• Nenhum resultado encontrado

1. Modificações associadas ao processo de envelhecimento

1.2. O envelhecimento psicológico e cognitivo

1.2.1. Inteligência

As concepções acerca do declínio intelectual associado há idade sofreram sucessivas modificações à medida que a investigação na área se foi desenvolvendo. Actualmente, a maioria dos dados acerca do funcionamento cognitivo provém de estudos realizados no âmbito da abordagem psicométrica, sendo as seguintes as provas mais utilizadas para a avaliação da inteligência: Escala de Inteligência de Wechsler (WAIS) e o Teste de Aptidões Mentais Primárias de Thurstone (PMA). Os resultados podem resumir-se nas seguintes conclusões (Simões, 1982; Schaie, 1983; Schaie, 1993; Montorio & Izal, 1999; Belsky, 2001; Marchand, 2001; Schaie & Willis, 2002):

a) As primeiras investigações acerca da relação entre a inteligência e a

idade tiveram lugar entre a década de 20 e a década de 50 e baseavam-se em estudos transversais. A posição dominante era a de um declínio da inteligência com a idade que tinha o seu início por volta dos 20 ou 30 anos de idade.

b) A partir da década de 50 e graças, sobretudo, aos estudos longitudinais,

defende-se que a inteligência permanece relativamente estável durante a vida adulta. Ou seja, a maioria destes estudos constatou que uma parte significativa dos sujeitos apresentava um leve ou nulo declínio nas pontuações em testes de inteligência com o aumento da idade. Concluiu-se então que os estudos transversais não reflectiam as mudanças na inteligência devidas à idade, mas sim as diferenças geracionais ou de coorte.

É nesta fase que se integram os estudos de Raymond Cattell e de John Horn que defendem um modelo de inteligência mais complexo, composto por duas dimensões: a inteligência fluída, mais relacionada com aquilo a que Wechler designou por “native mental ability” (“habilidade mental inata”), reflectindo presumivelmente a qualidade do cérebro de cada sujeito e que se prende com capacidades básicas tais como a atenção, a memória e as capacidades de raciocínio; e a inteligência cristalizada, representada por testes de informação geral e vocabulário, e que reflecte as capacidades mentais que dependem da experiência, educação e aculturação. Horn e Cattel (1967) revelaram a existência de um declínio na inteligência fluída e estabilidade ou até incremento da inteligência cristalizada durante o período da vida adulta. Ou seja, contrariamente ao declínio linear da inteligência protagonizado pelos primeiros estudos, estes destacam o carácter multidireccional da relação entre idade e inteligência, com algumas funções cognitivas a aumentar com a idade, outras a diminuir e outras a manterem-se estáveis.

c) Todavia, o optimismo dos estudos longitudinais foi apaziguado pelas limitações que lhe são atribuídas, mais especificamente, o abandono selectivo dos sujeitos que

constituem a amostra. Ou seja, os sujeitos que abandonam o estudo têm uma característica comum: quando comparados com os sujeitos que continuam no estudo longitudinal, geralmente têm desempenhos inferiores nos testes de inteligência.

No paradigmático Seattle Longitudinal Study, onde foi utilizado o Teste de Aptidões Primárias de Thurstone, a equipa de investigadores liderada por Schaie controlou esta limitação – o abandono da amostra (mortalidade experimental) - utilizando amostras independentes. Os resultados obtidos revelam que o início do declínio intelectual se situa um pouco antes das idades estipuladas pelos estudos longitudinais, embora não seja universal e só é significativo a partir dos finais da sexagésima década de vida.

Efectivamente, os principais resultados deste estudo permitiram a Schaie e colaboradores (Hertzog & Schaie, 1988; Schaie, 1996) estabelecer as seguintes conclusões: até ao final da terceira década de vida /inícios da quarta verificam-se progressos na maior parte das aptidões intelectuais; a partir daí começa uma etapa de estabilidade até meados do decénio 50/princípios do decénio 60. Nos últimos anos da sexta década de vida começam os declínios estatisticamente significativos.

d) Porém, estes resultados proporcionam apenas uma visão panorâmica do desenvolvimento intelectual na idade adulta. Assim, generalizar torna-se demasiado arriscado já que as diferentes capacidades mostram modelos de mudança/evolução distintos. Deste modo, mais uma vez a distinção entre inteligência fluida e cristalizada torna-se fundamental para perceber que capacidades resistem à passagem do tempo. As pontuações que medem as capacidades fluidas relacionadas com a rapidez, atenção, concentração e raciocínio indutivo começam a diminuir em geral por volta dos 30 anos. Ao contrário, as capacidades cristalizadas, reflectidas nas destrezas verbais, permanecem estáveis até aos 60 anos de idade.

