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I. O D E C R E T O “ S A C R O S A N C T A ” DO CO N C ÍLIO D E C O N ST A N Ç A , (ab ril de 1415)

H ard t, R eru m m agn i Cone. C onst. (1 7 0 0 ), I X . 98. M irbt, 392 [O s m ovim entos inspirados por W ycliffe n a In g laterra , H u ss n a Boêmia, G root nos P aíses Baixos, quaisquer que tenham sido as ex travagâncias de alguns de seus seguidores, davam testem unho de um sentim ento m uito difundido de descoptentam ento com o estado da I g re ja ; ao m esm o tempo, o cism a do papado — com um papa em A vinhão e o u tro antipapa em R om a — era intole­ rável aos cristãos devotos. U m grupo de reform adores m oderados, cu ja cabeça e ra G erson, chanceler da universidade de P aris, sugeriu a c< lebração de um concilio geral, visto que a p l e n i t u d e p o l e s t a t i s da Ig re ja residia, com o afirm a­

vam , em todo o corpo dos fiéis representados num concilio ecum ênico. O Con­ cilio de P isa, 1409, tentou san ar o cisma, m as falhou. O próxim o concilio se reuniu em C onstança em 1414, sanou o cisma, condenou W ycliffe e H uss, m as falhou na reform a da Ig re ja . O nôvo papa eleito pelo concilio, M artin h o V, afirm ou que o concilio é subordinado ao papa e que qualquer refo rm a devia ser deixada sob seus cuidados. E ra um desafio ao concilio ao qual devia sua eleição e que pro m u lg ara o seguinte decreto.]

Ê ste santo C oncilio de C o n s ta n ç a ... declara prim eiro qne está legalm ente rennido no E sp írito Santo, qne con stitu i um concilio geral representando a Ig reja C atólica, e que, portanto, tem sua auto­ ridade im ediatam ente de C risto ; sendo que todos os hom ens, de qualquer ordem ou condição, incluin do o próprio papa, são obrigados a obedecer-lhe em m atérias de fé, de abolição do cism a e da reform a da Igreja de D eus em sua cabeça e em seus m em bros. Segundo, declara que qualquer pessoa, de qualquer grau ou condição que com contum ácia recusar obedecer às suas ordens, decretos, estatutos ou instruções, já feito s ou a serem feito s ainda por êste santo Concilio, ou por qualquer outro concilio geral legalm ente reu n id o . . . será su jeito à p en itên cia conveniente e p unido apropriadam ente, a não ser que volte ao espírito de retidão, e, se houver necessidade, que se recorra a outras sanções da l e i . . .

II. A B U L A “ E X E C R A B I L I S ” D E P IO I I (janeiro de 1460)

B u lla riu m R om anum , Y .1 4 9 . M irbt, 406

[O Concilio da B asiléia (1431-1438) se reu n ira com um im pressionante p ro g ra m a: a refo rm a d a Ig re ja, o térm ino do cism a com o O riente e um a solu­ ção final p a ra a heresia h u ssita. Ê ste últim o ponto foi conseguido por m eio de concessões e de um a v itó ria m ilitar sôbre os ex trem istas. A s negociações com os gregos falharam , e as reform as sugeridas estavam sob m uitos aspectos vicia­ das p o r um cium ento p artidarism o das p rerro g ativ as papais de m odo a não serem aceitas. E m 1438 foi celebrado um concilio em F lo ren ça a fim de conti­ n u a r as negociações com os gregos, enquanto um a espécie de conciliábulo conti­ nuava suas sessões n a B asiléia e se tornou ridiculo pela eleição de um antipapa. O Concilio de F lorença durou até 1458 e falhou em atin g ir seu objetivo princi­ p a l; em 1460 o P a p a P io I I (que reconciliara F red erico I I I com o papado e

assim p riv ara os concílios do apoio do poder tem poral em qualquer tentativa antipapal) deu o golpe final nas tentativas de um a refo rm a constitucional.]

S u rgiu em nosso tem po um abuso execrável — inaudito em épocas anteriores —■ a saber, que alguns hom ens, cheios do espírito de rebelião, presum am apelar do p on tífice rom ano, o vigário de Jesu s Cristo, a quem n a pessoa do bem -aventurado P edro fo i d ito: “ A p a s­ centa m inhas ovelhas” e “ tudo o que tu ligares sôbre a terra será ligado no céu ”, para o fu tu ro concilio; e fazem isto não pelo desejo de um ju lgam ento m ais são, m as para escapar das penas de suas más ações. Q ualquer pessoa não inteiram ente ignorante das leis pode ver como ta l coisa v a i contra os sagrados cânones e quão p reju d icial é para o cristianism o. Com efeito, não será absurdo sim plesm ente ape­ lar àquilo que agora não existe e à data de cu ja fu tu ra existência é desconhecida? D esejando, portanto, exp u lsar da Ig reja de D eus êste veneno p estilen cial e tom ar m edidas para a segurança das ovelhas confiadas a nosso cuidado, e afastando do rebanho de nosso Salvador tudo aquilo que possa o fen d ê-lo . . . condenam os os apelos dessa espé­ cie e os denunciam os como errôneos e d e te stá v e is.. .

