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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4. Medidas de combate ao insucesso escolar

4.2. Propostas curriculares alternativas

As propostas curriculares alternativas são outra forma que a escola tem para combater o insucesso escolar dos jovens. Considerando que o currículo é “o conjunto de conteúdos e objetivos que, devidamente articulados, constituem a base da organização do ensino e da avaliação do desempenho dos alunos, assim como outros princípios orientadores que venham a ser aprovados com o mesmo objetivo” (Decreto-Lei n.º 139/2012, p. 3477), esta medida passa por redefinir o que os alunos aprendem, como o fazem e como são avaliados.

Os princípios orientadores da organização, da gestão e do desenvolvimento dos currículos do ensino básico, da avaliação e certificação dos conhecimentos adquiridos e capacidades desenvolvidas pelos alunos, das diversas ofertas curriculares do ensino básico são definidos pelo Ministério da Educação, no Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho (Despacho normativo n.º 17-A/2015), contudo estão previstas algumas áreas curriculares de livre organização pela escola (Barroso, 2003b).

Esse ajuste curricular que as escolas podem fazer tem ganho maior importância nos últimos 30 anos e assenta na defesa da construção de um currículo integrado nos meios de pertença dos alunos, isso é, que os conteúdos escolares tenham relação com aquilo que é a vida dos alunos e da sua comunidade, assim como na necessidade de encontrar respostas para alunos de grupos ou culturas diversas (Roldão, 2003). Como é referido na Declaração de Salamanca “o currículo deveria ser adaptado às necessidades das crianças, e não vice-versa. As escolas deveriam, portanto, prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas à criança com habilidades e interesses diferentes” (UNESCO, 1994, p. 8). Ainda que a Declaração de Salamanca apenas se aplique aos alunos com NEE, as suas preocupações refletem-se na primeira alteração à organização do currículo feita pelo Ministério da Educação e Ciência no Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, onde se reforça a autonomia pedagógica e organizativa dos estabelecimentos

37 de educação e ensino quanto à gestão da componente curricular, permitindo às escolas adequar os currículos às necessidades dos alunos sem NEE.

Assim, para promover o sucesso escolar de todos e garantir que os alunos de 2.º e 3.º CEB adquirem os conhecimentos basilares que permitam o prosseguimento de estudos, além do ensino básico geral, são definidos: os cursos de ensino vocacional (VOC), os percursos curriculares alternativos (PCA), o programa integrado de educação e formação (PIEF) e os cursos de nível básico de dupla certificação, designadamente os cursos de educação e de formação (CEF) (Decreto-Lei n.º 139/2012).

Os VOC destinam-se a alunos a partir dos 13 anos de idade que manifestem constrangimentos com os estudos do ensino geral, designadamente aqueles alunos que tiveram duas retenções no mesmo ciclo ou três (ou mais) retenções em ciclos diferentes na totalidade do seu percurso escolar (DGEstE, 2017). O encaminhamento de um aluno para um percurso vocacional de ensino, resulta do parecer das equipas de acompanhamento e orientação com o comprometimento do seu encarregado de educação (Despacho normativo n.º 10-A/2015).

Com estes cursos pretende-se assegurar a criação de uma oferta no ensino básico que privilegia tanto a aquisição de conhecimentos em disciplinas estruturantes, como o português, a matemática e o inglês, como o primeiro contacto com diferentes atividades vocacionais. Estes cursos assentam no envolvimento de empresas e instituições parceiras, sediadas na área geográfica da escola, para prática simulada adequada à idade dos alunos e para a lecionação de módulos da componente vocacional (DGEstE, 2017). O seu funcionamento assenta num sistema modular procura incentivar, tanto o aluno como o seu encarregado de educação à frequência escolar com um projeto educativo que melhor responda ao percurso e às motivações de aprendizagem do aluno (Despacho normativo n.º 10-A/2015). O incentivo de alunos e encarregados de educação prende-se com a realização de atividades práticas reconhecidas como úteis e ligadas à definição de uma profissão.

Os PCA, de acordo com o Despacho normativo n.º 1/2006 do Ministério da Educação, destinam-se aos alunos até aos 15 anos de idade (inclusive), que se encontrem em situação de: insucesso escolar repetido; problemas de integração na comunidade escolar; ameaça de risco de marginalização; de exclusão social ou abandono escolar; registo de dificuldades condicionantes da aprendizagem (e.g. forte desmotivação, elevado índice de abstenção, baixa autoestima e falta de expectativas relativamente à aprendizagem e ao futuro, bem como o desencontro entre a cultura escolar e a sua cultura

38 de origem). O percurso curricular é diferente de turma para turma, uma vez que é concebido com base na caracterização do grupo de alunos que o vai frequentar, no diagnóstico das competências essenciais a desenvolver para o cumprimento do ciclo de escolaridade do ensino básico e nas habilitações de ingresso dos jovens (Despacho normativo n.º 1/2006). A matriz curricular apresentada deve, no entanto, assegurar a aquisição de competências essenciais definidas para o ciclo de ensino a que se reporta o percurso alternativo (Língua Portuguesa e Matemática) permitindo a permeabilidade entre percursos e a consequente transição para outras modalidades de formação, bem como a continuidade de estudos (Despacho normativo n.º 1/2006).