Ainda assim, a adopção de uma perspectiva diferencial, permite verificar que mudanças substanciais na inteligência só ocorrem tardiamente na vida dos indivíduos e para aquelas aptidões que foram menos centrais na sua experiência de vida e, portanto, talvez menos objecto de prática. Se bem que pelos 60 anos quase todos os indivíduos tivessem registado descidas modestas numa das cinco aptidões (significado verbal, relações espaciais, raciocínio indutivo, números e fluidez verbal), a verdade é que quase nenhum apresentava declínios no conjunto das mesmas, nem sequer aos 88 anos.

As razões que subjazem ao declínio de algumas capacidades mentais com a idade ainda não são claras. Todavia, muitas das diferenças em aptidões específicas, associadas ao declínio de algumas aptidões intelectuais, parecem relacionar-se com

três aspectos do processamento cognitivo: a diminuição da velocidade de processamento da informação, o défice na memória de funcionamento e os decréscimos na acuidade visual e auditiva (Montorio & Izal, 1999; Belsy, 2001; Marchand, 2001; Schaie & Willis, 2002; Spar & La Rue, 2005).

Outros factores como problemas de saúde (por exemplo, doenças crónicas como as cardiovasculares), variáveis de tipo social (nomeadamente, isolamento social, nível educacional, nível de estimulação ambiental, rendimento económico), a personalidade (por exemplo, auto-conceito e flexibilidade) têm demonstrado uma grande influência nas pontuações dos sujeitos em testes de inteligência (Montorio & Izal, 1999; Marchand, 2001; Schaie & Wiilis, 2002).

Por outro lado, existem investigações que têm analisado o efeito e amplitude de intervenções com vista à activação cognitiva de sujeitos idosos. De entre estas, destacam-se as intervenções desenvolvidas no âmbito do projecto ADEPT (Adult Development and Enrichment Project). Trata-se de um programa sistemático iniciado por Schaie e colaboradores nos finais dos anos 70, com o fim de demonstrar que as mudanças no QI (Quociente de Inteligência) relacionadas com a idade se podiam inverter. Os resultados mostraram que: todos os sujeitos treinados melhoravam nas tarefas em que treinavam; o treino cognitivo transferia-se para testes semelhantes; os incrementos mantinham-se após 6 meses (Belsky, 2001).

Até aqui foi apresentada uma síntese dos resultados da investigação sob uma perspectiva psicométrica tradicional. Schaie e Willis (2002) expressam as suas dúvidas acerca da validade de provas baseadas no QI para avaliar o funcionamento cognitivo nas idades avançadas. Dado que o nível educacional, a familiaridade com as provas ou a ansiedade influenciam os resultados em testes de inteligência padronizados (como a WAIS ou o PMA), quando se administram a pessoas idosas, a sua capacidade para medir a capacidade cognitiva é duvidosa (Schaie, 1977; Schaie & Willis, 2002). Além disso, este tipo de escalas foram desenvolvidas para predizer o rendimento escolar ou académico de crianças e jovens, pelo que podem enviesar os resultados das investigações em desfavor de adultos e idosos (Schaie & Willis, 2002).

Deste modo, tem-se vindo a defender a necessidade de elaborar provas que possuam validade ecológica, isto é, adequadas às exigências da vida real e às capacidades cognitivas necessárias numa determinada idade (Izal & Montorio, 1999). Neste sentido, Schaie e Willis (2002) consideram que o ciclo de vida se deve dividir em distintas etapas em função das capacidades intelectuais relevantes em cada momento (ver figura 1.1). A partir desta classificação, facilmente se compreende que a capacidade de aprendizagem, comportamento inteligente dominante na infância

e adolescência, seja adequadamente medida por provas de inteligência padronizadas (por exemplo, a WAIS) que avaliam a velocidade de aprendizagem e capacidades relacionadas com o rendimento escolar. No entanto, na adultez, o comportamento inteligente caracteriza-se pela tomada de decisões lógicas, pela sensatez e, em geral, pela manutenção de uma perspectiva equilibrada da vida. Para avaliar este tipo de capacidades Schaie e Willis (2002) reclamam a necessidade de provas baseadas em situações da vida quotidiana que requerem um comportamento inteligente, ou seja, centradas no conceito de inteligência prática.

