• Nenhum resultado encontrado

Influência do Dress Code 65

4   APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS 48

4.2   Apresentação das Categorias 49

4.2.7   Influência do Dress Code 65

A opção por determinado Dress Code, seja ele oficial ou não, acontece por alguma razão. Se uma instituição bancária opta por um tipo de vestuário formal, entende que as vantagens associadas são superiores às desvantagens, quando comparadas a outro tipo de vestimenta. Estamos a falar de maiores benefícios, quer para a organização, quer para o sector, quer para os seus colaboradores.

4.2.7.1 No sucesso Individual

No que refere a esta subcategoria, no encetar do discurso dos entrevistados, encontramos referência da influência do Dress Code no processo de recrutamento, no seu percurso de inserção na instituição bancária, na progressão de carreira, no desempenho e motivação do colaborador e por último, não menos importante, na perceção de qualidade de serviço e qualificações por parte de terceiros.

Quando questionados relativamente ao vestuário que usaram na entrevista de recrutamento, todos (à exceção da Chefia, porque a entrevista não estava agendada) usaram roupa formal. Este detalhe pode não os ter favorecido mas entendem que se optassem por outra vestimenta, certamente os iria prejudicar. Desta forma, encontramos só pequenas mudanças no vestuário que usam atualmente face ao da entrevista.

“Ia com uma gravata apertada até ao nariz, quase … (risos) … Ia de fato e gravata. (…) Porque meu pai me influenciou. Certamente porque é uma imagem que passa, uma ideia que passa de boca-em-boca, de que é aconselhável ir assim vestido a uma entrevista.”

“Sim. Porque recordo-me de outras pessoas que também foram à entrevista e alguns deles, eu vi logo, pela maneira de vestir, que era impossível ficarem para trabalhar na banca.”

(Colaborador 5, 40 anos, Masculino, 6 meses de Antiguidade) “Agora uso blazer, maior parte das vezes, fato completo porque me sinto mais confortável dado que todos vestem assim.”

(Colaborador 1, 31 anos, Feminino, 8 anos de Antiguidade) O GRH menciona que cada candidato deve ter o cuidado de estudar a instituição à qual está a candidatar-se. Dado se tratar de uma instituição bancária, “as pessoas têm obrigação de saber que na banca usa-se fato e gravata”. Embora ele entenda que não é obrigatório o uso de fato completo “mas terá de ser a gravata e o blazer habitual”, associado a uma imagem global cuidada.

“É, é… Toda a apresentação conta, isto é, se a pessoa está ou não com cabelo cortado ou mal-arranjada ou mal vestida. Por isso, o que tem vestido, a sua aparência global tem impacto na nota final que a pessoa vai ter.”

“Dará a primeira imagem e é difícil mudar a primeira impressão e, se esta for má, pode levar a começarmos logo a negativo.”

(GRH, 47 anos, Masculino, 8 anos de Antiguidade) Este facto comprova-se no “Formulário de Avaliação de Entrevista” utilizado pelo GRH como apoio às suas entrevistas de recrutamento no Banco W. Num dos itens avaliados – “Impressões transmitidas pelo candidato durante a entrevista” encontramos a “Primeira Impressão” e “Apresentação”. Ter uma imagem cuidada, a gravata e o blazer e algum grau de formalidade, no caso das senhoras, favorece certamente os candidatos a colaborar no Banco W.

No que se refere à influência no processo de integração de um novo colaborador, estar atento e adaptar-se aos colegas que o rodeiam, revelou-se uma preocupação de todos os colaboradores. O Dress Code é uma das ferramentas usadas na gestão de impressões para serem aceites no novo grupo de trabalho.

“Se não estivesse assim vestido sentir-me-ia desconfortável de outra forma. Desconfortável por estar diferente dos outros colegas que me rodeiam. (…) Desta forma sinto-me confortável, à vontade para estar com clientes e integrado neste grupo.”

“E não esquecer que hoje tudo funciona em equipa, é preciso estar em sintonia. Estar fora do padrão pode ser um elemento desestabilizador, perturbando a equipa como um todo.” “ (…) senti necessidade de usar gravata para me integrar”

(Colaborador 5, 40 anos, Masculino, 6 meses de Antiguidade) “Agora uso blazer, maior parte das vezes, fato completo porque me sinto mais confortável dado que todos vestem assim.”

(Colaborador 1, 31 anos, Feminino, 8 anos de Antiguidade) “É a imagem das pessoas que trabalham num banco, porque é assim que deveremos estar. Deveremos estar de acordo para nos integrarmos e não ter impacto negativo nas expectativas daqueles que nos rodeiam.”

