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Para coleta dos dados, desenvolvemos e aplicamos uma sequência didática, utilizamos diário de bordo, para registro das anotações, das vivências e reflexões, acerca das atividades desenvolvidas na intervenção, utilizamos filmadoras para realizar as filmagens das atividades desenvolvidas nas turmas e nos grupos de surdos e gravadores de voz para registro das atividades desenvolvidas pelos ouvintes. Tanto os dados das filmagens como os dados das gravações foram transcritos para que pudéssemos fazer a análise da argumentação a partir dos turnos de fala dos sujeitos envolvidos.

As atividades propostas na sequência didática foram aplicadas aos estudantes em 6 semanas, envolvendo, no total, 12 aulas do componente curricular Física. Cada momento de coleta teve uma duração total de 100 minutos, correspondente à carga horária semanal do referido componente curricular. Conforme mencionamos anteriormente, os professores envolvidos optaram por computar essas aulas como carga horária do componente para que não houvesse comprometimento do calendário letivo adotado na escola.

Ao adentrarmos em cada sala de aula, no primeiro momento, com a ajuda da interprete, fomos apresentados às turmas, a fim de informarmos aos estudantes o

porquê da realização de tais atividades. Os estudantes receberam informações, de maneira geral, acerca da pesquisa e o que seria desenvolvido ao longo dos dias que estaríamos juntos e, assim, entregamos aos alunos duas cópias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que eles se inteirassem dos objetivos da pesquisa e do uso que seria feito das informações coletadas e, assim, obtermos o consentimento de uso dessas informações pelos alunos ou pelos responsáveis, caso o aluno fosse menor de idade.

4.3.1 Diário de bordo

A utilização do diário de bordo permitiu que fosse possível, durante o desenvolvimento da sequência didática, identificarmos os comportamentos dos estudantes durante a execução das atividades e explorarmos tópicos que os alunos não se sentiram à vontade para discutir, tais como as dúvidas pertinentes ao conteúdo e à execução das atividades, por exemplo. Assim, nosso diário de bordo serviu para registrar as ações dos estudantes, do interprete e do próprio pesquisador em seu contexto temporal-espacial.

O diário de bordo foi utilizado a fim de registrarmos os desdobramentos da intervenção. Este consistiu de um caderno no qual anotávamos o dia, hora, o período de coleta e duração da aula, os objetivos a serem alcançados, os procedimentos adotados no desenvolvimento da sequência didática e nossas reflexões acerca dos desdobramentos e da dinâmica das aulas. Esses registros serviram para ajudarmos a elucidar os resultados obtidos após a análise dos dados.

Nos diários de bordo procuramos realizar: uma caracterização do contexto de pesquisa e do ambiente onde a intervenção foi desenvolvida; a dinâmica da sala de aula; uma descrição dos eventos atípicos que envolveram os distintos momentos em que aplicamos a sequência didática; uma descrição das atividades desenvolvidas em cada aula, por fim, nossa reflexão pessoal em relação aos procedimentos metodológicos adotados, às dificuldades encontradas na coleta e na realização das atividades pelos alunos, às mudanças de perspectivas e aos demais esclarecimentos pertinentes. Enfim, o diário de bordo nos auxiliou para refletirmos e ajudarmos a encontrar possíveis explicações para os resultados encontrados em nossas análises, no momento em que analisamos e interpretamos os dados de nossa pesquisa.

4.3.2 Sequência Didática

A sequência didática foi desenvolvida para ser aplicada por professores de Física, em quaisquer turmas de 1º ano do Ensino Médio, para o desenvolvimento do conteúdo Cinemática, levando em consideração uma abordagem discursiva e a resolução de situações-problema, próprias do cotidiano dos alunos, que envolvam este conteúdo.

