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Capítulo 3 – Apresentação e Discussão de Resultados

5.3 Impacto na Aprendizagem e nas Atitudes das Crianças

Tanto o educador A como o educador B referem que as crianças gostam muito de usar o computador. Isto faz com que a utilização do computador tenha um grande impacto na vivência das crianças dentro da sala de actividades. No caso do educador A, que tem mais experiência na utilização do computador na sala de actividades, foram desenvolvidas estratégias para que o computador se integrasse bem com as restantes actividades:

“Eu vejo a utilização dos jogos de computador dentro da sala de aula de

uma forma natural. O importante é diversificar os materiais usados. É tão prejudicial uma criança usar sempre os legos como usar sempre o computador. Dentro de uma sala temos que estar sempre atentos às escolhas dos brinquedos e encorajar as crianças a experimentar os vários brinquedos disponíveis. Quando usei os jogos de computador na sala de aulas aconteceu o que habitualmente acontece. Tive que acrescentar à tabela que controla o uso das várias actividades da sala os jogos de computador. Acontecia algumas vezes outras crianças deixarem de brincar para irem apenas ver o que os dois miúdos (colocava apenas dois no computador) estavam a fazer. Os jogos eram uma actividade muito requisitada pelas crianças e encontrando-se inserida na tabela as crianças, que têm um grande sentido de justiça, aceitavam melhor o facto de não poderem ir sempre que queriam.”

“Não precisamos de um espaço próprio. Tanto podia ser usado de manhã

como de tarde, funcionou como qualquer outro espaço da sala.”

Educador A

O educador B, embora não tenha chegado a concluir a sua experiência de utilização de jogos na sala de actividades, idealiza uma utilização semelhante, onde algumas crianças estariam a utilizar o computador enquanto outras estariam a realizar outras actividades dirigidas:

“O computador seria mais um cantinho da sala. Esta sala não é uma sala

ideal de actividades. Não tem muitas condições. O uso dos jogos poderia ser a qualquer hora do dia. Por uma estratégia pessoal preferia usá-los mais de manhã do que de tarde. Como é uma actividade mais dirigida poderia simultaneamente estar a fazer outra também dirigida. E se fosse de manhã enquadrava-se melhor na rotina da escola. De manhã são mais actividades dirigidas, depois as crianças almoçam por volta do meio-dia, a seguir algumas fazem a sesta até por volta das 14:30, depois da sesta têm actividades livres. Às 16 lancham e depois dessa hora se estiver bom tempo brincam no quintal e outras vezes brincam no salão. Ou seja, da parte de tarde são actividades mais livres.”

O educador B acrescenta ainda que essa utilização traria vantagens à própria organização da actividade diária:

“Para uma melhor gestão diária da sala, para evitar conflitos, seria uma

mais-valia como recurso disponível.”

Educador B

No que diz respeito às aprendizagens das crianças, os educadores salientam diversos benefícios trazidos pela utilização de jogos de computador na sala de actividades. O educador A refere no entanto que estes benefícios não são exclusivos do computador e que este deverá ser integrado com outras actividades.

“Sim, trazem benefícios para a aprendizagem da motricidade fina,

aprendizagem da leitura e da escrita. Os outros materiais também não deixam de ser importantes. Os miúdos têm que experimentar de tudo um pouco. Agora está na moda dizer-se que não se devem usar materiais com pregos por questões de segurança mas eu acho que podem ser importantes para desenvolver a motricidade fina.”

Educador A

“Mas acho que para as crianças são importantes jogos de computador

relacionados com a matemática. Quanto mais cedo melhor.”

Educador B

É interessante confrontar estas entrevistas com as que foram realizadas por Amante (2003), onde as educadoras, e as próprias crianças, identificaram a escrita como sendo a aprendizagem que mais é beneficiada com a utilização do computador.

Por outro lado, os educadores referem também aspectos relacionados com a socialização das crianças:

―As crianças não se isolam. É muito bom para a autonomia delas. Pois tentam resolver os problemas em grupo de uma forma participativa.‖

Educador A ―No computador eu posso ensinar as crianças a jogar, elas têm regras para cumprir, têm que aprender a gerir os próprios conflitos que surgem sempre.‖

Educador B

O educador B adverte no entanto para a necessidade de escolher criteriosamente os pares de crianças que partilham o computador, de acordo com o conhecimento que têm do computador:

―(Pode haver) inibição de algumas crianças em relação a outras por não terem experiência fora do jardim-de-infância. Daí que algumas podiam não aproveitar, o não aproveitarem passa por não terem acesso a um computador fora deste espaço. Infelizmente há muitas crianças sem terem experienciado o computador. Na sala pode passar despercebida esta situação. Para mim, enquanto educador posso não me aperceber quando estão 2 crianças no computador desta situação, ou seja, de haver uma delas que não interage. A criança que tiver mais experiência com o computador será aquela que aproveitará mais, se imporá mais.

