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Iniciativas que promovem a reflexão nacional sobre o ensino religioso no momento

No documento giselidopradosiqueira (páginas 91-100)

CAPÍTULO 2 A REGULAMENTAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

3. Iniciativas que promovem a reflexão nacional sobre o ensino religioso no momento

O ensino religioso regulamentado como área de conhecimento nos termos da Resolução CNE/CEB nº 07, de 14 de dezembro de 2010,161 adquiriu o maior status acadêmico de sua história até o momento. Precedida do Parecer CNE/CEB nº 11/2010162 sobre Diretrizes Curriculares Nacionais para Ensino Fundamental de nove anos, a resolução oferece rica fundamentação para essa etapa do ensino no sistema educacional brasileiro. Sua redação abre espaço para o diálogo entre as partes que defendem o ensino religioso no Brasil, mesmo em meio a concepções diversificadas sobre a natureza da matéria e sua consequente prática pedagógica, diante principalmente do artigo 11 do Acordo celebrado entre a República

159O exemplo a seguir ilustra o comentário: “Leitoras e Leitores, no final de semana um jornal de grande circulação divulgou três textos sobre o Ensino Religioso. Recolheram experiências negativas da aplicação deste componente curricular, além de ilustrarem com o desastroso acordo realizado com o Estado do Vaticano que por motivos eleitoreiros foi apoiado pelo Presidente Lula e que ao apoiar este acordo que não foi discutido negou a pluralidade religiosa do país.” E continua com outros comentários confusos para o leitor, que requer informações mais aprofundadas e ponderadas, evitando-se os equívocos. Cf. GPERNEWS, Boletim nº 291, ano 7, 02 mar. 2011, disponível em: <http://www.gper.com.br/newsletter.php?id=199>. Acesso em: 15 dez 2011.

160

PINHO, Ângela. Metade das escolas do país tem ensino religioso. Folha de S. Paulo, São Paulo, 27 fev. 2011. Cotidiano. VALLE, Dimitri do. Casal de ateus faz acordo e escola libera filhos de aula. Folha de S. Paulo, São Paulo, 27 fev. 2011. Cotidiano.

161

Cf. Anexo S. 162

Federativa do Brasil e a Santa Sé, que tem provocado muitas controvérsias nas discussões de norte a sul do país e diferentes instâncias.

Entre a regulamentação da matéria pelo CNE/CEB, que facilita a compreensão e a prática da referida área no interior das escolas da rede oficial de ensino, e a aplicação do artigo 11 do referido Acordo, muitas iniciativas têm sido tomadas para aquecer a discussão sobre o assunto, em vista da solução dos impasses com que convivem hoje instituições de ensino, órgãos de educação em geral, entidades de classe, setores interessados no bem-estar da educação brasileira. Entre muitos outros, destacam-se alguns pelo significado de sua atuação.

A ASPER-SP, OAB-SP e revista Diálogo atuam em parceria

Na região Sudeste, vale mencionar a Associação de Professores e Pesquisadores em Educação e Religião de São Paulo (ASPER-SP), que, aliada à Coordenadoria de Direito Educacional da OAB/SP, e à Diálogo, revista de ensino religioso (publicação das Edições Paulinas), tem realizado reuniões e seminários, publicado artigos e promovido discussões com abordagens sobre o ensino religioso na legislação vigente. Sua atuação vem contribuindo para formar opinião pública num espaço em que convivem favoráveis e contrários ao ensino religioso como área de conhecimento e a sua adequada inserção no ambiente escolar público.

Atuando em parceria, através dos meios de comunicação e dos eventos de âmbito regional promovidos em alguns Estados, essas três entidades apontam para a necessidade de um marco referencial para o ensino religioso no Brasil, sugerindo conteúdos, realizando novas experiências de diálogo e, consequentemente, a socialização dos saberes sobre a área, que reconhecem estar em fase de questionamentos e de busca de novos paradigmas para a sua compreensão e prática. Seu discurso destaca a importância do entrelaçamento da educação com a religião163.

