• Nenhum resultado encontrado

O início da carta e o seu avanço

O primeiro ensaio, partindo dos levantamentos da anterior Carta dos arre- dores de Lisboa, foi feito sobre a capital do País. Esta belíssima folha, em que as curvas de nível, com espessura variável, favorecem a impressão tridimen- sional do relevo, era dada à estampa em 1928, com a designação única de Carta topográfica militar de Portugal. Idealizada em 1926, quando se tenta- vam organizar os trabalhos, a carta ficaria, no entanto, paralisada durante meia dúzia de anos, pela ineficaz junção dos serviços cartográficos, sendo retomada a edição das folhas já delineadas partir de 1934 (Portugal, Esta- do-Maior do Exército, 1948). A tal organização não foi estranha a figura do general Carlos Maria Pereira dos Santos (1879-1957), o primeiro dirigente dos Serviços Cartográficos do Exército e que desempenhara iguais funções na anterior Secção de Cartografia Militar do Estado-Maior do Exército. Os acontecimentos internacionais que abalaram a primeira metade do século XX (nomeadamente as duas Grandes Guerras e a Guerra Civil espanhola) foram impondo, primeiro, a necessidade e, depois, a urgência de uma cobertura deta- lhada e atualizada do território nacional. Certamente por isso, o ritmo imposto à primeira edição da carta 1:25 000 (1928-1965) não teve paralelo com mais nenhuma outra realização idêntica: as 640 folhas que abrangem o Continente (atualmente, um pouco menos por reformulação dos espaços marginais) foram quase todas editadas em 20 anos (entre 1934 e 1955, com exceção das Berlengas) e já com atualizações, tendo em conta as importantes modificações ocorridas na produção com a substituição dos processos clássicos de levantamento pelos fotogramétricos. Também por essas razões, nos primeiros trabalhos se defi- niram como áreas prioritárias, para além da tradicional região da capital e de algumas manchas pontuais do território, de exercícios e instalações militares, sobretudo as faixas principais de penetração através da fronteira.

Analisando a progressão da cobertura ao longo das últimas quase nove décadas de vida desta carta, vê-se que o número de folhas saídas, ano após ano, conheceu dois períodos distintos, separados por um interregno, que foi imediatamente precedido e seguido de fraca atividade editorial (1956-1964, quando não se chegou a perfazer duas folhas por ano), coincidente com a reformulação dos serviços e a mudança das suas instalações mas aparentando estar sobretudo ligado à Guerra Colonial (1961-1974) e ao apoio a dar à repre- sentação dos territórios africanos.

Um dos maiores problemas do trabalho de campo estava associado à fraca robustez dos solípedes que eram utilizados durante o longo período das campanhas; também a dificuldade em observar diretamente as referências obrigava a visadas curtas, o que se traduzia num maior número de montagens e desmontagens dos aparelhos e, consequentemente, em mais movimentos.

O período inicial de edição da carta, até 1955, correspondeu no essencial à primeira cobertura do território, com as folhas de Abrantes e de Cascais a serem as primeiras dadas à estampa (1934). Foi este o período mais profícuo e, por isso, aí vamos encontrar os máximos do número de folhas anualmen- te publicadas até hoje, o primeiro dos quais no começo dos anos 40 (61 fl., 1941) e o seguinte na década de 50 (66 fl., 1953). Estes valores significam, em termos médios, a produção de cerca de uma folha em cada cinco dias do ano (ou em menos de quatro dias úteis), o que só se voltaria a repetir muito tempo depois (64 fl., 1998, imediatamente antecedido e seguido de valores altos mas um pouco menores). Contudo, naquela época havia já um número razoável de atualizações e, ao terminar a década de 50, mais de 14 % da cobertura continental tinha nova edição (e de algumas poucas folhas já se começara a efetuar a terceira edição).

O último período do grande surto de publicação da carta militar, a partir dos anos 60, caracterizado por uma enorme irregularidade, correspondeu no essencial à realização da segunda cobertura, terminada em 2003 (com a folha das Berlengas, à semelhança do que acontecera antes). A desigual produção anual foi aqui simultaneamente acompanhada pela realização de diferentes atualizações, indo da segunda até à sexta edição.

