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CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4. Perceção familiar da escola

4.2. Perceção familiar da vida escolar dos jovens

No que respeita à forma como as participantes veem a vida dos jovens na escola comecemos por referir as representações que têm sobre o inicio do percurso escolar dos filhos. A maioria das participantes falam de facilidade de adaptação, interesse escolar e bom comportamento durante o 1.º CEB.

A referência a comportamentos desadequados no 1.º CEB surge em quatro situações. As primeiras retenções são referidas como o momento em que os jovens agudizaram o seu comportamento na escola. Em dois casos acontecem logo no 2.º ano e noutro caso no 4.º ano. Tomemos como exemplo E5, em que a encarregada de educação, embora diga que a adaptação do jovem à escola foi aceitável, dá a entender que o comportamento do filho se tornou difícil após a conclusão do 2.º ano de escolaridade. A participante não apresenta justificação para a alteração de postura, mas esta coincide com a primeira retenção do J5: “Foi razoável, não tive razão de queixa de J5 na Pré; na primária, logo também não, na segunda também não tive razão de queixa, só depois” (E5).

Os comportamentos difíceis, que a mãe explica pela má qualidade das relações com os pares, que não compreendiam as suas limitações de visão, resultam na dificuldade de integração do jovem na escola: “O início da escola, no 1.º ano foi um bocadinho complicado; Porque ele usava óculos, porque os miúdos ninguém tinha óculos” (E8).

Segundo metade das participantes, os jovens têm atitudes positivas face a aspetos da vida escolar em seis casos. A atitude positiva dos jovens é dirigida a atividades que não se relacionam com a componente académica. Por exemplo, o J5 gosta de estar na biblioteca da escola, após expulsão da sala de aula, porque tem acesso a um computador com internet, sem que tenha uma tarefa dirigida pelo professor. O J6 gosta de realizar atividades práticas sem objetivo académico em conjunto com um assistente operacional, mesmo que estas tarefas sejam definidas como sanção para comportamentos menos adequados.

A colaboração com os assistentes operacionais é também uma dimensão não académica que promove no J8 uma atitude positiva em relação à escola. O jovem, segundo a participante, está sempre disponível e empenha-se no apoio à realização de tarefas de manutenção do espaço escolar: “Até chegavam a tirá-lo das aulas, para ele ajudar a fazer, a pintar um armário, o J8 estava sempre lá, sempre pronto para ajudar, (…) para fazer” (E8).

Em dois casos as atitudes positivas dos jovens face à escola revelam-se no empenho em disciplinas de cariz mais prático, como o Teatro, no caso da J7, que obteve uma nota de nível

105 quatro no final do período letivo que antecedeu a recolha dos dados. O J10 mostra empenho em trabalhos das disciplinas de Teatro, Informática e Educação Tecnológica e procura a participação da família nessas tarefas escolares para melhorar o resultado final.

No entanto, a atitude positiva face à escola como um todo, surge unicamente numa situação (E12). A J12 gosta da escola e mostra-o ao ficar desagrada com os períodos de férias escolares, como é visível nas palavras da mãe: “Nem gosta de estar de férias quando a escola está de férias” (E12).

As atitudes negativas dos jovens face à escola são dadas a conhecer através de manifestações de desinteresse. O desinteresse é revelado através da rejeição de algumas disciplinas, de não gostarem de estudar, não gostarem do espaço-escola e de tudo que a este se associe.

Algumas disciplinas são referidas como sendo o foco do desinteresse. Por exemplo uma das mães refere que a sua filha não gosta de duas disciplinas, Matemática e História. A J12 tem no seu percurso escolar resultados que levaram a retenções repetidas e, como não se reprova com níveis inferiores a três às duas disciplinas referidas, tal poderá indicar que a jovem terá tido resultados menos bons a outras disciplinas por desinvestimento, como a participante também refere: “Porquê… Não sei… Porque ela diz que não gosta (…) nem de matemática nem de história, diz que não percebe nada daquilo; (As retenções) foram quando ela teve aí mais... andava assim um bocadinho cabeça no ar” (E12).

Somente em duas situações o estudo é o aspeto que os jovens menos parecem gostar da sua vida escolar. Em E6, por exemplo, a participante diz que o jovem não gosta da escola, e que por isso mostra desinteresse facto associado, pela participante, ao não gostar de estudar, nem de aprender.

A desmotivação, que caracteriza a relação do jovem com a escola em E2, é apresentada como consequência da situação de retenção, por ter ultrapassado o limite de faltas, em que o J2 já se encontra a meio do ano letivo, aquando da recolha dos dados: “(Mesmo) reprovado por faltas tem ido para lá na mesma. Tem ido à escola à mesma (…) mas está um bocado desmotivado”. O facto de o jovem continuar a ir às aulas após a retenção é explicado pelas consequências do incumprimento da escolaridade obrigatória.

A obrigatoriedade escolar é referida por sete encarregadas de educação. Em quatro dessas situações (E2, E5, E10 e E12) a escolaridade obrigatória parece ser o fator determinante para que os jovens continuem a frequentar o estabelecimento de ensino, ainda que estes não gostem da escola (E2), queiram trabalhar (E6) ou prefiram não ir (E10 e E12).

106 Num caso (E7) a mãe diz que a jovem só ainda não saiu da escola porque a lei não o permite, já que por vontade da participante não estaria a estudar: “Por minha vontade ela até não estava na escola” (E7). Em sentido oposto, uma encarregada de educação (E8) afirma que gostava que o filho concluísse o ensino secundário porque assim teria a escolaridade obrigatória: “Gostava que ele tirasse o 12.º ano para ele ficar com a escolaridade obrigatória” (E8). É de realçar que este jovem terá que estudar além dos 18 anos para terminar o ensino secundário, uma vez que já tem no seu percurso escolar três retenções.