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CAPÍTULO 4 DOMÍNIO ECONÔMICO E INOVAÇÃO

4.2 Poder Econômico e Inovação

As reflexões sobre Poder Econômico envolvem compreensão das transformações da sociedade e dos Estado e as relações existentes entre Direito e Economia.

Washington Peluso Albino de Souza aborda o Poder Econômico, onde afirma:

“Exprime, antes de tudo, uma concepção de “natureza política”, pois que representa uma das manifestações do poder. Simbolizando uma forma de “domínio” no relacionamento entre pessoas ou entidades da mais diversa natureza, envolve, ao mesmo tempo, o aspecto jurídico que estabelece o regime dessas “relações”. “Direitos” e “Obrigações” a elas estão presentes na mais variada gama, indo da imposição e do domínio absoluto até os relacionamentos mais democráticos e igualitários”.73

Nota-se, a partir da leitura, o aspecto de “natureza política” que o poder expressa, manifestando-se desde a imposição e do domínio absoluto até as relações mais democráticas e igualitárias.

Para Celso Furtado, em “Criatividade e Dependência da Civilização Industrial” (p.116), observa-se que o poder mais impactante é o do controle da tecnologia, nos seguintes termos:

Dentre os recursos de poder referidos, o primeiro – o controle da tecnologia – constitui atualmente a trava mestra da estrutura de poder internacional. Reduzida a suas últimas consequências, a luta contra a dependência vem a ser um esforço para anular os efeitos do monopólio desse recurso detido pelos países centrais. É que a

      

72 COMPARATO, Fábio Konder. Ensaios e pareceres de direito empresarial. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p.

462.

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SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econômico, 6ª ed., São Paulo: LTr, 2005. p. 236.

tecnologia possui a virtualidade de, por uma ou outra forma, substituir-se a todos os demais recursos de poder. Não é demais lembrar que a tecnologia constitui na civilização industrial a expressão final da criatividade humana. Conforme assinalamos anteriormente, todas as demais formas de criatividade foram progressivamente postas a seu serviço. O vetor do fruto dessa criatividade é a acumulação nos instrumentos de trabalho, nas infraestruturas que produzem os efeitos de conjunto, no homem sob a forma de competência para atuar e em particular para produzir novos conhecimentos. O que vimos chamando de civilização industrial não é senão a resultante de certa orientação da criatividade humana, orientação que favorece a acumulação e conduz à reprodução de certas estruturas sociais. O produto da criatividade assim orientada é a técnica moderna, ingrediente nobre do processo de acumulação. Aqueles que a controlam ocupam posições dominantes na luta pelo excedente. Enfrentar essas posições na esfera internacional, mediante a utilização de combinações adequadas de outros recursos, ou de massa crítica de certos deles, é a essência da luta contra a dependência.”

Tratando-se da inovação nesse âmbito, nota-se que ela de fato pode ser analisada sob esta perspectiva de poder, uma vez que igualmente atua sobre a comunidade de acordo com sensibilidade do ambiente. Como exemplo, a partir do surgimento do celular, um bem de consumo inventivo com uso de inovação tecnológica, atenderam-se aos impulsos dos interesses dos indivíduos, caracterizando o caráter psicossocial da economia. Nessa esfera, cabe ao Estado garantir o desenvolvimento que deve ser limitado pelo equilíbrio social, ou seja, não permitir que o poder econômico nessas relações prejudique o âmbito consumerista, sem que com isso deixe de existir.

A ponderação de Washington Peluso Albino de Souza sobre o Poder na Economia de Mercado é precisa:

O mundo dominado pela chamada “cultura ocidental” tem a estrutura jurídica construída à base do relacionamento pela “troca”, como “fato econômico” básico. Dessa relação, projeta-se o “sentido social”, com o direito regulamentado, ou regulando os interesses em jogo nas transações, por meio do estabelecimento do regime de obrigações que se cumprem coativamente quando o comportamento espontâneo deixa de atender às mútuas vontades.74

Portanto, numa economia de mercado o arcabouço normativo da ordem econômica delineado pelo direito econômico deve romper com a estrutura dominante de poder dos países centrais que produzem uma dependência tecnológica aos países periféricos, sendo que neste processo a criatividade e a técnica encontram-se submetidos a este serviço, o que não deve prevalecer. Aos Estados cabe a missão de atuar para equalizar as forças, às vezes conflitantes, dos que detém o poder econômico e àqueles que necessitam de uma tecnologia para sobreviver, o que ocorre por meio de mecanismos como conselhos e órgãos de regulação da

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economia que impedem o monopólio ou concentração de mercado de determinadas atividades.