163

COMISSÃO DO JOVEM ADVOGADO da OAB/SP. Comentários da Coordenadoria de Direito Educacional. Disponível em: <http://direitoeducacionaloabsp.blogspot.com/2011/02/ensino-religioso-em-pauta-na- proxima.html>. Acesso em: 16 fev. 2011

Associações que lideram o ensino religioso

Associações como a SOTER, a ABHR e a ANPTECRE164abrem espaços em seus encontros, simpósios e congressos para a formação de grupos de trabalho que coloquem em discussão o ensino religioso. Pesquisadores integrados a esses grupos têm apresentado o ensino religioso vinculado à Ciência (ou Ciências) da Religião, admitindo que a finalidade dessa disciplina é:

estudar os fenômenos religiosos numa perspectiva intercultural, como elemento de formação cidadã, para ajudar as novas gerações a superarem preconceitos e a respeitarem o direito às diferenças. Objeto difícil, sem dúvida, porque exige um conhecimento bem fundamentado das diferentes expressões da religiosidade humana.165

Esse pensamento é reforçado por professores da PUC/SP, que propõem o modelo da Ciência da Religião como o único habilitado a sustentar a autonomia epistemológica e pedagógica do ensino religioso.166 Nesse aspecto, a epistemologia carrega duas abordagens: fundamentação de uma área de conhecimento e fundamentação de uma prática pedagógica. Os autores certamente adentram na complexidade dessa temática, envolvendo práticas políticas, confessionais, teóricas e pedagógicas. Essas práticas, precisamente por coexistirem simultaneamente na realidade concreta, produzem interrogações e respostas nem sempre claras. Passos167 comenta:

O Ensino Religioso, por sua história e por seu estado atual, constitui um caso emblemático de legitimidade política, em franco detrimento da legitimidade

164

A Sociedade Brasileira de História das Religiões (ABHR), associação civil, sem fins lucrativos, foi fundada em julho de 1985 por um grupo de teólogos e cientistas da religião. Informações disponíveis em <www.soter.org.br/>. A Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR) surgiu durante a realização do I Simpósio sobre História das Religiões, convocado por um grupo de historiadores da linha de pesquisa Religiões e Visões de Mundo, do Curso de Pós-Graduação em História da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Assis, em 1999. Informações disponíveis em: <www.abhr.org.br/>. A Associação dos Programas de Pós-graduação em Teologia e Ciências da Religião (ANPTCRE) congrega 14 programas de pós-graduação de instituições de ensino, privadas e públicas, do Brasil. É a mais recente das instituições citadas. Informações disponíveis em <www.anptecre.org.br/>.

165

OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de; MORI, Geraldo de (orgs.) Religião e Educação para a cidadania. São Paulo: Paulinas; Belo Horizonte: SOTER, 2011, p.7.

166

SOARES, Afonso Maria Ligório. Religião & Educação: da Ciência da Religião ao Ensino Religioso. São Paulo: Paulinas, 2010.

167

PASSOS, João Décio. Epistemologia do Ensino Religioso: a inconveniência política de uma área de conhecimento. Ciberteologia. Revista de Teologia & Cultura, [S.l.]. Ano VII, n. 34, p. 110, abr./maio/jun. 2011. Disponível em: <http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/index.php/category/edicao34/>. Acesso em: 22 jul. 2011.

epistemológica, o que resulta de acordos celebrados entre o Estado e as Igrejas. O caminho da institucionalização epistemológica de uma disciplina científica, não obstante seu jogo político intrínseco pressupõe a sua estatura curricular, o que no Ensino Religioso se verifica de modo quase invertido: uma disciplina curricularmente legalizada sem uma base epistemológica previamente estabelecida que lhe garanta o status de ciência legítima nos âmbitos da comunidade científica e das legislações oficiais.

Proposições semelhantes são encontradas na “Carta aberta à sociedade brasileira sobre oferta do ensino religioso na escola pública”168, a qual define o objeto de estudo dessa área de conhecimento, até então indefinido pelo descompasso entre o legal e o nepistemológico, justificando que:

a manutenção do Ensino Religioso em um Estado laico se justifica pela necessidade de formar cidadãos críticos e responsáveis, capazes de discernir a dinâmica dos fenômenos religiosos, que permeiam a vida em âmbito pessoal, local, nacional e mundial. As diferentes crenças, grupos, tradições e expressões religiosas, bem como a ausência delas, são aspectos da realidade que devem ser socializados e abordados como dados socioculturais, capazes de contribuir na interpretação e na fundamentação das ações humanas.169

