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FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) DA EDUCAÇÃO INFANTIL: IDENTIDADE E ESTÁGIO

4- Indícios da resistência de ser docente de criança pequena

Levando-se em conta o período da pesquisa o estágio teve matriculados(as) um total de 110 alunos(as), sendo que destes acadêmicos 87 participaram da pesquisa

Anais do II INTERFOR, VII ENFORSUP – Palmas, Tocantins, Brasil, 12 a 15 de setembro de 2017, UFT. ISBN: 978-85-5659-012-1

163 devolvendo o questionário respondido, o que significa que 79% dos estudantes

matriculados foram sujeitos da investigação.

Sobre o quantitativo de alunos(as) matriculados(as) no estágio e descriminado por gênero tem-se 96 mulheres, ou seja, a grande maioria com 87%. E somente 13% são homens com 14 matrículas. Dentre os sujeitos da pesquisa 78 são mulheres o que corresponde a 90%; já o público masculino se resumiu a nove o que representa 10%. Valendo dos estudos de Almeida (1998, p.15) compreende-se “[...] o magistério primário é uma profissão definitivamente feminizada e as mulheres professoras têm em suas mãos a responsabilidade de ensinar crianças nos seus primeiros anos escolares [...]” o que inclui a etapa da Educação Infantil.

As perguntas da pesquisa foram: como você chegou para fazer a disciplina de Estágio da Educação Infantil? Quais eram as expectativas? Foram sanadas? Diante das respostas buscou-se perceber indícios de negação para se tornar educador(a) infantil. Após a tabulação dos dados pode-se organizar cinco categorias de análise são elas: 1- Medo/ dificuldade/ preocupação/ ansiedade (41% das respostas); 2-Conhecer o CMEI/preconceito/ decepção/ curiosidade/ dúvida (21% das respostas); 3- Entender a Educação Infantil/ educar e cuidar (9% das respostas);4- Professor encontrado no CMEI (08% das respostas). 5-Experiência importante/ gratificante/ aprendizado (21% das respostas). Cabe comentar que cada resposta dos acadêmicos pode ser classificada em várias categorias.

Na categoria um - Medo/ dificuldade/ preocupação/ ansiedade- as respostas com este tipo de conotação estiveram presentes em 41% dos estudantes. Este número muito significativo indica resistência em relação a estagiar em escolas infantis revelando, também uma tensão em ir para uma instituição onde as atividades profissionais são desvalorizadas (KRAMER, 2011), ou seja, tem de limpar crianças e o cuidar, o que parece desajustado para um estudante de nível superior. Vamos a algumas falas:

“Cheguei bastante ansiosa, com medo, insegura pois seria o momento que eu ia viver a realidade de uma escola. Nunca tinha tido nenhuma experiência com escolas, mas apesar de todos estes medos, eu sabia que lá seria a oportunidade que eu teria para obter mais conhecimento sobre a educação. Foi na expectativa de entender como se dá o processo de aprendizagem das crianças. Tinha dúvidas sobre a questão do cuidar e ensinar, achava que fazer os dois não dava certo, principalmente com as crianças do berçário, mas ao ter esta experiência, percebi que dá para ajudar e muito a criança se desenvolver na Educação Infantil” (Sujeito, 33).

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164 “Quando me matriculei na disciplina de estágio na E.I, devo confessar que para mim a

realidade era outra. Em nenhum momento passava nos meus pensamentos a ideia de ser profissional da Educação Infantil, principalmente, da rede pública” (Sujeito, 37).

A declaração do(a) aluno(a) 33 mostra o medo e a insegurança em relação à realidade que iria encontrar na escola. Posso entender que ideia era de que na creche só se cuidava das crianças e não dava para fazer nada pedagógico, contudo, a partir da aproximação permitida por meio do Estágio pode-se constatar que os bebês aprendem muito no dia a dia da creche. Já o(a) estudante 37 diz ter chegado no Estágio com a determinação de que nunca seria professor(a) da creche ou da pré-escola, principalmente, se fosse na escola pública, assim, é possível considerar que para este(a) aluno(a) era claro, como é no imaginário social, que não precisa fazer faculdade para cuidar de criança pequena.

