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2.1 O JORNALISMO CULTURAL NA HISTÓRIA

2.1.3 Perfil contemporâneo

Para Barbosa (2010), a década de 1990 representa “[...] o momento em que a chamada cultura da comunicação começa a tomar forma” (p.225). Isso porque a comunicação passa a estar totalmente apoiada em um sistema tecnológico que mistura a mídia de massa globalizada com a comunicação mediada por computadores.

Além disso, o período também foi palco para o surgimento de importantes revistas segmentadas no país. Em 1997, a Editora D’Ávila, apostando no consumo e, ainda, certa da necessidade de uma publicação séria voltada às artes, lançou a revista BRAVO!. A nova empreitada tornou-se referência no jornalismo cultural brasileiro veiculando matérias sobre

música, pintura, artes plásticas, teatro, dança, escultura, entre outras manifestações artísticas e culturais (ROSSETTI, 2014).

Em 2004, a publicação passou a ser da Editora Abril e sobreviveu, em versão impressa e on-line, até o ano de 2013, quando foi descontinuada devido a mudanças nas estruturas editorial e comercial da editora. Há quem atribua o seu fechamento – assim como o de outras publicações – a nova configuração da comunicação atual, principalmente ao crescimento da internet.

Segundo o site de publicidade da Editora Abril (PubliAbril), a revista possuiu uma média de 17.899 assinaturas, com uma venda média de 6.315 exemplares avulsos e uma circulação média líquida de 24.214 exemplares. Com aproximadamente quatro leitores por exemplar, cada edição atingia em média 100 mil pessoas.20 Para Daniel Piza (2009), a BRAVO! queria comunicar o prazer da cultura através da qualidade de seus textos e pela produção visual, e foi considerada pelo autor como a mais bem feita do segmento no Brasil no início do século XXI.

Também em 1997, a Lemos Editorial lançou a Revista Cult, mais uma aposta na existência de um público interessado por jornalismo cultural. A publicação, incialmente voltada à literatura, foi assumida mais tarde pela Editora Bregantini que a ampliou e passou a abordar nas suas páginas também outros temas, como artes, filosofia e ciências humanas. Destaque no cenário nacional, voltada para o público em geral e também para acadêmicos, a revista evoluiu com o passar dos anos e hoje conta com uma tiragem mensal de 35 mil exemplares, além de sustentar um site e uma página no Facebook que conta com mais de 68 mil seguidores.21

Os anos 2000 chegaram e foram cenário do avanço da internet, que passou a fazer parte cada vez mais da vida dos brasileiros. Seu crescimento e seu maior acesso pela população configuram um novo momento no jornalismo do país. Romancini e Lago (2007) afirmam “[...] que existem movimentos de pluralização de produtores – neste caso graças, em particular, à Internet –, de regionalização e localização das mensagens” (p.169).

Ou seja, a informação não é mais uma exclusividade da imprensa e dos jornalistas, o que torna a função ainda mais importante: é preciso evidenciar a qualidade de um bom texto e de informações colhidas e elaboradas com cuidado e embasamento teórico, frente a um turbilhão de mensagens que são produzidas todos os dias. Afinal, de acordo com o

20 PUBLIABRIL. BRAVO!. Disponível em: <http://www.publiabril.com.br/marcas/bravo/revista/informacoes-

gerais>. Acesso em out. de 2014.

21 BREGANTINI, Daysi. Respostas [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por

Fecomércio-RS/Ipsos, em 2007 o percentual de brasileiros conectados à internet era de 27% e em 2011 já somavam-se 48%.22 Segundo o Ibope Media, em 2013 já eram 105 milhões de internautas no Brasil, dado que o torna o 5º país do mundo mais conectado.23

É inegável que o ambiente on-line representa o surgimento de um novo local no qual o jornalismo cultural e seus profissionais podem se expressar e explorar textos e críticas, já que, parece, não há mais esse espaço (e nem essa liberdade) nos jornais impressos e revistas. Além disso, o formato traz novas possibilidades de sustentabilidade e novos meios de interação com a sociedade: ao contrário dos suportes tradicionais, o jornalismo on-line pode respeitar a atualização, diária ou não, de acordo com os seus setores; o usuário tem maior acesso ao produtor do texto, podendo entrar em contato instantaneamente com o mesmo; é possível selecionar somente os conteúdos que interessam a cada leitor; entre outras (TEIXEIRA in AZZOLINO, 2009).

Entretanto, o aumento de produtores propiciado pelo ambiente on-line – aquele famoso qualquer um pode escrever sobre qualquer coisa – pode ocasionar o crescimento de opiniões supérfluas sobre criações artísticas, baseadas em juízos de gosto e não em conhecimento. Quando desta forma, a prática prejudica artistas e cria ruídos nas relações entre produtores e consumidores.

O site Digestivo Cultural, criado em 2000, apresenta-se como um dos precursores do jornalismo cultural no ambiente on-line. Encabeçado por Julio Daio Borges, a plataforma se propõe a realizar críticas de livros, discos, filmes, peças, programas, exposições, publicações e até mesmo restaurantes. Entre seus colaboradores, autores, escritores, e jornalistas produzem ensaios, colunas, entrevistas (etc.) que reúnem os olhares de 250 mil visitantes ao mês – o site entrega mais de dois milhões de páginas navegadas (pageviews) mensais.24

Outro que se destaca na rede é o Arteref, criado por Paulo Varela, que é também um bom exemplo de jornalismo cultural on-line atualmente. O website conta com seis profissionais, de diferentes formações acadêmicas, que publicam ensaios, resenhas e críticas sobre a arte brasileira e mundial. Com o objetivo de informar, difundir e popularizar a arte, o Arteref se mostra como uma proposta interessante e de qualidade.25

22 REVISTA ÉPOCA. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Ciencia-e-

tecnologia/noticia/2011/11/metade-da-populacao-brasileira-tem-acesso-internet.html>. Acesso em fev. 2015.

23 IBOPE. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/paginas/numero-de-pessoas-com-acesso-a-

internet-no-brasil-chega-a-105-milhoes.aspx>. Acesso em fev. 2015.

24 BORGES, Julio Daio. Digestivo Acessos (planilha). [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por

<micaela.rossetti@hotmail.com> 17 de jun. 2015.

Por fim, em maio de 2010 o jornal Folha de São Paulo criou o suplemento cultural Ilustríssima, em substituição ao antigo caderno Mais! que durou 18 anos. A nova empreitada veiculada todos os domingos reúne em seu repertório ficção, poesia, dramaturgia, artes plásticas, ensaios, cartuns e quadrinhos. Coordenado pelo jornalista Paulo Werneck, a editoria conta com 60 artistas colaboradores que ilustram as páginas da publicação e, em conjunto com os textos produzidos por escritores, criam uma narrativa única e qualificada. O Ilustríssima mostra-se como importante espaço de reflexão cultural do jornalismo brasileiro atual (COSTA, 2012).