• Nenhum resultado encontrado

4. O Acordo de Basileia III

4.3. Basileia III – Normas Prudenciais Harmonizadas em matéria de Liquidez

4.3.1. Indicadores de Liquidez:

Importa agora compreender como os indicadores de liquidez propostos pelo Acordo de Basileia III são determinados e quais os mínimos a que as instituições financeiras devem obedecer. Adoptando a mesma abordagem utilizada na discussão dos Rácios de Capital, proceder-se-á também à apresentação de um caso relativo aos requisitos de liquidez, de modo a tornar mais claro o processo de apuramento destas duas novas métricas internacionais.

 Rácio de Cobertura de Liquidez

O Rácio de Cobertura de Liquidez tem como objectivo assegurar a detenção, por parte dos bancos, de ativos de elevada qualidade de liquidez118 em quantidade suficiente que lhes permita resistir a um cenário de condições de financiamento adversas durante um período de 30 dias. Este é expresso por um rácio entre o valor dos ativos de elevada qualidade de liquidez num cenário119 adverso e o total de fluxos de saída de caixa líquidos de um período de 30 dias, o qual deverá ser superior a 100%, tal como apresentado pela expressão que se segue:

𝐿𝐶𝑅 = 𝑆𝑎í𝑑𝑎𝑠 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑛𝑢𝑚 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑑𝑒 30 𝑑𝑖𝑎𝑠𝐴𝑐𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑙𝑒𝑣𝑎𝑑𝑎 𝑞𝑢𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 ≥ 100%

O novo texto regulatório define que os ativos de elevada qualidade de liquidez deverão possuir uma valorização simples, um reduzido risco de crédito e de mercado,

118 É possível consultar no Anexo VIII as principais características que os Ativos de Elevada Qualidade

de Liquidez possuem (Quadro 9.7).

119 Segundo o novo enquadramento regulamentar, a definição do cenário a considerar no cálculo do LCR

implica um choque combinado idiossincrático com impacto em todo o mercado. Este tem por objectivo incorporar muitos dos choques identificados na crise que eclodiu em 2007, melhorando deste modo, a resistência dos bancos face a turbulências nos mercados. Este constitui um teste de stress, devendo ser interpretado como um requisito mínimo de supervisão dos bancos. Importa ainda referir que, os bancos como complemento deverão conduzir os seus próprios testes de stress atendendo às especificidades do seu negócio, de modo a determinarem o nível de liquidez além do mínimo exigido que devem manter. Os resultados dos testes de stress conduzidos por estes devem ser divulgados à supervisão.

98 | P á g i n a apresentar uma baixa correlação com ativos de risco e ser cotados num mercado desenvolvido e reconhecido. Estes devem ainda atender a um conjunto de requisitos operacionais, designadamente: disponibilidade imediata para a sua conversão em cash (para, em qualquer momento, fazerem face a lacunas de financiamento ocasionadas por um diferencial entre as entradas e saídas de caixa, num cenário de stress significativo); e, não devem servir de garantia ou estarem comprometidos120 com outra finalidade.

Assim sendo, o Acordo de Basileia III distingue duas categorias de ativos que podem ser incorporados no conjunto de ativos de elevada qualidade de liquidez,121 sendo que no caso de Ativos de Nível 1,122 estes podem ser considerados sem limite, já no caso dos Ativos de Nível 2,123 estes só podem representar, no máximo, 40% do conjunto total de ativos, depois dos respectivos haircuts124 terem sido aplicados.

O total de fluxos de saída125 de caixa líquidos é definido regulamentarmente como sendo a diferença entre o total de fluxos de saída de caixa126 e o total de fluxos de

entrada de caixa,127 durante um cenário adverso de 30 dias; sendo que o total dos fluxos de saída de caixa esperados resulta do produto dos saldos pendentes nas várias categorias de passivos e compromissos extrapatrimoniais pelas taxas a que se espera que sejam executados, e o total de fluxos de entrada em caixa esperados resultam do produto dos saldos pendentes das várias categorias das contas a receber pelas taxas a que se espera que sejam reavidas.

120 Exceptuam-se os casos de ativos recebidos em reverse repo, operações de financiamento de valores

mobiliários, não hipotecados, legalmente e contratualmente disponíveis para utilização dos bancos e ativos que se comprometeram ao BC e/ou entidades públicas, mas que não foram utilizados.

121 Consultar Anexo IX, no qual constam os Ativos de Elevada Qualidade de Liquidez (Quadro 9.9). 122 É possível observar em maior detalhe, no Anexo X (Quadro 9.9) o quadro síntese dos ativos que

podem ser considerados como Ativos de Nível1, para cálculo do LCR, segundo o Acordo de Basileia III.

123 É possível observar em maior detalhe, no Anexo XI (Quadro 9.10) o quadro síntese dos ativos que

podem ser considerados como Ativos de Nível2, para cálculo do LCR, segundo o Acordo de Basileia III.

124 Segundo a regulação em causa, é aplicado um haircut de 15% ao valor atual de mercado de cada Ativo

de Nível 2 integrado no conjunto de ativos de elevada qualidade de liquidez, para efeitos do cálculo do LCR.

