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Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IR

No documento Joao Bosco de Santana (páginas 80-87)

2.3 Tributos Diretos

2.3.2 Tributos Diretos Sobre Rendas

2.3.2.1 Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IR

O IR é um imposto de competência da União, pela primeira vez, incluído no texto da constituição brasileira de 1934, embora BALEEIRO (2008, p. 282) afirma que ainda “no meado do século XIX, quando nossa economia era quase inteiramente agrária e extrativa, pensassem em adotar o imposto de renda” naquela época já existente na Inglaterra e França dentre outros países. Não obstante, sua arrecadação, ainda que timidamente – sobre dividendos, subsídios do Presidente da República e de congressista – sua cobrança iniciou- se por meio da lei 4.625 de 31 de dezembro de 1922.

Desde a constituição de 1934, sua incidência é sobre a renda e proventos de qualquer natureza. Todavia, foi Código Tributário Nacional – CTN, por meio da Lei n.º 5.172, de 25 de outubro de 1966 – dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e instituiu normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados, Distrito Federal e Municípios – que disciplinou a definição do que é renda, proventos, bem como o seu fato gerador.

O artigo 43 do CTN define que renda é o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos e que para a “incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção”. Os proventos de qualquer natureza são os acréscimos patrimoniais não compreendidos como renda. O fato gerador do imposto é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica. A base de cálculo é o montante real, arbitrado ou presumido dessa disponibilidade e sendo contribuinte o seu titular.

Para reconhecer o produto do trabalho como renda, não há maiores dificuldades. A questão que exige reflexão é reconhecer a renda como produto do capital já que deve o possuidor do bem, sem desfalcá-lo, tirar utilidades, quer se sirva deles, quer ceda o uso a terceiro por uma

remuneração como juros, aluguéis etc. No entanto, há capitais que, pela utilização, fragmentam-se com a renda. É o caso das atividades extrativas – as minas, os areais, as pedreiras, jazidas de pedras preciosas, poço de petróleo etc. – outras que renovam seus frutos periodicamente – plantações a cada safra, rebanhos a cada fase de reprodução. Nestes casos, há de se levar em conta os custos para se obter o produto tributável. (BALEEIRO, 2008) Como se observa pelas definições trazidas do CTN, de todos os impostos diretos aqui estudados, este é o que tem total abrangência, abarcando no seu bojo todas as pessoas físicas e jurídicas em harmonia com o afirmado por ROSSETTI (2007, p. 553) ao dizer que “ a maior parte da arrecadação por meio do tributo direto recai sobre as remunerações dos fatores de produção, alcançando os fluxos de renda da sociedade”.

BALEEIRO (2008, p.282) cita que, “noutros países mais avançados economicamente, este imposto já atinge 70% das receitas tributárias. Tende no Brasil, a ocupar lugar primacial no orçamento, apenas superado pelo Imposto Sobre Produtos industrializados – IPI” e que São Paulo e Rio de Janeiro concorrem com 70% da arrecadação da União.

Em vista do vasto contingente de contribuintes do IR, a União atribui responsabilidade às fontes pagadoras de renda, quando tratar-se de pessoas jurídicas, que, ao fazer o pagamento, devem fazê-lo com o devido desconto na fonte, sistema este que vige desde 1955. O cálculo é feito segundo tabela progressiva previamente divulgada.

A Constituição Federal de 1988 informa no artigo 153, § 2.º que o Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IR “será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da lei”

No mesmo sentido, a Constituição italiana, segundo NOGUEIRA (1995, p.12), por meio do art. 53, prevê expressamente que “todos são obrigados a concorrer para os encargos públicos na razão de sua capacidade contributiva” e que “o sistema tributário é informado pelos critérios de progressividade”.

Observa-se que a progressividade é uma característica marcante para o Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IR, porque de sua aplicação resulta em observância da capacidade contributiva de cada contribuinte a ela submetido.

Para uma melhor compreensão da tabela progressiva do imposto de renda aplicado em alguns países em relação à aplicada no Brasil, apresentam-se as tabelas a seguir:

Tabela 2.3.2.1.22 – Imposto de Renda Tributável das Pessoas Físicas – EUA 1993

Imposto sobre a Renda Tributável das Pessoas Físicas – EUA em 01/01/1993 Alíquota

% Solteiros Casados Declarando Juntos Casados Declarando em separado Arrimo Família 15,0 22.100 36.900 18.450 29.600 28,0 22.100 – 53.500 36.900 – 89.150 18.450 – 44.575 29.600 – 76.400 31,0 53.500 – 15.000 89.150 – 140.000 44.575 – 70.000 76.400 – 127.500 36,0 115.000 – 50.000 140.000 – 250.000 70.000 – 125.000 127.500 – 250.000 39,6 250.000 – ... 250.000 – ... 125.000 – 250000 – ... Fonte: (BALEEIRO, 2008, p. 293)

Pode se observar na tabela acima que, no período apresentado, a tributação do imposto sobre a renda nos EUA, a partir de 01/01/1993, de um lado, não tinha classe de renda sem tributar e, por outro lado, que além da progressividade das alíquotas, distribuiu-se a renda em classes e os contribuintes em categorias alcançando, provavelmente, maior justiça fiscal.