A perspectiva da inteligência prática refere-se aos processos intelectuais necessários à resolução de problemas da vida real, onde também se incluem o contexto e factores não cognitivos. Assim, para compreender o funcionamento intelectual na vida diária, deve considerar-se a sua relação com outros factores que influenciam, a resolução do problema: crenças, motivação, eficácia, emoções, contexto físico e social (Willis, 1996).

Figura 1.1 – Estádios de Desenvolvimento Cognitivo segundo Schaie

Adaptado de Schaie e Willis (2002)

Infância e adolescência Início da adultez Meia idade Jovens idosos Idosos velhos Idosos muito velhos Aquisição Realização Responsabilidade Execução Reorganização Reintegração Legado

Existem já investigadores que, no âmbito do funcionamento cognitivo na velhice, propuseram explicações teóricas que procuram integrar as diferentes perspectivas descritas anteriormente: a psicométrica, baseada nas capacidades intelectuais, e a centrada na inteligência prática. Por exemplo, Baltes e os seus colaboradores defendem um modelo de inteligência constituído por duas dimensões: a mecânica e a pragmática (Baltes & Schaie, 1976). A dimensão mecânica implicaria as capacidades intelectuais na forma em que são definidas sob um ponto de vista psicométrico, ao passo que a dimensão pragmática se refere ao funcionamento cognitivo relacionado com a solução de problemas e com a vida quotidiana. A questão agora seria até que ponto as diferenças associadas à idade encontradas nas primeiras se relacionam com a execução na vida diária (Izal & Montorio, 1999).

1.2.2. Memória e Aprendizagem

Amplamente difundida na nossa sociedade reside a crença de que o envelhecimento acarreta inevitavelmente uma perda da capacidade para recordar. A maioria das pessoas idosas também acredita que a sua memória piorou com a passagem do tempo. Estas expectativas generalizadas chegam mesmo a ser uma profecia que se auto-cumpre para algumas pessoas.

Actualmente, é aceite na comunidade científica que a memória se modifica com a idade. Graves problemas de memória estão relacionados com determinadas doenças mais frequentes em idades avançadas (por exemplo, a doença de Alzheimer), mas as modificações a nível da memória constituem igualmente uma característica do processo normal de envelhecimento. Existem vários estudos que têm assinalado o declínio da memória com a idade. Todavia, também se observa que nem todas as capacidades mnésicas se alteram da mesma forma. Enquanto que algumas tarefas de memória revelam grandes diferenças com a idade (por exemplo, a nível da memória episódica ou de trabalho), outras revelam poucos efeitos da idade (nomeadamente, a memória procedimental ou a semântica).

As explicações para esta divergência de resultados dependem da forma como a memória é conceptualizada. Algumas teorias advertem também que quantos mais recursos cognitivos forem necessários para lembrar adequadamente qualquer coisa, maiores serão as diferenças de idade, com desvantagem para os mais velhos. Outros modelos defendem que os efeitos da idade se limitam a estruturas ou processos de memória específicos. Também se tem sugerido que as diferenças de memória

encontradas em diferentes grupos de idade não reflectem os efeitos da idade, mas de outras variáveis não controladas, como a motivação ou a ansiedade, ou a abordagem metodológica (provas de laboratório versus provas em situações reais).

Cabe então desmistificar algumas ideias associadas à perda de memória com a idade, com base em resultados de investigações e que se podem resumir nas conclusões que a seguir se apresentam (Simões, 1982; Smith, 1996; Montorio & Izal, 1999; Bäckman, Small & Wahlin, 2001; Belsky, 2001; Marchand, 2001; Schaie & Willis, 2002; Spar & La Rue, 2005).

