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SERVIÇOS PÚBLICOS LIGADOS A RESÍDUOS NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

4.3 A INFORMAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO E GERENCIAMENTO

4.3.3 Informação para construção de indicadores

A forma e os objetivos da prestação de serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e as consequentes informações necessárias para monitorá-las e alcança-las, podem ser medidas através de indicadores, construídos a partir da informação. Indicadores são capazes de medir a eficiência, a eficácia e a efetividade dos SPLUMRS. Além de sua importância nas fases de mobilização e conscientização, bem como na elaboração de planos de gestão nos diversos âmbitos, os indicadores têm papel fundamental no monitoramento e na avaliação da implantação de sistemas (PHILIPPI JÚNIOR, 2005).

Bellingieri (2012) traz que, no que se refere ao conjunto de informações a serem coletadas e disponibilizadas, é possível identificar uma distinção entre: i) dados primários, que são coletados por meio de diagnósticos e pesquisas; ii) dados estatísticos, obtidos após o processamento, validação e ajustes das informações coletadas como dados primários; e iii) indicadores, formados a partir dos anteriores, mas que não necessitam de ajustes ou interpretação, pois devem ser de fácil compreensão, além de explicarem resultados.

Segundo Schneider, Ribeiro e Salomoni (2013), informação é o resultado do processamento, manipulação e organização de dados, que são facilmente capturados em máquinas, frequentemente quantificados e facilmente transferidos e armazenados. Segundo os autores, a informação requer análise e consenso em relação ao significado, além de mediação humana. Nesse âmbito, são construídos os indicadores, a partir de informações numéricas que relacionam, pelo menos, duas variáveis. Para os autores, os indicadores

[...] sintetizam e simplificam dados e informações, facilitando a compreensão, a interpretação e a análise crítica de diferentes processos. Servem como medidores e acompanhantes da execução das políticas, no monitoramento de comportamentos de um sistema, ao informar sobre o estado presente e evolução do sistema. (SCHNEIDER, RIBEIRO E SALOMONI, 2013). Indicadores são ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis, sintetizam e simplificam dados e informações, facilitando a

compreensão, a interpretação e a análise crítica de diferentes processos (MMA, 2010, apud BELLINGIERI, 2012). Os indicadores expressam o nível da qualidade do serviço prestado aos utilizadores efetivamente atingidos, tornando direta e transparente a comparação entre objetivos de gestão e resultados obtidos, simplificando uma situação que de outro modo seria complexa (MARIZ, 2012).

Segundo Bellingieri (2012), indicadores medem a eficiência, eficácia e efetividade de processos implementados de gestão e manejo de resíduos sólidos; no processo decisório, são instrumentos para “avaliação de condições e tendências da situação analisada e em relação a metas e objetivos existentes, comparação de lugares e situações, fornecimento de informação de alerta, antecipação de condições futuras”.

Para MMA (2010), na avaliação de eficiência se verifica

se os resultados de uma ação foram obtidos com o mínimo uso de

recursos; na avaliação de eficácia se verifica se o resultado obtido

com a ação é o que se pretendeu ou declarou; e na avaliação de

efetividade se verifica se os resultados das ações alteraram a

situação inicialmente trabalhada.

Segundo Galvão Junior, Basílio Sobrinho e Sampaio (2010), um sistema de indicadores deve apresentar, pelo menos, as seguintes características:

- Terem definição clara, concisa e interpretação inequívoca;

- Serem rastreáveis, mensuráveis com facilidade e a custo razoável;

- Possibilitarem e facilitarem a comparação do desempenho obtido com os objetivos planejados; - Contribuírem efetivamente para a tomada de decisões;

- Dispensarem análises complexas;

- Serem limitados à uma quantidade mínima, o suficiente para avaliação objetiva das metas de planejamento;

- Sempre que possível, serem compatíveis com indicadores do SNIS, facilitando assim a integração do sistema de indicadores local com o sistema nacional de informações, e possibilitando a comparação de desempenho dos serviços na área do plano com a de outras regiões. (GALVÃO JUNIOR; BASÍLIO SOBRINHO; SAMPAIO, 2010).

Borja e Moraes (2001) defendem que os indicadores são ferramentas importantes para a comunicação de informações estatísticas, científicas e técnicas produzidas por diferentes órgãos e instituições públicas e privadas, para a população. Santiago e Dias (2012) complementam que medidas numéricas que têm a função de estruturar e dar informações sobre questões-chave e suas tendências consideradas relevantes para o desenvolvimento sustentável. De forma geral, os indicadores tentam integrar as diferentes dimensões da sustentabilidade tornando possível, por meio de sua interpretação, a análise da real situação e perspectivas da comunidade (MILANEZ, 2002, apud SANTIAGO e DIAS, 2012).

Para Miranda, Tagliari e Gabriel (2001), a adequada definição de indicadores em saneamento tem importância estratégica para a análise de desempenho do setor saneamento, devendo ser suficientes para destacar aspectos relevantes da oferta, da demanda, das receitas e dos custos dos serviços prestados. Por outro lado, Borja e Moraes (2001), ao analisarem os indicadores de saúde ambiental com enfoque para o saneamento utilizados e estudados no Brasil, descreve a grande maioria dos indicadores desenvolvidos tem privilegiado a base de dados quantitativa e as análises em modelos matemáticos, o que representa uma limitação diante da dimensão subjetiva da qualidade ambiental. Santiago e Dias (2004) defendem que, para avaliar a sustentabilidade em um determinado local é preciso a reunião de diferentes informações que possam traduzir o grau que se encontra, e para tanto, os indicadores são importantes ferramentas de avaliação, desde que seja possível relacioná- los aos conceitos e princípios de sustentabilidade.

