CAPÍTULO 3 O BRASIL FRENTE AO SEGMENTO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS:
3.4. Iniciativas da dimensão das ICTs
No Brasil, os Institutos de Ciência e Tecnologia, sejam eles da esfera estadual quanto federal, possuem papel fundamental na geração do conhecimento científico e tecnológico. As empresas por sua vez, podem vir a realizar parcerias com estes institutos visando maximizar suas atividades relacionas à P&D. Dentre as oportunidades em aberto para as parcerias destacam-se a fonte complementar de fomento à inovação tecnológica, a associação de conhecimentos complementares, a promoção de pesquisas aplicadas, o compartilhamento de recursos, e a diminuição de riscos e recrutamento de recursos humanos capacitados (MAZON et al. 2013).
A partir desta constatação que comprova a relevância das ICTS brasileiras, o objetivo desta seção é identificar e analisar quais são as ICTs e grupos de pesquisa que estão trabalhando com tecnologias do veículo elétrico no Brasil.
Primeiramente, a Tabela 9 identifica os grupos de pesquisa encontrados a partir da pesquisa a partir do termo VEÍCULO ELÉTRICO.
Tabela 9 - Grupos de pesquisa voltados ao veículo elétrico no Brasil TERMO PESQUISADO: VEÍCULO ELÉTRICO
INSTITUIÇÃO GRUPO LINHA DE PESQUISA
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET/MG
Grupo de Pesquisa em Automação e Robótica – GPAIROM
Eficiência Energética
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina - IFSC
Controle, automação e eficiência energética para o ensino
Eficiência energética veicular Grupo de Pesquisa em Eletrônica
de Potência
Veículos Elétricos Instituto Federal Sul-Rio-
Grandense- IFSUL
Grupo de Estudos em Eficiência Energética
Projeto de Veículo Elétrico com Vistas à Eficiência Energética Instituto Nacional de Tecnologia-
INT
Design para Sustentabilidade Transporte e mobilidade sustentável
Institutos Lactec Pilhas e Baterias Novas tecnologias de baterias de chumbo-ácido
Universidade de Taubaté- UNITAU
Grupo de Projeto, Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico de Sistemas Mecatrônicos e Automáticos
Projeto e controle de Sistemas eletro-mecânicos (inovação tecnológica)
Protótipo do veículo VW/saveiro Elétrico com Regeneração de Energia
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Júlio de Mesquita Filho - UNESP de Potência e Qualidade de Energia
Universidade Federal de Juiz de Fora- UFJF
NAEP - Núcleo de Automação e Eletrônica de Potência
Veículos Elétricos Universidade Federal de Minas
Gerais- UFMG
TESLA - Engenharia de Potência Aplicações veiculares de acionamentos elétricos
Universidade Federal de São Carlos- UFSCAR
Smart Grids e Qualidade da Energia Elétrica
Ferramentas de Apoio à Decisão para Smart Grids e Micro Grids Modelagem, Simulação e
Controle de Sistemas Dinâmicos
Veículos elétricos
TOTAL 10 12 13
Fonte: Elaboração própria a partir de Diretório de Grupos CNPq (2015).
Com base nos dados da Tabela 9, é possível identificar 12 grupos de pesquisa cadastrados junto ao CNPq atuando no Brasil com o veículo elétrico. Na maioria dos casos, cada instituição possui um único grupo de pesquisa bem como uma única linha de pesquisa. A exceção fica para o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – IFSC e a Universidade Federal de São Carlos- UFSCAR, as quais possuem dois grupos cadastrados e para o Grupo de Projeto, Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico de Sistemas Mecatrônicos e Automáticos (UNITAU) que possui duas linhas de pesquisa. Verifica-se que os grupos de pesquisa estão localizados no eixo sul (IFSC e IFSUL) e sudeste brasileiro (UNESP, UFJF, UFMG, UFSCAR, UNITAU, INT, LACTEC). Predominam as universidades públicas como principais instituições.
Os grupos de pesquisa voltados à temática do veículo elétrico vêm aumentando expressivamente nos últimos anos. Ao olhar para a pesquisa similar realizada por Rocco (2010) em 2010, havia 3 grupos de pesquisa cadastrados junto à plataforma que trabalhavam com a temática do veículo elétrico. Ou seja, verifica-se um salto da ordem de quatro vezes entre 2010 (três grupos) e 2015 (12 grupos).
