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CAPÍTULO 3 O BRASIL FRENTE AO SEGMENTO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS:

3.2. As iniciativas da dimensão do Estado

3.2.2. Políticas de Technology-Push

No âmbito do auxílio à P&D e implantação de infraestrutura, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) vem atuando em duas frentes para os veículos elétricos: a primeira frente refere-se à formação de recursos humanos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no âmbito da P&D em tecnologia veicular e baterias. Por meio de editais de subvenção da FINEP são contempladas as áreas de “Desenvolvimento de acumuladores de energia (baterias, super- capacitores) e seus processos de reciclagem” e “Desenvolvimento de partes, peças e

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sistemas completos aplicados a veículos elétricos, híbridos e hidrogênio” (REZENDE, 2010).

Outra frente importante de atuação refere-se ao Sistema Brasileiro de Tecnologia, o SIBRATEC, que também é operado pela FINEP. Esta rede procura promover a articulação entre as empresas e a comunidade científica no Brasil, por meio da promoção de atividades de P&D de processos ou produtos inovadores. Para tal, o SIBRATEC conta com 14 redes temáticas que formam os seus Centros de Inovação, que são unidades ou grupos de desenvolvimento pertencentes às ICTs brasileiras que acumulam experiência no desenvolvimento de produtos ou processos em parceria com empresas (SIBRATEC, 2013). O objetivo da rede é:

“desenvolver, aperfeiçoar e identificar: matérias primas e materiais aplicáveis à cadeia produtiva de veículos elétricos; sistemas de abastecimento de energia a veículos provenientes de fontes de energia externa; sistemas embarcados de conversão de energia, excetuando-se a reforma de combustível; motores elétricos e seus componentes, sistemas mecânicos como chassis, suspensão, engrenagens, sistemas de freios, transmissão aplicáveis aos veículos elétricos; sistemas eletroeletrônicos, inversores, controladores, supervisores, acumuladores de energia elétrica, medidores, softwares, protocolos e interfaces de diagnóstico de componentes e demais sistemas eletroeletrônicos aplicáveis à cadeia produtiva de veículos elétricos”(REZENDE et al., 2010, p.28).

A Figura 11 ilustra a localização dos atores envolvidos na rede (universidades e centros de pesquisa) e as suas respectivas localidades.

Figura 11 - Rede Sibratec

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Conforme destaca Mazon et al (2013), quatro projetos cooperativos estão sendo desenvolvidos nesta rede. A Tabela 5 identifica as empresas parceiras da rede, sua principal atividade econômica e o seu objetivo.

Tabela 5 - Empresas parceiras da Rede Sibratec Empresa Principal Atividade Econômica Objetivo do projeto

Electrocell Empresa fabricante de componentes e equipamentos para geração e armazenamento de energia elétrica

Em parceria com o IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), busca-se o desenvolvimento tecnológico integrado de baterias de lítio-íon com unidade autônoma de carregamento por meio de células a combustível, para propulsão de veículos elétricos urbanos Frenovaveis Fabricação de biodiesel exceto

álcool

Desenvolver o mecanismo de um sistema de troca rápida de baterias para veículo elétrico de uso urbano, bem como análise do protótipo desenvolvido com revisão do design e sugestão de soluções tecnológicas para a propulsão elétrica VEZ Fabricação de automóveis,

camionetas e utilitários

Lançar um carro elétrico no mercado brasileiro, com tecnologia nacional. O acesso a rede foca na consultoria técnica na área de baterias e motores de indução

2B Design Serviços de Design de Produtos Desenvolvimento experimental de um veículo elétrico tipo triciclo híbrido (energia elétrica e humana)

Fonte: Adaptado parcialmente de Mazon et al (2013).

Nota-se que as empresas envolvidas na Rede Sibratec são, em sua maioria, incubadoras e start-ups. Não há a participação de qualquer grande montadora instalada no país na rede, o que sugere uma possível deficiência na rede no sentido de coordenação entre os agentes ou a pouca atratividade deste projeto em atrair grandes empresas, isto é, sinalizaria para a falta de interesse das grandes montadoras em realizar a P&D local por meio das parceiras que a rede fomenta.

A rede possui um aporte de recursos da ordem de R$ 10 milhões, sendo até R$ 2,5 milhões para a sua gestão e, no mínimo, R$ 7,5 milhões para a operacionalização dos

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projetos cooperativos demandados pelas empresas (MAZON et al, 2013). Ainda que a ordem dos recursos seja expressa em milhões de reais, o valor disponibilizado é pequeno frente a demanda da rede, uma vez que existem 14 instituições envolvidas, que receberão uma parcela do total de recursos, e os projetos executados envolvem P&D em diversos componentes ainda pouco explorados. O que intensifica a demanda por recursos financeiros para as compras de equipamento, testes em protótipos, remuneração ao corpo pessoal envolvido e demais custos que oneram a inovação tecnológica.

Por outro lado, temos o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como principal provedor de crédito de longo prazo e que poderá desempenhar papel relevante no âmbito do financiamento, seja para inovação tecnológica, seja para aquisição de componentes e veículos. O Banco dispõe de diversos instrumentos tradicionais prontos a apoiar a introdução dos veículos elétricos no país.

Os esforços iniciais de desenvolvimento de tecnologia não existente no Brasil são elegíveis para a Linha de Inovação Tecnológica do BNDES, que conta com o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) a uma taxa fixa de 3,5% ao ano (BNDES, 2013). Assim os produtores de baterias, motores e outros componentes são potenciais usuários dessa linha, que visa ampliar o conteúdo tecnológico da produção local. Outra alternativa é a Linha de Capital Inovador, que apoia empresas na ampliação de capacidade para empreender atividades inovativas.

Para as tecnologias com um elevado grau de maturidade, que passam a precisar de adaptações às demandas locais, o apoio do Banco pode ocorrer através de linhas e programas como o Programa BNDES Proengenharia e a Linha de Inovação Produção. No tocante à modernização das unidades produtivas, o instrumento direcionado é Produto BNDES Finem.

Certamente, os veículos elétricos comerciais – comerciais leves, caminhões e ônibus – contarão com o apoio à comercialização por meio do BNDES Finame e do Cartão BNDES, desde que atingido o índice de nacionalização mínimo de 60%. Adicionalmente, as linhas do BNDES Exim podem ser utilizadas para financiar exportação de veículos e componentes (COUTINHO, 2010).

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