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O mercado para os veículos elétricos: uma análise a partir de dados sobre vendas

CAPÍTULO 2 A TRAJETÓRIA TECNOLÓGICA E COMERCIAL DO VEÍCULO

2.4. O mercado para os veículos elétricos: uma análise a partir de dados sobre vendas

A seção está organizada da seguinte maneira: inicialmente, traça-se um panorama das vendas de veículos elétricos desde 1999 até 2013. Pretende-se destacar a evolução expressiva pela qual tem passado o segmento dos veículos elétricos nos últimos anos. Depois, analisa-se a distribuição do mercado por países, identificando os mercados mais promissores para estas tecnologias. Por fim, aponta-se as montadoras que produziram e comercializaram os veículos elétricos. As análises sobre a distribuição de mercado por países e distribuição por montadoras tomaram como referência o ano de 2013, ano mais recente com dados disponíveis até o término do presente trabalho.

Assim, observa-se que as vendas de veículos elétricos têm passado por um expressivo crescimento ao longo dos últimos anos. Isto é comprovado ao observar o Gráfico 5 que caracteriza este panorama ascendente.

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Gráfico 5 - Evolução global das vendas de veículos elétricos a bateria, híbridos e plug-in

Fonte: Elaborado própria a partir de U.S.Department of Energy (2014), ICCT (2014), IEA (2013), Hybridcars.com (2015), Evobsession (2015) e EDTA (2015).

Verifica-se que as vendas de veículos elétricos subiram gradativamente ao longo do período compreendido33. É possível identificar que este crescimento não ocorreu de maneira homogênea entre os tipos de veículos elétricos disponíveis. A diferença ocorreu entre as vendas de veículos elétricos híbridos (VEH) e em relação aos veículos elétricos a bateria (VEB)/veículos elétricos híbridos plug-in (VEHP).

Os veículos elétricos híbridos foram os responsáveis pela retomada do segmento a nível global. Este movimento teve início em 1999/2000 e tomou força a partir de 2004/2005 quando as vendas anuais passaram a casa das 100.000 unidades. De acordo com HybridCars (2014) até 2006 as vendas de veículos elétricos híbridos concentraram-se em

33 A exceção fica para o ano de 2008, devido à crise econômica em escala global, cujos impactos afetaram o

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solo norte-americano. A partir de 2006, identifica-se a ascensão deste mercado na Ásia e Europa.

Os argumentos colocados por Freyssenet (2011) fornecem pistas que justificam a escolha de contemplar o segmento dos veículos elétricos híbridos pela indústria automobilística. Freyssenet (2011) aponta que a escolha desta configuração está diretamente relacionada à aposta no cenário da progressão. Este cenário está relacionado a uma mudança gradual entre as formas de propulsão na indústria automobilística, bem como das fontes energéticas utilizadas. Assim, os veículos elétricos híbridos configuram-se como a principal alternativa neste cenário, haja visto que a categoria contempla o motor a combustão interna - paradigma tecnológico dominante - com o motor elétrico (FREYSSENET, 2011).

A partir de 2010, verifica-se uma nova trajetória das vendas de veículos elétricos no mundo. Esta nova trajetória está relacionada ao crescimento das vendas de veículos elétrico do tipo a bateria e plug-in. A respeito dos dados destas categorias, as principais fontes foram ICCT (2014) e EvObsession (2014). Nota-se que as vendas partiram de cerca de 10.000 unidades em 2010 para 45.000 em 2011, para mais de 110.000 em 2012 e para aproximadamente 210.000 unidades em 2013. Ou seja, o número de unidades comercializadas praticamente dobrou a cada ano a contar de 2009 a 2013.

Apesar do avanço expressivo do segmento dos veículos elétricos que se conectam à rede, apresentado entre 2010 e 2013, os valores absolutos de vendas desta categoria situam- se cerca de sete vezes abaixo dos veículos elétricos híbridos em 2013. Ou seja, a configuração mecânica predominante dos veículos elétricos até 2013 é a configuração híbrida que independe da necessidade de recarga junto à rede. Contudo, este panorama de crescimento dos veículos elétricos a bateria e plug-in dá pistas de um novo cenário para o segmento, o qual contempla um conjunto maior de configurações mecânicas disponíveis.

Em 2013 o valor absoluto das vendas dos veículos elétricos a bateria e plug-in foi de 210.359 unidades (ICCT, 2014; EVOBSESSION, 2015). Parte-se, então, para a identificação dos maiores mercados para os veículos elétricos a bateria e plug-in no mundo por meio do Gráfico 6. Os países que acumularam vendas inferiores a mil unidades foram agregados na coluna ‘resto do mundo’.

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Gráfico 6 - Vendas de veículos elétricos a bateria e híbridos plug-in por países em 2013

Fonte: elaboração própria a partir de Evobsession (2015).

