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Inauguração de Belo Horizonte, 12 de dezembro de 1897115.

Paisagem sonora XVIII – nomes da capital: Cidade de Minas, de 1897 a 1901, e,

depois de 1901, Belo Horizonte.

De 1897 a 1901, a recém inaugurada capital do estado de Minas Gerais foi

chamada de “Cidade de Minas”, em virtude da Lei nº 3, de 17 de dezembro de 1893,

adicional à Constituição. Porém, em 1901, o Congresso restabelece o nome de “Belo

Horizonte”, dado ao arraial em 1890.

Belo Horizonte foi inaugurada inacabada, em 12 de dezembro de 1897, por uma exigência da Constituição do Estado. Os funcionários do governo e aqueles que podiam adquirir os lotes mais valorizados pelo projeto inicial ocuparam a parte central. Os operários que trabalharam na construção da cidade acamparam em meio às obras, formando as primeiras favelas na periferia da cidade e não eram considerados cidadãos legítimos de Belo Horizonte. Tanto os pobres quanto os operários viviam à margem da cidade, em locais distantes do centro desde o início da construção.

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Reprodução feita de foto do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizonte>. Acesso em: 22/08/2011

Paisagem sonora XIX – Inauguração da capital: 21 tiros de dinamite, bandas

musicais executando o Hino Nacional e marchas triunfais, aclamações populares, locomotivas, silvo prolongado e festivo das duas máquinas, delirantes aclamações, mais três bandas de música eletrizavam o ambiente, leitura em voz alta do decreto, Te Deum, salva de 21 tiros.

Na tarde de 11 de dezembro inaugurou-se a luz elétrica e, num anseio geral, esperou-se o dia 12. (...) Uma salva de 21 tiros de dinamite despertou a população horizontina ao alvorecer do dia 12, quando duas bandas musicais percorreran a localidade executando o hino nacional e marchas triunfais. (...) chegando todos ao meio-dia a General Carneiro, entre aclamações populares e ao som do hino nacional. À uma hora e 15 minutos partia de General Carneiro o comboio presidencial, agora composto de 13 carros, conduzidos pelas locomotivas “Belo Horizonte” e “Ouro Preto”. Estrondosamente vitoriado em todas as estações intermediárias, o Presidente Bias Fortes com sua comitiva chegaram a Belo Horizonte às 2 horas. Ao silvo prolongado e festivo das duas máquinas, cerca de 8.000 pessoas que se achavam na estação e imediações proprromperam em outra tantas delirantes aclamações ao Govêrno, à Comissão e aos nomes de quantas pessoas de destaque haviam concorrido para a mudança da Capital, ao passo que três bandas de música eletrizavam o ambiente com o hino nacional. (...) Na praça da Liberdade, onde haviam sido armados vistosos pavilhões para convidados e para o corpo orquestral, destacava-se o pavilhão central em forma de zimbório destinado à lavratura do decreto e “Te-Deum”. (...) O Presidente Bias Fortes agradeceu comovidíssimo e, ato contínuo, assinou o dec. Nº 1.085, que, em seguida, depois de referendadopelos Secretários de Estado, foi lido em voz alta ao povo pelo Dr. Estêvão Lobo, oficial do gabinete da Presidência. Nesse momento ouviu-se uma salva de 21 tiros, três bandas de música executaram o hino nacional e houve um delírio de aclamações populares, caindoi sôbre a cabeça do Presidente Bias Fortes uma chuva de pétalas de flores atiradas por gentis senhorinhas.116

Voltamo-nos ao som das bandas, sempre presentes em dias de festas na cidade, e percebemos o repertório tocado: Hino Nacional e marchas triunfais. Dimencionamos o silvo prolongado da locomotiva como impressindível à inauguração da capital e como marca de novos tempos. A força do momento é revelada na salva de tiros e pela benção realizada pelo Te Deum.

