• Nenhum resultado encontrado

Rastreio e diagnóstico oral

INÍCIO DA DOENÇA

Qualquer exame de rastreio não confirma a presença de

determinada doença, contudo, descarta a possibilidade da mesma. Na impossibilidade da realização do rastreio, a doença poderia ser descoberta mais tarde quando os sintomas aparecessem, induzindo a pessoa a correr o risco desnecessariamente.

A fig. 19 corrobora a presente afirmação, sendo possível inferir o tempo entre o diagnóstico precoce mediante o rastreamento e o tempo em que o diagnóstico seria objetivado sem rastreamento, sendo este um fator relevante ao avaliar a eficácia de um teste. Contudo, é importante frisar que a detecção de qualquer doença mediante o rastreio, não significa obrigatoriamente prolongar o tempo de sobrevivência.

fig. 19 Representação do Viés de lead time: Relação entre o teste de rastreio e o tempo de sobrevivência.

III. Rastreio e diagnóstico oral Rastreio

INÍCIO DA DOENÇA Tempo de espera MORTE INÍCIO DA DOENÇA Doença detetada por meio de triagem Doença detetada a partir de sintomas Tempo de sobrevivência percebido

O rastreio consiste numa estratégia de saúde pública complexa que exige recursos, infraestruturas e coordenação. Os testes de rastreio ou triagem devem assim ser realizados:

1. Quando os seus recursos forem suficientes para cobrir

quase todo o grupo alvo;

2. Quando existirem instalações para acompanhar aqueles

que apresentem resultados anormais de forma a confirmar o diagnóstico e garantir que esse indivíduo tenha o

tratamento adequado;

3. Quando a prevalência da doença for alta o suficiente para

justificar o esforço e custos de triagem (Wilson & Jungner, 1968).

Se um rastreio for planeado de forma eficaz pode evitar mortes bem como reduzir o risco de desenvolver doenças maiores. Por norma este tipo de exame é menos invasivo quando comparado aos meios de diagnóstico tradicionais, embora este nunca deva substituir um meio de diagnóstico. Porém poderá evitar submeter toda a população a este último, uma vez que embora não confirme a doença descarta a possibilidade da mesma (WHO, 2018).

Tipos de rastreio

No momento da concretização de qualquer teste de rastreio, estes devem ser pensados e idealizados de acordo com a sua função e objetivo. Desta forma são distinguidos quatro tipos de rastreio:

Em massa, quando são destinados a toda a população; Múltiplo, quando são empregues diferentes rastreios mas

aplicados em simultâneo;

Multifásico, quando é realizado um certo número de testes

por fases;

Prescritivo, quando é realizada a detecção precoce em

indivíduos que se apresentem presumivelmente saudáveis permitindo um maior controlo quando a doença é

detectada no início. (Wilson & Jungner, 1968).

Equipamento

Como já foi supracitado, este tipo de exames são menos invasivos que os diagnósticos tradicionais, por sua vez o equipamento médico utilizado tende a ser díspar comparativamente aos testes de diagnóstico. Os testes e equipamentos de rastreio devem ser rápidos de efetuar sem necessidade de grande preparação prévia do paciente e agendamentos. Para além destas características consideráveis, estes são testes que exigem níveis de sensibilidade elevados, acompanhados de uma especificidade razoável, visto que o principal objetivo é identificar o máximo de casos positivos.

2. Lábio superior Mucosa e gengiva 4. Língua Mucosa e gengiva 6. Palato e orofaringe 1. Lábio inferior Mucosa e gengiva 3. Mucosa e glândulas salivares 5. Assoalho da boca

A sensibilidade de um teste é denominada como a taxa de

verdadeiros positivos, mede a proporção de doenças corretamente identificadas, sendo útil para descartar uma doença.

A especificidade por sua vez é denominada como a taxa verdadeira

de negativos, ou seja, mede a proporção da inexistência da doença, sendo que um resultado positivo é útil para o diagnóstico definitivo da doença, pois o resultado nunca será positivo em indivíduos saudáveis. Se o resultado for negativo, a doença já não fica totalmente descartada. (DECO PROTESTE 2014).

3.1.1. Rastreio oral

Relativamente ao rastreio oral o processo, é idêntico ao

procedimento de diagnóstico oral, ou seja, as técnicas e ferramentas são as mesmas, o que difere é que o rastreio é realizado de forma rotineira a pacientes que apresentem ou não sintomas.