Tabela 2.3.2.1.23 - Imposto de Renda Tributável das Pessoas Físicas – Inglaterra 1990 – 1991

Imposto sobre a Renda Tributável das Pessoas Físicas – na Inglaterra (1990 – 1991)

Renda Alíquota %

Renda tributável até 20.700 libras 25 Renda remanescente, acima de 20.700 40

Fonte: (BALEEIRO,2008 p. 294)

Observa-se, na tabela acima, que a tributação do imposto sobre a renda na Inglaterra, no período de 1990 – 1991, a exemplo dos EUA não tem classe de renda sem tributar e com apenas duas alíquotas, certamente, tem carga tributária mais elevada para os contribuintes ingleses em relação aos americanos.

Tabela 2.3.2.1.24 - Imposto de Renda Tributável das Pessoas Físicas – Alemanha 1990 – 1991

Imposto sobre a Renda Tributável das Pessoas Físicas – na Alemanha (1990 – 1991) (após sucessivas leis de redução da carga tributária)

DM Alíquota

%

Parcela a deduzir Montante isento: até 5.616 Nil

Zona de Proporcionalidade inferior: 5.617 a 8.153 19 1.067 Zona de progressividade (c/ fórmulas

matemáticas de elevação gradativa das alíquotas a cada aumento da renda tributável) :

8.154 a 120.041 até 53 –

Zona proporcional superior: a partir de 120.042 53% 22.842

Fonte: (BALEEIRO, 2008, p. 294)

Observa-se que, na Alemanha, há uma classe de renda que não é tributada pelo imposto sobre a renda no período de 1990 – 1991, diferentemente do que ocorre nos EUA e Inglaterra. No entanto, é elevada as alíquotas para as demais classes de renda, sendo que na terceira classe, por não haver parcela a deduzir, acaba por prejudicar os indivíduos que tenham renda neste intervalo.

Por derradeiro, são apresentadas duas tabelas progressivas praticadas no Brasil: a primeira referente ao período de 1998 a 199 e a segunda e última referentes ao período de 2009.

Tabela 2.3.2.1.25 – Imposto de Renda Tributável das Pessoas Físicas – Brasil (1998 – 1999)

Imposto sobre a Renda Tributável das Pessoas Físicas – no Brasil (1998 – 1999) BASE DE CÁLCULO

EM R$ ALÍQUOTA % PARCELA A DEDUZIR DO IMPOSTO EM R$

Até 900,00 – –

Acima de 900,00 até 1.800,00 15,0 135,00

Acima de 1.800,00 27,5 360,00

Observa-se que a tributação, por meio da tabela xxx, referente ao período de 1998-1999, em razão da existência de apenas 3 classes e duas alíquotas, favorecia alta carga tributária sobre os indivíduos.

Tabela 2.3.2.1.26 – Imposto de Renda Tributável das Pessoas Físicas – Brasil 2009

Imposto sobre a Renda Tributável das Pessoas Físicas – no Brasil 2009 BASE DE CÁLCULO EM

R$

ALÍQUOTA %

PARCELA A DEDUZIR DO IMPOSTO EM R$ Até 1.499,15 – – De 1.499,16 até 2.246,75 7,5 112,43 De 2.246,76 até 2.995,70 15,0 280,94 De 2.995,71 até 3.743,19 22,5 505,62 Acima de 3.743,19 27,5 692,78 Fonte: http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2007/lei11482.htm em 27/10/10

Diferentemente da tabela 2.3.2.1.25, anterior, a distribuição da renda em diversas classes permitiu-se uma melhor distribuição da carga tributária sobre a renda dos indivíduos.