(Chefia, 37 anos, Masculino, 9 anos Antiguidade) Na progressão de carreira defende-se que o Dress Code não tem um impacto direto. Uma boa imagem, e em consonância com os padrões exigidos pela instituição, causará um impacto positivo nos colegas e chefias e em termos de resultados junto do cliente. Apesar destes impactos positivos, o GRH defende que este detalhe não é significativo na progressão de carreira no Banco W. Pelo facto de todos vestirem o mesmo padrão, não será este detalhe a fazer a diferença para um colaborador ser ou não promovido. O facto de no formulário de “Avaliação de Desempenho” anual dos colaboradores não constar dados referentes ao respeito pelo Dress Code ou imagem adequada, vai ao encontro do discurso do GRH.

“Diretamente, não. Agora, indiretamente, sim. Obviamente que fica no subconsciente de quem pode fazer progredir um colaborador na carreira, se este colaborador, sistematicamente, veste de uma forma inapropriada. Provavelmente não dará muita confiança e terá consequências negativas nos resultados comerciais, também. Como disse há pouco, irá influenciar a perceção que o cliente tem, podendo influenciar indiretamente os resultados de forma negativa.”

(Chefia, 37 anos, Masculino, 9 anos Antiguidade) “Se calhar aqui não influencia muito. A partir do momento em que toda a gente está a cumprir o Dress Code, não é por aí que a pessoa se vai distinguir. Não se vai distinguir pela

forma que veste mas sim por outras competências que demonstra ter. Falo de competências comerciais e talvez aqui seja importante a imagem que tem.”

(GRH, 47 anos, Masculino, 8 anos de Antiguidade) “Acho que não deve ter um papel preponderante mas tem influência certamente. Repare o meu caso, fui chamado atenção, se entrar em conflito, isso com certeza não me vai ajudar cá dentro. “

(Colaborador 5, 40 anos, Masculino, 6 meses de Antiguidade) A influência da imagem de um funcionário na perceção de qualidade de serviço e das suas competências em terceiros é elevada. O vestuário pode ser usado para gerir positivamente as impressões causadas aos outros. Segundo os entrevistados, no sector bancário o impacto é ainda superior uma vez que se trata de uma imagem já esperada por parte dos clientes.

“Quer queiramos, quer não, o Dress Code mais formal vincula a ideia de competência, seriedade, honestidade, rigor. Parece-me que um cliente teria mais dúvidas e renitências em entregar a gestão do seu património financeiro a alguém que se apresentasse de calças de ganga esfarrapadas e t-shirt. Eu pelo menos se fosse cliente, teria muitas dúvidas!”

(Colaborador 2, 28 anos, Feminino, 3 anos antiguidade) “Dará a primeira imagem e é difícil mudar a primeira impressão e, se esta for má, pode levar a começarmos logo a negativo.”

(GRH, 47 anos, Masculino, 8 anos de Antiguidade) “Entendo que é uma ferramenta essencial para manter a formalidade, respeito e profissionalismo. Para o tipo de clientes com que trabalhamos, cada vez mais exigentes, é importante transmitir uma imagem cuidada. Esta imagem ajuda a criar uma imagem de um profissional sério, maduro e de confiança para gerir o património financeiro do cliente. (…) ajudava a transmitir uma imagem de mais velha, mais experiente e séria. Como consequência, obtinha o respeito por parte dos meus clientes.”

(Colaborador 1, 31 anos, Feminino, 8 anos de Antiguidade) “O fato inspira confiança, profissionalismo que nesta atividade é essencial. E mais, quem está do outro lado, acha que o nosso trabalho não é transcendente mas quase, e o fato é quase a imagem do transcendente, isto é, o próprio fato influencia a perceção das qualificações do funcionário. Os clientes não vão questionar o que a pessoa vai dizer. Aqui em Portugal, associamos o fato e gravata ao “Dr.”, logo, a estatuto, formação e profissionalismo. Não é a primeira vez que ouvimos comentários “já estás vestido como um doutor!”. A nossa cultura ainda é muito conservadora e influenciada pelos títulos e influências.”

Outra questão abordada foi a satisfação dos colaboradores com o Dress Code adotado pela instituição bancária e eventuais impactos na motivação e desempenho no exercício da função.

A Chefia entende que todos os colaboradores estão satisfeitos e que concordam com a política adotada.

“Não tenho queixas! E acho que têm liberdade para o fazerem. Acho que se não gostassem ou não quisessem usar, diziam! Agora é evidente que se toda a gente está vestida de determinada maneira, e de determinado padrão, também uma pessoa não se sente muito bem em parecer vestida de uma forma completamente diferente.”