125 A regulação internacional prevê ainda que no cálculo do Total de fluxos de saída de caixa se deva

subtrair, para esse efeito, o menor valor entre: os fluxos de entrada em caixa ou 75% dos fluxos de saída de caixa.

126 Consultar os Cash-Outflows para determinação do Rácio de Cobertura de Liquidez, presentes no

Anexo XII (Quadro 9.11).

127 Consultar os Cash-Inflows para determinação do Rácio de Cobertura de Liquidez, presentes no Anexo

99 | P á g i n a  Rácio de Financiamento Estável Líquido

O Rácio de Financiamento Estável Líquido tem como objectivo mitigar os

mismatches de liquidez e estimular um maior recurso ao financiamento de médio e

longo prazo, aumentando por esta via, a maturidade média dos passivos dos bancos. Este é expresso por um rácio128 ente o montante disponível e exigido de financiamento estável, devendo este apresentar um valor superior a 100%, tal como apresentado pela expressão que se segue:

𝑁𝑆𝐹𝑅 =𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝐸𝑠𝑡á𝑣𝑒𝑙 𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑜𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝐸𝑠𝑡á𝑣𝑒𝑙 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 ≥ 100%

Os contributos do Acordo de Basileia III, relativamente ao tratamento das questões de liquidez, pretendem que este indicador garanta assim, a continuidade e a viabilidade da atividade dos bancos, por um período superior a um ano, quando cenários adversos de duração prolongada se instalam nos mercados, alertando os investidores e demais clientes destes, para a possibilidade de:

i. Um declínio significativo na rentabilidade ou solvabilidade decorrente de um elevado risco de crédito, risco de mercado ou risco operacional e/ou outras exposições de risco;

ii. Uma potencial desvalorização de uma dívida, da notação de crédito da contraparte ou depósito de qualquer organização de rating de crédito reconhecida nacionalmente.

iii. Um evento material que coloque em causa a reputação ou a qualidade de crédito da instituição.

No que respeita ao cálculo do NSFR, o montante disponível de financiamento estável resulta da soma do valor contabilístico do Capital Próprio de uma instituição bancária com o valor contabilístico dos seus passivos, depois de ajustados pelo respectivo factor Available Stable Funding (ASF), correspondente à categoria em que se inserem, de acordo com o estipulado no Quadro 3.8 - NSFR: Montante disponível de

128 Baseia-se em metodologias tradicionais como “net liquid asset” e “cash capital”, comummente

100 | P á g i n a financiamento estável – Componentes e Factores ASF.129 No que concerne ao montante130 exigido de financiamento estável, este resulta da soma dos valores dos ativos financiados e detidos pela instituição bancária, depois de ajustados por um factor

Required Stable Funding131 (RSF)132 específico a cada tipo de ativo, ao qual se adiciona o valor de atividade extrapatrimonial ajustada pelo respectivo factor RSF133 que lhe corresponde.

Importa ainda acrescentar que relativamente ao cálculo do NSFR que, os empréstimos de longo prazo, decorrentes de linhas de crédito estabelecidas pelo Banco Central, concedidos fora das operações regulares de mercado aberto, não são tidos em consideração no cálculo deste rácio, pretendendo-se, por esta via, desincentivar a instalação de um vínculo de dependência por parte dos bancos relativamente ao Banco Central, em termos de fonte de financiamento estável.

Assim, o NSFR funcionará como mecanismo de aplicação mínima, complementando o LCR e reforçará os instrumentos de supervisão, promovendo mudanças estruturais nos perfis de risco de liquidez das instituições, evitando

mismatches de curto prazo e fomentando um financiamento mais estável de mais longo

prazo dos ativos e das atividades de negócio (BCBS, 2011a, BCBS, 2010a).

Os novos instrumentos de liquidez introduzidos pela Comissão de Basileia prosseguem assim objectivos complementares, garantindo a detenção, por parte dos bancos, de um conjunto adequado de ativos líquidos e, concomitantemente, exigindo a adopção de uma estrutura de maturidades razoável e prudente (Bonfim et al., 2012).

129 É possível observar as Componentes e Factores ASF no Anexo XIV (Quadro 9.13).

130 Este montante exigido pelos supervisores deve ser mensurado com base nos pressupostos de

supervisão relativos às principais características dos perfis de risco de liquidez dos ativos, das exposições extrapatrimoniais e outras atividades selecionadas da instituição bancária monitorada.

131 Da aplicação deste factor resulta a quantidade desses elementos que, os supervisores acreditam que

deve ser apoiada através de financiamento estável. Assim, ativos com maior qualidade de liquidez com capacidade de funcionar como fonte de liquidez prolongada num ambiente de stress definido, recebe factores RSF baixos, pois exigem menos financiamento estável; a situação contrária exigirá mais financiamento estável, logo maiores serão os factores RSF atribuídos.

132 O factor RSF a aplicar consta no Anexo XV (Quadro 9.14).

133 O factor RSF a aplicar consta nas disposições relativas a Categorias Fora do Balanço no Anexo XVI

101 | P á g i n a