Não há mesmo unidade entre as concepções diferenciadas que integram ao debate sobre a situação no Rio de Janeiro, a iniciar pela aprovação da Lei Estadual nº 3549/2000,170 a carta deixa evidente a opção pelo modelo confessional de ensino religioso. Após anos de luta da liderança defensora desta modalidade, com desfecho da audiência pública em 2011, houve avanços na discussão, de forma democrática, segundo o que mostra o trecho da reportagem seguinte:

Integrantes de diversos credos religiosos, profissionais da educação, parlamentares e membros da sociedade civil estiveram presentes na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, na última terça-feira, 14 de junho, discutindo o Projeto de Lei do

168

A elaboração da Carta Aberta realizado pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER), pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) e pela Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), justifica que: “preocupados com o processo de implementação e consolidação do Ensino Religioso nas escolas públicas, vêm, através desta Carta Aberta à Sociedade Brasileira, tornar público seus posicionamentos a fim de esclarecer, direcionar e aprofundar o debate sobre o papel desta área do conhecimento e componente curricular na formação básica do cidadão.” Disponível em <http://www.fonaper.com.br/noticia.php?id=1237>. Acesso em: 28 dez. 2011.

169

FONAPER. Carta aberta à sociedade brasileira sobre oferta do ensino religioso na escola pública. [S.l : s.n.], [201?]. Disponível em <http://www.fonaper.com.br/noticia.php?id=1237>. Acesso em 28 nov. 2011. 170

Executivo que cria o cargo de professor de Ensino Religioso nas escolas públicas do município.

Apesar da obrigatoriedade, previsto no artigo 210 da Constituição, com o respaldo do artigo 33 da lei 9.394 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a freqüência do Ensino Religioso nas escolas públicas é facultativa.

A audiência pública foi dirigida pelo presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, vereador Paulo Messina. Entre os representantes da Arquidiocese, estavam o bispo auxiliar Dom Nelson Francelino Ferreira, o diretor do Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), Padre Paulo Alves Romão, e a presidente do conselho deliberativo da Associação de Professores de Ensino Católico (ASPERC), professora Vera Lucia Santiago Cruz.

A defesa da Mensagem nº130 do prefeito Eduardo Paes (P/L 862 de 01/04/2011) foi protagonizada pela subsecretária de ensino da Secretaria Municipal de Educação, Regina Helena Diniz Bomeny, enfocando como será a implantação do Ensino Religioso nas escolas municipais, sendo facultada aos integrantes da Mesa a avaliação acerca da iniciativa. As opiniões foram acatadas democraticamente considerando positiva a iniciativa do Executivo, desde que a implementação fosse acompanhada pela Casa Legislativa.171

Finalmente, a tão esperada lei do município do Rio de Janeiro foi aprovada, com ajustes, de modo a incluir no quadro do magistério (Lei nº 5.303 de 19 de outubro de 2011), assim como já acontecia em âmbito do Estado, os profissionais de educação para a função docente na área.172

Convém constatar também que a referida audiência se constituiu num espaço democrático de discussão, estando juntos, em diálogo, representantes dos contrários e favoráveis ao ensino religioso na rede pública de ensino.

Foi aberta a palavra à Plenária, onde foram oportunizados a todos os segmentos ali presentes expressarem seus pensamentos.

O sindicato de representação dos professores do Rio se posicionou contrário ao Ensino Religioso nas escolas, assim como a professora Azoilda Loretto Trindade, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que, ao criticar o crucifixo da Sala do Plenário, em detrimento dos demais símbolos religiosos, foi defendido pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento Islâmico, sheik Ahmad Mohammed, afirmando que o Estado é laico, mas não é ateu.

O acadêmico Luiz Antônio Cunha (UFRJ) disse que muito tempo se perdeu discutindo a disciplina, o que não seria passível de discussão, por existir nas Constituições Federais e Estaduais, mas que a Casa Legislativa do Rio deveria aguardar os novos direcionamentos que estão sendo discutidos em Brasília.

171

MOIOLI, Carlos. Audiência Pública discute Ensino Religioso no Rio.Assessoria de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Disponível em <pascombrasil@googlegroups.com>. Acesso em 17 jun. 2011.