Entrev: E acha que esta situação é inerente aos computadores? Num jogo de futebol não poderá uma criança sentir o mesmo, ou seja, que não a deixam jogar?

Agora que pergunta, acho que talvez aconteça o mesmo. Mas no caso do futebol passa-se a bola ao amigo e não passa tanto por não se saber jogar…‖

―Em algumas situações eu achei que havia mais cooperação entre as crianças para ultrapassarem as dificuldades quando ambas não tinham à- vontade com o computador. No caso de as crianças estarem a níveis diferentes havia conflitos. Pela razão que a criança que conhecia melhor o computador não deixava a outra experimentar. Acho mais proveitoso formar pares de crianças com o mesmo nível de conhecimentos para evitar estas situações.‖

Os jogos de computador também têm influência, segundo os educadores, nas atitudes das crianças:

“As crianças com capacidades de liderança, de organização continuam as

mesmas. As crianças mais agitadas ficam mais calmas.”

Educador A

“As crianças em geral estiveram mais receptivas. Até porque para algumas

delas foi a primeira experiência que tiveram com o computador.”

Educador B

Para concluir, os educadores teceram considerações sobre o software que conheciam. Ambos gostariam que houvesse uma maior variedade de jogos e que estes fossem mais apelativos:

“O software educacional é muito repetitivo. Acho que é preciso ir mais além

nesta área. Apresentam poucos desafios e a crianças gostam de desafios. Alguns jogos aborrecem as crianças. Apelam pouco à criatividade e à capacidade de resolver problemas.”

Educador A

“Não conheço outro tipo de software … Nunca pensei nisso… Estou a

pensar agora… As sugestões que vou indicar talvez já existam. Acho importantes jogos ligados à matemática, expressões, música, conhecimento do mundo, do espaço, formação para a cidadania, para explicar o ciclo da água.

Entrev: Já falaram do ciclo da água?

Sim, já. E dava jeito ter software para serem as próprias crianças a construir o ciclo da água. Outra situação seria para a construção de vulcões. Claro que este software teria que ser adaptado para esta faixa etária.”

Pudemos com estas entrevistas verificar que ambos os educadores já tiveram alguma contacto com a temática da utilização dos videojogos em contexto educativo, chegando mesmo a recorrer a esta estratégia. Este contacto, ainda que no caso de um dos educadores de forma breve, permitiu que os educadores tivessem formado uma opinião sobre esta temática, e valorizassem a utilização dos videojogos. Esta postura encontra-se bastante distante da manifestada pelas três educadoras entrevistadas por Amante (2003), cuja formação foi obtida muito anteriormente e que relataram não ter experiência com computadores e por vezes até receio das novas tecnologias. No caso dos educadores participante na presente investigação, as novas tecnologias foram abordadas durante a formação inicial, motivo que terá contribuído para que ambos tivessem decidido experimentar a utilização de videojogos no contexto educativo.

Através da análise das entrevistas pudemos constatar que os educadores vêem a utilização dos jogos de computador como uma boa estratégia para diversificar as actividades que propõem às crianças, colocando esta utilização ao nível de outras actividades. A sua utilização deve ser, na opinião dos educadores, integrada com as restantes actividades, mas não as substituindo. Os educadores reconhecem nos jogos de computador uma mais-valia para a educação das crianças, nomeadamente ao nível da leitura e da escrita e da motricidade fina, mas consideram que é necessária mais formação sobre a temática da utilização educacional de jogos de computador, quer ao nível da formação inicial, quer ao nível da formação contínua. Para além desta dificuldade formativa, os educadores reconhecem a dificuldade em implementar os jogos de computador no contexto educativo devido à falta de meios e à fraca preparação do pessoal auxiliar a nível do conhecimento das novas tecnologias. No que diz respeito à interacção entre as crianças proporcionada pela utilização do computador, os educadores consideram que o computador não isola as crianças, e para além disso, identificam comportamentos de cooperação entre as crianças em frente ao computador, se estas estiverem ao mesmo nível; caso contrário, poderão ocorrer conflitos.

Capítulo 4