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Cada um dos veículos escolhidos para esta pesquisa detém de natureza específica. O Ilustríssima (suplemento dominical da Folha de São Paulo), a Revista Cult e o site Digestivo Cultural, apesar de discorrerem sobre um mesmo eixo temático, o do jornalismo cultural, possuem disparidades em relação aos seus dispositivos60 e regimes de produção. Tais aspectos serão realçados com o intuito de pontuar e compreender possíveis discordâncias entre os textos produzidos pelos mesmos.

Anterior a isso, entretanto, é importante informar ao leitor que no final deste trabalho, como anexos, encontram-se os textos que foram utilizados para a análise. Ainda, informações como título, autor, editoria, data, página e veículo são apresentadas de forma sistemática a fim de que seja possível imergir no material explorado.

60 Entende-se por dispositivo o lugar material ou imaterial nos quais estão contidos os textos. Eles possuem

forma específica, assim como um modo de estruturação do tempo e do espaço; são uma matriz que impõe suas formas aos textos. Nesse sentido, “[...] o dispositivo e o texto se precedem e se determinam de maneira alternada (o dispositivo pode aparecer como uma sedimentação do texto, e o texto, como uma variante do dispositivo, por exemplo, um número do jornal diário e sua coleção).” (MOUILLAUD, 1997, p.35, grifo do autor).

Ademais, na mídia digital agregada ao trabalho é possível acessar de forma integral no formato PDF os 17 exemplares da Ilustríssima, assim como as quatro publicações da Revista Cult. Quanto ao Digestivo Cultural, os textos analisados e também aqueles que possuem figuras relacionadas às artes plásticas estão disponíveis. A alteridade referente ao material disponível dos dois primeiros em relação a esse último se dá pois os veículos respeitam diferentes caracteres: os meios impressos possuem uma totalidade material que é possível visualizar, enquanto o meio digital tem contornos menos definidos – os PDF’s disponibilizados querem também abordar tal complexidade. Em última instância, se o leitor tiver interesse, pode acessar o material completo veiculado nos meses em questão através do site Digestivo Cultural.

5.1.1 Cultura no jornal: o suplemento

Os suplementos culturais passaram por inúmeras mudanças durante a história do Brasil. Originados dos suplementos literários, hoje são responsáveis por veicular informações de cunho intelectual e artístico, o que os torna além de jornalísticos, acadêmicos. De periodicidade semanal, são comercializados normalmente aos finais de semana – escolha que diz respeito aos dias em que os leitores estariam mais propensos a leituras longas e reflexivas (PIZA, 2009) – junto aos jornais a que pertencem (constituem, entretanto, um corpo independente, pois se encontram separados do restante do jornal).

Diferentemente das editorias que se complementam (política, polícia, economia, etc.), o suplemento traz conteúdo sem o qual o jornal continuaria completo. Nessa espécie de ‘algo a mais’ que o leitor recebe é que está reservado o espaço para o escritor, para a literatura e para as artes, sugerindo que o tempo livre do fim de semana seja aproveitado por meio do cultivo da mente (GOLIN; CARDOSO in BOLAÑO; GOLIN; BRITTOS, 2010, p.190).

Por estarem vinculados a veículos de massa, os suplementos culturais “[...] estão sujeitos à influência do tempo e também à questão da novidade” (TRAVANCAS, 2001, p.36) e possuem tiragens expressivas. Além disso, dialogam com um público amplo e heterogêneo que nem sempre tem como objetivo principal a leitura do caderno. Isso significa que seu leitor pode ser alguém interessado em artes ou aquele que se deparou de forma ocasional com o conteúdo - entretanto, entre leitores assíduos, é comum a prática de colecioná-los.

Dentro da redação, os suplementos culturais possuem geralmente uma equipe exclusiva que, além de produzir conteúdo de acordo com a editoria, segue as normas e preceitos da empresa a que pertence. Por isso, faz-se necessário atrelar as características do

Ilustríssima ao jornal Folha de São Paulo, que tem seu surgimento no ano de 1921 e, desde a década de 1980, é o de maior circulação do Brasil.

A edição dominical, que abrange o suplemento cultural em questão, tem uma tiragem aproximada de 345 mil exemplares – que atingem a maioria do território nacional.61 Consequentemente, o Ilustríssima é publicado de quatro a cinco vezes ao mês desde 2010, ano em que foi criado para substituir o antigo caderno Mais!

O Ilustríssima reúne em seu repertório ficção, poesia, dramaturgia, artes plásticas, ensaios, cartuns e quadrinhos. Coordenado pelo jornalista Paulo Werneck, conta com 60 artistas colaboradores que ilustram as páginas da publicação e, em conjunto com os textos produzidos por escritores, criam uma narrativa única e diferenciada (COSTA, 2012). O suplemento se divide em média em 14 textos por edição e é mantido financeiramente pelo Grupo Folha; além de contar com um espaço exclusivo no site da Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br/ilustrissima/) e com uma página na rede social Facebook (www.facebook.com/Folha-Ilustrissima).

5.1.2 Segmentação: a revista cultural

Nas palavras da jornalista Marília Scalzo (2011), uma revista “[...] une e funde entretenimento, educação, serviço e interpretação de acontecimentos” (p.14). Ela é veículo de comunicação, produto, objeto, negócio, marca, um conjunto de serviços que, desde o seu surgimento, dedicou-se não às notícias no sentido clássico, mas sim à diversão e à formação intelectual.

