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Impacto da Agência Lusa nos media noticiosos nacionais

3.5. As agências noticiosas

3.5.2. Impacto da Agência Lusa nos media noticiosos nacionais

Apesar da reconhecida importância da Agência Lusa e da acessibilidade do seu arquivo online para fins escolares ou científicos – que decorre das suas obrigações de serviço público –, a agência noticiosa nacional tem sido pouco usada como fonte de dados na investigação académica, designadamente na área da comunicação. Ainda que a atividade da Lusa se traduza num trabalho discreto, de bastidores, talvez o facto de ser pouco estudada decorra sobretudo da sua omnipresença reservada, que pode ter criado as condições da sua invisibilidade. Como noutros aspetos da vida, por vezes o que é mais óbvio é o que mais facilmente passa despercebido.

Embora a imprensa regional dependa mais da Lusa, por falta de meios próprios para a cobertura noticiosa, a generalidade dos media nacionais tem por referência a Agência. Em entrevista publicada na dissertação de mestrado de Andreia Magalhães, Manuel Carvalho, diretor-adjunto do Público afirma:

"Eu diria que no caso concreto de Portugal não seria impossível o Público trabalhar sem a Lusa. A agência é extremamente importante, mas penso que conseguiríamos, na era dos sítios na internet, trabalhar sem o seu apoio. Poderíamos trabalhar sim, mas aceito que se possa dizer que o jornal não seria o mesmo, nem a actualidade" (Carvalho in Magalhães, 2011: 39).

Não é fácil calcular que proporção do que é produzido pela Lusa é efetivamente usado pelos seus clientes ou qual a dependência destes relativamente à Agência, já que nem a Lusa, nem os seus clientes avaliam estes parâmetros. Além disso, a Lusa nem sempre é

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creditada como fonte pelos seus clientes. David Pontes, jornalista da Agência Lusa, em entrevista publicada na já referida dissertação de mestrado, refere:

"Por exemplo, temos casos caricatos de uma notícia da Lusa que saiu em quase todos os jornais no mesmo dia, assinada por diferentes pessoas, e percebia-se que a informação vinha do mesmo sítio… Sabemos que somos uma base de trabalho, e por isso, temos a obrigação, em muitos casos, de estar onde os nossos clientes suspeitam que vamos estar e eles não vão estar. Temos sempre este trabalho invisível da agência" (Pontes in Magalhães, 2011: 41).

Apesar destes constrangimentos, alguns trabalhos académicos recentes fizeram algumas aproximações no sentido de medir a influência da Lusa, através da análise da assinatura das notícias publicadas por diferentes jornais de âmbito nacional.

Tiago Moreira (2011), no âmbito de uma dissertação de mestrado, analisou a relação entre as agências noticiosas e a imprensa diária online. Ao longo de seis semanas, consultou os sites noticiosos do Jornal de Notícias, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Diário Digital e Portugal Diário, concluindo que, em média, 35% (n=1088) do total de notícias recolhidas (N=3126) continha influência de agências noticiosas, variando este valor entre um mínimo de 18% e um máximo de 55%, consoante o jornal analisado (Moreira, 2011: 80, 81).

Alexandra Martins (2013) fez uma pesquisa no mesmo sentido, mas na imprensa diária em papel, entre os dias 14 e 25 de outubro de 2012, nos jornais diários Público, Jornal de Notícias e Diário de Notícias, nas editorias relativas a assuntos locais, políticos e económicos. A autora concluiu que, num total de N=999 conteúdos noticiosos, 8% (n=77) provém total ou parcialmente da Lusa, ao passo que a produção noticiosa própria representa cerca de 50% (Martins, 2013: 12, 13). No entanto, o conjunto de conteúdos não assinados apresenta valores próximos dos 40%, o que "põe consideravelmente em causa os dados relativos ao uso, ou não, de informação proveniente de agência, uma vez que, não havendo assinatura, nada garante a autoria dos conteúdos" (Martins, 2013: 13).

Na sua dissertação de mestrado, Andreia Magalhães (2011) fez a análise de todos os artigos publicados na editoria Local/Porto do jornal Público, durante três meses: dezembro de 2010 e janeiro e fevereiro de 2011. Os seus resultados indicam que, num total de N=752 notícias, 67,42% dos artigos publicados na secção são exclusivamente produzidos pelo Público (Magalhães, 2011: 54) e 4,12% são acreditados exclusivamente à Lusa (Magalhães, 2011: 57). Se juntarmos a este valor, os artigos em que existe uma

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contribuição da Lusa, o valor sobe para 20,48%, aproximadamente 1/5 do total. (Magalhães, 2011: 57). De referir ainda o valor de 12% de artigos não assinados (Magalhães, 2011: 54).

Os trabalhos mostram que não parece haver uma utilização excessiva da produção noticiosa da Agência Lusa pelos principais diários nacionais mas, para além das limitações das amostras usadas nestes estudos de caso, o volume de notícias não assinadas deixa algumas dúvidas quanto à real dependência destes periódicos relativamente à agência noticiosa nacional. De facto, Cristina Ponte assinala que

"a assinatura de uma peça – texto ou imagem – será uma marca de responsabilidade do seu autor perante os leitores do jornal. Tende a estar ausente quando a redacção da notícia oferece pouco valor acrescentado em relação à informação proveniente de uma fonte pública de reconhecida competência, nomeadamente agências de informação ou gabinetes de imprensa." (Ponte, 2001: 285).

