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Inclusão da pessoa com deficiência: a proposta de acesso ao trabalho prevista

3. O SISTEMA DE COTAS: UTOPIA OU POSSIBLILIDADE?

3.2. O direito do trabalho como medida de discriminação positiva

3.2.2. Inclusão da pessoa com deficiência: a proposta de acesso ao trabalho prevista

O art. 34, do Decreto nº 3.298/99, também cuidou de regulamentar a política de emprego sob as seguintes finalidades: 1) inserção no mercado de trabalho; 2) incorporação ao sistema produtivo mediante regime especial de trabalho protegido em oficinas de produção ou terapêuticas; 3) nos casos de deficiência grave ou severa, mediante a contratação de cooperativas sociais.

117 Cumpre salientar o esclarecimento feito por Ana Claudia Vieira no sentido de que:

“O direito ao trabalho, todavia, não se confunde com o direito a trabalho em regime de emprego. Como se verá mais adiante, há várias modalidades de relações de trabalho. Cabe às políticas públicas criar condições para que as pessoas em geral possam ter acesso a uma destas modalidades”. CISZEWSKI, op. cit., p. 60.

Embora baseado na ideia de inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, o Decreto nº 3.298/99 também pode ser visto como um instrumento para garantir o acesso ao emprego do grupo.

Também, o art. 35 do mesmo decreto enumera três modalidades de colocação da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.

A primeira, a colocação competitiva, que consiste na contratação regular, sem adoção de procedimentos especiais. Nesse tipo de colocação, as condições de trabalho são iguais aos demais empregados e, portanto, há contrato de trabalho nos termos definidos pelos arts. 2º e 3º da CLT.

A segunda espécie de colocação é a seletiva de acordo com as normas trabalhistas e previdenciárias, baseada na adoção de procedimentos especiais, como por exemplo, a necessidade de condições de trabalho diferenciadas, jornada variável, proporcionalidade de salário, horário flexível.

O art.35, § 2º, do Decreto nº 3.298/99, e a Instrução Normativa nº 20/2001, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), dispõem a respeito da supervisão e orientação técnica que auxiliem e tornem possível a compensação de limitações funcionais, motoras, sensoriais, mentais para possibilitar que a pessoa com deficiência explore suas habilidades em condição de igualdade a todas demais pessoas. Também, nessa espécie de contratação, o processo é regular sendo assegurados todos os direitos trabalhistas.

No que se refere à terceira espécie, colocação por conta própria, prevista no art. 35, inc. III, do Decreto nº 3.298/99, como o nome sugere, é um encargo da própria pessoa, no qual a busca pela emancipação econômica e pessoal se dá mediante trabalho autônomo, cooperativo ou vínculo familiar, não existindo vínculo empregatício.

Para o cumprimento das finalidades dispostas no decreto, as entidades de assistência social e beneficentes poderão intermediar a contratação. É o que ocorre com a contratação em regime especial - pelas entidades assistenciais e cooperativas -, e com o trabalho protegido (art. 34 do Decreto nº 3.298/99) em oficinas protegidas de produção e oficinas terapêuticas (art. 35, §§ 4º e 5º).

A Portaria nº 772, de 26 de agosto de 1990, do Ministério do Trabalho e Emprego, dispõe a respeito da possibilidade de a pessoa com deficiência, devidamente registrada em atividade assistencial, prestar serviços a empresas com fins terapêuticos ou de desenvolvimento de capacidade laborativa. Vale ressaltar

que essa prestação de serviços não pode se estender por mais de seis meses, uma vez que seu objetivo consiste em treinamento visando à capacitação e à inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho e, portanto, não caracteriza vínculo empregatício.

O parágrafo único do art. 34 do Decreto nº 3.298/99 dispõe que nos casos de deficiência grave ou severa, a inserção da pessoa com deficiência poderá ser realizada mediante a contratação de cooperativas sociais, previstas na Lei nº 9.857/99.

A Lei nº 9.857/99 dispõe a respeito das cooperativas sociais que possuem a finalidade de inserir pessoas em desvantagem118. Para efeitos da referida lei, são consideradas pessoas em desvantagem, conforme art. 1º, os deficientes físicos e sensoriais, os deficientes psíquicos e mentais, as pessoas dependentes de acompanhamento psiquiátrico permanente, os egressos de hospitais psiquiátricos, os dependentes químicos, os egressos de prisões, os condenados a penas alternativas e os adolescentes em idade adequada ao trabalho e situação familiar difícil do ponto de vista econômico.

A função das cooperativas, conforme já foi assinalado acima, é capacitar e habilitar as pessoas com deficiência mais severa, sendo que não podem ser meras intermediadoras de mão de obra ou mesmo empregadoras, sendo que, em caso de ser constatada essa irregularidade, será reconhecido o vínculo entre cooperados e cooperativa ou cooperado e tomador de serviço.

O art. 35, §§ 4º e 5º, ainda dispõe a respeito do trabalho protegido da pessoa com deficiência nas oficinas de produção e nas oficinas protegidas terapêuticas. Trata-se de unidades autônomas e funcionam em relação de dependência com entidades públicas ou beneficentes de assistência social. Essas oficinas são indispensáveis em determinados casos de deficiência e objetivam a habilitação social para posterior ingresso no mercado de trabalho. As pessoas com deficiência muito grave terão o trabalho protegido quando a deficiência impedir o exercício de trabalho fora das oficinas, em qualquer outra modalidade de trabalho.

118 Art. 3o Consideram-se pessoas em desvantagem, para os efeitos desta Lei: I – os deficientes

físicos e sensoriais; II – os deficientes psíquicos e mentais, as pessoas dependentes de acompanhamento psiquiátrico permanente, e os egressos de hospitais psiquiátricos; III – os dependentes químicos; VI – os condenados a penas alternativas à detenção; VII – os adolescentes em idade adequada ao trabalho e situação familiar difícil do ponto de vista econômico, social ou afetivo.

Importante assinalar que essa espécie de trabalho é típico do assistencialismo e da fase da integração119 da pessoa com deficiência, sendo que sua utilização na fase da inclusão social somente ocorrerá em caso de deficiência severa.

O art. 35, § 4º, do Decreto nº 3.298/99 prevê que a oficina protegida de produção tem a finalidade de desenvolver programa de habilitação profissional. Essas oficinas são caracterizadas pelo trabalho remunerado.

O objetivo da oficina protegida terapêutica, conforme o art. 35, § 5º, do Decreto nº 3.298/99, é o da integração social, por meio de atividades de adaptação e capacitação para trabalhos que, devido o grau de deficiência, não possam desempenhar atividade laboral no mercado competitivo. Esse período de adaptação e capacitação não caracteriza vínculo empregatício.

3.2.3. Inclusão social: a proposta do sistema de preenchimento obrigatório de