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LIMITAÇÕES Sangue na

3. A carência de um diagnóstico exato, portátil e fácil de

3.6.2. Saliva na detecção de doenças

Doenças sistémicas

Atualmente tem havido um grande interesse no diagnóstico salivar para a detecção de doenças sistémicas e monotorização das mesmas, de forma a levar este meio de diagnóstico a outro nível (ver fig. 32 da página 69).

No âmbito do diagnóstico de doenças sistémicas destacam-se alguns potenciais biomarcadores salivares, sendo que o diagnóstico salivar permite a verificação de várias doenças tais como:

Doenças oncológicas - nesta área é imprescindível o diagnóstico

precoce de forma a realizar um tratamento de prevenção eficaz e com sucesso. Os biomarcadores salivares atualmente ainda não estão clinicamente validados para os diferentes tipos de cancro como o cancro da mama, cancro do pulmão e cancro oral. No entanto, estes biomarcadores têm vindo a ser encontrados na saliva (Martí-Álamo et al., 2012).

Doenças cardiovasculares - com a descoberta dos biomarcadores

tem sido possível a detecção precoce desta patologia contribuindo assim para o melhoramento dos conhecimentos acerca da doença.

Diabetes - os diabéticos necessitam de um controlo rigoroso

dos níveis de glicose, sendo que este controlo leva a que muitos doentes tenham um acompanhamento ineficaz devido ao tipo de monitorização a que são submetidos, sendo esta invasiva e desconfortável. Posto isto têm vindo a ser estudado os níveis de glicose através da saliva, uma vez que esta para além de ser encontrada na hemoglobina é encontrada igualmente na saliva.

Doenças infeciosas - apesar dos novos avanços na medicina,

as infeções virais consistem num enorme problema clínico. O uso de antibióticos é considerado um tratamento eficaz no caso das infeções bacterianas, contudo, estes são administrados incorretamente devido à dificuldade de distinção destas doenças virais levando muitas das vezes a um tratamento ineficaz e consequentemente ao uso inadequado de antibióticos. Atualmente não existe nenhum teste de diagnóstico para diferenciar as patologias infeciosas, contudo uma das grandes vantagens é o facto de um biomarcador salivar ser o suficiente para identificar o agente patogénico, sendo o fluido oral promissor na monitorização e diagnóstico das mesmas (Malathi et al,.2014; Pink

et al., 2009)

Infeções virais - o papel da saliva tem sido ainda promissor no

desencadeamento de doenças como a hepatite e HIV (Pink et al., 2009).

Doenças orais

O diagnóstico salivar pode atualmente ser realizado quando há alguma suspeita de patologia, sejam elas do foro geral ou oral. Este tipo de diagnóstico é maioritariamente utilizado na medicina dentária para a determinação do risco de cáries dentárias ou doenças periodontais.

Como já foi constatado, a saliva apresenta-se como potencial método de diagnóstico de doenças gerais, apresentando inúmeras vantagens para o seu uso clínico. Face a este cenário, surge agora a necessidade de perceber a importância desta no diagnóstico de doenças orais, com a finalidade de entender como pode a saliva solucionar os problemas descritos ao longo do presente trabalho. No âmbito do diagnóstico de doenças orais, a saliva apresenta-se promissora na avaliação e detecção de doenças como o cancro oral, a cárie dentária e a doença periodontal, sendo mais promitente o diagnóstico de doenças como a cárie e a doença periodontal, as duas patologias orais mais comuns que continuam a ser uma luta constante na área da odontologia.

Cancro oral - o exame do cancro oral é executado geralmente

por dentistas ou profissionais de saúde que realizam exames meticulosos à cavidade oral, sendo que muitos dos cancros apenas são detetados quando já se encontram em estados mais avançados, daí a sua taxa elevada de mortalidade. A análise salivar poderá auxiliar o diagnóstico precoce de certos tumores malignos, sendo que o uso da biomarcadores salivares e a sua influência no cancro oral ainda se encontra em desenvolvimento (Hu et al., 2010).

Cárie dentária - a cárie dentária é uma doença infeciosa

multifatorial que permanece como um grave problema de saúde em todo o mundo. Apesar das largas medidas preventivas e com uma redução drástica da sua taxa ao longo da última década, a cárie dentária persiste e continua a ser considerada a doença crónica mais comum em todo o mundo.

A cárie dentária é causada por interações complexas multifatoriais entre bactérias produtoras de ácido, hidratos de carbono e outros fatores. A sua patogénese envolve a desmineralização do esmalte por parte dessas mesmas bactérias, resultando assim na cavitação do dente.

Dentro de todas as bactérias, o streptococcos mutans tem vindo ao longo dos anos a ser associado com o início e progressão da cárie dentária e tem sido considerado como o agente principal para o desenvolvimento desta doença infeciosa (Guo & Shi, 2013).

A saliva é apropriada para a gestão e acompanhamento destas bactérias uma vez que, por exemplo níveis elevados de

streptococcos mutans na saliva são associados a um aumento

da prevalência de cárie dentária, afirmação esta constatada pelo autor do artigo Saliva as a diagnostic tool for oral and systemic

diseases (Javaid et al., 2016). No estudo desenvolvido pelo mesmo,

é demonstrado o papel desta bactéria no desencadeamento de cáries dentárias, bem como a existência de um teste disponível no mercado que demonstra a associação positiva desta mesma bactéria com a presença de cáries em adultos e crianças.

Por outro lado, sabe-se que a saliva tem um papel protetor contra a cárie, uma vez que contem vários agentes antibacterianos e tem a capacidade de tampão, de forma a diminuir a concentração de ácido nas superfícies dentárias. Logo, as mudanças na quantidade e na composição da saliva podem fornecer ferramentas potencias para detetar e acompanhar esta doença infeciosa.

