No âmbito da EaD, Belloni (2003) ressalta que várias são as funções do docente, sendo importante apontar que nem todas as atribuições ocorrem simultaneamente e/ou em todas as experiências educativas. A lista proposta, e por ela apresentada, tendo em vista tais funções e atribuições, não pretende ser exaustiva, definitiva e/ou única. Seu objetivo, assim, é o de mostrar como se dá o desdobramento e como se apresentam as múltiplas facetas da função do professor no módulo de Ensino a Distância. O professor, dentro da perspectiva da EaD, e conforme sua categorização, passa a atuar como:
(1) professor formador;
(2) professor realizador de cursos e de materiais;
(3) professor pesquisador;
(4) professor tutor;
(5) tecnólogo educacional;
(6) professor recurso;
(7) monitor.
A partir de cada uma dessas funções, novas atribuições surgem e/ ou transformam-se, conforme detalhado e comentado por Belloni (2003), no quadro 2:36
36A tabela foi elaborada pela pesquisadora e tem por base os estudos de Belloni (2003). Belloni é professora do Departamento de Metodologia de Ensino e do Programa de Pós-Graduação do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
FUNÇÕES DO PROFESSOR NA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ATRIBUIÇÕES DO PROFESSOR NA EaD, TENDO EM VISTA SUAS FUNÇÕES PROFESSOR FORMADOR
Responsável pela orientação no que se relaciona ao estudo e aprendizagem. A função
do professor formador pode ser
correlacionada a sua função pedagógica nas salas de aula do ensino presencial.
PROFESSOR REALIZADOR DE CURSOS E DE MATERIAIS
Responsável pela preparação de planos, currículos e programas. Tal função se relaciona à função didática de elaborador de cursos e de materiais, se consideramos, novamente, o ensino presencial.
PROFESSOR PESQUISADOR
Responsável por sua constante atualização através de pesquisas, atualização na disciplina que leciona, conhecimento das novas teorias e metodologias de ensino, entre outros.
PROFESSOR TUTOR
Responsável por orientar os seus alunos em seus estudos, esclarecer dúvidas relativas ao conteúdo da disciplina e participar das atividades de avaliação.
TECNÓLOGO EDUCACIONAL
Também denominado “designer” ou pedagogo especialista em novas tecnologias, tal função se insere, entre as demais, como sendo nova, o que justifica sua dificuldade terminológica. O profissional da EaD, tendo em vista tal função, é responsável pela adequação dos conteúdos aos suportes técnicos utilizados.
PROFESSOR RECURSO
O professor se torna responsável por respostas a dúvidas pontuais, estando frequentemente presente na época anterior aos exames de avaliação.
MONITOR
Tal função se relaciona, prioritariamente, à capacidade de liderança, sendo mais de caráter social do que pedagógico. Está relacionada a ações de atividade popular com vistas a atividades presenciais.
Quadro 2 – Funções e atribuições do professor de EaD – ( BELLONI, 2003)
Na perspectiva da EaD e das novas tecnologias, e diante das mudanças e transformações no que se relaciona aos novos focos de atuação do professor, conforme apontado por Belloni no quadro anterior, as ações docentes precisam e devem, de fato, ser repensadas. Fogli & Fontes (2004), nesse sentido, corroboram com Belloni (2003) e ressaltam o fato de que as novas tecnologias de informação e comunicação37 possibilitam novas formas de interação através da utilização de uma infinidade de recursos:
O trabalho do professor de cursos a distância está estreitamente ligado ao uso que se faz dos recursos proporcionados por essas tecnologias. Conhecer melhor, tanto o meio digital como espaço educacional, como também as representações e as perspectivas do profissional da educação que nele atua pode contribuir para uma compreensão mais profunda das necessidades específicas dos docentes atuantes em ambientes digitais de aprendizagem(FOGLI & FONTES, 2004, p.97).