Em primeiro lugar, destaca-se os Estados Unidos com aproximadamente 45% de participação de mercado do segmento. Este destaque é resultado direto das políticas de promoção do mercado de veículos elétricos implementadas no referido país desde a década de 1990.

Como exemplos, temos o impulso promovido pelos legisladores do Estado da Califórnia. A lei consistia na reserva de mercado para os veículos eletrificados. Este instrumento foi implementado posteriormente por outros estados (U.S. DEPARTMENT OF ENERGY, 2015).

Outro importante estímulo ocorreu por meio do Energy Policy Act, um programa iniciado em 200534, que dentro de suas diretrizes considerava a esfera dos veículos elétricos ao incentivar a compra do veículo elétrico híbrido. Isto ocorreu por meio do fornecimento de crédito não-reembolsável aos compradores deste tipo de veículo. Ocorreram outras

34 Consultar SERVICE, Internal Revenue. Highlights of the Energy Policy Act of 2005 for Individual.

2006. Disponível em: <http://www.irs.gov/uac/Highlights-of-the-Energy-Policy-Act-of-2005-for- Individuals>. Acesso em: 10 outubro de 2014, às 23:44:34.

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iniciativas em políticas públicas nos Estados Unidos, que foram amplamente analisadas pelo estudo promovido pela ICCT (2014).

Em segundo lugar, o Japão. Conforme já colocado, o país vem desde a década de 1970 dispensando esforços na P&D de veículos eletrificados. Diferentemente dos Estados Unidos, o Japão dispensou mais esforços nas políticas de oferta. Estas políticas objetivaram o desenvolvimento da tecnologia dos veículos elétricos, em seus mais distintos componentes. Isto ocorreu por meio de uma articulação entre as montadoras japonesas, fornecedoras de componentes e demais atores pertinentes ao segmento. Como foi visto pelo Gráfico 2, este desenvolvimento prematuro do segmento pelo Japão irá destacar as principais montadoras japonesas no século XXI.

Seguido do Japão, temos alguns países do continente europeu representados por Holanda, França, Noruega, Alemanha e Reino Unido. Nestes países a trajetória dos veículos elétricos é posterior àquela vivenciada pelo Japão e Estados Unidos. O destaque fica para a China, que em um prazo de 20 anos desenvolveu sua indústria automobilística bem como o segmento do veículo elétrico. Haja vista o mercado em potencial para os veículos na China, o país se torna bastante proeminente ao se pensar sua participação junto a indústria automobilística global. A respeito da localização do mercado dos veículos elétricos híbridos, não foram encontrados dados concretos para esta categoria nas fontes utilizadas.

Parte-se agora para a análise das montadoras que estão comercializando seus veículos elétricos no mercado. O Gráfico 7 identifica as montadoras que estão comercializando veículos elétricos a bateria e híbridos plug-in, bem como a participação de mercado referente ao ano de 2013. As montadoras que tiveram vendas abaixo das 1.000 unidades foram alocadas na aba outras montadoras.

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Gráfico 7 - Montadoras de veículo elétrico a bateria e veículo elétrico híbrido plug-in e

participação de mercado (2013)

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de ICCT (2014); Evobsession (2015).

A respeito do Gráfico 7, constata-se que segmento do veículo elétrico a bateria e veículo elétrico híbrido plug-in está disperso principalmente entre sete montadoras: Nissan; GM- Chevrolet; Mitsubishi; Toyota; Tesla; Renault e Ford. Isto destaca a concorrência acirrada, considerando que nenhuma das montadoras possui participação superior a 25% de mercado.

Destacam-se ainda as empresas de origem de capital japonês, representadas por Nissan, Mitsubishi e Toyota, que juntas possuem 46% de todo o mercado para o segmento. A respeito da Nissan, sua superioridade frente as demais montadoras está diretamente relacionada à venda do modelo Nissan LEAF, um veículo elétrico a bateria que vendeu 47.848 em 2013, caracterizando-se como o modelo mais vendido para o ano de 2013.

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Figura 7 - Nissan LEAF, modelo 2014

Fonte: Nissan (2015).

De fato, ao olhar para as participações de mercado de cada montadora, verificam-se que elas estão atreladas aos poucos modelos que são comercializados por cada empresa. Em 2013, foram comercializados 22 modelos de veículo elétrico a bateria e veículo elétrico híbrido plug-in, cada um com mais de 1.000 unidades vendidas no mundo.

Porém, ao avistar a participação das montadoras em relação às vendas de veículos elétricos híbridos, observa-se um cenário de concentração de mercado. Isto é comprovado ao olhar para o Gráfico 8, que identifica as montadoras que comercializaram e produziram veículos elétricos híbridos em 2013.

