• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – METODOLOGIA

5. Método e instrumento de recolha de dados

5.2. Instrumento

O guião de entrevista usado na recolha de dados junto dos encarregados de educação de jovens com insucesso escolar repetido foi adaptado de Évora (2013), uma vez que, tal como o referido autor, pretendíamos apreender a perceção familiar sobre os percursos escolares dos filhos.

Os ajustes resultaram, por um lado, da revisão da bibliografia alusiva à temática do insucesso escolar, aos seus fatores explicativos e às medidas educativas para o combater, e por outro, da necessidade de explorar as perceções sobre o território, dimensão que não foi considerada no estudo de Évora. As cinco perguntas do guião inicial foram “formuladas com o objetivo de investigar o fenómeno em toda a sua complexidade e em contexto natural” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 16) e, nessa medida, abrangentes e ambíguas. Essas questões abordavam os desejos para futuro do jovem, o papel da escola na concretização desses desejos, o percurso escolar e o papel da família no mesmo e a escolha da escola e do território que a envolve para estudar e viver.

Inicialmente foram aplicadas duas entrevistas teste apenas com cinco questões, mas à medida que cada entrevista decorria houve necessidade de as ajustar. Tal como defendem Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (2005, p. 166), “no decurso da entrevista, o investigador vai adaptando cada nova questão em função da resposta ou da informação que o indivíduo lhe acabou de dar, a fim de a aprofundar e de melhor compreender". Na primeira questão, por exemplo, em que se procurava saber as expectativas de futuro que os encarregados de educação tinham para os jovens, houve necessidade de fazer, entre outras, as seguintes adaptações: E a nível de profissão? Gostava que ele tivesse a casa

59 dele, ou não?; E profissão? O que é que ele diz, o que é a mãe acha?; A ideia seria que ele conseguisse trabalho?; Sair de casa?.

Outra estratégia usada foi a reformulação pelo entrevistador das questões, referindo por outras palavras o mesmo que se havia anteriormente questionado (Lessard- Hébert, Goyette, & Boutin, 2005). Muitas expressões usadas nas perguntas não foram imediatamente percetíveis para os participantes teste, pelo que se foi alterando a forma de colocar as perguntas. Tomemos novamente como exemplo a primeira pergunta, que procurava saber o que o participante considera ser um bom futuro para o filho, e que foi reformulada nas entrevistas teste, entre outras, para: O que podia ser um bom futuro para ele?; A nível de futuro o que é que espera que venha a acontecer na vida do seu filho? O que é que gostava que ele conseguisse?.

Outro aspeto testado foram as questões relativas aos dados biográficos que numa das entrevistas teste se colocaram no final e noutra se apresentam no início.

Na situação em que se colocaram as questões acerca de características biográficas no final houve a vantagem de reduzir o número de perguntas diretas e direcionadas, pois o participante já tinha cedido grande parte das informações no decorrer das respostas às questões sobre o percurso escolar do jovem, embora com a desvantagem de serem dados dispersos. As desvantagens foram: (1) a dispersão da informação biográfica, uma vez que o entrevistador teve dificuldade em controlar a informação cedida aos longo das outras questões. O entrevistador não sabia com clareza que respostas que já tinham sido apresentadas no discurso do participante, quando teve que colocar estas questões mais concretas; (2) a resposta inicial pouco desenvolvida à primeira questão, que não foi apenas precedida da apresentação do estudo. Por exemplo, na resposta à primeira questão a participante limitou-se referir que um bom futuro para o jovem passa por estudar no presente, embora não veja nele motivação e apresente o bairro social, onde vivem, como um entrave à conclusão dos estudos. Neste caso houve necessidade de reformular a pergunta e usar tópicos sobre as dimensões a explorar (e.g. emprego, autonomia e importância dos estudos).

No caso em que que as perguntas sobre dados biográficos foram colocadas no início, a desvantagem encontrada foi o facto de o participante tender a desenvolver as questões abordando assuntos paralelos (e.g. saúde da avó, processo de promoção e proteção de um primo do jovem), ainda assim, decidiu colocar-se as questões biográficas no início. Esta decisão implicou ter em conta o respeito pelo tempo da resposta do entrevistado e permitir que seguisse a linha de pensamento, mesmo quando se desviasse

60 do assunto questionado, sendo somente reconduzindo pelo entrevistador de forma subtil após concluir a ideia, ou parte dela. O momento destinado às questões biográficas foi pensado, também, como um investimento no estabelecimento da relação de confiança, tendo em conta, como nos dizem Marconi e Lakatos (2002, p. 96), que “quando o entrevistador consegue estabelecer certa relação de confiança com o entrevistado pode obter informações que de outra forma não seriam possíveis”.

Das entrevistas teste resultou ainda a necessidade de definir tópicos a abordar na resposta cada questão, com o objetivo de evitar dimensões não referidas e recolha de informações paralelas. A cada questão foram associados tópicos a explorar, caso houvesse necessidade de especificar as perguntas. Estas concretizações só foram usadas na medida do necessário para abordar as diferentes dimensões do insucesso escolar.

As duas entrevistas de teste permitiram também calcular a duração média das mesmas, apontando para cerca de 30 minutos.

O guião final de entrevista realizada aos encarregados de educação manteve as cinco questões, embora a linguagem tivesse sido revista e tivessem sido criados tópicos a explorar em cada pergunta (Anexo I).