• Nenhum resultado encontrado

Incentivos financeiros do Estado do Ceará ao setor aéreo

3. ESTADO E INCENTIVOS GOVERNAMENTAIS

3.4 Incentivos financeiros do Estado do Ceará ao setor aéreo

Como se os incentivos fiscais comentados acima – redução da base de cálculo e isenção do ICMS do querosene de aviação – não fossem suficientes para o estímulo à atração de investimentos para combater as desigualdades regionais e promover o aumento das atividades econômicas do setor aéreo no Ceará, o governo cearense também optou por prever a concessão de incentivos financeiros. Estes instrumentalizados a partir da prestação de ajuda financeira direta a empresas com fins lucrativos – companhias aéreas com operações no Ceará. Dessa

127 Dados da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (ABEAR) indicam que o combustível representava 28,8% dos custos totais das companhias aéreas no Brasil em 2015. Disponível em:

http://panorama.abear.com.br/dados-e-estatisticas/custos-das-empresas/. Acesso em 11 dez. 2018. 128 Dados disponíveis em: https://www.sefaz.ce.gov.br/arrecadacao-total/. Acesso em 12 nov. 2019.

100

forma, editou lei para destinação de recursos originados diretamente do erário público para os cofres das companhias aéreas envolvidas, especialmente, em rotas internacionais.

Assim, passamos a nos debruçar a respeito do que é estabelecido pela Lei do Estado do Ceará nº 16.580, de 19 de junho de 2018. A respectiva legislação dispõe que o Poder Executivo estadual fica autorizado a conceder subvenção econômica a empresas aéreas que operem linhas aéreas internacionais até então não existentes em aeroporto sediado no território estadual, desde que atendendo a certos critérios (art. 1º129). O prazo para a concessão da subvenção não poderá

superar cinco anos (art. 3º). Também há previsão para limitar o gasto anual a vinte milhões de reais para esse tipo de despesa (art. 5º).

Diferentemente da isenção do ICMS, que deixa de arrecadar receitas, esse tipo de atuação é mais direto, uma vez que impõe despesa orçamentária. Mas, para isso, as companhias aéreas devem atender a certos critérios dispostos nos quatro incisos do art. 2º da Lei nº 16.580/2018130:

I – a implantação ocorra no intervalo de, no máximo, 12 (doze) meses, contados do início da primeira operação;

II – os voos semanais internacionais sejam operados com aeronaves de corredor duplo (widebody);

III – as operações de voos internacionais implantadas sejam vinculadas a um Centro Internacional de Conexões de Voos – HUB, com, pelo menos, 50 (cinquenta) voos diários com interligação nacional, considerada a totalidade de chegadas no aeroporto cearense respectivo.

IV – pelo menos 2 (dois) voos diários, entre os 50 (cinquenta) supracitados poderão contemplar o Aeroporto Regional do Cariri (Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes em Juazeiro do Norte).

129 Lei nº 16.580/2018: “Fica o Poder Executivo autorizado a conceder subvenção econômica às empresas aéreas que, a partir de 1° de janeiro de 2018, iniciem operações de linhas aéreas internacionais até então não existentes em aeroporto sediado no Estado do Ceará, atendido o disposto na presente Lei”.

130 Também é interessante ter notícia da redação dos parágrafos que acompanham o art. 2º da Lei nº 16.580/2018: “§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se operação o voo que compreenda ida e volta, tendo, em qualquer dos casos, como origem, conexão ou destino, aeroporto localizado no Ceará.

§ 2º O atendimento do disposto no caput desta Lei não confere direito adquirido à subvenção econômica, que fica condicionada à discricionariedade do Poder Executivo quanto a sua conveniência e oportunidade, atendendo, principalmente, a limitações orçamentárias e ao interesse público.

§ 3º É facultado ao Poder Executivo estabelecer requisitos adicionais à concessão da subvenção referida nesta Lei em decreto ou no processo de requerimento de interessados potenciais, desde que, no último caso, devidamente fundamentada a especificidade.

§ 4º A utilização de aeroporto localizado no Estado do Ceará como simples escala de voos internacionais não atende ao disposto na presente Lei.

§ 5º A empresa beneficiária da subvenção econômica deverá apresentar regularidade jurídica e fiscal.

§ 6º É vedada a concessão da subvenção de que cuida esta Lei a mais de uma pessoa jurídica quando os requisitos nela estabelecidos forem atendidos por meio de grupo econômico ou aliança comercial, devendo a requerente apresentar declaração escrita das demais pessoas jurídicas envolvidas nas operações de voo internacionais de que não pleitearão idêntico benefício. (Nova redação dada pela Lei n.º 16.671, de 25.10.18)”

101

No entanto, em poucos meses da sua publicação, a Lei nº 16.580/2018 foi alterada pela Lei nº 16.671, de 25 de outubro de 2018, que condensou suas modificações exclusivamente no art. 2º, que passou a estipular apenas as seguintes condições em dois incisos:

I – a implantação ocorra no intervalo de, no máximo, 12 (doze) meses, contados do início da primeira operação;

II – os voos semanais internacionais sejam operados com aeronaves de corredor duplo (widebody).

Quando comparadas as redações, percebe-se que a alteração se concentrou em retirar os incisos III e IV das condições a serem preenchidas para fins de concessão da subvenção econômica, restando intocados o caput e os parágrafos agregados. Qual seria a razão da mudança – ou flexibilização – das condições em tão curto tempo? As exigências dos revogados incisos III e IV estavam demandando ações que dificultariam sobremodo o sucesso no preenchimento dos pré-requisitos para a concessão da subvenção? Vejamos.

O inciso III exigia da companhia aérea que ela instalasse um HUB – centro de conexões de voos – em um aeroporto localizado no território cearense, cujas operações somassem cinquenta voos diários, considerada a totalidade de chegadas. Por sua vez, o inciso IV determinava a possibilidade de haver 2 voos, do total de cinquenta, que abarcassem o aeroporto regional da cidade de Juazeiro do Norte.

A justificativa do Projeto de Lei nº 16.671/2018, disposta na Mensagem nº 8.298/2018 do Poder Executivo Estadual que remeteu o Projeto de Lei de modificação da Lei nº 16.580/2018, não explicitou as causas da alteração do rol de condições para a concessão do benefício financeiro em análise. O Poder Executivo apenas relatou que era necessário a mudança para “readequar os requisitos de concessão de subvenção à realidade econômica vigente”131.

Sem mais justificativas do Governo Estadual para a alteração na redação da original da lei permissiva da transferência direta de recursos do erário estatual para cofres privados, depreende-se que os requisitos para o benefício foram suavizados. Não seria mais necessário, como antes previsto, a instalação de HUB no território cearense. Fato tal que, embora tenha

131 Mensagem nº 8.298/2018 do Poder Executivo do Estado do Ceará, que originou a Lei nº 16.671/2018. Disponível em: https://www2.al.ce.gov.br/legislativo/tramit2018/8298.htm. Acesso em: 31 ago. 2019.

102

facilitado a concessão da subvenção, poderia continuar a ser previsto como condição para a concessão do benefício, tendo em vista os vultuosos benefícios desse tipo de operação para uma região se desenvolver. A estimulação da instalação de um HUB no território cearense – mormente no Aeroporto de Fortaleza – poderia trazer vantagens para a região, como será visto no tópico 4.5.

3.5 Guerra fiscal nos incentivos fiscais concedidos sobre o ICMS nas operações com

Outline

Documentos relacionados