(GRH, 47 anos, Masculino, 8 anos de Antiguidade) “Não é um assunto que se fale… é um dado adquirido o tipo de vestuário a usar, não se questiona. Eu falo por mim, eu sinto-me bem por isso nem coloco isso em causa (…)”

(Chefia, 37 anos, Masculino, 9 anos Antiguidade) Mesmo confrontado com a possibilidade dos colaboradores se sentirem mais motivados se não usassem gravata, a Chefia argumenta:

“Talvez… mas é já um dado adquirido, as pessoas já nem questionam. Além de que acho que os meus colaboradores são conscientes e têm noção do impacto que têm a sua imagem no cliente e, consequentemente, no seu sucesso comercial.”

O GRH, compreende e até concorda: “Acredito que sim, seria muito mais confortável não usar gravata… pelo menos falo por mim!”

Analisados os testemunhos dos colaboradores, embora mencionem o excesso de formalidade, nomeadamente no uso obrigatório de gravata, a verdade é que entendem ser importante para o exercício da sua função. Por esse motivo, mesmo confrontados com a hipótese de alterarem o vestuário, respondem que não se sentiriam mais motivados por trajar de outra forma e por isso mantinham o tipo de vestimenta atual.

“Acho que não. Este vestuário não me incomoda (…) se calhar, se o calor fosse muito no verão, em determinadas condições, até tirava a gravata.”

“Se fosse prática da instituição, de todos os colaboradores, optaria por deixar o fato completo. Talvez usasse uns jeans de vez em quando conjugados com uma camisa.”

(Colaborador 1, 31 anos, Feminino, 8 anos de Antiguidade) “Não, mantinha. Esta é a segunda pele que nós temos.”

(Chefia, 37 anos, Masculino, 9 anos Antiguidade)

4.2.7.2 Na cultura do sector

Neste ponto apura-se o papel do Dress Code na cultura da instituição ou do próprio sector. O Dress Code formal faz parte da própria cultura do sector financeiro e da sua imagem ao longo de gerações. Revela-se uma importante ferramenta para uniformizar e corrigir comportamentos de forma a eternizar esta imagem de status, qualidade e profissionalismo.

“Porque transmite… e voltamos ao mesmo, à questão da confiança e de estar perante uma pessoa que me dá credibilidade… uma questão de imagem, pessoal e da própria instituição. Transmite confiança, sobriedade e é importante, principalmente neste sector, devido ao impacto/efeito que tem no cliente.”

“O que o nosso Diretor Coordenador sempre nos disse é que nós somos a cara deste banco… e a cara tem de estar sempre igual!”

(Chefia, 37 anos, Masculino, 9 anos Antiguidade) “Não é difícil de perceber quando entremos nos escritórios do banco. O padrão de vestuário é semelhante, variando nos gostos pessoais mas sempre dentro do formal e clássico.”

O Dress Code aparece-nos como uma ferramenta de gestão da imagem global do Banco W promovendo a standardização da mesma. Quando o Diretor diz que a “cara (do banco) tem de estar sempre igual” é impensável um colaborador não respeitar o Dress Code formal pois sentir-se-ia constrangido perante a chefia. Desta forma promovem os comportamentos conformistas e ausentes de individualização. Na teoria, até dão a liberdade de escolherem padrões, tecidos e cores, mas com os controlos, conscientes ou inconscientes, acabam por ter, na instituição, uma política de farda disfarçada por algum toque de personalização dada pelos gostos do funcionário. Desta forma, o Banco W pretende transmitir a terceiros que tem um controlo elevado nos seus colaboradores e consequentemente, na qualidade de

serviço prestado. Ao uniformizar o vestuário/imagem do banco, está associar uma qualidade de serviço transversal a todos os funcionários.

“Eu acho que é associada a gravata e o fato a um certo patamar social, a um status. E para quem lida com dinheiro, isso é muito importante. Acho que já se faz aí a segmentação, já pela forma de vestir. Isto já é uma perceção que já existe há muito tempo, deste o “tempo dos avós”.”

(Colaborador 5, 40 anos, Masculino, 6 meses de Antiguidade) Tal como nos estudos analisados (Rafaeli e Pratt, 1993; Shao et al., 2005-2006; Cardon e Okoro, 2009; Popp e French, 2010), também nestas narrativas temos presente a ideia de que um funcionário bancário transmite uma imagem de maior profissionalismo, competência e, consequentemente, maior confiança aos clientes, se se estiver vestido de forma formal (fato e gravata).

Com base neste raciocínio, seriamos conduzidos a pensar que a política do Casual Day não faz sentido no sector bancário. No entanto, foi uma prática adotada mesmo nas instituições deste sector no início do milénio. Como justificação para flexibilização de vestuário encontramos o cuidado em transmitir uma imagem jovem e moderna, mas acima de tudo, como medida de incentivo e motivação aos funcionários. Parece-nos interessante, analisar este evento no Banco W.