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3. O papel da regulação e da supervisão na indústria bancária

3.2. Objectivos e Tipos de Regulação

Santos (2002) sugere que a regulação financeira visa atingir essencialmente cinco objectivos gerais, nomeadamente: promover e assegurar a estabilidade financeira, corrigir certas imperfeições do mercado, salvaguardar os interesses dos clientes, fomentar a eficiência do sistema financeiro e mitigar o risco sistémico.

Promover e assegurar a estabilidade financeira é o objectivo-mor da regulação financeira, uma vez que, tal como explanado anteriormente, aquando da demonstração da importância do sistema bancário para o desenvolvimento económico, assegurar uma adequada acumulação de capital e uma eficiente alocação de recursos são factores cruciais na atividade de intermediação financeira, devendo a sua exigência e acompanhamento estar devidamente consagrados no enquadramento regulamentar, criando, desse modo, os fundamentos basilares à estabilidade financeira, condição sine

qua non do desenvolvimento económico (Santos, 2002).

A regulação financeira pode desempenhar um papel de mecanismo de controlo público do Estado sobre a economia, através do qual este pretende corrigir certas imperfeições e falhas de mercado, de modo a promover uma distribuição mais eficiente dos recursos financeiros disponíveis (Santos, 2002).

A salvaguarda dos interesses dos clientes constitui um dos mais importantes objectivos da regulação financeira, pois o respeito pelos interesses dos clientes por parte das instituições financeiras garante a confiança pública na atividade desenvolvida por estas, fomentando um clima de maior estabilidade neste contexto. Tal como referido inúmeras vezes, a confiança é um factor determinante para a sustentabilidade dos sistemas financeiros e, consequentemente, para o desenvolvimento e crescimento da economia real. Deste modo, a regulação financeira ao exigir uma conduta mais transparente por parte das instituições financeiras, criando incentivos32 para uma

prestação, mais simples, clara e objectiva, de informação relativamente aos seus produtos e serviços, está a mitigar a vulnerabilidade dos agentes económicos face à

32 Os reguladores, para mitigarem os efeitos da assimetria de informação, determinaram: a sujeição das

entidades financeiras a testes de “fit and proper”, avaliando, numa óptica ex-ante, a sua qualidade; numa óptica ex-post, a aplicação de sanções nos casos de incumprimento da regulação vigente; práticas contabilísticas standardizadas, requisitos de divulgação, entre outros.

28 | P á g i n a seleção adversa e, em parte, ao próprio risco moral, uma vez que tais medidas minoram os efeitos de assimetria de informação (Santos, 2002).

Apesar de ser reconhecido que por vezes a regulação pode prejudicar a eficiência das instituições financeiras (Corazza, 2005), a promoção da mesma no sistema bancário é um propósito relevante da regulação financeira, procurando gerar benefícios quer para as entidades reguladas, quer para os restantes agentes económicos. Esta é, por norma, prosseguida através da definição de uma política de concorrência que minimize as barreiras à entrada da indústria fomentando a concorrência, que controle a estrutura e a competição nos mercados e alimente a confiança pública no sector, a qual constitui um factor crítico para o desenvolvimento estável da atividade nos mercados financeiros (Santos, 2002).

A minimização do risco sistémico é, como já referido, um importante objectivo perseguido pela regulação financeira, tendo, ao longo dos últimos anos, vindo a assumir uma posição de destaque nas preocupações dos reguladores, devido à gravidade dos recentes desequilíbrios financeiros. Assim, a regulação financeira visa também desenvolver normativos direcionados para a prevenção e acompanhamento do risco sistémico, dadas as inúmeras fontes que atualmente o podem fazer deflagrar, nomeadamente a elevada integração dos mercados, a crescente complexidade dos produtos e serviços financeiros33 e os problemas de risco moral decorrentes de instituições financeiras too-big-to-fail e too-interconnected-to-fail, as quais ampliam significativamente a exposição da economia global a este risco latente, devendo, por isso, o seu combate estar reflectido na regulação e ser considerado um propósito global, com medidas e políticas internacionalmente desenvolvidas e coordenadas.

A regulação financeira assume características distintas consoante a natureza do objectivo que persegue, de modo a assegurar uma maior adequabilidade do instrumento normativo à matéria a regular. Assim, é possível distinguir-se duas tipologias: a regulação prudencial e a regulação comportamental.

33 Nomeadamente, a tendência crescente, que tem vindo a ser percebida, dos processos de titularização

dos ativos dos bancos, o que facilita, de certo modo, o contágio dos problemas de liquidez dos mercados de capitais ao sistema bancário, sendo tal situação mais evidente em bancos de investimento do que em bancos comerciais, devido à maior dependência que apresentam face aos mercados de capitais, pois os recursos dos últimos advêm essencialmente dos depósitos dos seus clientes.

29 | P á g i n a A regulação prudencial destina-se ao tratamento de questões relacionadas com a solidez e solvabilidade das instituições financeiras reguladas e visa minimizar a assimetria de informação e os problemas de agência que decorrem da própria natureza do negócio destas instituições. Por seu turno, a regulação comportamental regulamenta as matérias relacionadas com a forma como as instituições financeiras desenvolvem o seu negócio junto dos seus clientes, visando salvaguardar os interesses dos mesmos através de normativos que, a título de exemplo, podem assumir as seguintes diretrizes: a definição de orientações relativas às formas de comercialização de produtos e serviços financeiros, a obrigatoriedade de divulgação de informação e a exigência de condutas íntegras, éticas e transparentes tanto por parte das instituições financeiras como dos profissionais que as representam.

Assim sendo, cabe ao regulador promover simultaneamente a concorrência e a conduta transparente dos vários intervenientes do sistema financeiro, de modo a promover a eficiência nos sistemas financeiros e a garantir a integridade e a fiabilidade da informação disponibilizada ao mercado, reforçando a confiança pública, da qual a estabilidade e o desenvolvimento do sistema bancário, em particular, são tão dependentes.