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CAPÍTULO 3. SISTEMA JURÍDICO DA INOVAÇÃO E SUA ANÁLISE

3.3 Influência dos manuais de OSLO e Frascati no Brasil

A Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi criada em 1961, tendo como principal objetivo o apoio aos seus membros para o crescimento econômico permanente, além de estudar mecanismos para o desenvolvimento do comércio mundial e níveis de melhoria de vida da população. As orientações da OCDE são costumeiramente também utilizadas pelos países não-membros, como é o caso do Brasil.

Vale salientar que apesar do país não internalizar o manual de Oslo e Frascati formalmente, seguindo a teoria dualista adotada em casos de tratados e manuais internacionais, a Lei no 11.196/05é influenciada por estes materiais, como se verá.

Historicamente, foi no âmbito da OCDE que surgiram as primeiras sistematizações, definições e diretrizes a respeito da inovação. Em 1963, buscando parametrizar a metodologia utilizada pelos seus membros quando da execução de pesquisa e desenvolvimento, foi desenvolvido o manual de Frascati.

Em 1990, embasados os membros da OCDE em novos dados estatísticos e buscando aperfeiçoar as metodologias advindas do manual de Frascati, foi desenvolvido o manual de Oslo que teve três edições, sendo a última de 2005. O manual de Oslo ampliou a definição de inovação diferenciando o termo de atividades inovativas, como se viu no capítulo I.

O conceito de inovação do manual de OSLO se tornou mais abrangente. Entretanto, vale registrar que a definição utilizada na Lei no 11.196/05, do artigo 17, como já comentado, não seguiu o referido manual, sendo menos ampla, adotando o preconizado no Manual de Frascati.

Em relação ao manual de Frascati é de se observar que ele apresenta três categorias de P&D, sendo a primeira vinculada a pesquisa básica, focada no estudo teórico ou experimental visando contribuir de forma original para a compreensão dos fatos e fenômenos observáveis, teorias, sem ter aplicação específica imediata como foco. Em seguida, tem-se a pesquisa aplicada que é dirigida especificamente para um objetivo prático. E, por fim, a pesquisa e o desenvolvimento experimental, compreendidos como o trabalho criativo executado de forma sistemática para aumentar o estoque de conhecimento para novas aplicações.

Após a publicação da segunda edição do Manual de Oslo, muitos países em desenvolvimento em várias regiões do mundo conduziram pesquisas sobre inovação. O desenho dessas pesquisas foi concebido em concordância com os padrões do Manual de Oslo. “Porém, quase todos esses exercícios de medidas de inovação resultaram em adaptações das metodologias propostas, com o objetivo de capturar as características particulares dos processos de inovação em países com estruturas econômicas e sociais diferentes daquelas dos países mais desenvolvidos da OCDE”, conforme é comentado em material do MCTI, denominado “Caminhos da Inovação”67, item 489 em diante – anexo II, pg. 149-165, cujas principais conclusões são condensadas a seguir:

484. Aceita-se amplamente que os mecanismos de disseminação e as mudanças

incrementais respondam pela maioria das inovações realizadas nos países em

desenvolvimento, devido às características particulares da sociedade e da economia em muitos desses países, que influenciam os processos de inovação de várias formas 485. Para entender os processos de inovação nos países em desenvolvimento é importante conhecer o tamanho e a estrutura das empresas e dos mercados. Embora o setor das pequenas e médias empresas (PMEs) seja muito significativo (incluindo um grande número de empreendimentos de porte micro e pequeno e, em alguns países, de médio porte, muitas vezes não registrados), mesmo as empresas consideradas "grandes" na maioria dos países em desenvolvimento geralmente operam com escalas de produção sub-ótimas, com custos unitários mais elevados e longe da eficiência ótima. A competitividade é baseada majoritariamente na exploração de recursos naturais ou no trabalho barato, e não na eficiência ou em produtos diferenciados.

Isso conduz a uma organização informal da inovação e em menos projetos de P&D

486. Falhas de mercado importantes relacionadas às economias de escala e às externalidades colocam altas barreiras à inovação. Por exemplo, os processos produtivos e, mais especificamente, as atividades de inovação estão sujeitos a indivisibilidades e à falta de economias de escala, e isso influencia a viabilidade dos projetos de P&D.

487. Vários fatores sistêmicos exógenos conformam o cenário da inovação nos países em desenvolvimento, tais como: incerteza macroeconômica; instabilidade; infraestrutura física (falta de serviços básicos como eletricidade ou tecnologias de comunicação "velhas"); fragilidade institucional; ausência de consciência social sobrea inovação; natureza empresarial de aversão ao risco; falta de empreendedores; existência de barreiras aos negócios nascentes; ausência de instrumentos de políticas públicas para dar suporte aos negócios e para o treinamento gerencial. (....)

489. As economias de países em desenvolvimento dependem muito de práticas informais. A informalidade não é um contexto favorável à inovação. A criatividade esporádica empregada na resolução de problemas na economia informal não conduz à aplicação sistemática e assim tende a resultar em ações isoladas que não aumentam as capacitações nem ajudam a estabelecer uma trajetória de desenvolvimento baseada na inovação.

490. Muitas empresas em países em desenvolvimento operam em ambientes econômicos e de inovação não usuais devido à existência, e em alguns casos à prevalência, de empresas públicas (China) ou empresas sólidas paraestatais (alguns estados árabes), onde a ausência de competição às vezes desencoraja as inovações ou drena o potencial inovador dos mercados locais. Todavia, as grandes empresas estatais (por exemplo em setores como petróleo, aeroespacial ou telecomunicações) às

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Vide:http://biblioteca.terraforum.com.br/BibliotecaArtigo/Manual%20de%20Oslo%20Areas%20de%20inova %C3%A7%C3%A3o%20-%20DEFINI%C3%87%C3%95ES%20DADOS%20PESQUISA.pdf

vezes se tornam líderes tecnológicas por meio de investimentos importantes no trabalho de desenvolvimento experimental (como em alguns países da América Latina). Ademais, em países com sistemas econômicos menos desenvolvidos, as principais políticas e programas governamentais de C&T podem ter mais impacto sobre a inovação do que as atividades e estratégias das empresas privadas (....) 493. As inovações no setor agrícola têm alto impacto econômico, em virtude do elevado peso do setor na economia.

494. A dominância das corporações controladas pelo exterior ou multinacionais resulta em um menor poder de decisão das empresas locais ou das subsidiárias (especialmente no tocante à inovação), sobretudo por causa da divisão de funções nessas organizações. Nos últimos anos, essa divisão foi estendida para empresas locais independentes na estrutura das redes internacionais de produção. A transferência tecnológica proveniente das corporações multinacionais e do exterior é portanto uma fonte de inovação fundamental.

Portanto, o relatório do MCTI apresenta reflexões que podem conduzir o país a utilizar os conceitos, metodologias e ferramentas dos referidos manuais, mas com objetivos e metas que podem variar de acordo com as características e fase de evolução da inovação nacional.