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Coro Asdrúbal Lima.305

Paisagem sonora LXVIII – Cavalleria Rusticana: coro de 60 vozes, orquestra de 35

músicos, um ato da ópera Cavalleria Rusticana e um intermezzo de Amico Fritz de Pietro Mascagni; árias das óperas Bohemé de Puccini, Trovador, Traviata, Aida e

Rigoleto de Verdi; Sanson e Dalila de Saint-Saens e Triste canção de Anibal Matos e

Pastore.

Programa do concerto Cavalleria Rusticana.306

305

Revista Bello Horizonte, 30 de novembro de 1933.

306

Programa do Espetáculo lírico comemorativo do cinqüentenário de Belo Horizonte – Cavalleria Rusticana – 27 e 28 de agosto de 1947, no Cine Brasil. Acervo da professora Sandra Loureiro.

Segundo Mata-Machado307, o período de 1943 a 1947 foi um grande vazio quanto a manifestações artísticas no que se refere às expressões líricas e de coros. A

Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, encenada em 27 de agosto de 1947, no

Municipal, registra o fim desse período a que se refere o autor.

A Sociedade Coral de Belo Horizonte (SCBH) era uma iniciativa coletiva, criada por artistas, cantores e entusiastas da ópera com o objetivo de incentivar a arte lírica e realizar temporadas de óperas. O começo das iniciativas para a organização da SCBH se deu a partir do Coro Asdrubal Lima e a produção da Cavalleria Rusticana (1947). Após a sua fundação, em 25 de março de 1950, estreou, em 24 de novembro de 1950, a primeira temporada lírica, apresentando a ópera La Traviata, de G. Verdi, sob a regência do maestro Mario de Bruno, no Teatro Francisco Nunes. No elenco encontramos os cantores: Lia Salgado, João Décimo Brescia308, Pery Rocha França309 e Asdrubal Lima.

Em sua primeira diretoria eleita faziam parte os senhores Dr. Alexandre Diniz Mascarenhas, Dr. Pery Rocha França, José Geraldo Farias, Oswaldo Coutinho e Paulo Veiga Salles. O Conselho Diretor era representado por Dr. Clóvis Salgado da Gama, Cônsul Valério Valeriani, Professora Eugênia Bracher Lobo, cantor lírico João Décimo Brescia, Professor Levindo Lambert, jornalista Celso Brant, Professor Fernando Coelho, Ermínia Ginnochi, Professora Carmen Sílvia Vieira de Vasconcelos e Professor Hely Menegale. A Comissão Artística era integrada por Asdrúbal Lima, Mário Pastore e Lia Salgado310.

Segundo Oliveira311, as três sociedades, Sociedade Mineira de Concertos Sinfônicos, Cultura Artística e Sociedade Coral, eram muito semelhantes, pois dispunham de uma irmandade quanto aos mesmos nomes que apareciam em suas diretorias e também quanto seus associados. Constatamos que essas eram empresas culturais em cujas direções conviviam nomes de políticos e empresários que tinham a cultura como negócio oficial.

Embora muitos tenham contribuído para a construção dessas entidades, três pessoas merecem ser destacadas como verdadeiros melômanos: Clóvis

307

MATA-MACHADO, 2002, p.27. 308 Cantor e professor do CMM.

309 Pery Rocha França nasceu em Belo Horizonte, em 1910. Colaborou com a criação da SCSBH, da Cultura Artística, da Sociedade Coral de Belo Horizonte. Idealizou e organizou a Universidade Mineira de Arte (1954) e, como presidente da Sociedade Coral de Belo Horizonte, implantou as Temporadas Líricas oficiais. Atuou como cantor em várias óperas encenadas na cidade e ganhou o prêmio “Orfeu” como baixo da Temporada Lírica de 1958.

310

OLIVEIRA, 2008, p.18.

311

Salgado, médico e político, presente na quase totalidade das articulações culturais do período; Carlos Vaz de Carvalho, homem de negócios e mecenas da música erudita de Belo Horizonte e Celso Brant, jornalista, político, crítico de arte e musicólogo312.

Alguns desses grupos, tais como a Sociedade Debussy, a Pró-Música e outros a que possivelmente não tivemos acesso, podem ter sido criados em resposta a outros já existentes na cidade. A fala do diretor do grupo Pró-Música313 remete a uma crítica ao

ambiente musical que tínhamos naquela época: “Não basta para a cultura musical de uma comunidade, a simples audição de concertos”. Outro aspecto relevante nessas possíveis respostas é o espaço reservado ao que chamavam “musica moderna”. A

reportagem O fracasso dos modernistas, assinada pelo respeitado Celso Brant, revela um possível olhar, um tanto generalizado e preconceituoso, mesmo para a época, sobre essa música moderna. Provavelmente tenha cabido a uma pequena minoria revelar novos olhares e novos ouvidos para a música contemporânea. Incluímos o texto de Brant no corpo do nosso texto, pois o entendemos como uma escuta importante daqueles que criticavam, criavam argumentos e formavam opinião.

Ainda se discute a razão de ser do fracasso da música modernista. (...) Antes de mais, é preciso não esquecer que arte é intuição, o que quer dizer que nada tem a ver, diretamente, com a inteligência. (...) É justamente onde para a inteligência que começa a arte. E o erro dos modernistas está justamente aqui: em pretender erguer obras de arte nos domínios da inteligência quando, sabidamente, o seu mundo é o da intuição. (...) A arte moderna é uma arte intelectualizada, o que quer dizer: uma arte falsa e sem substância. Desconhecendo o papel importantíssimo do inconciente na gênese da obra de arte, os modernistas imaginam fazer uma arte ‘ersatz’, e o resultado é o que vemos... (...) A criação artística é espontânea e independente, pois, dos nossos pontos de vista. (...) O engano essencial dos modernistas está no desconhecimento do processo da criação artística. Pensam fazer uma arte segundo esquemas devidamente traçado pela inteligência314

É reveladora a crítica feita à música moderna em 1949 como “obras de arte nos domínios da inteligência”, e mais, “o engano essencial dos modernistas está no desconhecimento do processo da criação artística”. Percebe-se um tom autoritário

quanto ao entendimento do que é ou não arte (falsa e sem substância). Destacamos que esse texto foi escrito pelo crítico musical Celso Brant, que assinava a grande maioria das matérias referentes à música na cidade.

312

Idem, p.18.

313

Revista Alterosa, 1º de dezembro de 1960, p.14.

314

A qualidade do suporte de divulgação da música e do trabalho musical realizado na cidade, na década de 1950, tornou-se, mais eficiente. Não queremos, com isso, dizer que esse suporte abrangia todo o tipo de música, haja vista o desprezo pela música moderna. Destacamos, em alguns números da revista Acaiaca, como os números dedicados aos compositores Chopin, Bach e Carlos Gomes, à Sociedade de Concertos Sinfônicos e a outros que também nos interessaram, que tais matérias são assinadas geralmente pelo seu diretor Celso Brant, mas temos também: Sérgio Magnani, Flausino Vale, Mario de Andrade e algumas traduções. Nos anos 1950 ocorre, portanto, uma expansão da vida musical em Belo Horizonte – representada pelo crescimento no número de associações, pelo desenvolvimento da imprensa local e pela crescente circulação da música e de informações por meio do rádio e de boas gravações – e o começo de uma postura crítica quanto à produção e execução musicais.