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CAPÍTULO II – METODOLOGIA

4. Participantes

Iniciaremos este ponto com a descrição do processo de seleção dos participantes, a que se seguirá a sua caracterização. São ainda caracterizados os agregados familiares e os jovens.

4.1. Seleção dos participantes

Uma vez que era objetivo deste trabalho estudar a perceção familiar sobre as situações de insucesso escolar repetido, ou seja, saber o que pensavam os encarregados de educação sobre os percursos escolares dos filhos que já reprovaram mais do que uma vez, optou-se pela constituição de uma amostra intencional.

No que diz respeito à constituição da amostra, e considerando que se pretendeu estudar a perceção familiar das situações de insucesso escolar repetido, foram utilizados os seguintes critérios de seleção: (1) os encarregados de educação participantes tinham que ter relação de parentesco com os educandos; (2) os alunos tinham que ter no percurso escolar insucesso escolar repetido (mais de duas reprovações).

No sentido de excluir o género como fator de análise foi pré-definido, aquando da seleção dos participantes, que a amostra seria constituída por igual número de encarregados de educação de rapazes e raparigas.

Os participantes foram selecionados, de acordo com os critérios descritos, nas duas escolas do 2.º e 3.º CEB de um mesmo agrupamento de escolas, caracterizado no ponto anterior do presente trabalho. Os contactos foram conseguidos através do agrupamento de escolas. Num primeiro momento, o técnico de psicologia da escola ligou aos encarregados de educação selecionados, explicou de forma breve em que consistia o estudo e perguntou se os mesmos aceitavam participar. Só depois de estes aceitarem é que os contactos dos participantes foram cedidos para que o entrevistador marcasse as entrevistas.

53 Seguidamente caracterizam-se os participantes, que são os encarregados de educação dos jovens, para, em seguida, fazer referência aos agregados familiares e aos jovens.

4.2.3. Encarregados de Educação

Neste estudo participaram 12 encarregados de educação de 12 jovens com insucesso escolar repetido. Seguimos o critério sugerido por Guest, Bunce e Johnson (2006) que indicam que o número deva ser entre 6 e 12 entrevistas porque a saturação da amostra, ou seja, o ponto ao partir do qual os dados já não acrescentam nada de novo para a investigação, acontece por volta da 12.ª entrevista.

Com o propósito de os caracterizar, os 12 participantes foram inquiridos acerca da idade, género, parentesco face aos jovens, habilitações literárias e ocupação profissional.

No que diz respeito à idade, os participantes têm entre os 30 e os 55 anos (M = 39,9 anos; DP = 7,27). Quanto ao género, são todos do sexo feminino. Ao nível do parentesco com os jovens, 11 participantes eram mães e uma era tia-avó.

As habilitações literárias dos participantes em nenhum caso são superiores ao 3.º CEB (M = 6,25; DP = 2,05). Dois participantes têm o 1.º CEB, um parcial e outro completo, tendo a maioria escolaridade ao nível do 2.º CEB (6.º ano). No que diz respeito aos percursos educativos, um encarregado de educação referiu que realizou uma formação profissional de jardinagem que lhe permitiu simultaneamente concluir o 2.º CEB. Outro participante revelou ter formação profissional. Houve ainda uma situação em que o encarregado de educação concluiu o 3.º CEB através de um processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC). As baixas qualificações dos encarregados de educação refletem-se nas atividades profissionais que desenvolvem, como se pode observar nos dados apresentados na Tabela 1.

TABELA 1

Ocupação profissional dos encarregados de educação

Ocupação profissional Encarregado de educação

Desempregado 3

Serviços ocasionais de limpeza 2

Vigilante 1

54

Funcionário agência funerária 1

Proprietário de café 1

Cozinheiro 1

Funcionário de armazém de fruta 1

Trabalho doméstico 1

Total 12

Cinco encarregados de educação não têm uma atividade profissional estável, dos quais três estão desempregados, enquanto dois fazem ocasionalmente serviços de limpeza. De referir ainda que o participante que trabalha em jardinagem o faz em Contrato de Emprego Inserção (CEI1) numa Junta de Freguesia. O vigilante e o funcionário de

agência funerária passaram por um período de desemprego e descrevem como difícil a reintegração no mercado de trabalho. O funcionário de armazém de fruta encontra-se de baixa médica prolongada.