A respeito das tecnologias principais que compõem um veículo elétrico, a Tabela 10 evidencia quais são os grupos de pesquisa que estão trabalhando com (1) motores elétricos; (2) baterias; (3) controladores elétricos e (4) conversores híbridos.
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Tabela 10 - Grupos de pesquisa voltados às tecnologias dos veículos elétricos no Brasil
TERMO PESQUISADO: MOTOR ELÉTRICO
INSTITUIÇÃO GRUPO LINHA DE PESQUISA
Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
Metalurgia Materiais Ferromagnéticos para Motores Elétricos Centro Federal de
Educação
Tecnológica de Minas Gerais- CEFET
Grupo de Estudos em Energia Controle com alto desempenho de máquinas elétricas e acionamentos Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ Eletrônica de Potência e Automação
Acionamento eletrônico de motores elétricos Universidade do
Oeste de Santa Catarina- Unoesc
Engenharia e Meio Ambiente Máquinas Elétricas e Sistemas Elétricos de Potência
Universidade Federal de Goiás- UFG
Núcleo de Estudo e Pesquisa em Processamento da Energia e Qualidade
Acionamentos Elétricos Grupo de Pesquisa em
Engenharia Mecânica
Motores e Máquinas Elétricas Universidade
Federal de Minas Gerais- UFMG
Grupo de Otimização e Projeto Assistidos por Computador
Aplicações de PAC: Projeto de Dispositivos Eletromagnéticos
TESLA - Engenharia de Potência
Compatibilidade Eletromagnética Projeto de Motores Elétricos Universidade
Federal de Santa Catarina- UFSC
Grupo de Concepção e Análise de Dispositivos Eletromagnéticos - GRUCAD
Acionamento de Motores Elétricos Universidade
Federal de Uberlândia- UFU
Núcleo de Pesquisa e Extensão em Energias Alternativas
Acionamentos elétricos aplicados ao meio rural. NQEE - Núcleo de Qualidade da
Energia Elétrica
Simulação experimental da dinâmica de uma turbina eólica por meio de um motor
Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS Grupo de Desenvolvimento em Energias Renováveis
Aplicação do processo de metalurgia do pó no desenvolvimento de núcleos maciços de máquinas elétricas
GMCE Grupo Multidisciplinar do Carro Elétrico
Desenvolvimento de Motores Elétricos Grupo de Desenvolvimento em
Energias Renováveis
Desenvolvimento de um motor com núcleo do estator a partir de metalurgia do pó para funcionamento em altas frequências
Laboratório de Máquinas Elétricas, Acionamentos e Energia (LMEAE)
Máquinas elétricas GMCE Grupo Multidisciplinar
do Carro Elétrico
Metodologia de Projeto Aplicada a Engenharia Automotiva
TERMO PESQUISADO: BATERIA
INSTITUIÇÃO GRUPO LINHA DE PESQUISA
Institutos Lactec Pilhas e Baterias Cinética de Carga/Descarga em Acumuladores de Energia
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Construção e Dimensionamentos de Protótipo de Acumuladores de Energia
Desenvolvimento de Processos de Carga Rápida em Acumuladores de Energia
Eletroquímica de Pilhas
Estudo do funcionamento de acumuladores de energia e de seus
Impedância eletroquímica
Novas tecnologias de baterias de chumbo-ácido Universidade de São
Paulo- USP
Grupo de Eletroquimica Conversão e armazenamento eletroquímico de energia Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- UNESP Grupo de Pesquisas em Eletrônica de Potência e Qualidade de Energia
Veículos puramente elétricos
Universidade Federal de Juiz de Fora- UFJF
NAEP - Núcleo de Automação e Eletrônica de Potência
Aplicações de Eletrônica de Potência em Sistemas de Energia
Veículos Elétricos Universidade
Federal de Pernambuco- UFP
Grupo de Eletroquímica Baterias Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR Laboratório de Pesquisas em Eletroquímica Baterias de lítio Eletroquímica ambiental
Eletrossíntese e caracterização de polímeros condutores Universidade Federal do Amazonas- UFAM Estudo e Pesquisa em Eletroquímica e Energia
Pesquisa em Armazenamento de Energia Pesquisa em Células a Combustível e Baterias Universidade Federal do Espírito Santo- UFES Físico-Química Baterias Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ
Grupo de Materiais Condutores e Energia
Desenvolvimento de dispositivos eletroquímicos de junção sólida Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS Grupo de Desenvolvimento em Energias Renováveis
ELETRODOS POROSOS OBTIDOS ATRAVÉS DE METALURGIA DO PÓ PARA APLICAÇÃO