A categoria um também revela a costumeira situação de dicotomia entre teoria e prática nos cursos de pedagogia. O medo que os(as) alunos(as) dizem ter, tem relação estreita com a dificuldade de associar teoria e prática e, consequentemente, compreender o conceito de práxis. Vejamos as respostas dos(as) alunos(as), sujeitos 22 e 26:

“A princípio estava um pouco apreensiva, pois, durante muito tempo estudamos teorias, mas no momento de coloca-las em prática é como se fosse o momento de nos testarmos enquanto professor. Felizmente as expectativas forma superadas e a insegurança logo deu lugar ao entusiasmo”(Sujeito, 22).

“Ansiosa. Com muita vontade de ir para o CMEI. De início pensei que a disciplina fosse dar algumas orientações sobre como dar aula, o que pode e o que não pode ser feito na Educação Infantil. De modo geral, aprendi bastante na prática e, principalmente, com as orientações da professora da universidade. Mas, penso que as regências poderiam ter sido mais significativas se tivéssemos mais embasamento teórico sobre a Educação Infantil” (sujeito, 26).

É possível perceber que nos depoimentos há uma preocupação com as questões teóricas vistas de forma separada das ações na escola: ora mencionadas como abundante, ora pouco e superficial. A escolha do estágio com perspectiva da pesquisa é no sentido de tentar superar estas impressões, ou seja, o estágio é teoria e prática, assim como todos os fazeres do(a) professor(a), em que “o papel das teorias é iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para a análise e investigação que permitam questionar as práticas[...]” (PIMENTA E LIMA, 2004, p.43). Pimenta (2001, p.86) na tentativa de trazer o entendimento da indissociabilidade entre teoria e prática utiliza Marx, dizendo

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165 que para ele, “práxis é a atitude (teórico-prática) humana de transformação da natureza e

da sociedade. Não basta conhecer o mundo (teórico), é preciso transformá-lo (práxis)”. No que se refere às categorias dois: conhecer o CMEI/ preconceito/ decepção/ curiosidade/ dúvida, teve-se 21% de respostas; e a três: entender a Educação Infantil/ educar e cuidar, obteve-se 9% das respostas; sabe-se que entender a função da Educação Infantil e o educar/cuidar ainda é um grande desafio para a educação brasileira que deve ver “crianças, seres íntegros em suas manifestações de singularidades, historicidade e cultura, que, por meio de práticas de educação e cuidado, deverão ter a garantia de seu desenvolvimento [...]” (ANGOTTI, 2006, p.20); conceitos, estes, que a disciplina de Estágio também tinha pretensão de ampliar, pois, agem fortemente na identidade profissional. Vejamos as falas dos (as) alunos(as):

“Ao iniciar o estágio tive de início uma visão equivocada do que consistia em estagiar no CMEI. Como nunca havia estado numa sala, achei que era apenas uma professora para 45 alunos e que não havia dinâmica nem momento de ensino em sala. Depois de um período de observação minha visão mudou, com relação ao desenvolvimento das aulas, as crianças participaram e colaboraram para que o mesmo ocorresse da melhor forma possível” (Sujeito 04).

“Ao me matricular nesta disciplina não imaginava o que aconteceria pela frente. No início o sentimento era de medo e a preocupação por não dar conta de disponibilizar um tempo maior para me dedicar ao que a disciplina requer. Essa experiência provocou impactos enormes na maneira como via as coisas na Educação Infantil, através das leituras, vivências, pesquisas que fiz para a construção do projeto e do artigo. Não foi nada fácil conseguir concluir a disciplina” (Sujeito, 76).

O Sujeito quatro afirma que tinha uma visão equivocada do CMEI, que é muito diferente do depósito de crianças que imaginava e viu que as crianças conseguem aprender. Sabe-se que existe um discurso de que a escola pública não é boa e que a primeira etapa é um espaço superlotado para guarda de crianças pequenas para os pais poderem trabalhar, além disso, pode-se também perceber neste depoimento que o(a) professor(a) consegue organizar as crianças para o desenvolvimento de atividades significativas, o que é muito positivo. O estudante 76 também diz ter rompido preconceitos e que isso foi possível por meio da teoria que possibilitou um novo pensar. Apesar dos pontos positivos houve também estudantes que tiraram conclusões muito ruins ao analisar o CMEI e a etapa por meio do Estágio, analise esta que se somou com conceitos anteriores:

“Ao iniciar minha trajetória no estágio da educação infantil, minhas expectativas referentes a esta modalidade era de conhecer como se organiza as funções: cuidar, educar e brincar com crianças que ainda não desenvolveram todas as habilidades físicas e motoras. A princípio pode perceber que infelizmente há uma educação ainda voltada para o ato assistencialista de cuidados,

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166 em que, educar fica em segundo plano e o brincar ocorre de maneira desorganizada, sem uma

intencionalidade do ato em si. Posso concluir afirmando que: não criei grandes expectativas em relação a esta etapa da educação pelo fato de já conhecer um pouco o ambiente escolar. Mas o ambiente me trouxe surpresas e encantamentos” (Sujeito, 64).

A categoria quatro: professor encontrado no CMEI -desvalorizado, descomprometido, infeliz e despreparado- com 8% de comentários revelou no estudo a desolada realidade do professorado da Educação Infantil:

“As expectativas eram muitas mas, não comparadas a de conhecer os bastidores de um CMEI. Conhecer de fato como funciona a Educação .Infantil era meu objetivo mas, fiquei frustrada pois existe uma rotina engessada, sem sentido para as crianças e os professores, não todos mas a maioria, são infelizes, não trabalham como deveriam, são grossos com as crianças, não desenvolvem algo pedagógico, cantam o tempo todo, não tem muito conhecimento de seu fazer pedagógico. O que é uma pena ficaram muitas perguntas sem respostas e a que mais me inquieta é: para que uma rotina maçante? (Sujeito, 77).

“Sem grandes expectativas, apenas curiosa e receosa em saber se seria capaz de atender as necessidades da prática docente. Mas na medida do que foi proposto e levando em conta as falhas e contratempos do percurso, considero que foi de forma muito satisfatória, sanada toda minha curiosidade e trouxe à tona o sentimento de que impreterivelmente se faz necessário o estudo profundo de como se trabalhar na Educação Infantil, além de ser importantíssimo a identificação com essa faixa etária. E diante de tal cenário fico triste em ter presenciado o despreparo e a falta de formação dos profissionais que estão na Educação Infantil” (Sujeito, 70).

Estes depoimentos comprovam, mais uma vez, o perfil do(a) docente que tem atuado em muitas escolas infantis no Brasil. Quando Barros, Scramingnon, Chamarelli e Castro (2013, p.50) pesquisaram sobre os professores(as) da Educação Infantil, reforçaram que “a qualificação específica no desempenho profissional da educação de crianças pequenas influenciam decisivamente a qualidade do serviço”. Diante disto é improtelável uma política de formação mais eficiente e, sobretudo, que tenha um olhar diferenciado para o(a) docente infantil no sentido de capacitá-lo, mas também de valorizá-lo. A categoria cinco, mostra exatamente a importância de se buscar uma formação adequada:

“A ideia de estagiar me passava muito medo, devido não ser conhecedora de atuar numa turma de alunos e ao mesmo tempo, no decorrer da empolgação das disciplinas, sentia vontade de ver se tal teoria funcionava na prática. As expectativas eram de quebrar essa barreira e aprender e de fato estou satisfeita com a experiência, tanto é que já me escrevi no próximo estágio” (Sujeito, 32).

“Eu cheguei na disciplina com bastante expectativa para desenvolver o trabalho como acadêmica em formação pois já conto com a experiência do Pibid, mas cada experiência é única e sempre é diferenciada. Esperava do estágio na creche conhecer e aprender novos aspectos da Educação Infantil e tive esta experiência que foi muito gratificante” (Sujeito, 51).

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167 Vê-se que os(as) estudantes tiveram condições de ampliar os seus nortes e

quebrar ideias do censo comum. Assim respostas como experiência importante/ gratificante/ aprendizado, estiveram presente em 21% dos questionários dando a entender que a disciplina de Estágio da Educação Infantil foi determinante na formação e pode realizar uma aproximação da realidade educacional, de forma que possibilitou o confronto teórico/prático modificando, neste sentido, algumas concepções sobre a etapa e a capacidade de procriação de novos princípios.