A autora refere ainda que o texto não assinado, sendo assumido como a voz do jornal, realça uma imagem de objetividade da notícia (Ponte, 2001: 285). Contudo, a não identificação das fontes infringe o Código Deontológico do Jornalista:

"citar as fontes é igualmente citar as agências noticiosas tantas vezes deixadas no anonimato, ou as informações 'picadas' de outros órgãos de informação: desrespeitar direitos de autor, plagiar trabalho alheio, atribuir vagamente a origem da informação só para não ter de citar o nome de um jornal concorrente, são algumas das infracções mais frequentes a este dever ético." (Fidalgo, 2000: 326).

Ainda que não seja possível calcular com precisão o impacto da Lusa nos media noticiosos nacionais e, por consequência, nas notícias que atingem o público, não restam dúvidas quanto à sua importância, quer no estabelecimento da agenda, quer no fornecimento de notícias prontas a publicar, funcionando a Lusa, em muitos casos, como fonte principal para os diferentes media noticiosos.

3.6. Síntese do capítulo

Neste capítulo foi feita uma apresentação dos media na sociedade contemporânea, discutindo-se a sua capacidade de influência sobre representações e práticas dos públicos e a sua responsabilidade moral e social, bem como os riscos associados.

Os media noticiosos assumem repetidamente o seu compromisso com a verdade dos factos mas, tal como a linguagem, as notícias têm vindo a ser entendidas como

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construções sociais e não espelhos da realidade. Esta visão não implica que as notícias sejam falsas, apenas que devem ser reconhecidas como narrativas possíveis e não únicas dos acontecimentos.

A informação noticiosa resulta de muitas variáveis, podendo destacar-se os valores- notícia, que são os critérios que conduzem a que um dado acontecimento se transforme, ou não, em notícia. Na atual era tecnológica, a difusão de informação é rápida e constantemente replicada a partir de fontes primárias. As agências noticiosas constituem-se como fontes de rotina para a generalidade dos media noticiosos, por permitirem o acesso a informação abundante a baixo custo e serem detentoras de uma imagem de credibilidade, rigor e isenção. A informação produzida pela agência noticiosa nacional – a Agência Lusa – constituiu-se como objeto de estudo deste trabalho.

No próximo capítulo apresentam-se as metodologias usadas no estudo empírico, no qual se analisaram as notícias sobre sexualidade da Agência Lusa.

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"OF THE WAY HOW TO BEGIN AND HOW TO END THE CONGRESS. DIFFERENT KINDS OF CONGRESS AND LOVE QUARRELS.

In the pleasure-room, decorated with flowers, and fragrant with perfumes, attended by his friends and servants, the citizen should receive the woman, who will come bathed and dressed, and will invite her to take refreshment and to drink freely. He should then seat her on his left side, and holding her hair, and touching also the end and knot of her garment, he should gently embrace her with his right arm. They should then carry on an amusing conversation on various subjects, and may also talk suggestively of things which would be considered as coarse, or not to be mentioned generally in society. They may then sing, either with or without gesticulations, and play on musical instruments, talk about the arts, and persuade each other to drink. At last when the woman is overcome with love and desire, the citizen should dismiss the people that may be with him, giving them flowers, ointment, and betel leaves, and then when the two are left alone, they should proceed as has been already described in the previous chapters.

Such is the beginning of sexual union. At the end of the congress, the lovers with modesty, and not looking at each other, should go separately to the washing-room. After this, sitting in their own places, they should eat some betel leaves, and the citizen should apply with his own hand to the body of the woman some pure sandal wood ointment, or ointment of some other kind. He should then embrace her with his left arm, and with agreeable words should cause her to drink from a cup held in his own hand, or he may give her water to drink. They can then eat

sweetmeats, or anything else, according to their likings, and may drink fresh juice, soup, gruel, extracts of meat, sherbet, the juice of mangoe fruits, the extract of the juice of the citron tree mixed with sugar, or anything that may be liked in different countries, and known to be sweet, soft, and pure. The lovers may also sit on the terrace of the palace or house, and enjoy the moonlight, and carry on an agreeable conversation. At this time, too, while the woman lies in his lap, with her face towards the moon, the citizen should show her the different planets, the morning star, the polar star, and the seven Rishis, or Great Bear.

This is the end of sexual union."

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Capítulo IV

METODOLOGIAS

"(...) Iremos pelos atalhos e sobre ti me deitarei na terra. Encostado ao teu corpo ouvirei as abelhas pairando sobre as flores como helicópteros e ouvirei o estalar das antenas e o surdo escorrer dos grãos de pólen buscando o óvulo, deflagrando nele a primavera eterna. (...)" António Gedeão, 2001. "Poema da menina do higroscópio", Obra Poética: 167

O trabalho empírico realizado consiste num projeto de investigação de caráter interpretativo, no qual que se aplicou a metodologia de estudo de caso à Agência Lusa. A amostra recolhida é constituída pelos títulos das notícias sobre sexualidade presentes no arquivo de texto da Agência. Estes dados foram alvo de análise de conteúdo, com recurso ao software de análise de dados NVivo, e foram sujeitos a um tratamento quali- quantitativo.