Normalmente, a memória humana é perspectivada como um processo que envolve três etapas: codificação, armazenamento e recordação da informação (Schaie & Willis, 2002). A aprendizagem humana pode ser considerada como a fase de aquisição ou codificação da informação.

A informação pode ser codificada e armazenada em três sistemas de memória: a memória sensorial, a memória a curto prazo e a memória a longo prazo. Normalmente, o que distingue estes três tipos de memória é a duração da informação armazenada e a capacidade de armazenamento. A memória sensorial retém os estímulos do meio, sem análise semântica, durante décimas de segundo. Nela se distingue a memória icónica (visual) e ecóica (auditiva). A memória sensorial tem sido escassamente estudada, no entanto, a maioria dos resultados não revela diferenças significativas associadas à idade neste sistema mnésico.

A memória a curto prazo retém pequenas unidades de informação por um período de tempo ligeiramente superior ao da memória sensorial. É aqui que a informação é preparada para passar para a memória a longo prazo. A memória a curto prazo pode ser dividida em memória primária e memória de trabalho. A memória primária, que envolve a retenção passiva de uma pequena quantidade de informação e a sua recordação imediata (por exemplo, reter um número de telefone até o escrevermos num papel), tem pouca capacidade e é muito breve. A memória de trabalho envolve simultaneamente a retenção da informação e a sua manipulação para resolver problemas ou tomar uma decisão. No tocante à memória primária, a investigação tem demonstrado modestas diferenças devidas à idade, contrariamente à memória de trabalho que se vê negativamente afectada com a passagem do tempo. Algumas das explicações para este défice residem na possibilidade da diminuição da capacidade de armazenamento da informação na memória de trabalho, em idades avançadas. Outros sugerem a possível ocorrência de défices no processamento da informação, ou seja, à medida que as tarefas se tornam mais complexas, os idosos podem ter mais dificuldade em empregar estratégias eficientes de processamento da informação. Outra justificação possível reside na

possibilidade de haver uma diminuição da velocidade que a memória de trabalho necessita para levar a cabo estas tarefas.

A memória a longo prazo é perspectivada como sendo um sistema que possui uma larga capacidade de armazenamento da informação e onde esta pode ser retida durante longos períodos de tempo. Normalmente, divide-se em memória procedimental, semântica e episódica. A procedimental é a subjacente às competências aprendidas, ou seja, uma vez aprendida uma competência básica (por exemplo, manejar uma raquete de ténis ou conduzir um automóvel), recordamo-la automaticamente quando o estímulo se apresenta de novo. A memória semântica envolve a memória para o capital de conhecimentos (por exemplo, lembrar quem foi o primeiro rei de Portugal ou a capital de França). A episódica é a memória para os acontecimentos da vida que se vão sucedendo no quotidiano (por exemplo, recordar onde se estacionou o automóvel ou o que se fez no dia anterior). A memória episódica tem sido considerada como o sistema mais frágil, na medida em que é mais vulnerável à passagem do tempo. Por exemplo, dentro de um mês um cidadão português continuará a saber que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal, saberá conduzir um automóvel, mas muito provavelmente não se recordará em que consistiu a sua refeição do almoço de hoje.

Os investigadores têm concluído que estes diferentes sistemas de memória a longo prazo se vêem diferentemente afectados à medida que se envelhece.

De um modo geral, não se verificam diferenças significativas com a idade a nível de tarefas de memória semântica e procedimental. É a nível das tarefas de memória episódica que as diferenças com a idade mais se fazem sentir, na qual o desempenho dos mais velhos é tido como inferior. De facto, apesar da magnitude das diferenças na idade variar consideravelmente de acordo com os distintos materiais usados nas diferentes tarefas de memória, as pessoas idosas tendem a demonstrar mais problemas com a memória episódica do que os jovens adultos. Um tipo específico de memória episódica é a memória prospectiva que envolve a recordação de informação para acções futuras (por exemplo, lembrar de tomar os medicamentos à noite ou de tirar o bolo do forno a tempo). Normalmente, as pessoas mais velhas tendem a revelar desempenhos inferiores às mais jovens em tarefas de memória prospectiva desenvolvidas em laboratório. Os resultados mais interessantes produzem- se quando a memória prospectiva é analisada fora do laboratório. Possivelmente porque as pessoas idosas estão mais motivadas, os resultados são bem mais optimistas do que os dos estudos tradicionais.

