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5.4 INTERFERÊNCIAS PÓS-MODERNAS

5.4.7 O presente se instala

Dos seis pensadores que discutem as teorias pós-modernas neste trabalho, quatro articulam a relação temporal e identificam o cerne da sociedade atual no presente. Lyotard, Jameson, Maffesoli e Lipovetsky apontam diferentes aspectos – a crise dos grandes sistemas, o capitalismo focado no consumo, a Segunda Guerra Mundial, etc – como os responsáveis por tal configuração.

No jornalismo, a predominância do hoje se evidência através da busca por atualidades, prática que muitas vezes resulta na criação de notícias. A atividade quer desvendar o que está em curso no momento e, no jornalismo cultural, levar o público a participar de eventos artísticos ou intelectuais. Nesse sentido, a predominância de notícias encontradas na análise feita neste trabalho demonstra que o presenteísmo proposto pelos autores está, de fato, em voga.

No Ilustríssima, de 46 textos, 29 são notícias sobre artes plásticas; no Digestivo Cultural, são 10 em um total de 21. Conduzir o indivíduo a exposições instiga o aqui e agora de Maffesoli (2012), assim como proporcionam a satisfação imediata e os prazeres instantâneos de Lipovetsky (2004). O texto Exposição | Alex Cerveny – Ilustríssima, 9 de agosto – serve como exemplo:

Na mostra ‘O Glossário dos Nomes Próprios’, o artista (São Paulo, 1963) apresenta 30 desenhos e duas grandes pinturas sobre o universo masculino e solidão. Em ‘Para Além do Bem e do Mal’ (ao lado), faz, em suas próprias palavras, ‘uma coleção pessoal que mistura tesouros e vulgaridades recebidas, compradas, coletadas ou roubadas pelo caminho’.

Casa Triângulo | tel. (11) 3167-5621 de ter. a sáb., das 11h às 19h | grátis | até 19/9” (ILUSTRÍSSIMA, 2015, n.31.539, p.2, grifo do autor).

Já em Exposição | Marco Gianotti – Ilustríssima, 7 de junho – o convite para a exposição Traço Volume Espaço atribui destaque de forma ainda mais clara ao fator temporal quando afirma que as obras apresentadas são inéditas e foram produzidas no presente ano:

O artista e professor de pintura na ECA-USP (São Paulo, 1966) apresenta na individual ‘Entropia’ dez telas que têm como ponto de partida resíduos urbanos, como grades e plantas. A galeria exibe ainda ‘Traço Volume Espaço’, com obras inéditas de Sérvulo Esmeraldo (Crato, CE, 1929), realizadas neste ano, entre esculturas, relevos e desenhos.

galeria Raquel Arnaud | tel. (11) 3083-6322 | abertura qua. (10), às 19h | de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 12h às 16h | grátis | até 1/8” (ILUSTRÍSSIMA, 2015, n.31.476, p.2, grifo do autor).

A luta contra o envelhecimento das sensações de que fala Lipovetsky (2004) é identificada na criação artística. O tempo-velocidade, de Jameson ([1991] 1996) embaça a ideia de passado e futuro e, com o presente em foco, os artistas se veem presos à ideia de produzir incessantemente, de proporcionar ao espectador a sensação de vivacidade, intensidade.

A propósito, as instalações artísticas, para Jameson ([1991] 1996), são outro aspecto dessa sociedade que se baseia no presente. Para o crítico, elas existem como algo efêmero, fugaz, que valoriza mais o espaço do que o tempo. No Ilustríssima, das 29 notícias, oito destacam essa forma de intervenção artística, além de duas das cinco críticas, e uma das três reportagens (que abordam o tema das artes plásticas de forma parcial).

Em Exposição | Imaterialidade – 28 de junho; Exposição | Marcelo Moscheta – 12 de julho; Exposição | Luz Negra – 9 de agosto; e Exposição | Almandrade – 13 de setembro – as mostras reúnem além de instalações, outras formas de arte como fotografias, pinturas, serigrafias, desenhos, etc. Já em Exposição | Artur Lescher – 19 de julho – o evento é, em si, uma instalação, assim como em Exposição | Elisa Brancher – 23 de agosto; Exposição | Laura Lima – 6 de setembro; e Exposição | Márcia Pastore – 27 de setembro.

Na individual ‘Afluentes’, o artista (São Paulo, 1962) emprega procedimentos industriais para criar um universo organizado de objetos que mesclam princípios da física e da mecânica a esculturas. O resultado é leveza e uma reflexão sobre conceitos como igualdade, equilíbrio e proporção. [...] (ILUSTRÍSSIMA, 2015, n.31.518, p.2, grifo do autor).

Na individual ‘Luctus Lutum’ a artista (São Paulo, 1965) expõe uma instalação feita de barro que ocupa o térreo da galeria e a escultura animada ‘Pulmão’, que tratam da morte de sua mãe no começo desse ano. Ela exibe ainda fotografias feitas em 2014 durante residência artística em um navio, no Círculo Polar Ártico. [...] (ILUSTRÍSSIMA, 2015, n.31.553, p.2, grifo do autor).

Em ‘Ágrafo’, a artista (Governador Valadares, 1971) expõe obras após a

abertura. Cordas, em nós e teias, e tecidos sustentam objetos que estão pendurados pelo espaço expositivo. [...] (ILUSTRÍSSIMA, 2015, n.31.567, p.2, grifo do autor). A artista (São Paulo, 1964) convida o visitante da biblioteca paulistana a interagir com cinco esculturas de grandes dimensões, (como a foto ao lado) em ‘Tira- Linhas’. Instaladas no salão nobre da segunda maior biblioteca do Brasil, as peças possibilitam que o espectador deixe sua marca por meio de seu movimento. [...] (ILUSTRÍSSIMA, 2015, n.31.588, p.2, grifo do autor).

Apesar da expressão instalação, de forma literal, ser utilizada em somente duas das notícias acima (na segunda e na quarta), o escrito dos outros textos permite inferir a prática artística, já que envolvem a criação de um espaço participativo através do manuseio de diversos objetos. Pensando com Maffesoli (2012) a instalação valoriza o aspecto experimental, as contínuas renovações, o dinamismo existencial.

Nas críticas, a mostra Nelson Félix: Ooco – em texto Contra o senso comum, 5 de julho – é composta de diversos trabalhos do artista que, apresentados em conjunto, resultam em uma instalação. E, na exposição Entre Curvas, analisada no texto Como se instalar em uma fresta – 26 de julho – a colocação dos painéis produzidos pelos artistas configura a intervenção artística.

[...] Faz todo o sentido. A maior parte dos trabalhos expostos em ‘Ooco’ são tridimensionais. Mas não são volumes íntegros que partem de um bloco só. Em todas as esculturas da exposição Nelson Félix se vale de mais de um elemento. O artista coloca lado a lado, de maneira mais ou menos amistosa, materiais, objetos, naturezas, lugares e momentos diferentes. Associa em seus trabalhos lugares distantes no tempo e no espaço, a sugerir que algo acontece entre eles, para além do que percebemos.

As obras aproximam discos grossos feitos com materiais diversos. Cravos de ouro são alocados em cubos vazados de mármore; uma superfície ondulada de madeira é acompanhada de um vaso de bronze com azeite; um gradeado de mármore é suspenso por vigas de ferro, sugerindo que sua posição não é mais dada pela gravidade, mas pela orientação do planeta Terra com o Sol. [...] (MESQUITA, 2015, n.31.504, p.2).

[...]A expografia de Rodrigo Cerviño e Fernando Falcon (TACOA Arquitetos) é enxuta e precisa. Instala os vídeos na ‘sombra’ do espaço e libera as obras das paredes através dos painéis, posicionando-os como uma espécie de dança que encaminha o visitante de um para o outro a criar variadas relações do conjunto. Projetados com um detalhamento impecável, os painéis estão estruturados por um quadro metálico recuado e suspensos a 20 cm do chão por um único cabo contínuo, de modo a permitir ajuste de nível. [...] (BÓGEA, 2015, n.31.525, p, 2, grifo do autor).

Importante esclarecer que o conceito de expografia – utilizado no texto acima – diz respeito à capacidade de um espaço de ser a coisa em exposição. É a constituição de um ambiente em que são indispensáveis, além dos objetos, a cenografia: a ideia é proporcionar ao público uma melhor fruição da obra, em sua totalidade.

No Digestivo Cultural, por sua vez, a instalação se faz presente na reportagem Iara Abreu expõe artes visuais com poesia – 2 de agosto. Da união da artista plástica com escritores surgiu um painel, além de objetos geométricos, totens e outros.

[...] A convite o projeto foi se instalando em vários lugares e com vários formatos sempre em diálogo com os espaços. Atualmente o projeto se compõe de um painel ‘urbe’ (11 metros extensão), desenhos, aquarelas, fotografias, objetos como geométricos poéticos, rosário poético, totens, mini caixa arquivo de poemas ilustrados e um livro objeto, (formatado em rolo lembrando os pergaminhos, com 40 metros em poemas ilustrados); uma pequena escultura em terracota e os poemas ilustrados. [...] (JESUS, 2015, grifo do autor).

Ainda, a notícia Emmanuel Nassar na Mul.ti.plo Espaço de Arte – 27 de agosto – também demonstra a presença da intervenção realizada através de objetos posicionados no espaço.

[...] Tanto que um dos trabalhos da mostra estará exposto na Livraria Argumento, que fica no térreo do prédio da galeria, na Rua Dias Ferreira: uma pilha de livros que ‘atravessa’ o teto da livraria até chegar ao salão da galeria, no primeiro andar. A mostra se completa com obras em chapas metálicas pintadas, objetos e fotografias. [...] (COMUNICAÇÃO, 2015, grifo do autor).

As instalações artísticas são obras de arte que só existem enquanto em exposição. Momentâneas, comemoram o presente. Sensitivas, despertam emoção. São, em si mesmas, uma forma artística característica da pós-modernidade. O “[...] desejo de perpétua renovação do eu presente” (LIPOVETSKY, 2004, p.80) se apresenta através delas e instigam o consumo do aqui-agora.