O PIEF foi criado pelo Despacho conjunto nº 882/99 do Ministério da Educação e do Trabalho e da Solidariedade (revisto pelo Despacho conjunto nº 948/2003 dos Ministérios de Educação e da Segurança Social, de 25 de agosto, publicado em 26 de setembro, e pela Portaria nº272/2012, publicada a 4 de setembro de 2012). Este programa tem como finalidade “promover a inclusão social de crianças e jovens mediante a criação de respostas integradas, designadamente socioeducativas e formativas de prevenção e combate ao abandono e insucesso escolar, favorecendo o cumprimento da escolaridade obrigatória e a certificação escolar e profissional dos jovens” (Portaria n.º 272/2012 , p. 5093).

O presente programa é uma resposta educativa integrada (escola/trabalho) e socialmente integradora (Despacho conjunto n.º882/99, 1999) para jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos, que, no momento da sinalização não frequentem, injustificadamente, as atividades letivas previstas no calendário escolar há mais de 20 dias úteis, seguidos ou interpolados (DGE, 2016). Os jovens, para serem destinatários desta medida, para além da falta de assiduidade, têm que cumprir uma destas condições: desfasamento etário igual ou superior a três anos face ao nível de ensino frequentado; situação de risco e/ou perigo; existência de processos de promoção e proteção, tutelares educativos ou processos penais. Podem ainda ser destinatários os alunos que, frequentando a escola, revelem insucesso escolar grave, ou seja, um desfasamento etário igual ou superior a três anos e que cumpram os requisitos da idade (DGE, 2016).

O PIEF pretende constituir-se como um percurso de competencialização para estes jovens em três grandes vertentes: escolar, social e pré/profissional (Despacho conjunto n.º 948/2003). Como tal, esta medida procura recuperar esses jovens para a aprendizagem académica e trabalhar uma (re)integração socializadora (Roldão & Santos, 2008).

39 Os CEF, por sua vez, são alternativas ao ensino regular distintas das atrás referidas, porque embora também se destinem preferencialmente a alunos em risco de abandono escolar, permitem um ensino profissional inicial como via privilegiada de transição para a vida ativa e simultaneamente a continuação de estudos (Decreto-Lei n.º 139/2012). Estes cursos, como nos dá a conhecer o Despacho conjunto n.º 453/2004 do Ministério da Educação e do Trabalho e da Solidariedade destinam-se, preferencialmente, a jovens com idade igual ou superior a 15 anos, em risco de abandono escolar ou que já abandonaram antes da conclusão da escolaridade de 12 anos.

No que aos 2.º e 3.º CEB diz respeito, estes cursos têm diferentes tipologias e proporcionam:

a) na tipologia 1, a equivalência ao 6.º ano de escolaridade e uma qualificação de nível I segundo o Quadro Nacional de Qualificações (QNQ);

b) na tipologia 2, a equivalência ao 9.º ano de escolaridade; uma qualificação de nível II segundo QNQ;

c) na tipologia 3, a equivalência 9.º anos de escolaridade e uma qualificação de nível II segundo de acordo com o QNQ;

d) na sua tipologia 4, uma qualificação de nível II do QNQ , com a possibilidade de certificação e creditação da formação obtida para prosseguimento de estudos em percursos de nível secundário (Despacho conjunto n.º 453/2004).

Os cursos CEF do 2.º e 3.º CEB têm as seguintes condições de acesso, por tipologia: 1- Inferiores ao 6º ano de escolaridade, com duas ou mais retenções; 2 - Com o 6º ano de escolaridade, 7º ou frequência do 8º ano; 3 - Com o 8º ano de escolaridade ou frequência, sem aprovação, do 9º ano de escolaridade; 4 - Titulares do 9º ano de escolaridade, ou com frequência do nível secundário com uma ou mais retenções, sem o concluir, estando em risco de saída escolar precoce e de inserção desqualificada no mercado de trabalho.

As duas medidas referidas, apoio educativo e respostas curriculares alternativas, incidem sobre uma parte dos alunos de um agrupamento de escolas, enquanto outras atuam sobre a escola e a comunidade como um todo, como é o caso do programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP).