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A problemática da saúde oral em Portugal Panorama atual da saúde oral em Portugal

A problemática da saúde oral em Portugal

2.2 Integração de médicos

II. A problemática da saúde oral em Portugal Panorama atual da saúde oral em Portugal

Embora o Serviço Nacional de Saúde disponibilize cuidados de saúde oral, quer a nível hospitalar quer a nível de Cuidados de Saúde Primários (CSP) através do Plano Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO), em toda a região portuguesa, a maior parte dos cuidados de saúde continuam restritos a hospitais e clínicas privadas, fator este que contribui para que atualmente esta seja uma das áreas de saúde mais dispendiosa, representando o principal motivo de impedimento ao acesso de grande parte da população.

Segundo dados da Federação Dentária Internacional (FDI) (Glick et al., 2012), o fator económico é o principal motivo de impedimento de acesso aos cuidados de saúde oral adequados, sendo que para além deste, outros são igualmente impeditivos: a desigualdade na distribuição geográfica de profissionais

qualificados, o envelhecimento da população, a inacessibilidade a tratamento de determinados segmentos da população, a falta de literacia bem como a falta de sintonia entre a oferta nos cuidados de saúde oral e as necessidades reais da população.

Atualmente, Portugal atravessa um período de crise económica em que os recursos tendem a ser desviados da saúde oral e redirecionados para áreas de saúde onde a falta de tratamentos leva a consequências mais visíveis, nomeadamente à mortalidade (Glick et al., 2012). Nos dias que correm estamos perante dois estratos da população muito distintos, um que tem capacidade económica e com informação que acede à medicina dentária no setor privado, e outro que afeta quase metade da população, que vê a sua saúde oral muito comprometida.

fig. 1 Percentagem de pessoas com 16 ou mais anos que relatam as necessidades não satisfeitas em cuidados de saúde oral em 2013.

II. A problemática da saúde oral em Portugal Panorama atual da saúde oral em Portugal

20

15

10

5

Demasido caro, ou distante, ou com listas de espera Outras razões

Consequentemente são os doentes mais afetados financeiramente durante crises económicas que tendem a adiar consultas e

tratamentos (Soares, 2017).

Embora o número de dentistas ultrapasse um milhão em todo o mundo, a sua disparidade geográfica resulta no excesso de oferta concentrada em algumas zonas urbanas, contrastando com a escassez em algumas áreas mais pobres e remotas em todos o mundo (Glick et al., 2012), sendo este um panorama que se reflete igualmente em Portugal (fig. 2).

Atualmente existem zonas onde a existência deste serviço de saúde é ainda escassa bem como o crescente número de uma população maioritariamente envelhecida que não tem como se deslocar ao dentista mais próximo, ou meios para despender em consultas dentárias. Algarve Baixo Alentejo Alentejo litoral Alto Alentejo Alentejo central Beira Baixa Beiras e Serra da estrela Douro Alto Tâmega Terras de Trás-os-Montes Oeste Lezíria do Tejo Região de Leiria Médio Tejo Região de Coimbra Viseu, Dão e Lafões Região de Aveiro Tâmega e Sousa Cávado Alto Minho Ave Área Metropolitana de Lisboa Área Metropolitana do Porto Região Autónoma dos Açores Região Autónoma da Madeira > 2751 2251 - 2750 1751 - 1750 1251 - 1750 0 - 1250

fig. 2 Distribuição da população mediante o número de médicos dentistas no ativo em 2017.

Durante muito tempo, a saúde oral foi esquecida pelos sistemas de saúde (Silva, 2018), contudo nos últimos anos tem havido uma crescente preocupação em integrar a saúde oral nas estratégias de saúde, começando pela inserção de médicos dentistas nos Cuidados de Saúde Primários.

Segundo o Decreto-Lei nº155/2005, de 12 de Agosto, artigo 64.º, os objetivos de equidade do SNS Português assentam em três princípios base (fig. 3):

Universalidade - em que este deverá ser destinado a todos

os cidadãos sem discriminação;

Geral - em que a sua obrigação passa por dar resposta de

prevenção, tratamento e reabilitação;

Gratuito - tendencialmente gratuito, ou seja, financiado

pelo estado e com escasso recurso ao pagamento direto dos utentes.

Conforme este decreto-Lei, o acesso aos cuidados de saúde deve ser feito em tempo útil, aceitável e acessível, com a qualidade adequada, sendo o dever do estado assegurar o direito à proteção da saúde, “garantir o acesso de todos os cidadãos,

independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação” (Diário da

República, 2005). Adicionalmente, na caracterização do Serviço Nacional de Saúde, de acordo com a Lei de Bases da Saúde (Base

XXIV), o SNS deve “garantir a equidade no acesso, de modo a atenuar os efeitos das desigualdades económicas geográficas e quaisquer outras no acesso aos cuidados” (Diário da República,

1990).

A Organização Mundial de Saúde recomenda ainda que os sistemas de saúde oral sejam direcionados para a prevenção da doença e Cuidados de Saúde Primários, dando especial ênfase à satisfação das necessidades dos grupos mais desfavorecidos (Petersen, 2008).

Surge assim a necessidade de identificar soluções com a finalidade de cumprir o principal objetivo: igualdade na saúde oral e defender a sua implementação a nível local, regional e nacional, começando pela promoção da literacia em saúde oral do público. Um primeiro passo no sentido de ajudar todas as comunidades a compreender o seu direito à saúde oral, adotando comportamentos saudáveis e procura do tratamento adequado assim que necessário.

Será igualmente benéfico perceber que o desenvolvimento de uma rede nacional de cuidados de saúde oral deverá ser de carácter universal, pois o desenvolvimento de sistemas de saúde direcionados exclusivamente para grupos de população específicos tendem a ser geradores de desigualdades e assimetrias.

UNIVERSALIDADE

GENERALIDADE GRATUITO

fig. 3 Objetivos de equidade do Serviço Nacional de Saúde.

Afirmação esta corroborada por Marmot 2013 que de forma clara reitera:

“Um sistema de saúde para pobres é um sistema de saúde pobre; um sistema de educação para pobres é um sistema de educação deficiente”. (Marmot, 2013,

p.1091).

2.2. Integração de médicos dentistas no Serviço

Nacional de Saúde

Desde a sua génese, o Serviço Nacional de Saúde não disponibilizava cuidados de saúde oral, pelo número insuficiente de médicos dentistas e por opção política

(Lourenço e Barros, 2016). Esta é e sempre foi considerada uma especialidade da medicina sensivelmente dispendiosa, que requer inúmeros recursos para equipar os espaços.

Ao longo dos anos, a OMS tem vindo a desenvolver um trabalho de sensibilização e alerta para a necessidade de criar um

programa de saúde oral estruturado e integrado que dê resposta às necessidades básicas de toda a população (Baptista, 2016). Desta forma a inserção de médicos dentistas no SNS possibilitou uma ligeira melhoria deste panorama. Atualmente formam-se em média em Portugal entre 500 a 600 médicos dentistas, sendo que para aqueles que acabam de se formar as opções são só duas: a

medicina privada ou a emigração.

A saúde oral, embora com melhorias significativas, é uma realidade ainda muito limitada no Serviço Nacional de Saúde.

Face a este cenário anteriormente apresentado, e sendo agora a medicina oral considerada mais que nunca uma prioridade máxima, surgem duas soluções com a finalidade de facilitar a integração desta no SNS: ter médicos dentistas nos quadros dos centros de saúde e fazer parcerias com os consultórios privados de forma a garantir acessos diretos (Maia, 2016).