Das estratégias para diminuir a assimetria de informações, sobressaem a utilização de sistema de indicadores e a cooperação entre agências e diferentes órgãos reguladores (GALVÃO JUNIOR e SILVA, 2006). Nesse sentido, torna-se indispensável o recurso aos indicadores de desempenho, por constituírem, segundo a ERSAR (2010), um “instrumento de avaliação da eficiência e da eficácia do operador relativamente a aspectos específicos da atividade desenvolvida ou do comportamento dos sistemas”.

Segundo a ERSAR (2010), os indicadores de qualidade do serviço são constituídos por indicadores de desempenho, que oferecem uma medida de avaliação quantitativa da eficiência ou da eficácia de um elemento do serviço prestado pela entidade gestora. Conforme definido pela ERSAR (2010), “a eficiência mede até que ponto os recursos disponíveis são utilizados de modo otimizado para a produção do

serviço”; em contrapartida, “a eficácia mede até que ponto os objetivos de gestão, definidos específica e realisticamente, são cumpridos”.

Para Marques (2014), os indicadores de desempenho consistem numa medida quantificada, na forma de razão, que traduz o modo ou a intensidade de realização de uma determinada atividade. Para o autor, as principais vantagens em relação ao uso de indicadores de desempenho estão em: obrigar à compilação e gestão da informação; auxiliar na tomada de decisões pelos gestores de forma mais rápida; permitir uma gestão proativa, detectar fragilidades e pontos fortes do sistema; facilitar as auditorias internas ou externas; e tornar as características e resultados das atividades mais transparentes. Marques (2014) ainda defende que tais indicadores são instrumento-chave para a supervisão da qualidade do serviço prestado pelo prestador, e são igualmente importantes para as entidades responsáveis pela política do sector a nível nacional, regional ou local, para os usuários, para os organismos financeiros e para as organizações.

Marques (2014) propõe uma classificação para os indicadores de desempenho, conforme mostra o Quadro 4.

Quadro 4 – Classificação dos Indicadores de Desempenho segundo Marques (2014) Classificação do ID Função Exemplos Indicadores estruturais Descrevem a estrutura física dos serviços de resíduos sólidos, evidenciando as principais características do seu património e da sua estrutura física - Capacidade de armazenamento em contentores (t) - Capacidade de recebimento de resíduos no aterro (t/dia)

- Capacidade de coleta de resíduos (t/veículo) - Consumo de energia (kWh/t) Indicadores operacionais Permitem conhecer os aspectos relacionados com o funcionamento operacional dos serviços - Inspeção (dia)

- Limpeza de contentores (ano) - Substituição de contentores (ano) - Análises de lixiviados (%) - Veículos (Km/veículo) - Avarias de veículos (n.º/100km/ano) Indicadores de qualidade de serviço Dizem respeito às questões da qualidade do serviço de manejo de resíduos sólidos e à satisfação dos - Cobertura de serviço (%) - Frequência de coleta (n.º/semana) - Reclamações de serviço (n.º/1000 usuários/ano)

Classificação do ID Função Exemplos usuários com o serviço prestado. lixiviado do aterro (%) - Reciclagem (%) Indicadores de recursos humanos Procuram avaliar o desempenho e a produtividade dos empregados dos serviços

- Funcionários por usuário (n.º/1000 usuários)

- Funcionários por veículo (n.º/n.º) - Qualificação do pessoal (%) - Horas extraordinárias (hora/funcionário/ano) - Absentismo (hora/funcionário/ano) - Treinamento (dia/funcionário/ano) - Acidentes de trabalho (n.º/funcionário/ano) Indicadores econômico- financeiros Retratam os aspetos de natureza económica/financeira do prestador e das suas atividades

- Custo unitário total do serviço (R$/ton)

- Custos correntes do serviço (R$/ton)

- Proveito unitário total do serviço (R$/ton)

- Investimento no serviço (R$/ton) - Preço médio do serviço (R$/ton) - Cobertura de custos do serviço (-) - Dívida de usuários (%)

- Solvabilidade (-) - Liquidez geral (-)

- Taxa de retorno do ativo fixo (-) - Retorno do patrimônio líquido (-) Fonte: Adaptado de Marques (2014).

Em relação ao panorama internacional do uso de informação para construção de indicadores, conforme apresentado anteriormente, Kosovo e Portugal possuem entidades que fazem uso de indicadores em suas atividades regulatórias, sendo que ambas se utilizam de indicadores de desempenho para avaliação da qualidade dos serviços. Em Kosovo, o WWRO utiliza como indicadores chave para a regulação: índice de arrecadação; recuperação de custos operacionais; custo unitário; eficiência de recursos humanos; cobertura de serviço; reclamações; e resíduos coletados por colaborador. Em Portugal, a ERSAR utiliza indicadores que “medem a eficiência e eficácia dos prestadores relativas a aspectos específicos da atividade desenvolvida ou do comportamento

do sistema” (BAPTISTA; PÁSSARO; SANTOS, 2003, apud SIMÕES, PIRES e MARQUES, 2013), os quais compõem um conjunto de 20 indicadores de desempenho, divididos em 3 grupos: defesa dos interesses dos usuários, sustentabilidade do prestador e sustentabilidade ambiental (Quadro 5).

Quadro 5 – Indicadores de regulação para resíduos utilizados pela ERSAR

INDICADORES DE DESEMPENHO DA ERSAR