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DESENVOLVIMENTAIS NA COMPREENSÃO DA PSICOPATOLOGIA

B. RISCO E PROTECÇÃO NO DESENVOLVIMENTO

5. INTELIGÊNCIA: RISCO/PROTECÇÃO

A inteligência é um dos atributos pessoais da criança que mais tem sido estudado em termos da seu papel nos processos de vulnerabilidade/protecção do

desenvolvimento.

A capacidade intelectual está também associada com a competência escolar em crianças e adolescentes de alto risco (Luthar & Zigler, 1992, p.289). Bergman & Walker (1995), partiram do pressuposto de que uma elevada capacidade cognitiva

pode proteger a criança do stress ambiental, enquanto que os déficits cognitivos reduzem a capacidade para lidar com o stress. No que diz respeito ao funcionamento cognitivo, os autores constataram um Q.I. mais baixo nas crianças sujeitas a maus tratos, não se verificando, contudo, diferenças significativas entre os outros grupos de alto risco (risco associado à esquizofrenia parental ou outros distúrbios psiquiátricos parentais) e o grupo de crianças normais.

Contudo, a inteligência nem sempre constitui um factor protector face a condições de risco, estando muitas vezes envolvida no chamados processos de

vulnerabilidade (Luthar, 1991). Por exemplo, a superioridade das crianças inteligentes no desempenho das actividades escolares só se verifica quando experienciam baixos níveis de stress. Desta forma, a adaptação resulta das interacções entre a inteligência e os stressores. Em situações de elevado stress, a inteligência tem um papel protector no desenvolvimento na medida em que implica mais competências nos processos de

coping e de resolução de problemas, o que permite à criança avaliar melhor as

consequências dos seus comportamentos, tolerar a frustação e conter impulsos. A inteligência também opera como factor de vulnerabilidade, levantando a hipótese das crianças mais inteligentes terem níveis mais elevados de sensibilidade aos contextos, incluindo os contextos disfuncionais.

Radke-Yarrow & Brown (1993), num estudo longitudinal de dez anos

concluíram que as crianças perturbadas têm Q.I.s significativamente mais baixos do que as crianças resilientes e do que as crianças do grupo de controle.

Medina & Arratia3 realizaram uma investigação para observar os efeitos das

variáveis psicossociais (culturais) sobre o desenvolvimento psicológico e inteligência (Q.I.) das crianças. Os resultados indicam que as mães consideradas em situação de

vida actual. As crianças de baixo risco psicossocial apresentam diferenças significativas (a seu favor) em relação ao nível de desenvolvimento do seu coeficiente intelectual, tanto nas provas que implicam competências verbais como nas provas de realização, como ainda nos coeficientes de inteligência total, quando comparadas com crianças de elevado risco psicossocial. Os pais que percepcionam de forma mais positiva a sua vida actual tendem a ter filhos com um nível de inteligência mais elevado do que os pais que percebem a sua vida de maneira menos positiva. Os sujeitos que vivem em contextos mais desfavoráveis, com uma baixa qualidade de vida, têm uma melhor pontuação na sua inteligência de realização. Isto pode ser facilmente explicado, uma vez que o ambiente psicossocial em que estão envolvidos cria a necessidade de uma interacção mais operativa e objectiva com este. Por outro lado, as crianças que vivem em

ambientes mais favoráveis, interagem com o meio de uma forma mais abstracta, razão pela qual obtêm pontuações mais altas no seu Q.I. verbal. Assim, as pessoas que percepcionam a sua vida de forma mais satisfatória e estimulante, têm um afecto positivo sobre os seus filhos, os quais apresentam um nível de inteligência superior. Esta e outras investigações apontam para o facto de que as diferenças culturais que influenciam a inteligência das crianças se transmitem no núcleo familiar. Os estímulos ambientais que influenciam o desenvolvimento da inteligência passam pelo controle e organização que a família tem sobre os seus membros. Os membros da família oferecem à criança oportunidades de interacção com modelos de imitação, modelos estes que, segundo a Teoria da Aprendizagem Social de Bandura (1985) influenciam de forma significativa os aspectos cognitivos do desenvolvimento. Concluindo, tanto a qualidade de vida como o risco psicossocial influenciam consideravelmente o

desenvolvimento psicológico e as capacidades intelectuais das crianças, com todas as suas repercursões no desenvolvimento futuro.

Vários autores (e.g. Bergman & Walker, 1995) analisaram as funções cognitivas de crianças em risco para a psicopatologia. Seleccionaram um grupo de crianças de pais esquizofrénicos, um grupo de crianças com pais com psicopatologia não

esquizofrénica, um grupo de crianças sujeitas a maus tratos parentais e um grupo de controle. Só no grupo de crianças mal tratadas é que se verifica efeito significativo no Q.I. e na atenção, estando estes aspectos cognitivos francamente deficitários. A interacção inteligência x pais esquizofrénicos é significativa, pelo que a inteligência modera a relação entre esquizofrenia parental e o comportamento esquizóide nas crianças. A uma baixa inteligência estão associados altos níveis de comportamento esquizóides, só no grupo de risco para a esquizofrenia, mas não para os outros grupo. A interacção maus tratos x inteligência é significativa no aparecimento da delinquência. Neste grupo, a uma baixa inteligência está associado um maior risco para os

comportamentos delinquentes. A correlação negativa entre isolamento social e inteligência só faz sentido para o grupo de controle.

Um elevado Q.I. tem uma função protectora contra a criminalidade. Existe evidência de que o Q.I. tem um efeito protector em rapazes e raparigas em risco para os comportamentos criminais. "(...) in both low and high risk groups of girls and

boys, an average or better IQ is associated with failure to demonstrate relatively serious and stable delinquency in adolescence. (...) a very high IQ may help boys, even those at risk, to stay completly free of delinquency" (White, Moffitt & Silva,

1989, p.723). Os delinquentes, rapazes ou raparigas apresentam scores ao nível do Q.I. significativamente mais baixos do que os adolescentes não delinquentes (White, Moffitt & Silva, 1989). Os rapazes de alto-risco apresentam um elevado risco para a

delinquência, mas os indivíduos deste grupo que não se tornam delinquentes

Inteligência de Wechsler para Crianças-Revista (Wechsler, 1974). Contudo, a média mais elevada do Q.I. é encontrada nos sujeitos de baixo risco não delinquentes. As raparigas delinquentes apresentam Q.I.'s significativamente mais baixos do que as raparigas não delinquentes. O efeito da delinquência é claro nos dois grupos de risco (alto e baixo), especialmente nos rapazes. Levanta-se a hipótese das raparigas serem intelectualmente mais resilientes aos comportamentos desviantes (apresentando, por exemplo menos dificuldades de aprendizagem). Outros estudos fazem referência às associações entre delinquência/comportamento anti-social e o baixo rendimento escolar (Farrington, 1987,; Robins & Hill, 1966; cit. por Yoshikawa, 1994, p.33), o baixo Q.I. (Gottfredson, 1981; McGee et ai., 1984; Wolfgang et ai., 1972; cit. por Yoshikawa, 1994, p.33) e as fracas capacidades verbais (McGee, Williams, Share, Anderson & Silva, 1986; Richman, Stevenson & Graham, 1982; cit. por Yoshikawa,

1994, p.33). Também no Kauai Longitudinal Study (Werner, 1993), o

desenvolvimento linguístico apropriado (indicador do desenvolvimento dos processos de pensamento), aos 2 e 10 anos, constitui um factor protector da delinquência futura em crianças de alto risco.

6. O PAPEL DAS EXPECTATIVAS POSITIVAS ACERCA