GMCE Grupo Multidisciplinar do Carro Elétrico
Metodologia de Projeto Aplicada a Engenharia Automotiva
TERMO PESQUISADO: CONTROLADOR ELÉTRICO
INSTITUIÇÃO GRUPO LINHA DE PESQUISA
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Grupo de Pesquisa em Eletrônica de Potência Veículos Elétricos Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita- UNESP Controladores Flexíveis - FACTS: Modelagem, Análise de Desempenho e Aplicações em Sistemas
Controladores Flexíveis - FACTS: Modelagem, Análise do Desempenho e
Geração Distribuída e Microrredes de Energia Elétrica
Universidade Federal da Paraíba-
Grupo de Sistemas Elétricos de Potência – GSEP
Dinâmica e Controle de Sistemas de Energia Elétrica
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Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC
Grupo de Sistemas de Potência Dinâmica e Controle de Sistemas de Potência Universidade
Federal de São Carlos- UFSCAR
Modelagem, Simulação e Controle de Sistemas Dinâmicos
Veículos elétricos
TERMO PESQUISADO: CONVERSOR HÍBRIDO Instituição Grupo LINHA DE PESQUISA
Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC
INEP - Instituto de Eletrônica de Potência
Eletrônica de Potência Universidade
Federal de Uberlândia- UFU
Núcleo de pesquisa em eletrônica de potência – NUPEP
Retificadores Híbridos Trifásicos e Monofásicos Universidade
Federal do Ceará- UFC
Grupo de Processamento de Energia e Controle - GPEC
Conversores Multiníveis Fonte: Elaboração própria a partir do Diretório de Grupos CNPq (2015)
Os grupos e linhas de pesquisa destacados pelas tabelas apresentadas demonstram que o país vem dispensando esforços em prol da criação de uma base tecnológica para o veículo elétrico, bem como, na linha de formação de recursos humanos qualificados.
Mazon et al (2013) argumenta que as ICTs brasileira vêm desempenhando um papel importante ao olhar para P&D local de tecnologias dos veículos elétricos:
“Constata-se que o esforço de pesquisa no desenvolvimento local de tecnologias ligadas aos veículos elétricos (híbrido, híbrido Plug-in ou veículo elétrico “puro”), seja a partir da análise da Rede SIBRATEC, seja a partir da base de Grupos de Pesquisa do CNPq, ainda é predominantemente realizado por ICTs públicas” (MAZON et al., 2013, p.10).
Porém, ao olhar para as patentes registradas no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), sobre tecnologias correlatas ao veículo elétrico no Brasil nota-se que em termos de resultados concretos, o papel desempenhado pelas ICTs ainda é pouco expressivo.
No período entre 1995-2014, foram identificadas 161 patentes publicadas no INPI que abordam as tecnologias dos veículos elétricos. Deste total, 20 patentes foram desenvolvidas no Brasil e apenas duas patentes pertencem às ICTs, sendo uma da UNICAMP e a outra da UFRJ. Apesar do salto em termos de grupos de pesquisa atuando
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no Brasil, a análise de patentes fornece pistas da pequena participação das ICTs frente ao desenvolvimento tecnológico de ponta ligado ao veículo elétrico no Brasil. As dimensões – tipo de tecnologia e interação com empresas – também não nos permitem afirmar que as ações desenvolvidas pelos grupos de pesquisa sejam conjuntas e alinhadas. Pelo contrário, os resultados fornecem pistas de que as pesquisas estão ocorrendo isoladamente, sem coordenação ou alinhamento geral e com pouco relacionamento com a iniciativa privada.
Considerações Finais
Este terceiro capítulo se propôs a analisar qual está sendo o posicionamento do Brasil frente a este novo contexto da indústria automobilística por meio da identificação e análise das ações em curso no país. Para isso, com o apoio da teoria sobre SSI, foram analisadas as ações vindas de três esferas: 1) Estado; 2) Empresas e 3) Institutos de Ciência e Tecnologia.
Da perspectiva do Estado, notou-se que prevalecem os instrumentos de technology- push em detrimento dos instrumentos de demand-pull. Foi possível observar um dispêndio de recursos para a P&D de tecnologias exemplificadas pelas ações em prol da capacitação de recursos humanos; ao financiamento de projetos de pesquisa; pela Rede Sibratec operada pela FINEP; e pelas linhas de financiamento do BNDES.