A revista fala para um público específico, segmentado, que possui gosto comum por determinado assunto e quer aprofundá-lo, como é o caso das revistas culturais. Tal característica é a própria essência do veículo: comunicar-se com um leitor bem definido – também por essa razão, as revistas reúnem menos olhares e suas tiragens são inferiores as dos jornais.

Além disso, outros dois fatores significativos as diferenciam dos demais veículos impressos: o primeiro é a sua periodicidade, que pode variar entre semanal, quinzenal, mensal, entre outros, e acaba por conferir diferente ritmo a sua produção – jornalistas de revista possuem mais tempo para trabalhar nas pautas, mas também precisam impor novas reflexões e significados a assuntos já divulgados anteriormente por outros meios; o segundo é

61 FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/institucional/>. Acesso em set.

o seu formato, que acaba por torná-las objetos colecionáveis (já que são fáceis de guardar), garantir qualidade de imagens devido ao tipo de papel na qual são feitas, e, ainda, configurar sua durabilidade (SCALZO, 2011).

Atualmente, a Revista Cult lidera o segmento cultural no Brasil. Criada no ano de 1997 pela Lemos Editorial, voltava-se principalmente à literatura mas, em 2002, a publicação foi adquirida pela Editora Bregantini que ampliou suas pautas e passou a abordar também outros temas em suas páginas, como artes, filosofia e ciências humanas.62

Com sede na cidade de São Paulo – SP, a Revista Cult é a mais longeva publicação cultural do país e está sob direção da jornalista Daysi Bregantini. Sua periodicidade é mensal, com 35 mil exemplares de, em média, 66 páginas cada, e seu quadro de funcionários e colaboradores é variável. A escolha dos temas abordados respeita o critério editorial da revista que é especializada em jornalismo cultural com foco no conhecimento e na educação.63

Independente, a revista mantém um site (www.revistacult.uol.com.br) e uma página na rede social Facebook (www.facebook.com/revistacult). Seus exemplares físicos podem ser adquiridos em bancas de revista e livrarias, e também ser consultados em bibliotecas públicas, universitárias e centros culturais – fazem parte de acervos.

5.1.3 Artes na Web: o site

O panorama comunicacional que se configura no Brasil a partir da década de 1990, ocasionado pelo crescimento desenfreado da World Wide Web64, tem por consequência direta a transformação não só do conteúdo jornalístico como também das suas formas de produção. De acordo com a jornalista Pollyana Ferrari (2003), “[...] os elementos que compõem o conteúdo on-line vão muito além dos tradicionalmente utilizados na cobertura impressa” (p.39, grifo do autor). Além de textos, fotos e gráficos, vídeos, áudios, animações, links e outros podem ser utilizados para agregar conhecimento e informação aos textos – que, consequentemente, passam a ser mais abrangentes e complexos.

O tempo e o espaço também são ressignificados no ambiente on-line, o que acaba por influenciar a prática jornalística. Na Web, a informação pode ser divulgada minuto a minuto ou, até mesmo, ser gerada paulatinamente, já que a produção de conteúdo não obedece a um regime fixo de publicação. Da mesma forma, não há um limite físico de espaço, o que

62 BREGANTINI, Daysi. Respostas [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por

<micaela.rossetti@hotmail.com> 17 de agos. 2015.

63 Ver nota 62.

viabiliza a criação de textos mais extensos e, porque não, detalhados; e o conteúdo é de alcance global.

O leitor digital também adquire um comportamento diferenciado daquele de veículos impressos. Frente às diversas possibilidades, navega sem compromisso pela rede e só dedica atenção aos assuntos que realmente lhe interessam. (FERRARI, 2003). Referente a isso, são inúmeros os sites especializados que se dedicam a atividades específicas, entre eles os de jornalismo cultural, como o Digestivo Cultural.

Ele deu seus primeiros passos no formato de newsletter, uma espécie de e-mail com dicas culturais breves e, em 2000, o site (www.digestivocultural.com) ganhou vida, sendo um dos precursores do jornalismo cultural no ambiente on-line devido à realização de críticas de livros, discos, filmes, peças, programas, exposições, publicações, sites e até mesmo restaurantes. Seu criador, Julio Daio Borges, possui formação em Engenharia de Computação Politécnica e decidiu utilizar os conhecimentos adquiridos na graduação para explorar o gosto pela escrita e pela leitura – também porque, segundo o próprio, não sendo jornalista seria árduo conseguir um trabalho na imprensa tradicional.65

Atualmente, o site, que recebe 250 mil visitantes ao mês e entrega mais de dois milhões de páginas navegadas (pageviews) mensais, conta com colunistas (em torno de 15) e colaboradores, também chamados de blogueiros (aproximadamente 120). Seu regime de publicação é diário (o que contabiliza uma média de 40 atualizações por semana) e seu financiamento se dá através de publicidade e serviços na área de internet – o site possui presença significativa em mecanismos de busca e redes sociais. Os critérios de escolha das matérias giram em torno da qualidade, originalidade, relevância e personalidade dos textos e, além da plataforma, o Digestivo Cultural conta com uma página na rede social Facebook (www.facebook.com/digestivocultural) e uma conta na rede social Twitter (https://twitter.com/digestivo).66