172

Outras posições favoráveis defendidas pelo Plenário foram a do vereador Caiado, em co-partilha com as emendas do vereador Reimont, do vereador Tio Carlos que respondeu a todos que a Casa Legislativa acabara de aprovar sete mil novas vagas para as outras disciplinas. Embora as manifestações tenham sido divergentes, houve consenso no aspecto da pluralidade.173

A situação das escolas públicas é também analisada por Giumbelli e Carneiro174

, referindo-se à singularidade do estado fluminense, indagando sobre a inconstitucionalidade da lei, argumentando sobre a perda da liberdade religiosa garantida pela Constituição ou, ainda, criticando a função do poder público em custear esse tipo de modelo confessional.

[...] por essa modalidade, os alunos que se dispõem a freqüentar a disciplina devem ter professores e conteúdos próprios a cada confissão, cabendo às autoridades religiosas papéis cruciais, tanto no credenciamento dos professores quanto na definição dos conteúdos de ensino. No texto da lei, veda-se o proselitismo, mas permanece a determinação de que o Estado deve apoiar as definições das autoridades religiosas e o respeito ao pluralismo fica vinculado à demanda dos alunos e à oferta de professores por parte do governo estadual. [...]a implantação do ensino religioso no Rio – como confessional – implicou um processo intenso de negociação, tanto no âmbito do confronto de idéias sobre o que é religião quanto da definição do que se entende por proselitismo e, também, quanto à noção de liberdade religiosa e laicidade. Propiciou, assim, um acirrado campo de disputa em torno da defesa de princípios e valores distintos, ao envolver amplas negociações em que participam lideranças de diferentes denominações religiosas e políticas, a comunidade acadêmica e os sistemas de ensino, todos diretamente atingidos pelo dispositivo legal. Particularmente, por ocasionar mudanças, seja no sistema educacional, seja na importância dada à “religião” na formação dos cidadãos.175

Pesquisas realizadas por Almeida176 apresentam pontos essenciais para compreender as controvérsias da lei fluminense e apontam que, embora fossem muito diversificados os atores políticos, e as alianças realizadas pouco usuais, as posturas defendidas nas discussões da referida lei se concentram em posicionamentos diferentes sobre a confessionalidade.

173

MOIOLI, Carlos. Audiência Pública discute Ensino Religioso no Rio.Assessoria de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Disponível em <pascombrasil@googlegroups.com>. Acesso em 17 jun. 2011.

174

GIUMBELLI, Emerson; CARNEIRO, Sandra de Sá. Religião nas escolas públicas: questões nacionais e a situação no Rio de Janeiro. Revista Contemporânea, Rio de Janeiro, v.1, n. 2, p. 10, jul/dez. 2006.

175

Ibidem, p. 17. 176

ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. Liberalismo político, constitucionalismo e democracia: a questão do Ensino Religioso nas Escolas Públicas. Belo Horizonte: Argumentvm, 2008. Especificamente, no capítulo 3, o autor aborda a problemática relativa ao ensino religioso no contexto da Lei no 3.459/2000. Na primeira seção do capítulo, é traçado um delineamento histórico da institucionalização da disciplina ensino religioso na experiência constitucional brasileira, com o objetivo de lançar algumas bases históricas para discutir, nas seções seguintes, a função constitucional do ensino religioso nas escolas públicas a partir da lei fluminense. O autor esclarece que realiza uma leitura dos posicionamentos agrupados em concepções lidas a partir do liberalismo político ou do comunitarismo, embora não seja essa necessariamente a chave de interpretação dos próprios atores.

Para exemplificar, identifica-se como primeiro pressuposto dos defensores do ensino religioso confessional, para os quais a disciplina tem relevância fundamental para a formação moral dos alunos, considerá-la dependente da aceitação de uma religião específica. Nessa perspectiva, alguém só poderia ser um bom cidadão se fosse, também, uma pessoa religiosa. Consequentemente, apoia a divisão dos alunos em sala por religião, na medida em que, com o aprofundamento dos estudos sobre uma confissão religiosa, especifica, de maneira mais aguda, as virtudes necessárias para ser um bom cidadão. Por isso, inclusive, seria importante, nessa narrativa, que as diversas confissões religiosas pudessem selecionar os responsáveis pelo ensino da disciplina e o seu conteúdo programático.