A sequência didática foi composta por atividades que buscaram avaliar o entendimento dos estudantes sobre o conteúdo, bem como por atividades que buscaram desenvolver práticas argumentativas, por parte dos alunos, na resolução das situações-problema propostas. Desse modo, a sequência foi composta pelos seguintes instrumentos e estratégias metodológicas, a saber: Pré-teste; Aulas discursivas sobre Cinemática; Resolução de uma atividade intermediária escrita, com questões discursivas e de cálculos sobre Cinemática, a partir de situações-problema, para avaliação do entendimento explicitado pelos estudantes no decorrer da intervenção; Desenvolvimento de uma atividade discursiva em grupos, para avaliação da argumentação apresentada na resolução das situações-problema propostas na atividade; Desenvolvimento de uma atividade experimental sobre Movimento Retilíneo Uniforme (MRU), para que promovesse a argumentação, em LIBRAS, pelos surdos e em língua portuguesa, pelos ouvintes; Por fim, a aplicação de uma atividade escrita (pós-teste) para avaliar o nível de entendimento explicitado pelos alunos após a intervenção.

4.3.2.1 Aplicação piloto da Sequência Didática

Nossa sequência didática foi avaliada inicialmente a partir do desenvolvimento de uma aplicação piloto realizada no ano letivo de 2017, na mesma escola em que desenvolvemos a nossa intervenção para coleta e análise dos dados. Nesta aplicação piloto, desenvolvemos a primeira versão de nossa sequência didática em três turmas de 1ª ano, com o total de alunos mostrado na Tabela 2:

Tabela 2: Número de alunos que participaram da aplicação piloto

Turma

Número de alunos – 1º ano

Número de alunos ouvintes Número de alunos surdos Total Sexo masculino Sexo feminino Sexo masculino Sexo feminino 1 14 17 2 1 34 2 13 16 1 2 32 3 15 12 2 -- 29 Total 42 45 5 3 95

Participaram desta aplicação piloto uma professora licenciada em Física e três intérpretes, dois com formação em Letras e um com formação em Matemática, todos com curso de LIBRAS habilitado pelo PROLIBRAS.

Para este estudo, utilizamos os mesmos instrumentos que utilizamos para a coleta definitiva dos dados que foram apresentados nesta Tese, a saber: (i) sequência didática, composta por pré-teste; atividade intermediária escrita, para avaliação do entendimento; atividade discursiva e atividade experimental, em grupo, para avaliação da argumentação, em LIBRAS e em língua portuguesa; pós-teste; (ii) filmagens e gravações e, por fim, (iii) diário de bordo.

Desse modo, nesta aplicação piloto desenvolvemos o protótipo inicial da sequência didática, com o intuito de avaliar possíveis problemas e limitações da mesma, realizar as correções necessárias, nas situações que identificamos a existência de inconsistências. Após esta aplicação inicial da sequência didática, realizamos os ajustes necessários para que chegássemos à segunda versão que foi a que avaliamos e discutimos os resultados nesta Tese.

4.3.3 Filmagens e gravações

Para a gravação dos argumentos construídos em LIBRAS, realizamos videogravações, durante as atividades, uma vez que, em decorrência da especificidade linguística, viso-espacial, a utilização de gravações de áudios não teríamos condições de avaliarmos e transcrevermos os episódios argumentativos nessa modalidade linguística. Para a coleta de dados, nas atividades da sequência

didática que demandavam a construção de argumentos, nos grupos de ouvintes, optamos por utilizar gravadores para registro das falas destes sujeitos. Ressaltamos que, além das filmadoras que focalizaram o grupo de alunos surdos, utilizamos mais duas filmadoras, situadas sobre tripés, em dois dos cantos da sala para que pudéssemos fazer um registro geral do desenvolvimento das atividades, bem como registramos algumas informações, além das registradas no diário de bordo, que poderiam nos ajudar na interpretação dos resultados das análises.

Desse modo, ressaltamos que a utilização de filmagens em nossa pesquisa, além de nos auxiliar no registro de como os alunos constroem os conhecimentos científicos durante as aulas, as filmagens nos possibilitaram estudar e compreender como se dá o detalhamento do processo de ensino-aprendizagem, sobretudo aquele que se dá por meio do desenvolvimento de práticas argumentativas. Sendo um instrumento de coleta essencial para avaliarmos a argumentação em LIBRAS, construída nos grupos de surdos.

Como o pesquisador ministrou o conteúdo anterior ao conteúdo de nossa sequência didática, procuramos instalar o equipamento de filmagem desde o nosso primeiro dia de aula, ou seja, antes de nossa coleta propriamente dita, para que os sujeitos da pesquisa pudessem se acostumar com a ideia de serem filmados. O que acreditamos que pode ter contribuído para minimizar possíveis perdas durante a nossa coleta e intervenção.