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O PAPEL DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS NO DESENVOLVIMENTO INFANTDL, EM DIFERENTES CONTEXTOS

DESENVOLVIMENTAIS NA COMPREENSÃO DA PSICOPATOLOGIA

PSICOPATOLOGIA PARENTAL SUAS INTERRRELAÇÕES E IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO

8.3 O PAPEL DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS NO DESENVOLVIMENTO INFANTDL, EM DIFERENTES CONTEXTOS

No que diz respeito às práticas educativas parentais, a literatura tem mostrado que, em famílias de alto-risco, com crianças resilientes, as disciplinas parentais são mais autoritárias, com regras de funcionamento bem definidas. O medo sentido pelos pais em ambientes de alto-risco, traduz-se em disciplinas punitivas e restritivas, com o intuito de proteger as crianças das influências negativas do contexto extra-familiar. Constatamos assim que o padrão educativo democrático, normalmente associado ao desenvolvimento infantil adaptado, pode constituir um factor protector do

desenvolvimento em contextos de baixo risco, mas, em contextos de alto risco, pode funcionar como um factor de vulnerabilidade.

Baldwin, Baldwin et Cole (1990) refere que as famílias protectoras em contextos de alto-risco constróem um ambiente proximal de baixo risco, apesar de viverem num contexto distai de alto risco. As famílias protectoras caracterizam-se por terem mães legitimamente preocupadas com os perigos do contexto alargado em que vivem e com o grupo de amigos dos filhos. São carinhosas mas, simultaneamente, autoritárias, apresentando um padrão educativo parental mais restritivo. As famílias de alto risco bem sucedidas são mais restritivas, mais autoritárias e menos democráticas, mas são mais vigilantes na monitorização das suas crianças. Os pais raramente justificam aos filhos a sua política educativa e são mais severos nos castigos. Contudo, têm em conta os desejos dos filhos e as mães falam frequentemente dos riscos às suas crianças. Nas famílias de baixo risco, a responsabilidade e os juízos correctos que os filhos fazem acerca das situações estão correlacionados com o sucesso adaptativo, enquanto que nas famílias de alto risco é o auto-controle que está significativamente correlacionado

com o sucesso. Apesar da responsabilidade não estar associada significativamente aos filhos de famílias de alto risco, os pais destas famílias que são bem sucedidas, face à adversidade ambiental, valorizam-na da mesma forma que os pais de famílias de baixo risco. Para os pais das famílias de alto risco, o sucesso adaptativo dos seus filhos depende do facto das crianças seguirem as regras e resistirem à "tentação do desvio". A obediência é mais valorizada pelos pais que vivem em contextos de alto risco, mas as famílias cujas crianças são bem sucedidas na sua adaptação valorizam-na menos do que as famílias cujas crianças apresentam dificuldades de adaptação O auto-controle das crianças é também mais valorizado nas famílias de alto-risco. Podemos dizer que se as crianças são conformistas em relação às restrições parentais, nas famílias de alto risco, elas estarão parcialmente protegidas das influências ambientais. Parece também que a razão do sucesso da restritividade parental em contextos de alto risco é evidente, uma vez que as restrições traduzem-se em respostas realistas face à ecologia ambiental. Segundo o mesmo autor, as famílias em condições de alto risco, ao operarem num contexto diferente das famílias em condições de baixo risco, recorrem a práticas educativas também elas diferentes. Os autores levantam a hipótese das influências ambientais familiares terem uma importante contribuição no resultado cognitivo (operacionalizado pelo Q.I. e rendimento académico), particularmente nas crianças de alto risco. Outros estudos (e.g. Egeland et ai., 1993) demonstraram que os rapazes competentes com mães com elevados níveis de stress diferenciam-se dos rapazes incompetentes: - pelo seu nível mais elevado de inteligência e maior capacidade linguística; - pelo grau em que as suas mães promovem um ambiente familiar estruturado e responsivo, apesar dos elevados níveis de stress; - pelas positivas interacções mães-crianças. Assim, o sucesso dos rapazes competentes depende da

capacidade das mães para protegerem as suas crianças dos efeitos do stress, continuando a providenciar cuidados de boa qualidade.

Mesmo nos contextos mais violentos, existe uma considerável variabilidade na exposição das crianças à violência nessas comunidades. "... parenting quality

operates to increase or decrease stress exposure, though this process has been suggested by recent reviewers" (Masten et al., 1990; Rutter, 1990; cit. por Gest et al.,

1993, p.668).Os sintomas de ansiedade, medo, depressão e stress representam reacções negativas, com consequências a longo prazo no desenvolvimento social, emocional e cognitivo das crianças. Contudo, estes sintomas podem ter uma função adapatativa em ambientes objectivamente perigosos, especialmente quando estes sintomas incrementam a vigilância e as reacções normais/saudáveis face à perda e à dor. Segundo o estudo de Richters & Martinez (1993), apesar de algumas crianças viverem em zonas de relativa incidência criminal, marcada por elevados níveis de violência e perigo, 54% das crianças são bem sucedidas no domínio académico e socio- emocional, 26% falham num deste domínios e só 20% falham nos dois domínios. A falha na adaptação funcional das crianças é maior quando a família é instável e quando lida com armas e drogas. A falha na adaptação nos dois domínios considerados deriva, de forma sistemática, em função dos ambientes familiares serem estáveis/seguros ou instáveis/inseguros. Se a criança vive em contextos familiares instáveis ou inseguros, as falhas na adapatação funcional atingem cerca dos 21%, enquanto que nos contextos familiares simultâneamnte instáveis e inseguros, o insucesso na adaptação atinge os

100%. A maior parte das crianças (67%) que vivem em famílias estáveis e seguras apresentam uma adaptação bem sucedida.