Gráfico 8 - Montadoras de veículos elétricos híbridos e participação de mercado (2013)

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A respeito dos veículos elétricos híbridos, é notável a participação da Toyota com aproximadamente 82% de participação nas vendas totais. Isto se deve ao sucesso comercial do modelo Toyota PRIUS, lançado em 1997 no Japão e em 2001 em outros mercados, que já ultrapassou a marca de 3 milhões de unidades vendidas ocupando o posto de veículo elétrico mais vendido do mundo (TOYOTA, 2014).

Figura 8 - Toyota PRIUS, modelo 2014

Fonte: TOYOTA (2015).

Considerações Finais

A partir da consulta e análise a dados primários e secundários aqui apresentados tornou-se possível aprofundar as características técnicas do veículo elétrico, das informações sobre patentes ao referido assunto no período e a avaliação desse mercado automobilístico compreendido entre os anos finais do século XX e início do século XXI.

Foi possível observar que três configurações de veículos elétricos vêm se destacando e sinalizam como possíveis trajetórias a serem seguidas pelas montadoras do segmento, sendo elas: os veículos elétricos a bateria; os veículos elétricos híbridos com motor a combustão interna; e os veículos elétricos híbridos a células a combustível. Os três tipos mencionados passam por um processo de consolidação no mercado mundial uma vez que há um processo de aceitação por parte dos consumidores em função das diferenças técnicas em relação ao veículo a combustão convencional. Ao mesmo tempo, o segmento

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como um todo enfrenta desafios para sua viabilidade comercial devido aos custos iniciais elevados de produção para montadoras e fornecedoras de autopeças. Com base no que foi descrito, não é possível afirmar que há um modelo ou configuração superior de veículo elétrico, uma vez que os tipos identificados apresentam vantagens e desvantagens quando confrontados.

As informações sobre patentes demonstradas e processadas por meio da pesquisa realizada na Plataforma Questel Orbit permitiram uma reflexão sobre tendências das tecnologias relacionadas aos veículos elétricos e seus componentes. Verificou-se ainda que as tecnologias que compõem um veículo elétrico passam por um processo expressivo de desenvolvimento, que se reflete no aumento quantitativo das publicações de famílias de patentes de componentes de veículos elétricos nos últimos 20 anos, acentuando-se principalmente a partir de 2009-2013.

Quanto aos atores envolvidos, é visível a liderança de empresas tradicionais, principalmente de origem asiática, representadas por Toyota, Hyundai, Honda, Nissan, seguido pelas norte-americanas General Motors e Ford. Interessante também observar a ascensão dos novos entrantes no segmento, como as chinesas BYD e Chery, bem como empresas do setor elétrico e eletrônico como Panasonic e Hitachi. Nesta nova trajetória tecnológica, além de atores que integram o setor automotivo, tais como montadoras e empresas de autopeças, destaca-se o papel a ser ocupado pelo setor elétrico, ponderando sua função no abastecimento da frota automotiva, assim como dos atores responsáveis pelos eletropostos, para abastecimento do veículo elétrico. Outra evidência aponta para o domínio destas tecnologias em países mais desenvolvidos e com tradição no segmento automobilístico, (Japão, Estados Unidos, Alemanha e França) porém com destaque para a Coréia do Sul e China, denotando o avanço destes novos países entrantes neste segmento.

As observações acima demonstradas são validadas por meio do estudo do mercado automobilístico, quando se constatou que as vendas dos veículos elétricos têm passado por um crescimento expressivo desde 1999. Notou-se, ainda, que a configuração dos veículos elétricos híbridos foi a mais bem sucedida em termos de vendas, sendo a responsável pela retomada do segmento a nível global. Já os veículos que necessariamente dependem da rede elétrica, tais como os veículos elétricos a bateria e veículos elétricos plug-in, passam a

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apresentar vendas significativas a partir de 2010. Ressalta-se também que as vendas situam- se principalmente nos Estados Unidos, Japão e países do continente europeu. Essa informação possui direta relação com os locais de publicação de patentes, demonstrados pelo Gráfico 3, os quais indicam a correlação direta entre os locais de desenvolvimento da tecnologia dos veículos elétricos junto aos locais de mercado mais promissor para o segmento. Ao olhar da perspectiva das empresas, comprovou-se que as tradicionais mantêm sua liderança também nas vendas de veículos elétricos, destacando-se a Nissan no segmento dos veículos elétricos a bateria e a Toyota no segmento dos híbridos.

Conclui-se até então que o desempenho verificado em alguns países decorre de sua trajetória histórica (já aprofundadas no capítulo primeiro e que complementam as informações contidas nesse segundo capítulo); de ações oriundas do Estado, por meio de suas políticas públicas; da atuação do mercado automobilístico, tecnologia e necessidades da esfera da saúde pública e meio ambiente. O que justifica, por si só, a crescente demanda e investimentos no veículo elétrico no século XXI.

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