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CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

3. Quotidiano dos jovens

3.1. Quotidiano pessoal

O dia a dia é, a nível pessoal, marcado pela forma como os jovens participam nas rotinas familiares, uma vez que, a participação na realização das tarefas domésticas, promove nos jovens o desenvolvimento de competências pessoais ao nível da autogestão, de que são exemplos a capacidade de adaptação e a iniciativa. Os jovens são assim incentivados a participar das tarefas de casa (e.g. manutenção do espaço doméstico, cuidar dos irmãos), ainda

90 que nem sempre as participantes consigam que estes as executem. Alguns jovens colaboram ainda nos negócios familiares, trabalhando juntamente com os pais.

Quanto à frequência de atividades lúdicas estruturadas desportivas, esta acontece em apenas dois casos (E2 e E8): o J2 que pratica futebol, num clube perto de casa; e o J8 que recentemente começou a praticar boxe, e tem que se deslocar a outra localidade para o fazer. Os jovens dois vão sozinhos para a atividade desportiva e são assíduos e pontuais.

O J6 frequenta atividades artísticas, desportivas e religiosas onde é pontual e assíduo. A participante faz um paralelismo com a escola, ou as explicações, de que mais à frente se falará, onde o J6 não se empenha e procura sempre não realizar o que lhe é proposto e por vezes chega tarde e sem material:

Está (na música) com o D. C.. Está a aprender baixo; Agora comecei a metê-lo também na bola em L3, acho que é no 4 ao cubo; Anda na catequese. Gosta (da catequese). Ele é acólito e tudo; Para as atividades não se atrasa (E6).

A música e a dança são também atividades referidas, ainda que em número reduzido. As condições socioeconómicas surgem, nalguns casos, para o impedimento do envolvimento dos jovens nesse tipo de atividades. Por exemplo, as J4 e a J9 gostariam de ter aulas de música, mas tal não é possível por falta transporte, carência económica e por sanção para o insucesso escolar. Em E4, os horários dos progenitores, o facto de viver no campo e de não ter autorização para viajar de autocarro sozinha além do trajeto casa-escola levam a que a jovem não possa frequentar uma atividade estruturada: “Porque ela andava no C. na dança, mas não conseguíamos pagar e ela portou-se mal na escola” (E9).

A realização de atividades não estruturadas, na maioria dos casos em casa, é uma forma de ocupação dos tempos livres. A referência à televisão e à internet (e.g. redes sociais, YouTube), como centrais na ocupação de tempos livres das jovens é feita por várias participantes:

Metem-se no quarto dela. Ela mete o Youtube na televisão e mete-se a fazer igual. E é assim que ela leva, a ouvir música, a cantar as músicas e a escrever letras no caderno; Às vezes ela apetece-lhe ir para Ludoteca, outras vezes não (E9).

Os jogos de computador e consola são, assim como a contacto com os pares através do telemóvel, são outras formas de ocupar os tempos livres: “é mais casa, é o computador, é a

91 Playstation a jogar; Agora é que ele começou a andar de bicicleta porque ele tinha bicicleta (mas não andava); Põe-se na ver televisão, põe-se no telemóvel a falar com os colegas” (E10). O andar de bicicleta e a as idas à praia são outras atividades referidas.

Outras atividades frequentadas pelos jovens podem ser vistas como um complemento à vida escolar, que visa promover o sucesso destes enquanto alunos, como é o caso de explicações, na atualidade, e de atividades de tempos livres (ATL) cuja principal finalidade é prestar apoio ao estudo e à realização dos trabalhos de casa, no passado.

A frequência de explicações, referida apenas por duas participantes, visa a que os jovens se dediquem às tarefas escolares sem que tenham que ser as participantes a supervisioná-los. Contudo, os jovens nem sempre estão motivados para a sua frequência, como é o caso do J6, que o revela-o através de atrasos, faltas, faltas intencionais de material, falta de atenção e comportamentos difíceis:

Quando ele não leva o caderno e os livros, (…) para não fazer na explicação; “ - O J6 não tem vindo. Há uma semana que não vem!”. Digo eu assim: “-Não vem?!? Mas ele diz que vai; Tem dias, se tiver os colegas na galhofa ele mete-se na galhofa nem liga ao que ela está a dizer (E6).

As explicações são centrais na rotina de estudo de dois jovens (J6 e J11) que parecem socorrer-se destas sobretudo para apoio na realização dos trabalhos de casa diários e não tanto como um espaço de esclarecimento de dúvidas sobre os conteúdos lecionados nas aulas. Em E6, as explicações são vistas pela participante como o destino diário do jovem após as aulas, onde faz as tarefas escolares que os professores definiram para casa, antes de ir para atividades lúdicas artísticas e desportivas. Ainda assim, a participante refere que em casa o jovem, por vezes estuda e mostra organização na gestão dos testes de avaliação, embora seja menos organizado no que toca aos conteúdos das aulas. O J6, faz assim diariamente os trabalhos de casa na explicação e, se for caso disso, depois das atividades lúdicas termina em casa, com a supervisão da progenitora alguma tarefa, especialmente se esta resultar de falta de trabalho nas aulas (e.g não passar os conteúdos das aulas). No caso da J11 a explicação é também diária, justificada pela incapacidade que a jovem revelou de organizar autonomamente a realização dos trabalhos de casa: “E eu dizia: ‘– Então não vais fazer? Não vais estudar? (…) Não! Não tenho nada para fazer. Eu disse: “– Não, vais para a explicação!’; Faz tudo. (E11).

Nos dois casos a organização do estudo e de trabalho escolar em casa é controlado pelos explicadores e quando foi entregue autonomamente aos jovens, ainda que com supervisão

92 familiar, teve repercussões negativas nos resultados escolares daí que as famílias tenham optado por manter este suporte privado às rotinas de estudo dos jovens.

As famílias procuram compensar as limitações dos encarregados de educação ajudarem nas tarefas escolares através das explicações, ou seja, delegando essa função. Tomemos como exemplo a participante (E6) que dá a conhecer as suas dificuldades no apoio ao estudo do filho, referindo sentir-se frágil emocionalmente e ter dificuldade em impor as suas ideias sobre os conteúdos escolares ao J6, que por sua vez parece não lhe reconhecer competências adequadas para ensinar:

Tenho muita coisa na cabeça e não lhe consigo ensinar, já tentei, mas não consigo; Eu ensino de uma maneira ele diz logo que não é assim como eu lhe estou ensinando que é de outra maneira, e é assim eu estou com uma depressão (E6).

O quotidiano dos jovens tem também uma dimensão escolar caracterizada pelo cumprimento de rotinas de estudo (realização dos trabalhos de casa, estudo do conteúdos e preparação para os testes), gestão do horário escolar e extra-escolar, aspetos que se expõem no próximo momento do trabalho.