Por outro lado, nota-se que a política vigente direcionada à promoção do mercado do veículo elétrico incorporada ao Inovar Auto, caracterizada pela isenção de tributos para os proprietários destes veículos, é pontual e direcionada somente aos veículos elétricos do tipo híbrido.
Conclui-se ainda que não há um nítido apoio às tecnologias que estão ligadas ao veículo elétrico no Brasil da parte do Estado. Ao contrário, há praticamente uma lacuna de política pública que busque condicionar, estimular e orientar a produção de veículos elétricos no país. Os incentivos e políticas públicas encontradas que estão em andamento no Brasil são pontuais e são voltadas à promoção de desenvolvimentos incrementais de tecnologia e aperfeiçoamento de pessoal. Encontram-se iniciativas isoladas praticadas pela gestão pública e em determinados Ministérios, porém sem a robustez e a coordenação
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necessárias para consolidar o mercado de produção e consumo de veículos elétricos no Brasil.
Da perspectiva das empresas, identificam-se ações vindas das montadoras de veículos e de associações de suporte. No seio das montadoras, observa-se um movimento gradual no sentido de introdução de modelos de veículos elétricos no país. Este movimento está ocorrendo, principalmente, por meio de contratos de empréstimos e parcerias entre as montadoras de veículos elétricos com outras empresas, que busquem incorporar em suas frotas comerciais veículos elétricos, bem como contratos com a administração pública de cidades brasileiras localizadas principalmente no sul e sudeste do país. Outros contratos que envolvem as montadoras estão ocorrendo juntamente com empresas do setor energético, as quais estão buscando seu alinhamento junto a oportunidade de introdução dos veículos elétricos.
Algumas montadoras já estão com vendas oficiais de veículos elétricos no país para uso particular, porém foram poucos modelos vendidos até o término de 2014, sendo o Toyota PRIUS o modelo com mais vendas acumuladas do segmento, com cerca de 400 unidades vendidas. Ao olhar para perspectiva de produção local dos veículos, nota-se que apenas a Eletra está produzindo veículos elétricos no Brasil. Há perspectivas da BYD iniciar suas atividades produtivas no país em 2015.
Sobre as demais montadoras, nenhum posicionamento concreto foi identificado a respeito da produção no país. Foi possível constatar também a atuação de pequenas empresas nacionais e start-ups que estão fabricando outros tipos de veículos elétricos, como bicicletas, scooters e veículos elétricos de uso comerciais.
Por outro lado, as associações estão desempenhando um importante papel no sentido de difusão dos aspectos relacionados ao veículo elétrico no Brasil. Anualmente, ocorre no país o Congresso e Salão Latino Americano de Veículos Elétricos, o qual caracteriza-se como o maior evento do segmento no país e se configura como um importante local de encontros e debates entre os diversos atores ligados aos veículos elétricos, de forma a promover parceiras entre as empresas. Foi possível também identificar a atuação das associações frente ao desenho de políticas públicas, como a proposta colocada pela ANFAVEA em prol da introdução dos veículos elétricos no Brasil. Outras
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associações também possuem papeis relevantes no sentido de popularização da temática dos veículos elétricos por meio de cursos, palestras e exposições.
Por fim, notou-se que o número dos grupos de pesquisa atuando junto às ICTs brasileiras vem crescendo gradativamente ao longo dos anos. Sobre as linhas de pesquisa, notou-se que os grupos vêm dispensando esforços em vários frentes e estão contemplando as tecnologias fundamentais que compõem um veículo elétrico, como motores e baterias.
Porém, não foi possível identificar parcerias entre montadoras e as ICTs brasileiras. Este dado é comprovado quando se observa a rede Sibratec e as parcerias dos grupos de pesquisa identificados, sendo que nenhuma das grandes montadoras de veículos que possuem fábricas instaladas no Brasil (Volkswagen, GMB, Ford, Fiat, PSA, Renault- Nissan, Toyota, Honda) participa da rede do desenvolvimento de novas tecnologias para o veículo elétrico. Ainda, nem parcerias entre os grupos de pesquisa foram observadas ou uma coordenação geral que oriente as pesquisas desenvolvidas no país. Este panorama das ICTs reflete a baixa participação desta esfera frente ao desenvolvimento tecnológico dos veículos elétricos, onde somente duas patentes dentre as 20 desenvolvidas no Brasil são desta esfera.