Quando se analisa o número de folhas editadas por decénio, verifica-se que os profícuos anos 40 (com 361 folhas) pouco diferem dos anos 90 (com 370 folhas), estes particularmente ativos sobretudo na sua segunda metade, enquanto não se atingiu em toda a década de 60 o que havia sido realizado nos primeiros cinco anos da carta. O esforço feito pelos serviços para concluir a segunda cobertura completa do Continente era inadiável: nalgumas áreas do norte do País, para as quais apenas se dispunha de uma edição, as folhas existentes chegavam a ter mais de 40 anos, quando as transformações entre- tanto aí ocorridas as tinham alterado por completo (como é o caso da folha de Braga, que, até ser substituída em 1997, foi utilizada durante 45 anos). Número de folhas da Carta militar

de Portugal 1:25 000 (Continente) publicadas anualmente, até finais de 2015 , considerando as seis edições existentes.

Folhas da carta 1:25 000, por década de edição (a última das quais até ao final de 2015). Incluiu-se nos anos 30 a única anterior, de 1928(*).

Década Número de folhas

1930 86* 1940 361 1950 292 1960 83 1970 226 1980 161 1990 370 2000 314 (2010) (173) Total 2066

Mas enquanto a primeira edição avançou muito rapidamente e em três décadas a cobertura abrangeu todo o território, a segunda estendeu-se no essencial por seis décadas (Dias, 2003). As primeiras áreas, ainda levantadas por processos clássicos até aos finais da década de 30, foram imediatamente atualizadas, às vezes substituindo-se uma edição por outra com um intervalo

O rápido avanço da primeira edição da carta (1928-1965).

O avanço mais lento da segunda edição da carta (1938-2003).

de um ano. Daí que a imagem inicial desta nova fase da segunda cobertura, no período de 40, fosse espacialmente muito idêntica à correspondente da primeira, nos anos 30. Ela pouco avançaria nos anos 50 e 60 e, por isso, na década seguinte atingia apenas metade do território. Mas, depois, progredi- ria rapidamente: em média, cada folha da carta militar tinha, em finais de 2006, quase 11 anos de vida (sendo o máximo de 41 anos), quando era de 18 anos em 1995 (com um máximo de 49 anos).

A substituição da primeira pela segunda edição levou cerca de 30 anos. No entanto, o período de tempo necessário foi muito desigual: pouco mais de um décimo do território conheceu novas folhas em menos de 10 anos, correspon- dendo estas áreas às primeiras cobertas pelos processos clássicos, mas mais de metade esperou entre 30 a 50 anos. E uma proporção significativa (acima de 30 %) chegou mesmo a estar representada nas primeiras folhas entre 40 a 50 anos, sem que ocorressem atualizações.

Em termos das áreas cobertas em cada decénio de produção, verifica-se que o arranque se centrou na região de Lisboa (numa área próxima da que havia sido representada na Carta dos arredores de Lisboa), junto à fronteira do Caia, próxi- mo de Vilar Formoso e de Chaves mas também na área de Portalegre e de Moura ou mesmo na parte oriental da cidade do Porto. Nos anos 40 foi a vez da região central do País, com exceção de parte da sua faixa litoral mais a norte, e, ao completar-se a primeira cobertura da carta, no decénio seguinte, todo o restante território ficou cartografado. A fraca produção dos anos 60 parece assemelhar-se um pouco ao que acontecera 30 anos antes, enquanto, a seguir, se desenhavam grandes blocos retilíneos que cobriam áreas distintas do País, excetuando o Minho e Trás-os-Montes onde só mais tarde houve segunda edição.

A situação atual da carta mostra que grande parte do território continen- tal dispõe hoje de uma cobertura relativamente recente, com menos de 10 anos (quando ainda nos finais de 1995 era de 35 % e de 15 % com o dobro Dos levantamentos clássicos aos

fotogramétricos. A - Primeiras edições com levantamentos clássicos (18 % da cobertura); B - Primeiras folhas com levantamentos fotogramétricos executados por empresas privadas (29 % da cobertura); C - Primeiras folhas com levantamentos fotogramétricos executados pelos Serviços Cartográficos do Exército.

Tempo que mediou entre a primeira e a segunda edição da carta (média: 30 anos; máximo: 49 anos; mínimo: 1 ano).

dessa idade). O ritmo dos últimos tempos rapidamente transformou o grau de atualização das folhas, mesmo nas áreas do País com transformações mais lentas. Quanto ao número de edições disponíveis, há já para todo o território continental pelo menos duas edições, enquanto as de três a seis perfazem, em conjunto, o equivalente a mais de uma cobertura completa.