O facto dos idosos revelarem piores desempenhos que os mais jovens em tarefas de memória a curto e a longo prazo parece estar relacionado com as estratégias que

empreendem para codificar e recuperar a informação. A investigação tem indicado que muitos idosos não empregam espontaneamente determinadas estratégias (por exemplo, não empregam técnicas mnemónicas) para facilitar a codificação e processamento da informação, contrariamente aos mais jovens. Todavia, quando lhes são dadas instruções no sentido de empregar certas estratégias de codificação (por exemplo, utilizar estratégias de organização da informação a níveis de processamento mais “profundos”), as diferenças entre jovens e idosos esbatem-se.

No tocante à recuperação da informação existem duas estratégias fundamentais: a recordação (recall) que consiste na capacidade para recuperar um fragmento de informação; o reconhecimento (recognition) que implica a identificação de um dado fragmento de informação. A investigação revela que os idosos têm menos dificuldades em tarefas de reconhecimento do que em tarefas de memória que implicam a recordação da informação.

Existe a crença comum de que as pessoas idosas têm dificuldades em recordar- se de acontecimentos recentes, mas não de eventos do seu passado: por exemplo, acredita-se que as pessoas idosas tendem a recordar coisas que aconteceram durante a sua adolescência e juventude com mais frequência e intensidade que a acontecimentos que tiveram lugar na meia-idade. É o denominado ponto alto das recordações ou “reminiscence bump”, tendência que os idosos têm para recordar mais os acontecimentos que ocorreram quando tinham entre 10 e 30 anos de idade. As explicações para este facto residem em que essa é a altura de algumas das vivências mais marcantes e significativas da vida dos indivíduos (as primeiras relações amorosas, a saída de casa dos pais, a constituição de uma nova família, a entrada no mercado de trabalho). A ideia subjacente é que qualquer acontecimento que seja emotivo e pessoalmente significativo reúne todos os requisitos para permanecer intacto na nossa memória.

Resta, por fim, salientar o papel que a metamemória (isto é, o conhecimento e as crenças que as pessoas têm acerca da sua própria memória) assume no funcionamento mnésico. Os estudos neste âmbito indicam que as pessoas idosas acreditam ter mais problemas de memória que as mais jovens, consideram-se menos eficazes e manifestam uma menor confiança relativamente às suas possibilidades para melhorar a eficácia da sua memória.

Quanto à aprendizagem, até à década de 60, admitia-se um declínio significativo na capacidade de aprender, associado à idade avançada. Até aí, não se prestava a devida atenção a dois aspectos fundamentais: a própria natureza da aprendizagem; e os factores não cognitivos passíveis de a afectar (Simões, 1982).

Actualmente, a investigação neste âmbito caracteriza-se, justamente, por enfatizar cada um destes aspectos.

No que respeita à natureza da aprendizagem, Botwinick (1973, citado por Walsh, 1983) acentua a diferença entre aprendizagem como um processo interno e performance como um acto externo. O observador poderá ver apenas o acto e não o processo. Simões (1982) argumenta que a ser verdade que a aprendizagem tem de ser inferida da performance, também se constata que nem sempre esta reflecte a aprendizagem. Uma fraca performance pode dever-se a factores não cognitivos como a falta de motivação ou de auto-confiança. Quando existe informação disponível sobre estes factores, as inferências que se retiram acerca da aprendizagem, tendem a ser mais correctas (Walsh, 1983); na verdade, factores como estes fazem com que a performance não reflicta adequadamente a aprendizagem.

Segundo esta perspectiva, as pessoas idosas podem aprender tão bem como os jovens mas, devido a factores não cognitivos, são incapazes ou sentem-se relutantes em demostrar o que aprenderam (Walsh, 1983). Por outro lado, Schaie e Willis (1991, p. 344) sublinham o facto de, com a idade, aumentar o tempo necessário para a aquisição de nova informação: «one variable known to affecting old learners more than young ones is the pace of learning - the speed with which the task must be performed». Explica-se, assim, que os investigadores se tenham voltado para o estudo dos factores não cognitivos da aprendizagem.

Considerando algumas investigações neste domínio, Simões (1982) resume algumas das conclusões que se poderão tirar: as diferenças de performance entre jovens e