eus aos hom ens m ediante o E sp írito, e levou os hom ens a D eu s m ediante sua encarnação. H abitand o entre nós, com unicou-nos a gen u ín a incorruptibilidade dando-nos com unhão com D e u s . . .

I I I . T E R T U L IA N O

A E ncarnação do V erb o : A p o lo g ia , X X I

[E ssa m esm a d o u trin a desenvolve-se m ais tècnicam ente no A d v e r s u s P r a x e a n de T e rtu lia n o .]

. . .D eu s fêz êste universo m ediante seu V erbo, sua Razão e seu P o d er. V ossos filósofos concordam em opinar que o artífice do universo parece ser o Logos, isto é, o V erbo e a R a z ã o . . . E xem ­ p los de Zenão e C lean tes. N ós afirm am os igualm en te que êste Verbo, esta Razão e F ô rça através da qual D eus criou tôdas as coisas, é constituído substancialm ente de esp írito . A prendem os que o V erbo fo i produzido p ro la tu m de D eus, fo i gerado no mesm o ato de ser produzido: eis p or que Ê le é cham ado F ilh o de D eus, e m ais radicalm ente D eus, em u nidade de substância com D e u s. Ora D eus é esp írito . O raio de lu z que p arte do sol é um a porção do sol in teiro : o sol está no raio precisam ente p or ser êste um raio do sol; sua substância não é outra, separada, m as é a m esm a apenas esten­ d id a . A ssim do esp írito provém o espírito, de D eus provém D eus, como da luz se acende a lu z . . . . Ê sse raio de D e u s . . . penetrou no ventre da V irgem fazendo-se carne e nascendo hom em m isturado com D eu s2 . E sta carne fo i ed ificad a pelo espírito, alim entou-se, cresceu, com eçou a falar, ensinar e obrar: esta carne fo i o C risto. I V . D IO N ÍS IO , B IS P O D E R O M A (2 59-268), SÔ B R E A

T R IN D A D E E A E N C A R N A Ç Ã O A tanásio, D e ãecretis, 26

[A tanásio cita, criticando certas expressões, a c a rta de D ionísio Rom ano a D ionísio A lexandrino (247-265) . A correspondência en tre os dois D ionísios ilu stra bem dois pontos de im portância p ara a h istó ria da T eologia. l.° : O ca­ m inho da o rtodoxia é e stre ito : em m uitos lugares costeia dois extrem os opostos, en tre duas heresias antagônicas. A ssim , por d esejar acab ar com o m onarquia- 2. E m A d v . P r a x . X V II, T ertu lian o repudia a noção de que a “m istu ra" fêz

um “ tertium q u id ”, protegendo a distinção de “ substâncias” . “ N ós vemos um duplo estado, os dois não se confundem , m as unem -se em um a só p e s s o a ... O espírito nêle agiu sôbre suas próprias obras, isto é, sôbre os atos de virtude, sôbre as obras e sinais, enquanto a carne suportava seus sofrim entos, f o m e ... sêde, lá g rim a s ... e por fim m o rre u .”

nism o sabeliano, D ionísio de A lex an d ria descam ba p ara o triteísm o . 2.°: É im ­ prescindível um vocabulário com um a todos e tècnicam ente apro p riad o . Bem o dem onstra a n ota que en cerra esta citação .]

Inclino-m e n atu ralm en te a com bater os que dividem , reta­ lham e destroem a doutrina m ais veneranda, da Igreja, isto é, a M onarquia de D eus, reduzindo-a a três podêres e a três substâncias separadas (h y p o stá se is), em sum a a três d iv in d ad es. Segundo me dizem , vários dos vossos catequistas e doutores da P alavra estão ensinando esta doutrina, colocando-se num a posição, por assim dizer, d iam etralm ente oposta à de Sabélio. E nquanto Sabélio afirm a blas- fem atò riam ente que o F ilho é o P ai, e que o P a i é o F ilh o, êles, a