Paralelamente a isso, Fogli & Fontes (2004) apontam para o fato de que diante dos novos saberes que se impõem ao professor nos módulos de EaD, é necessário que haja um conhecimento e familiaridade relativo às diversas ferramentas passíveis de utilização e disponíveis no meio digital :
(...) ministrar um curso on-line pode implicar ações que envolvem o gerenciamento dessas ferramentas comunicacionais na organização e planejamento das ações docentes. Em outras palavras, o professor, além de dominar conteúdos e estratégias de apresentação desses últimos, também deve pensar quais ferramentas usar para cada uma de suas ações( FOGLI & FONTES, 2004, p. 98).
Ainda sobre as atribuições do professor on-line, Palloff & Pratt (2004) apontam alguns pontos de relevância:
a necessidade de que o professor possa assumir a posição de orientador do aluno em relação ao conhecimento básico da internet e da informática;
a importância de que o professor partilhe com o seu público-alvo as diferenças e peculiaridades existentes entre os alunos on-line e os alunos presenciais;
a importância de que o professor, através de sua prática, possa promover, a partir de estratégias, a interação dos professores com os alunos e dos alunos entre si; além disso, o professor deve estimular o feedback do aluno aos colegas, mostrando a ele como se envolver em debates, e interagir de forma adequada através da netiqueta.
Palloff & Pratt (2004, p. 91) ressaltam, sobretudo, que “além de compreender os papeis do professor e do aluno no curso on-line, é necessário entender a natureza da interação on-line”, ou seja, entender o que o professor espera das interações, o que são mensagens substanciais e relevantes para o contexto da construção de conhecimento. Sobre isso, eles apontam que as mensagens substanciais seriam aquelas que contribuem no processo de aprendizagem, e não simplesmente aquelas que testam se o canal de comunicação está aberto e propício à interação (função fática da linguagem). Eles observam, entretanto, que as mensagens não substanciais são também necessárias; a interação, todavia, deve ultrapassar o limite da superficialidade, o nível raso das trocas, para dar lugar a um intercâmbio reflexivo e consciente de saberes, através da colaboração e construção coletiva de conhecimento. É, pois, diante de tais mudanças, que precisamos parar para repensar nossas ações a partir dos novos horizontes que já começam a se configurar na grande área da educação. Precisamos nos dar conta de que a educação, e por consequência, seus paradigmas educacionais, estão, continuamente se transformando. Novas visões e novos ambientes cognitivos estão, assim, se construindo. Diante disso, e tendo em vista o panorama que se configura, é importante que o professor se posicione frente à tecnologia digital em uso na educação. Dentro desse novo paradigma ilustramos, na Figura 8, a necessidade de que, no processo educativo, as relações entre professor, aluno e tecnologia sejam revistas e consideradas:
Figura 8 – Tríade necessária rumo à construção de conhecimento na EaD
Conhecimento
Aluno
Professor
Novas Tecnologias
Palloff & Pratt (2004) também apontam algumas questões que devem ser consideradas pelos professores de ambientes virtuais. Tais questões referem-se, sobretudo, às seguintes necessidades:
de professores estarem constantemente atentos às mudanças nos níveis de participação e motivação dos alunos;
de uma maior atenção às possíveis dificuldades dos alunos em começar o curso online;
de que os professores levem em consideração, na condução das atividades dos cursos, os diferentes estilos de aprendizagem e modos de aprender dos alunos, bem como as diferenças culturais e de gênero, que exercem, também, influência no processo de aprendizagem on-line, como podemos observar no trecho que segue:
(...) Se o professor utilizar múltiplas abordagens para o material apresentado em todo o curso on-line, juntamente com vários tipos de tarefas, os diferentes estilos de aprendizagem serão parte do processo de aprendizagem. (PALLOFF & PRATT, 2004, p. 51)
Essas observações são obviamente aplicadas ao ambiente presencial, nas interações face a face, entretanto, são mais observadas e perceptíveis no ambiente virtual de aprendizagem.
Verificamos, aqui, o perfil do professor enquanto um elemento importante nas plataformas de EaD, a partir dos estudos de Belloni (2003) e de Palloff & Pratt (2004). A seguir situamos outros atores que surgem nesse contexto: os tutores presenciais e os tutores a distância, focando de forma mais pontual, os tutores a distância, elementos importantes nesta pesquisa.