Testar a qualidade e a taxa de fluxo salivar ajuda a identificar o nível do risco, mesmo antes do seu aparecimento. Importa referir que este teste constitui uma parte do atendimento odontológico preventivo, podendo ser igualmente usado para entender o motivo da taxa crescente de cárie dentária. A intervenção oportuna pode ainda ajudar a prevenir a doença, a dor e necessidade de um tratamento restaurador tardio e consequentemente mais dispendioso.

Doença periodontal - esta é considerada uma doença universal,

sendo a mais comum no que diz respeito à perda de dentes nos adultos, derivando esta de um processo inflamatório crónico irreversível. Muitas vezes, os doentes não estão cientes que têm a doença e optam por ignorar os sintomas e sinais de inflamação gengival. Por outro lado a ausência de dor na doença periodontal faz com que os pacientes não procurem atendimento odontológico no estado inicial ou até mesmo mais avançado, proporcionando a progressão da doença, de tal forma que mesmo com um tratamento extenso não é possível evitar a perda dentária (Kim et

al., 2013).

Como já foi referido na secção 3.4. Conclusão, na medicina

dentária os parâmetros tradicionais para o diagnóstico periodontal como a sondagem periodontal ou radiografia apresentam-se por vezes limitados visto que é necessário que a lesão esteja já significativamente presente para efetuar um diagnóstico preciso desta doença. Com o objetivo de solucionar este grave problema, os investigadores insistem no estudo e análise da saliva e dos seus biomarcadores que têm vindo a demonstrar-se auspiciosos para o diagnóstico periodontal. Os biomarcadores apresentam-se agora como uma ferramenta única no diagnóstico precoce da doença.

Para uma melhor percepção do papel da saliva no diagnóstico de doenças periodontais, o autor do artigo Salivary biomarkers in

the diagnosis of periodontal diseases (Kim et al., 2013) faz uma

analogia explicativa dos testes de gravidez feitos em casa, no qual as mulheres recebem diagnósticos exatos em tempo real, sendo que quando positivo acabam por ser encorajadas a receber cuidados apropriados. No caso das doenças periodontais a saliva serve como um veículo atrativo no qual um teste de rastreamento pode ser conduzido. A saliva está próxima de locais em que estão presentes as inflamações periodontais, e portanto, contém biomarcadores associados a esta doença, permitindo também resultados imediatos negativos ou positivos.

Para além disto a saliva apresenta todo um leque de vantagens já referidas anteriormente, tornando-se um meio conveniente para a realização de um teste de triagem de alta sensibilidade para o caso de doenças periodontais.

Segundo o artigo supramencionado um teste domiciliar autoadministrado que serve como uma ferramenta de triagem para doenças periodontais poderia ter um papel importante em consciencializar os indivíduos que tal doença está a ocorrer na cavidade oral e que uma visita odontológica deverá ser priorizada. Resumidamente, novos dispositivos como testes de saúde periodontal a partir do fluido oral poderão assim fornecer avaliações precisas e em tempo real, seja em casa ou no consultório odontológico (Kim et al., 2013).

Sintese

Em conclusão, a saliva tem vindo a demonstrar a sua capacidade e utilidade no diagnóstico de doenças orais e sistémicas nos últimos anos. O facto da sua abordagem ser não invasiva, segura, económica e a sua colheita facilmente obtida, tornam este fluido altamente desejável no diagnóstico e monitoramento de doenças. O diagnóstico salivar poderá ter um impacto significativo no futuro da medicina dentária, representando uma alternativa de diagnóstico aos métodos tradicionais, que por sua vez são métodos mais invasivos e desconfortáveis. Estes testes estão associados ao medo e ao receio dos médicos dentistas que consequentemente acabam por ser evitados pelos doentes, influenciando assim negativamente o estado de saúde dos mesmos.

A saliva poderá ser considerada o “espelho do corpo” podendo assim refletir todo o espetro de estados fisiológicos como estados de doenças (Lee & Wong, 2010). Tornando-se assim um fluído clinicamente informativo e útil em abordagens a nível de prognóstico laboratorial ou diagnóstico clínico. O diagnóstico salivar está na vanguarda deste tipo de tecnologia e pode oferecer uma alternativa favorável para os médicos utilizarem num futuro próximo, com a finalidade de tomar decisões clínicas e prever resultados pós-tratamento. (Lee, et al., 2009).

3.7. Tipos de diagnóstico

Para uma melhor percepção do sistema de funcionamento do diagnóstico de doenças a partir de amostras salivares, estes serão segmentados em testes laboratoriais ou testes clínicos. A linguagem de ambos é semelhante sendo que a única variante prende-se com o método de colheita do mesmo, sendo os mais convencionais: drenagem ou centrifugação (ver página 96).

3.7.1. Laboratorial

Os testes laboratoriais incluem todos aqueles que podem ser concretizados em casa ou numa clínica, contudo, estes terão de ser sempre enviados para um laboratório onde permanecem

aproximadamente 5 dias, tempo de obter o resultado.

Uma vez que estes testes são analisados em laboratório, possibilita a análise de um maior número de biomarcadores ou seja, a

projeção destes testes, na maioria das vezes não usa biomarcadores específicos, permitindo a análise de problemas quer do foro

sistémico quer oral. Logo, no laboratório o técnico pode avaliar a quantidade de analitos que forem solicitados.

fig. 79 Esquema sintético do processo de diagnóstico salivar, especificamente do método laboratorial. TEMPO DE ESPERA SUCÇÃO DRENAGEM CENTRIFUGAÇÃO CLÍNICA DENTÁRIA CASA + DOENÇAS