No sentido de contextualizar as perceções familiares sobre os percursos escolares dos jovens com insucesso escolar repetido, além da caracterização dos participantes, apresentam-se dados sobre as famílias dos jovens. Acrescentam-se assim dados relativos à dimensão do agregado familiar, tipologia de habitação e à ocupação profissional do pai, padrasto ou tio com guarda de facto.

4.2.2. Agregado familiar

Os agregados familiares oscilam entre três e sete pessoas (Mo = 5). A maioria dos jovens (n = 9) pertence a famílias numerosas, com três ou mais filhos.

Os agregados familiares têm no máximo cinco filhos e, além do progenitor/progenitores, ou casal reconstruído e filhos coabitam, em três casos, avós, tios, primos e sobrinhos.

As habitações são na sua maioria térreas e com terreno o que permite às famílias praticar uma agricultura de subsistência. Quanto à propriedade: duas casas são cedidas por familiares; cinco arrendadas, sendo que nenhuma é de habitação social; e cinco são casas próprias.

A dimensão das habitações adequa-se em geral ao número de elementos da família, tendo entre dois a quatro quatros. Apenas três famílias têm um rácio de pessoas por quarto superior a dois.

1 O CEI define-se como um contrato que permite a realização de trabalho socialmente necessário por parte

55 Quanto à estrutura familiar, as famílias nucleares são a maioria, num total de cinco casos em que mãe, pai e filhos do casal vivem juntos. Só uma família é extensa, verificando-se a coabitação sob economia comum de três gerações. As famílias reconstruídas são três e tiveram origem em famílias monoparentais femininas. Em duas situações, as participantes do estudo voltaram a ter uma relação conjugal após separação dos progenitores dos jovens. Uma reconstrução familiar aconteceu depois de um episódio de viuvez. Três famílias são monoparentais femininas, com os jovens a viver só com a mãe e os irmãos, com recurso somente ao vencimento desta.

No que diz respeito às habilitações académicas dos progenitores masculinos, grupo em que se incluem um padrasto e um tio por assumirem respetivamente a educação e a guarda de facto dos jovens, cinco têm o 1.º CEB, dois o 2.º CEB, um tem o 7.º ano e quatro o 3.º CEB (M = 6,25; DP = 2,26). A média de escolaridade é neste grupo exatamente igual à dos participantes, embora o desvio padrão seja ligeiramente maior, com apenas dois progenitores a ter o 6.º ano de escolaridade, dividindo-se os restantes entre 1.º e 3.º CEB. No caso dos participantes há sete casos com o 2.º CEB. Nenhum dos participantes ou progenitores masculinos tem escolaridade superior ao 3.º CEB. Estamos perante jovens descendentes de pais pouco escolarizados.

As baixas qualificações dos progenitores masculinos dos jovens relacionam-se com as atividades profissionais que desenvolvem. A Tabela 2 dá a conhecer as ocupações dos progenitores do sexo masculino.

TABELA 2

Ocupações profissionais dos progenitores

Ocupação profissional Progenitor

Servente de Pedreiro 3

Desempregado 2

Bombeiro 1

Eletricista 1

Funcionário de limpeza de carros 1

Mecânico 1

Motorista de longo curso 1

Pescador 1

Proprietário de café 1

56 Dois dos 12 progenitores estão desempregados. Embora sejam áreas geográficas com tradição no sector das pescas e agricultura (L2 e L1 respetivamente) apenas um progenitor exerce funções na pesca, que acumula com pensão de velhice, e nenhum na agricultura. Três progenitores trabalham no setor da construção civil.

Além dos participantes e dos progenitores, é importante apresentar os jovens cujo percurso escolar, com insucesso repetido, se procurou conhecer através das perceções familiares.

4.2.3. Jovens

Os 12 jovens (seis raparigas e seis rapazes) têm idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos (M = 14; DP = 1,20). Ao cruzar a idade dos jovens com a das mães, verifica- se que duas tinham 17 anos aquando do nascimento dos jovens, sendo, portanto, menores de idade (mães adolescentes).

No que diz respeito à escolaridade, oito jovens estavam matriculados no 2.º CEB e quatro no 3.º CEB. A média de escolaridade atual dos jovens (M = 6,25) é igual à média de escolaridade dos encarregados de educação (mães e tia com guarda de facto) e do grupo designado como progenitores masculinos (pais, padrasto e tio com guarda de facto).

É de referir que metade dos jovens (n = 6) já igualou ou superou a escolaridade dos encarregados de educação. Um jovem tem escolaridade igual ao encarregado de educação e cinco jovens já têm mais habilitações do que os respetivos encarregados de educação.