Interação aluno-aluno:

No Fórum Temático 1 (FT 1) há apenas duas ocorrências de interação entre os interlocutores aluno-aluno. Acreditamos que o número reduzido de interações entre tais interlocutores seja, ainda, resquício da educação presencial. Nessa modalidade de ensino a figura do professor reflete conhecimento, autoridade e poder. Os alunos, assim, parecem mais seguros em interagir com professores e tutores, interlocutores discursivos que necessitam ter esse “saber”. Somando-se a isso, acreditamos que os alunos ainda estejam no processo de tomada de consciência em relação à necessidade e à importância da construção coletiva de conhecimento. A seguir, transcrevemos a primeira interação entre os interlocutores discursivos aluno- aluno:

Re: Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional84 por ALUNO 72 - segunda, 6 setembro 2010, 17:19 Olá ALUNO 63, tudo bem?

Os colegas já definiram muito bem a morfologia flexional e derivacional, porém as definições e exemplos citadas por você achei mais consistentes. Entretanto deixo registrado a minha contribuição.

A morfologia de uma língua envolve processos com características distintas, em que a flexão é um processo obrigatório, sistemático e coerente que impõe severas implicações sintáticas.

Recorte de Interação do aluno 72 em 06 de setembro de 2010

83 _{Mensagens não substanciais seriam aquelas que visam, simplesmente, testar se o canal de comunicação} está aberto à comunicação. Elas não dizem muito em termos de conhecimento, se considerarmos a proposta da Educação a Distância.

Na interação transcrita, o aluno 72 refere-se às contribuições já feitas pelos colegas, e retoma a noção de morfologia flexional, alertando para a clareza das definições dadas pelo colega, o aluno 63. De certa forma, o aluno 72 utiliza-se da estratégia de interação centrada em concordância85, o que é muito comum e recorrente nas interações observadas nos fóruns educacionais. A seguir, transcrevemos a segunda interação, entre os alunos 41 e 88:

Re: Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional86

por ALUNO 88 - terça, 7 setembro 2010, 23:19 Queridos tutores e colegas.

Tanto na:

FLEXÃO - Processo obrigatório, sistemático, gramatical e exaustivo e na:

DERIVAÇÃO - Processo facultativo, assistemático, lexical e não-exaustivo. os exemplos dos processo acabam se misturando muito um com o outro.

Como vou identificar se, por exemplo, na derivação o processo é facultativo ou lexical, o mesmo acontece com a flexão, como identificar os processos?

Espero que entenderam minha pergunta. Obrigado.

Recorte de interação aluno-aluno em setembro de 2010

Na interação da Figura 41, o aluno 88 dirige-se a alunos e tutores e lança o seguinte questionamento: “Como vou 87

identificar se, por exemplo, na derivação o processo é facultativo ou lexical, o mesmo acontece com a flexão, como identificar os processos?”. Em seguida o aluno 41, a partir de uma compreensão responsiva ativa, dá

um retorno ao colega:

85 _{É interessante observar que estratégias de discordância geram argumentação. Provavelmente, por isso,} tais estratégias não foram recorrentes nos fóruns observados.

86 _{Interação número 129, apresentada no apêndice} 87 _{A interação do aluno foi transcrita na íntegra.}

Re: Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional88 por ALUNO 41 - terça, 14 setembro 2010, 15:06

ALUNO 88, vou tentar explicar a diferença entre esses processos conforme eu entendí. Na formação de palavras o processo flexional é:

Obrigatório-Pois pelo processo de formação flexional precisamos seguir regras obrigatórias. Por exemplo:

Em verbos- As desinências de tempo , modo, nº e pessoa são obrigatórias quando flexionamos os verbos e elas devem seguir regras de concordância.

Ex: eu canto, eu cantei, ele cantou, nós cantaremos, eles cantarão em substantivos ou adjetivos- as flexões de singular,plural, gênero. Ex. bola, bolas, boneca,boneco,meninos,meninas,menina,menino

É sistemático, gramatical e exaustivo pois obedece ao sistema estrutural interno da língua que dita regras de gramática comode concordância verbal , etc.

Por exemplo:

As garotas cantam bem. Nessa frase eu não poderia dizer : As garotas cantei, cantou, cantaste,cantamos bem, pois na gramática normativa da língua portuguesa existe uma regra que diz que o verbo deve concordar com o sujeito em nº e pessoa.

No exemplo: Os meninos são bonitos- Eu também não poderia dizer: Os meninos são bonitas, também por regras de concordância etc.

O processo derivacional: É facultativo, assistemático e não-exaustivo pois na derivação não somos obrigados por regras sistemáticas a usar determinada forma de flexão em uma palavra.

Por exemplo : Da palavra carro pode derivar: carrão, carrinho,carreta e eu uso a forma que eu quiser no meu enunciado ,dependendo do que eu esteja querendo dizer.

Ex. Eu comprei um carrão,um carrinho, uma carreta, etc.