Uma segunda possibilidade considera o ensino religioso nas escolas públicas importante por permitir às várias confissões religiosas um espaço institucional onde possam educar as crianças em práticas religiosas determinadas. Sob esse ângulo, seria justificado o sistema segundo o qual a oferta da disciplina é obrigatória, mas de matrícula facultativa, pois implica o reconhecimento de que as famílias podem adotar religiões distintas das ofertadas no ensino público. As famílias e comunidades religiosas deveriam ter o direito de resguardar seus filhos de assistirem às aulas referentes a outras confissões religiosas.

Como terceira perspectiva, considera-se que, antes de ser direito da criança, é um direito da família assegurar aos filhos a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.

Para Almeida177 embora as três concepções sejam diferentes possuem elementos comuns:

Em primeiro lugar, a finalidade do ensino religioso, para as três perspectivas, é nitidamente confessional. No primeiro caso, que ilustra uma postura nitidamente republicana, a confessionalidade serviria para estimular virtudes úteis para comunidade como um todo. [...] No segundo caso, a finalidade da disciplina é estimular as pessoas a adotarem determinadas religiões, o caráter da disciplina deve ser necessariamente o de ensinar uma religião específica, contextualizando os alunos naquela doutrina com a finalidade de que eles se tornem fieis. No terceiro caso, a proposta do ensino religioso também é a de conseguir a adesão de fiéis.

177

ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. Liberalismo político, constitucionalismo e democracia: a questão do Ensino Religioso nas Escolas Públicas. Belo Horizonte: Argumentvm, 2008, p. 240.

A defesa da confessionalidade no ensino religioso pelo Rio de Janeiro

A defesa da confessionalidade em suas mais diversas perspectivas de interpretação gerou no Rio de Janeiro alianças que passaram a defender o ensino religioso como interconfessional. Cunha178 afirma que:

houve tentativas de suprimir esse dispositivo da lei, sem sucesso. Argüições de inconstitucionalidade, partidas de dentro da própria Assembléia Legislativa, fracassaram, pois o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Supremo Tribunal Federal confirmaram a legalidade do ER confessional. Prevaleceu o acordo tácito entre católicos tradicionalistas e setores evangélicos militantes. Diante disso, estabeleceu-se uma aliança de grupos religiosos minoritários, que reuniu católicos e evangélicos renovadores, espíritas, judeus e adeptos de religiões afrobrasileiras contra o ensino religioso confessional, essa aliança circunstancial defendeu o ensino religioso interconfessional, justamente na linha que havia sido suprimida da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Cumpre mencionar que essa aliança recebeu o apoio de setores políticos defensores da escola laica, que viam no interconfessionalismo a única via prática para barrar uma espécie de fundamentalismo religioso na escola pública.

O contexto educacional do Rio de Janeiro, especificamente no diz respeito ao ensino religioso, propicia fortemente a articulação da segunda corrente, que no presente trabalho é designada como corrente dos contrários, a qual, desde a instalação do Estado Republicano, interpreta de outra forma o princípio da liberdade religiosa e defende a laicidade do Estado que, pela sua natureza, é uma instituição laica. Essa corrente atua com o apoio de vários instrumentos: publicações, debates, simpósios, manutenção de páginas na internet, com destaque para o Observatório da Laicidade do Estado, e também com linhas de pesquisa assumidas por professores em diversas universidades do país.

Recentemente, uma pesquisa publicada no mercado editorial brasileiro mostra a colaboração entre a Comissão Cidadania e Reprodução – CCR e o Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero – ANIS, além da Universidade de Brasília e da UNESCO, apresentando as condições em que o ensino religioso é oferecido nas escolas brasileiras.179

Outras críticas, porém, são apresentadas em discussões mais específicas evidenciando um discurso conflitivo em que a regulamentação do ensino religioso pode variar de um Estado

178

CUNHA, Luiz Antonio. Automatização do campo educacional: efeitos do e no ensino religioso. Revista Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 10, jul/dez. 2006.

179

DINIZ, Débora; LIONÇO, Tatiana; CARRIÃO, Vanessa. Laicidade e ensino religioso no Brasil. Brasília: Letras Livres/Editora UnB/Unesco Brasil, 2010.

para outro por ser de competência das Unidades da Federação a sua organização e implantação. O caso mais notável é o do Rio de Janeiro, que:

homologou, com apoio de bispos católicos e pastores evangélicos, uma lei que se

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