Segundo o autor do artigo What is an appropriate caries diagnosis, o paciente procura o consultório odontológico por dois motivos: ou para realizar o rastreio, ou para procurar assistência para um problema tangível (Baelum, 2010).

No caso do rastreio oral, o paciente por norma não tem a percepção de qualquer tratamento odontológico, portanto este vai na

esperança de receber a informação de que está tudo bem e que possivelmente só receberá alguns cuidados básicos que geralmente incluem: aplicação de flúor e selantes; polimento e conselhos preventivos.

O procedimento de triagem oral é realizado por um médico dentista e consiste num exame odontológico da mucosa oral e dos dentes. Este exame começa com um cuidado visual/tátil, ou seja, com uma inspeção a cada superfície do dente de toda a dentição que é avaliada de forma padronizada e sequencial. Durante este processo são ainda avaliados aspetos como a cor, o brilho, a textura da superfície e a sua integridade (fig. 20).

Todo o tipo de informações complementares que o médico necessite são normalmente fornecidas por imagens radiográficas que são posteriormente examinadas e usadas de forma a melhorar a correspondência entre o desempenho clínico e os exames radiográficos.

fig. 20 Procedimento de um exame de rastreio e diagnóstico intra-oral.

Limitações

Os testes de rastreio em geral, tal como qualquer teste médico, denotam algumas limitações, sendo o resultado obtido o principal problema identificado neste tipo de teste. O resultado poderá ser negativo em pacientes que são portadores de doença (falso negativo), ou poderá ser positivo em indivíduos que não sejam

portadores de doença (falso positivo) sendo esta situação

aceitável se o teste de triagem não for prejudicial ou dispendioso. Como já foi referido, este tipo de testes, independentemente da doença em análise, envolvem custos e recursos médicos, sendo que esta pode ser outra limitação, pois se forem realizados indiscriminadamente apresentam desvantagens tais como, sujeitar o paciente ao stress e ansiedade, ainda para mais se o teste for realizado desnecessariamente, ou se forem executados perante um grande número de pessoas para identificar um pequeno número de casos, logo, os custos exigidos devem ser bem justificados.

Em suma, os testes de rastreio devem ser baratos e de fácil aplicação sem causar transtorno ou desconforto aos pacientes (Goulart & Chiari, 2007).

No caso específico de exames de rastreio oral, é importante entender que a forte adesão a visitas de rotina, ou seja, consultas de rastreio anuais ou semestrais, embora fundamentais expõem um problema comum. Se as visitas odontológicas forem totalmente desnecessárias, ou se estas forem usadas para vantagem

profissional, como por exemplo a prescrição de tratamentos

desnecessários que podem prejudicar o prognóstico ou a indicação de diagnósticos desnecessários, serão procedimentos médicos pela qual o paciente terá de pagar.

É assim notório que o dentista consegue controlar todo o processo, incluindo a utilização de produtos e ferramentas odontológicas. O público acaba por não ter escolha se não confiar no médico dentista em causa acreditando que este não será movido por motivos egoístas (Baelum, 2010).

3.2. Diagnóstico

O diagnóstico, contrariamente ao exame de rastreio, estabelece a presença ou a ausência de doença como base para decisões de tratamento em indivíduos sintomáticos ou positivos.

Por sua vez, os exames tradicionais de diagnóstico são por norma mais invasivos quando comparados aos testes de rastreio, sendo que os testes e equipamento devem apresentar níveis de especificidade elevados, tendo mais peso neste caso a precisão do que a aceitabilidade do paciente.

Consequentemente os custos associados a este tipo de exame são mais elevados, uma vez que estes denotam um grau elevado de precisão. (Goulart & Chiari, 2007).

3.2.1. Diagnóstico oral

A saúde oral é parte integrante da saúde em geral, como tal, os médicos dentistas, devem adaptar-se às mudanças demográficas e avanços médicos e assumir a responsabilidade de parte da saúde geral do paciente. (Burket, et al., 2008).

O dentista deverá avaliar a relação da saúde oral com a saúde em geral, bem como alertar o indivíduo sobre comportamentos de risco com a finalidade de fazê-lo compreender a importância a nível da consciência da sua própria saúde, levando o mesmo a adotar comportamentos saudáveis tais como: uma alimentação saudável, boa higiene oral e a realização do autoexame à cavidade oral (Santos et al., 2011).