4.2.1 Lei da Oferta e Procura e a contribuição de Schumpeter com a inovação75

Keynes76, contrariando a visão clássica de que toda oferta gera sua própria demanda, separa a demanda agregada em investimento (I) e consumo (C), afirmando que a oferta inicial pode ser diferente da demanda final, definindo, ao contrário dos clássicos, que é a demanda, ou as expectativas da demanda, que determinam a oferta.

Para Keynes, o consumo tende a crescer com elevação da renda, permitindo poupança de uma parcela adicional da renda. Na sociedade de economia monetária, a poupança se transforma em ativo financeiro que pode ou não ser transformado em investimento (máquinas, outros) para instrumento de oferta. Nesta linha, o ponto de equilíbrio entre oferta e demanda não decorre apenas da poupança, mas sim da realização efetiva de investimento.

No curto prazo as decisões são tomadas pelas expectativas de demanda em termos imediatos: com crescimento das vendas e queda nos estoques, amplia-se a produção e vice- versa. No curto prazo, portanto, a lógica é baseado no princípio da demanda efetiva. No longo prazo a decisão não é imediata e nem confiável: ocorre comparação entre expectativa de rendimentos futuros e os custos dos investimentos, sempre comparados ao que se recebe em termos de poupança como ativo financeiro.

Ao contrário de Keynes, Schumpeter77 não se interessou pelo grau de ocupação de uma dada capacidade produtiva, mas sim no entendimento de como essa capacidade cresce e se modifica. Sua preocupação não é estudar o investimento enquanto mecanismo de crescimento e acumulação de capital, mas sim como veículo de inovação. De acordo com sua Teoria de Desenvolvimento Econômico (TDE), são cinco tipos básicos de inovações: (i) de um novo produto ou nova especificação que melhore a qualidade ou funcionalidade do produto; (ii) novo processo produtivo ou nova logística comercial; (iii) novos mercados para

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Parte do estudo desta seção é proveniente da palestra: “Inovação e Desenvolvimento”, ministrada por Alessandro Octaviani no Centro Universitário Senac - São Paulo, Unidade Consolação, em 09 de junho de 2014, em que o autor desta pesquisa esteve presente.  

76 KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theoryofemployment, interestand money). Tradutor: CRUZ, Mário Ribeiro da. São Paulo: Editora Atlas, 1992. 

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SCHUMPETER. Teoria do desenvolvimento econômico (Die Theorie der WirschaftlichenEntwicklung), São Paulo: Ed. Victor Civita, 1982.

bens já existentes; (iv) novas fontes de matérias primas; e (v) nova organização empresarial como um monopólio.

Sua análise refuta a ideia de que o bem estar econômico só pode ser obtido através do equilíbrio entre oferta e demanda. Para ele, mesmo operando em caráter de oligopólio e não competindo por preços, uma empresa inovadora pode ampliar a capacidade de lucro de forma expressiva e aumentar o seu grau de investimento e distribuição para a sociedade.

Schumpeter divide o ciclo em fases de prosperidade, recessão, depressão e retomada. Com o esgotamento do processo de inovação e difusão, inicia-se a recessão, onde não só o investimento se reduz, bem como novas indústrias prevalecem sobre as indústrias tecnologicamente defasadas. Inicia-se um processo de desinvestimento que culmina com a depressão. Com o fim do investimento privado, a depressão, alimentando-se apenas do próprio pânico, se desvanece e a racionalidade volta a imperar, promovendo a retomada da economia para um nível superior.