seu modo, ensinam que há três deu ses: dividem a sagrada M ônada em três substâncias estranhas entre si e absolutam ente separadas. A verdade é que o V erbo de D eus deve, por necessidade, estar unido ao D eus do U n iverso e que o E sp írito Santo deve habitar em D eu s; é absolutam ente im prescindível, portanto, que a T rindade d ivina esteja absorvida e reun ida num a só U nidade, que seja conduzida a um único áp ice. É por esta U nidade que eu entendo o criador onipotente do U n iverso . . . . N ã o m enor censura m erecem os que fazem do F ilh o um a criatura3 ; os D ivin os Oráculos em p arte a lg u ­ m a declaram ser Ê le criatura ou feitu ra, m as sem pre afirm am ser o fru to de um a geração p rópria e conveniente ao V erbo. P o is se o V erbo viesse a ser um F ilh o, ex istiria um tem po em que Ê le a in d a não e x istia . Ora, Ê le sem pre estêve, pois, como Ê le mesmo declara, Ê le está no P a i . A liás, conform e vêd es nas E scritu ras, C risto é Verbo, Sabedoria e Poder, atributos êstes próprios de D e u s. Logo, se o F ilh o tivesse com eçado a existir, haveria um tem po em que ta is atributos não existiriam , em que D eu s careceria d êles; e isto é u m grande absurdo. . . . N ã o se deve, pois, d iv id ir em três divindades a adm irável M ônada de D e u s . Tam pouco se deve rebaixar a d ign id ade e m ajestade incom ensuráveis do Senhor, apresentando-o como um a “ criatura” . Porém , devem os crer em D eu s P a i todo-po- deroso, em J esu s Cristo seu F ilh o, e no E sp írito Santo, e tendo por certo que o V erbo está u nid o ao D eu s do universo, p ois Ê le mesmo d iz: “ E u estou no P a i e o P a i em m im ”, e ainda, “ E u e o P ai som os u m ” . A ssim fazendo, tan to a santa T rindade como a santa pregação da M onarquia de D eus estarão p reservadas.

[N o ta relativ a aos têrm os h y p ó s t a s i s e o y s í a : A m bas as palavras signi­

ficam em sua origem um a m esm a coisa: o substrato de tô d a realidade, aquilo que constitui a realidade de seu p ró p rio ser, sua essência.

O uso, porém , conferiu-lhes dois sentidos, um geral, e outro p articu lar. l.° G eral: essência universal da qual participam todos os p articulares de uma espécie; p. ex., todos os hom ens participam d a h y p ó s t a s i s comum da “ hum a­ nid ad e” em virtude d a qual cada um dêles é hom em . 2.° P a rtic u la r: a essência individual em virtu d e da qual o indivíduo é êle m esm o. Dizem os, preferente- m en te: ‘personalidade ou pessoa’. Jo ão P e re ira é, portanto, Jo ão P e re ira p re­

cisam ente por causa de um a hipóstase que poderíam os cham ar de “ João P ereirid ad e” .

O ra, acontece que Dionísio A lexandrino usa h y p ó s t a s i s no segundo sentido, enquanto D ionísio R om ano o entende no prim eiro. Sem dúvida, m uitos cairão em heresia por não com preender a significação ex ata do vocabulário teológico de D ionísio A lexandrino.

Idêntica am bigüidade acom panha o têrm o o y s i a que era, no século quarto, sinônim o de hipóstase (no credo de N icéia e em A ta n á s io ). O s três Capadócios (B asílio M agno, G regório N isseno e G regório N azianceno) são os responsáveis p ela distinção que, gradativam ente, se to rn a rá clássica en tre o y s i a , reservada

ao prim eiro sentido, e h y p ó s t a s i s , ao segundo. O têrm o e s s e n t i a , equivalente

ex ato de o y s í a , nunca chegou a ser popular. A ssim se explica a posterior difi­ culdade en tre os dois D ionísios — um pensando em grego, outro pensando em la tim ; dificuldade, aliás, generalizada en tre O cidente e O riente. O s teólogos gregos ten taram ev itar o têrm o p r ó s ô p o n p ara trad u zir o segundo sentido por cau sa de Sabélio que o usava p a ra descrever u m a função m eram ente tem poral (v er pg. 71). U saram , pois, o têrm o h y p ó s t a s i s p ara trad u z ir o que os la ti­ nos podiam livrem ente expressar com a p alav ra bem m ais n atu ral de p e r s o n a ,

equivalente exato, de p r ó s ô p o n . V e r B e t h u n e - B a c k e r E a r l y H i s t . o f C h r ■ D o c t r -

( lló s .,1231-238).]

Y . A T A N Á S IO E A E X P IA Ç Ã O

A tanásio, 296-373, D e In carn ation e ( c . 318) a . C risto salva restau rando

V I . [A d ivin a bondade não podia consentir na ru ína da cria çã o . ]

V I I . Mas, [um a vez o pecado consum ado], fica im plicada a