As pobres estratégias de coping utilizadas pelos pais e os métodos agressivos de disciplina estão significativamente associados à hiperactividade. "The best parenting

predictor of hiperactivity was disciplinary agression" (Woodward, 1998, p. 161).

Em 1985, foi realizado um estudo para avaliar o papel mediador dos pais (do sexo masculino) em situações de elevada adversidade económica (Elder, Nguyen & Caspi, 1985). Os autores concluiram que o papel mediador dos pais se restringe ao funcionamento psicológico das raparigas pré-adolescentes. Os pais são mais rejeitantes para as raparigas do que para os rapazes, quando existem pressões familiares desta natureza. Este dado é particularmente curioso dado que nas crianças mais novas, os stressores familiares parecem ser mais patogénicos para os rapazes, enquanto que na pré-adolescência e eventualmente adolescência, emerge uma situação inversa. Também ficou claro que os adolescentes, raparigas ou rapazes, menos atractivos são aqueles que correm maior risco para os maus tratos parentais. Portanto, o comportamento rejeitante por parte do pai faz a ponte entre a privação económica e o distúrbio emocional das raparigas, especialmente aquelas que são menos atractivas. "We belive

this causal sequence has much to do with psychological vulnerability of early

adolescent girls to paternal maltreatment and to the self-esteem costs of social world of peers and school" (Simmons et al., 1979; cit. por Elder, Nguyen & Caspi, 1985,

p.373).

Nas crianças em que os pais são dependentes de substâncias, os comportamentos disruptivos das crianças são previstos a partir da magnitude dos comportamentos antissociais dos pais e pelos factores do contexto familiar, operacionalizados através da qualidade de relacionamento entre pais e filhos. Nas famílias sem pais dependentes de substâncias, só os factores do contexto familiar são predictores dos

supervisão parental, a rejeição da criança e a falta de envolvimento parental constituem os factores familiares que são mais fortemente predictores da delinquência juvenil.

"(■■■) a g°od relationship with one parent, marked by warmth and the absense of

severe criticism, had a substancial protective effect against the developmeny of conduct disorder" (Yoshikawa, 1994, p.34). O conflito marital tem um maior impacto

negativo no distúrbio da conduta e delinquência do que propriamente a instabilidade familiar (operacionalizada pela perda de um dos pais como resultado de separação, divórcio ou morte). Contudo, a instabilidade familiar pode ser potencializada pelo conflito marital. Tal como noutros estudos que referenciámos, os efeitos do nível socio­económico no desenvolvimento social e delinquência podem ser mediados pelas variáveis associadas à interacção familiar como a disciplina parental inconsistente ou a falta de afecto materno (Elder & Caspi, 1988).

Gest, Neemann, Hubbard, Masten & Tellegen (1993) realizaram uma

investigação no sentido de determinar em que medida a adversidade relacionada com os padrões educativos parentais (conceptualizada em termos do grau de estruturação e controle que os pais fornecem e o nível de carinho e de sentimentos positivos dirigidos à criança) e outro tipo de adversidade estão associados a um incremento nos

problemas da conduta em crianças e adolescentes. Os resultados indicam que a adversidade no relacionamento parental está relacionada com um pequeno aumento nos problemas da conduta. A adversidade relacional que envolve os irmãos, a família alargada e os amigos não está associada com variações nos problemas da conduta.

Um padrão educativo parental eficaz está associado com uma menor adversidade ligada aos pais, durante a adolescência. As crianças e adolescentes que lidam com padrões educativos parentais de baixa qualidade, experienciam mais acontecimentos de vida e pertencem a níveis socio­económicos mais baixos.

Poderemos então afirmar que "Parents and caregivers serve as mediators of the

effects of poverty, potencial harmful comunity values, social isolation, psychosocial pathology, and difficult relationships with family and societal networks " (Musick,

Bernstein, Percansky & Scott, 1987; Pianta & Egeland, 1990; cit. por Egeland, Carlson & Scott, 1993, p.521-522). Tal como mostram os estudos de follow-up que Anna Freud (1943) realizou com crianças expostas ao trauma, durante a II Guerra Mundial, os pais que conseguiam manter as rotinas e um padrão reaccional mais positivo tinham filhos nos quais os efeitos psicológicos devastadores das experiências de guerra não se faziam sentir.

A relação entre o stress familiar e o desenvolvimento adaptativo da criança é complexa e depende de muitos factores, uns ligados à criança, como o sexo e idade da criança, as suas capacidades desenvolvimentais e a história passada de adaptação, e outros associados ao desenvolvimento da própria família.