Paisagem sonora XX – motores elétricos: rom-rom contínuo de motores elétricos,

trotes de cavalo em chão de paralelepípedo e som contínuo de rodas de charretes, bondes deslizando sobre os trilhos, murmurinho de gente andando e falando.

A paisagem sonora XX retrata os novos tempos – tempo da luz elétrica, das charretes e dos bondes nas ruas largas, arborizadas e vazias do começo da capital – e

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seus novos e futuros ruídos. A inauguração da rede elétrica só aconteceu em 11 de dezembro de 1897, um dia antes da festa de inauguração da cidade. Todos os motores então usados na construção da cidade só funcionavam a vapor, o que deixava as noites escuras e tumultuadas, durante o período de construção. A vida em Belo Horizonte começava cedo e todos dormiam cedo.

Segundo Schafer117, o “novo fenômeno sonoro”, dinamizado exponencialmente

pela Revolução Elétrica, criou um som fundamental permanente, o ruído. Schafer refere-se aos ruídos como desprovidos de “personalidade ou senso de progressão”. Percebemos que em Belo Horizonte, após a inauguração da luz elétrica, há registro do começo dos novos ruídos como revela Bilac:

Pelas ruas largas e arborizadas, rolam bondes elétricos; lâmpadas elétricas fulguram entre os prédios elegantes e higiênicos; motores elétricos põem em ação, nas fábricas, as grandes máquinas cujo rom-rom contínuo entoa os hinos do trabalho e da paz.118

7 de setembro de 1902 – Inauguração dos bondes elétricos e posse do Presidente Dr. Francisco Salles.119

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SCHAFER, 1997, p.107.

118

BILAC, Olavo. A coragem de Minas. (1903) In: ARAUJO, Laís Corrêa. Sedução do Horizonte. Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 1996, p. 26.

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Avenida João Pinheiro, larga, arborizada e iluminada. Do antigo arraial, restou o som do vento nas árvores – (1911).120

Paisagem sonora XXI – Festa de São João: reza do terço na Igreja, bombas, foguetes,

banda de música e silêncio.

As festas religiosoas, como a de São João, em 23 de junho, eram muito comemoradas. Rezado o terço na Igreja da Boa Viagem, às sete da noite, o mastro podia ser levantado e os fogos de artifício começavam – bombas e foguetes cobriam todos os sons existentes, enquanto os balões subiam. O comandante levava a banda de música e às nove horas, voltava o silêncio. Era uma grande festa de muita alegria!121

Paisagem sonora XXII – festa ruidosa: 1º) bandas de música, foguetes, discursos

entusiasmados, e marchinhas irreverentes; 2º) rádios gritando nomes e promessas, comícios em todos os bairros, fogos de artifício e discursos em praças públicas.

Tempos barulhentos, em Belo Horizonte, eram as eleições. A cidade tinha dois

partidos no começo do século: “o oficioso e o da oposição”. Os eleitores, só os homens,

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Reprodução feita do livro: Sedução do Horizonte. ARAUJO, 1996, p.197.

se hospedavam nos “quartéis”, onde toda a festa acontecia, com direito a muita bebida, jogos – especialmente de cartas –, bandas de música e foguetes. “Era uma festa ruidosa, precedendo o grande dia, entrecortada de discursos entusiasmados, passeatas com foguetes de assobio, marchinhas irreverentes, de quando em vez assassinatos ou

pancadaria.” Depois da revolução de 1930, com o “voto secreto”, acabaram as “bocas das urnas” e o prestígio dos “coronéis”.122

Depois, já na década de 1940, a cidade enchia-se de faixas de candidatos de vários partidos, os rádios gritavam seus nomes e promessas e os comícios e as passeatas aconteciam em todos os bairros: lanternas, fogos de artifício e os discursos nas praças públicas. Em 1946, o voto feminino passa a ser obrigatório, porém, desde 1934 vigorava o seu direito.

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