Ao se cotejar as tabelas progressivas para a incidência do Imposto sobre a Renda Tributável das Pessoas Físicas, constata-se que, no Brasil, ainda é a mais favorável, pois além de isentar uma classe de contribuintes, as alíquotas são notoriamente inferiores às daqueles países. No que tange às empresas, pessoas jurídicas, a alíquota aplicável sobre o lucro tributável é de 15%, com adicional de 10% sobre a parcela do lucro real presumido ou arbitrado que exceder a R$ 240.000,00. (BALEEIRO, 2008). Todavia, cabe ressaltar que, por meio da Lei Complementar n.º 123, de 14 de dezembro de 2006, instituiu-se o Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – Simples Nacional. Nesta norma, o recolhimento mensal é feito mediante documento único de arrecadação, que dentre outros impostos e contribuições encontra-se o percentual de 0,27% a 6,12%, conforme enquadramento da receita bruta e atividade praticada pela empresa, que incide sobre o faturamento a título de Imposto sobre a Renda da Pessoa

Jurídica – IRPJ.

Tem-se, de fato, que o Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IR no campo da tributação direta perfaz a maior parte daquela arrecadação, pois enquanto os demais tributam os ativos em situações específicas, este alcança os fluxos de renda da sociedade. Seu alcance é notado desde logo pela extensão do fato gerador que é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou dos proventos de qualquer natureza e incide sobre a renda oriunda da exploração do capital, do exercício do trabalho ou da combinação de ambos; sobre os acréscimos patrimoniais não compreendidos como renda, sobre o lucro real – apurado segundo as normas contábeis –, presumido ou arbitrado das empresas e ainda na forma percentual sobre o faturamento, quando tais empresas forem optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – Simples Nacional.

Conclui-se então que, tendo em vista que dos impostos diretos o incidente Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IR – é o principal tributo que onera as unidades familiares e empresas, cabe a estas, por meio do planejamento tributário, avaliarem as alternativas possíveis, dentro dos limites legais, possível economia desse encargo fiscal.

Por exemplo, uma empresa do ramo de prestação de serviços em certo segmento que tem uma receita bruta média mensal de R$ 190.000,00, alcançará em 12 meses receita bruta de R$ 2.280.000,00. Se por um lado, tenha optado por recolher seus tributos pelo Regime Especial Unificado na condição de Empresa de Pequeno Porte – Simples Nacional, ao consultar o anexo IV da Lei Complementar n.º 123/ 2006, constatará que, naquela faixa de receita bruta, o percentual devido a título do Imposto Sobre a Renda – IRPJ – será de 6,12%, de forma que recolherá para a União a esse título o valor de R$ 139.536,00 (R$ 2.280.000,00 x 6,12%). Por outro lado, se esta mesma empresa, no final do período, apurar na Demonstração de Resultados do período, um lucro antes do Imposto de renda – LAJIR – de valor inferior a R$ 654. l44,00, considerando que este é também o lucro tributável, será motivo para repensar a forma de tributação mais adequada face a opção pelo Regime Especial Unificado – Simples Nacional, pois que ao se calcular o IRPJ pela alíquota de 15%, e o adicional de 10% sobre a parcela do lucro real, presumido ou arbitrado que exceder a R$ 240.000,00, conforme ensina BALEEIRO (2008, p. 322), constatar-se-á que os valores apurados referente ao imposto serão iguais.

A tabela 2.3.2.1.27, logo abaixo, demonstra os cálculos para uma melhor elucidação sobre a reflexão proposta.

Tabela 2.3.2.1.27 – Cálculo do IRPJ – Comparativo

Tabela Comparativa do Cálculo Do IRPJ - Lucro Real x Simples Nacional em Reais

Receita Bruta de Serviços 2.280.000,00

(-) Impostos Incidentes, Custos e Despesas 1.625.856,00

Lucro antes do Imposto de Renda - LAJIR 654.144,00

IRPJ 139.536,00

Lucro após IRPJ 514.608,00

Calculo do IRPJ Valor Alíquota IRPJ

Parcela do Lucro tributada a 15% 654.144,00 15% 98.121,60 Parcela do Lucro tributada pelo adicional de

10%

414.144,00 10% 41.414,40

Total do IRPJ 139.536,00

Cálculo da parcela do IRPJ - Simples Nacional

Receita Bruta 2.280.000,00

Alíquota 6,12 %

Total do IRPJ 139.536,00

Fonte: Elaboração Própria.

Nota-se que optar pelo Regime Especial Unificado – Simples Nacional, para o exemplo dado, desconsiderando outras prováveis vantagens, somente será interessante se o Lucro antes do

Imposto de Renda – LAJIR – no período, for maior que o apurado. Caso contrário, o cálculo do Imposto tomando por base o lucro real será muito mais vantajoso.

No documento Joao Bosco de Santana (páginas 80-87)