No processo de formação derivacional os elementos mórficos( prefixos , sufixos de aumentativo,

diminutivo,superlativo, para formar adjetivos, advérbios ,etc. dependem da minha vontade e eu uso o que eu quiser independente de regras, por isso é aleatório.

Veja: Você é uma beleza, belezinha . Que bolo gostoso,gostozão,gostosinho ! Ela chegou apressada, apressadamente Ela está felicíssima, amabilíssima Entardecer, gotejar,espreguiçar

Na derivação o uso dos elementos mórficos é opcional e na flexão é obrigatório e usado conforme o que dita as ragras gramaticais.

Espero ter ajudado. Valeu .

ALUNO 41.

Recorte de Interação aluno-aluno em setembro de 2010

O aluno 41, ao utilizar-se da estratégia de interação centrada em colaboração com o conteúdo, usa seu conhecimento de mundo e as leituras propostas pelos tutores e professor (a), retomando conhecimento prévio, e se amparando nos discursos de outrem. Observamos, nitidamente, a troca de lugares e de papeis: O interlocutor aluno se posiciona e explica, diante dos colegas de “sala”, a outro aluno/ colega. A participação,

que é normalmente predominante do professor no que se relaciona ao esclarecimento de dúvidas, passa a ser praticada, nesse momento, pelo interlocutor aluno. Para isso, o aluno sintetiza leituras, exemplifica e retoma conceitos previamente abordados. Observamos que tal estratégia promove uma costura textual e uma maior reflexão nos fóruns educacionais, colaborando com a construção colaborativa de conhecimento.

A seguir, e na tentativa de sintetizar as nossas observações no que se relaciona às interações realizadas no Fórum Temático 1 (interação professor-aluno; tutor-aluno e aluno-aluno) da disciplina MLP, apresentamos um gráfico quantitativo das estratégias de interação observadas e categorizadas. Das 196 interações realizadas no Fórum Temático, 98 interações refletiram perguntas e respostas pontuais sem muita reflexão; 49 interações refletiram colaboração com o conteúdo trabalhado; 16 interações refletiram motivação e incentivo ao aluno; 10 interações refletiram indagações e/ou problematizações;8 interações refletiram, recondução e redirecionamento; 6 interações

refletiram pedidos de colaboração com o conteúdo tratado; 3 interações refletiram retomada/ generalizações e/ou sínteses; 3 interações refletiram pedido de esclarecimentos e 2 interações refletiram pontos de concordância:

Observamos que as interações utilizadas pelo interlocutor PROFESSOR constaram de uma colaboração acerca do conteúdo tratado. Em relação ao interlocutor TUTOR, de um total de 46 interações, observamos que 16 interações refletiram motivação e incentivo ao aluno; 8 interações refletiram recondução e/ou redirecionamento; 7 interações refletiram problematizações, questionamentos e/ou indagações;6 interações refletiram pedidos de colaboração com o conteúdo trabalhado; 5 interações refletiram colaboração do tutor com o conteúdo tratado; 3 interações refletiram retomada, síntese e/ou generalização e 1 interação refletiu ponto de concordância:

Gráfico 5: Percentual das estratégias de interação utilizadas pelo interlocutor tutor no Fórum Temático

Quanto às estratégias de interação utilizadas pelo interlocutor ALUNO, verificamos que 98 interações refletiram o procedimento Pergunta-Resposta (PR); 44 interações refletiram colaboração com o conteúdo; 3 interações refletiram problematizações e/ou indagações;3 interações refletiram pedidos de esclarecimento e1 interação refletiu ponto de concordância, como podemos observar no gráfico 6:

Gráfico 6: Percentual das estratégias de interação utilizadas pelo interlocutor aluno no Fórum Temático

Podemos dizer, assim, que as estratégias de interação predominantes no Fórum Temático no que se relaciona ao interlocutor tutor foram as estratégias centradas em modos de dizer de motivação, recondução/ redirecionamento e problematização. Os tutores, nesse sentido, modalizaram o seu discurso e sua entonação avaliativa através de

emoticons, de escolhas lexicais, e de motivação e incentivo, na tentativa de reconduzir o

aluno a partir de problematizações e questionamentos. Sobre o interlocutor aluno, a estratégia que se configurou como mais frequente foi a estratégia centrada em perguntas e respostas pontuais, ainda sem a capacidade de construção de sua própria voz de aprendiz. Observamos, nesse sentido, uma significativa ausência de reflexão do interlocutor aluno em relação aos temas propostos: Alguns alunos parecem, inclusive, transcrever o que é apresentado nas leituras disponibilizadas (tanto na plataforma do MOODLE, como no material impresso, entregue nos polos de apoio presencial). Acreditamos que a predominância dessa estratégia de interação (P-R) deva-se ao fato da disciplina MLP pertencer ao núcleo duro (hardcore) da linguística, sendo de caráter notadamente estrutural. Além disso, atribuímos tal comportamento a resquícios do ensino tradicional, pautado, muitas vezes, pela simples transcrição de conteúdo e também pela figura do aluno como elemento passivo e receptor do conhecimento. A seguir, a atenção é centrada na análise das interações realizadas no Fórum de Dúvidas.