Tais incongruências apresentadas refletem o panorama atual de baixa expressão do mercado dos veículos elétricos no país. De acordo com a ANFAVEA (2014), em 2014 foram licenciados 855 veículos elétricos no Brasil, entre as variáveis híbrida e a bateria, o que representa cerca de 0,0003% em relação à frota total de veículos licenciados para o mesmo ano. De acordo com ABVE (2014) existem aproximadamente quatro mil veículos elétricos em circulação no país.
Mesmo que as vendas de veículos elétricos sejam exíguas, conforme atestado acima, deve-se destacar que o segmento vem avançando gradativamente. Isto é comprovado ao observar o salto representativo dos licenciamentos dos veículos elétricos no Brasil, haja visto que em 2014 foram 855, em 2013 foram 491 e em 2012 foram 11751 (ABVE, 2014).
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CONCLUSÃO
Esta dissertação buscou investigar, descrever e analisar a trajetória histórica, tecnológica e de mercado do veículo elétrico. As informações levantadas e analisadas nos três capítulos proporcionaram uma ampla visão acerca da trajetória do veículo elétrico, bem como da tecnologia empregada para o desenvolvimento desse e sua atual participação no mercado de alguns países que se destacam pelo incentivo a essa tecnologia alternativa; no caso específico do Brasil, de como e onde esse tipo de incentivo ao veículo elétrico é perceptível.
Por meio da construção da trajetória histórica, esboçada no primeiro capítulo, pode- se traçar um panorama do progresso do veículo elétrico, por meio do desenvolvimento de novas tecnologias associadas, como exemplo: ao motor a vapor, elétrico e a combustão interna. Sendo que estas acarretaram uma acirrada competição a qual levou ao fortalecimento e investimento do motor a combustão interna a ponto de configurar um lock in tecnológico associado a esta trajetória tecnológica.
Porém, ao mesmo tempo que o motor a combustão interna se consolidou, por meio das grandes empresas petrolíferas e os baixos custos de acordo com a funcionalidade deste, o setor elétrico, por sua vez, continuou a ser desenvolvido no decorrer das décadas e veio a contribuir para o rápido desenvolvimento dos veículos elétricos já no século XXI, haja vista a transferência tecnológica intersetorial entre o setor elétrico/eletrônico com o setor mecânico.
Esse cenário acima descrito atesta as profundas transformações ocorridas a partir da década de 1970 por um conjunto restrito de países, principalmente os Estados Unidos, Japão e França. Isto se deu frente aos questionamentos acoplados a razões externas da esfera da tecnologia, como da agenda ambiental, a problemática da qualidade do ar e seus efeitos à saúde pública e o aumento gradual dos combustíveis fósseis. Estas demandas contribuíram para a retomada do projeto do veículo elétrico ainda na década de 1970.
Ao término do século XX, porém, não havia sinais claros de que o veículo elétrico poderia se tornar (novamente) uma alternativa promissora e se configurar como um
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caminho a ser traçado pela indústria global. Este quadro passou a dar pistas de mudanças a partir do século XXI.
Tanto que os estímulos para a retomada dos veículos elétricos vieram principalmente da esfera pública, pelos instrumentos de regulação que foram traduzidos em políticas de oferta (estímulo à P&D de novas tecnologias) e em políticas de demandas (subsídios de compra e reserva de mercado).
Acrescenta-se aos fatos mencionados, baseado em um referencial diversificado e apresentado no segundo capítulo, a identificação de três configurações tecnológicas promissoras dos veículos elétricos, sendo: a bateria, híbridos e, mais recentemente, a células a combustível. Foi visto que não há uma configuração perfeita de veículo elétrico, uma vez que a existência desses três tipos referenciados está intrinsecamente ligada às apostas que cada país, por meio de sua indústria automobilística, vem dedicando ao segmento. Com isso, as apostas identificadas no decorrer envolvem o cenário da progressão, da diversificação e da ruptura de acordo com o cenário industrial ao qual se dá seguimento.
Dessa forma, percorre-se um espaço de tempo iniciado em 1885 e que se evidenciou entre o final do século XX e começo do XXI sendo assim possível de identificar algumas barreiras e desafios que persistem para o segmento. As principais referem-se à ausência de rota tecnológica definida para a produção de componentes e veículos. Ao mesmo tempo, desafios que envolvem a viabilidade comercial dos veículos elétricos devido ao processo de aceitação por parte dos consumidores, bem como da consolidação de uma rede de