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3 POLÍTICAS PÚBLICAS E SEU CONTROLE PELO PODER JUDICIÁRIO:

6.5 INCLUSÃO DA DEMANDA EM PAUTA DE JULGAMENTO

Ponto obscuro, para quem litiga perante o Poder Judiciário, é ter ideia de

quando o seu processo será incluso em pauta de julgamento, haja vista que isso perpassa, em certa medida, pelo crivo da seletividade do julgador. Por isso, esse é um dos pontos que deve ser tratado como objeto da litigância estratégica.

Com efeito, o novo CPC buscou reduzir essa discricionariedade na escolha dos processos a serem julgados em dois dispositivos de relevo: o art. 12 e o art. 1.048.

Segundo o art. 12 do CPC, os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão, devendo a lista de processos aptos a julgamento ficar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores.

No entanto, um amplo leque de situações fica excluída dessa regra, a saber: as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; as decisões proferidas com base nos arts. 485 (extinção do processo sem resolução do mérito) e 932 (atribuições do relator); o julgamento de embargos de declaração; o julgamento de agravo interno; as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada.

Dentro desse universo, obviamente há o exercício da seletividade do julgador para escolher qual caso será apreciado primeiro.

Já o art. 1.048 do CPC estabelece a prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, dos procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, tomando-se como referência qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, bem como os processos regulados pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Se, nas instâncias ordinárias, já se vislumbra essa dificuldade em precisar o tempo de julgamento da causa, nas instâncias extraordinárias essa preocupação se realça. Para subsidiar essa constatação, serão trazidos, adiante, alguns dados pesquisados por Damares

Medina, em artigo voltado ao estudo da seletividade do relator no exame da repercussão geral no STF.

O lapso temporal da pesquisa é o período compreendido entre os anos de 2007 e 2013, quando o STF decidiu a preliminar de repercussão geral em apenas 700 (setecentos) temas, sendo que, no mesmo período, foram distribuídos, naquela corte, 491.449 (quatrocentos e noventa e um mil, quatrocentos e quarenta e nove) processos, dentre os quais 413.240 (quatrocentos e treze mil, duzentos e quarenta) eram Agravo de Instrumento (AI), Recurso Extraordinário (RE) e Agravo em Recurso Extraordinário (ARE), representando 84% (oitenta e quatro por cento) do total de processos distribuídos. Desse total de AI, RE e ARE, 335.080 (trezentos e trinta e cinco mil e oitenta) processos, isto é, 81% (oitenta e um por cento), foram julgados monocraticamente. Houve, portanto, um passivo de 78.160 (setenta e oito mil, cento e sessenta) processos, dentre os quais foram eleitos os 700 (setecentos) temas de repercussão geral – menos de 1% (um por cento).241

De acordo com a pesquisa, no período estudado, o tribunal relatou, em média, um tema a cada 64 (sessenta e quatro) dias. O Ministro mais célere foi Cezar Peluso, o qual relatou um tema a cada dezessete dias, ao passo que a Ministra Rosa Weber levou 248 (duzentos e quarenta e oito) dias na relatoria de cada tema de repercussão geral.242

Constatou-se, assim, que a falta de uniformidade na quantidade de temas analisados anualmente pelo tribunal reflete o desempenho de cada ministro na relatoria dos temas. Concluiu-se, pois, que os temas não são incluídos no plenário virtual por sorteio aleatório, ficando no campo da discricionariedade do ministro a escolha acerca da quantidade e do tema ou processo que terá a sua repercussão geral analisada, de modo que a relatoria de temas de repercussão geral é, na prática, mais uma faculdade, e não um dever.243

Outro dado revelado pelo estudo foi o importante papel do relator, notadamente nas funções informacionais e de condução do processo. Isso porque o voto do relator formou maioria em 96% (noventa e seis por cento) das vezes em que a repercussão geral foi julgada, seja no plenário virtual, seja no plenário presencial. Por sua vez, quando se está diante do julgamento do mérito do tema com repercussão geral, a posição defendida pelo relator foi vencedora em mais de 92% (noventa e dois por cento) dos julgamentos.244

241 MEDINA, Damares. A seletividade do relator no exame da repercussão geral no STF. In: Congresso Nacional do CONPEDI, 24, 2015, Aracaju. Anais. Aracaju: CONPEDI, 2015, p. 101. Disponível em< https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/k4yol24r/nf6bI86GMTsd1xzP.pdf>. Acesso em 14 jun. 2017.

242 Ibidem, p. 104. 243 Ibidem, p. 104. 244 Ibidem, p. 109.

Nesse norte, evidencia-se que o relator do tema de repercussão geral tem o poder de influenciar a decisão dos demais ministros, formado a maioria no resultado do julgamento. Ainda, é ele o competente para eleger o processo e incluí-lo no plenário virtual, como tema de repercussão geral, o mesmo se verificando nos processos repetitivos que, apesar de distribuídos para vários ministros do STF, exigem que o relator escolha o leading

case que representará o tema no plenário virtual.245

Transpondo essas considerações para o âmbito da litigância estratégica, verifica-se que a inclusão do processo em pauta de julgamento, não obstante a existência de diretrizes normativas acerca da observância da ordem cronológica de conclusão e das prioridades legais, possibilita o exercício da discricionariedade do julgador. Por isso, deve haver a preocupação, por parte daquele que litiga estrategicamente, de se aproximar do julgador, a fim de realçar a importância do tema e de demonstrar a importância da sua inclusão em pauta de julgamento.

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MEDINA, Damares. A seletividade do relator no exame da repercussão geral no STF. In: Congresso Nacional do CONPEDI, 24, 2015, Aracaju. Anais. Aracaju: CONPEDI, 2015, p. 111. Disponível em< https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/k4yol24r/nf6bI86GMTsd1xzP.pdf>. Acesso em 14 jun. 2017.

7 LITIGÂNCIA ESTRATÉGICA E O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Após trazidas as considerações gerais acerca da litigância estratégica em direitos sociais, passa-se a se tecer enfoque mais prático: será analisado o caso concreto da gestão do sistema socioeducativo do Estado do Rio Grande do Norte, relacionando-o aos aspectos teóricos estudados.