[E m b o ra o Concilio da B asiléia falhasse em cum prir seu pro g ram a de reform as, a In g laterra, a F ra n ça e o Im pério asseguraram os pontos em que estavam m ais interessados em sua lu ta contra as interferências papais. N a In g laterra , a proibição de apelar p a ra o papa n a questão dos benefícios, passou a fazer p arte da lei. O clero francês aceitou a Sanção P ra g m ática de Bourges, e em 1439 a dieta alem ã estabeleceu a P rag m ática Sanção de M ogúncia com provisões sem elhantes. A s contribuições p ara R om a fo ram restrin g id as e conti­

nuaram a funcionar os sínodos provinciais e diocesanos. E ssas concordatas incor­ p o raram em si m uitas das sugestões da B asiléia e por elas M artin h o V salvou sua aparência e a situação.]

ESCOLASTICISMO

I. A “ P R O V A O N TO LÓ G IC A ” D E A N SE L M O SÔ B R E A E X IS T Ê N C IA D E D E U S

A nselm o (1033-1109), P roslogion, I I I e IV

[A nselm o foi o m ais capaz e m ais influente teólogo do século X I, colo- ca n d o se entre L anfranco, Roscelino de Com piègne e F u lb erto de C hartres. T odos êsses com eçaram a aplicar a lógica das escolas à controvérsia e à especulação teológica. O argum ento da existência de D eus no P r o s l o g i a n é talvez a m ais

brilh an te de tôdas as tentativas de p ro v ar a p r i o r i a existência de D eus.] III. Que a não-existência de D eus é inconcebível

E sta proposição é, com efeito, tão verdadeira que sua negação é inconceb ível. D e fato, é inteiram ente concebível que exista algum a coisa cuja não-existência é inconcebível, e isto deve ser m aior do que aquelas coisas cu ja não-existência é concebível. P o r conseguinte, se a coisa em v ista da qual nenhum a outra coisa é concebível pudesse ser concebida como não-existente, então essa m esm a coisa em v ista da qual é im possível conceber-se um a m aior, não é realm ente um a coisa em v ista da qual um a m aior é inconceb ível; o que é contra­ ditório.

É tão verdade que existe algum a coisa em v ista da qual é im possível conceber-se um a m aior que sua não-existência é inconce­ b ív el; e esta coisa és Tu, ó Senhor nosso D eu s!

P ortanto, é tão verdade que T u existes, ó Senhor m eu D eus, que tu a não-existência é in con ceb ív el; e isto com boas razões. Porque se a m ente hum ana pudesse conceber algo m elhor que Tu, a criatura se elevaria acim a do Criador e o ju lgaria, o que é totalm ente absurdo. Tudo o m ais que existe além de ti pode n a verdade ser concebido com o n ão-existen te. Som ente Tu, portanto, o m ais verdadeiro de todos, e por isto o m aior de todos, tens a existência, pois tudo o m ais que ex iste não existe tão verdadeiram ente e por isto mesmo tem m enos prerrogativa de existência.

[O argum ento de A nselm o recebeu resposta de um m onge cham ado G auni- lo em seu L i b e r p r o I n s i p i e n t e ( “ livro em favor do lo uco” — que disse em seu co ração : “não existe D eu s”, um te x to com que A nselm o faz jô g o de p alavras no P ro s lo g io n ). G aunilo objeta que a existência de um a i d é i a na m ente não

im plica na existência de um a r e a l i d a d e correspondente fo ra da m ente. A nselm o

respondeu com um a distinção entre p e r f e i ç ã o e m s e u p r ó p r i o g ê n e r o e p e r f e i ç ã o a b s o l u t a . Só à últim a devemos atrib u ir necessàriam ente a existência.]

D a B esp o n si A n selm i

M as, dizes, isto é o mesm o como se alguém concebesse a idéia de um a ilh a que ultrapassasse todos os países em fertilidad e, cham ada — por causa da d ificu ld ad e, ou antes im possibilidade, de encontrar o que não existe — “ a ilh a p erd id a ”, e afirm ar que ela deve indubitàvelm ente existir na realidade, porque um hom em fa c il­ m ente concebe a id éia dela quando é descrita por p alavras. R espondo com segurança: se alguém m e encontrar um a coisa que ex ista quer de fato, quer em id éia som ente, e que seja tão excelente que nada m ais excelente é concebível, e se fô r capaz de aplicar a ela o curso do m eu argum ento, então eu descobrirei e lhe apresentarei sua “ ilha p erd id a”, para que não m ais a perca.

II. D O U T R IN A D E A N SE L M O SÔ B R E A E X P IA Ç Ã O A nselm o, C ur D eus hom of

[A teo ria do “re sg a te ” p ara explicar a expiação (v e r pgs. 62 e 67) do­ m inou a teologia cristã desde os dias de G reg ó rio M agno a té A nselm o. A

‘'te o ria da satisfação ” de A nselm o é exposta em um dos poucos livros que v e r­ dadeiram ente podem ser cham ados “e p o c h - m a k i n g ”. “ E m diferentes g rau s êle

afetou — o ra por atração, ora por repulsa — todo o pensam ento soteriológico desde então até nosso tem po” (M ozley, D o c t r i n e o f t h e A t o n e m e n t ) ,A porção

seguinte é tira d a de N o rris, R u d i m e n t s o f T h a o l o g y , 1878, A pêndice I I I , pgs.

305 s s ) . ]

L iv ro I

X I . O problem a é: como pode D eus perdoar o pecado do