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5.2 Análise das Interações no Fórum de Dúvidas: Aprendendo a aprender

5.2.1 Interação Professor-Aluno

O recorte analisado foi de uma interação ocorrida em agosto de 2010, no período 2010-2. Os interlocutores discursivos são tutor e aluno da disciplina MLP. No recorte transcrito, o aluno 6 dirige-se a tutores a distância da disciplina para apresentar suas dúvidas, tentando compreender o conceito de Morfologia Derivacional e de Morfologia Flexional, dois dos assuntos abordados na primeira unidade da disciplina:

Re: dúvida89

por ALUNO 6 - segunda, 23 agosto 2010, 10:15

Caros tutores [Tutor(a)] 4 e [Tutor(a)] 1, sei que nas próxima unidades aprofundaremos nossos estudos sobre a morfologia da língua portuguesa, mas como essas questões de morfologia derivacional e flexional apareceram no fórum acho importante que comentemos para que a princípio se tire alguma dúvida, não acham colegas? Bem , como a tutora [Tutor(a)] 1 já explicou a morfologia flexional trata das variações das palavras que pertencem a um mesmo paradigma e que essas variações vão indicar os valores gramaticais que elas representam dentro da palavra . Já a morfologia derivacional trata dos processos de formação de palavras na língua portuguesa. Bem resumidamente o processo se dá assim:

a) uma palavra primitiva que não deriva de outra já existente mas que dá origem a muitas outras palavras. Ex. vender, espelho

b)Uma palavra derivada que é formada a partir de outra já existente. Ex. revenda, revender, espelhado c)Uma palavra composta que é formada a partir de duas ou mais palavras já existentes. Ex. pontapé, verde-louro, pernilongo.

Estudei um pouco porém me restam ainda dúvidas como: Os prefixos e os sufixos fazem parte da morfologia derivacional como pode ser visto em revenda , revender, espelhado ? Aguardo resposta.

ALUNO 6.

Recorte de Interação professor – aluno em agosto de 2010

É importante apontar que, ao consideramos locutor e interlocutor como indivíduos socialmente organizados e historicamente situados, e fazendo uso da noção

de interação verbal, de enunciado, da noção de palavra e da concepção de língua viva, utilizada em situações reais e concretas de uso, podemos verificar que a palavra procede de alguém, e vai para alguém, para o “outro”, numa alternância constante de papeis. O aluno 6, na interação apresentada, se posiciona enquanto locutor e detentor da palavra em um dado momento, em relação à sua dificuldade com o conteúdo trabalhado na disciplina MLP. Para isso, ele utiliza, a partir de escolhas linguísticas pertinentes ao seu “auditório social” (seu interlocutor, tutor da disciplina MLP), as estratégias de:

Retomada: o aluno 6 se apropria do que foi anteriormente tratado a partir da leitura dos textos (outros enunciados, sejam eles orais ou escritos), e do que foi explanado pelo professor/ tutores a distância, em relação à definição de Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional, conforme podemos observar no fragmento a seguir: “Bem, como

a tutora [Tutor(a)] 1 já explicou a morfologia flexional trata das variações das palavras que pertencem a um mesmo paradigma e que essas variações vão indicar os valores gramaticais que elas representam dentro da palavra . Já a morfologia derivacional trata dos processos de formação de palavras na língua portuguesa”.

Observamos que a estratégia de retomada é recorrente nas discussões que acontecem nos fóruns educacionais. Percebemos, também, que o “retomar” faz parte do ritual pedagógico das aulas, de forma geral, sejam elas realizadas nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem ou nas salas de aula presenciais. A cada retomada, entretanto, o sentido é outro; a enunciação é única, singular e irrepetível, configurando-se como o processo enunciativo de Bakhtin.

Resumo: o aluno 6, a partir da estratégia de interação centrada em resumo, faz uso de uma síntese para expor o seu conhecimento: “Bem resumidamente o processo se dá

assim (...).” 90

Indagação: o aluno 6, dando continuidade à interação, coloca para o seu interlocutor um questionamento, uma indagação: “Estudei um pouco, porém me restam ainda

dúvidas como: os prefixos e os sufixos fazem parte da morfologia derivacional como pode ser visto em revenda, revender, espelhado ? Aguardo resposta.” Todo esse

movimento dialógico de interação é, desde o início, um convite ao diálogo, à interação e

à compreensão responsiva ativa. No trecho seguinte, podemos observar que o interlocutor, numa alternância de papéis, ocupa, em relação ao aluno, uma ativa posição responsiva, alternando o seu papel para locutor, e completando e aplicando os conceitos anteriormente abordados a partir dessa atitude responsiva ativa:

Re: dúvida91

por PROFESSOR 1 - segunda, 23 agosto 2010, 20:43 Cara ALUNO 6,

A morfologia é um dos níveis de descrição da língua que abrange dois tipos de operação, a flexão e a derivação, daí a sua divisão em morfologia flexional e morfologia derivacional.

A morfologia flexional trata dos processos flexionais por meio dos quais se indicam as categorias gramaticais dos nomes (gênero e número) e dos verbos (modo, tempo, número e pessoa). Opera com os sufixos flexionais ou desinências nominais e verbais. O resultado da flexão é sempre uma forma diferente da mesma palavra. Veja, se flexiomarmos o nome menino em gênero e número teremos: menina,

meninos e meninas, que são outras formas da palavra menino.

Já a morfologia derivacional trata da estrutura interna das palavras, identificando seus elementos

estruturais, e dos processos de formação de palavras, operando com os afixos (prefixos, sufixos), também chamados de sufixos derivacionais. O resultado de uma derivação é sempre uma palavra nova. Veja, da palavra terra podemos derivar: terreno, terraço, terreiro.

No próximo assunto, estudaremos detalhadamente os critérios que opõem esses dois ramos da morfologia. Boa semana de estudo e um grande abraço.

PROFESSOR 1

Recorte de Interação professor-aluno em agosto de 2010

Observamos que, no gênero discursivo Fórum Educacional a compreensão responsiva ativa parece acontecer de forma retardada e silenciosa. Isso é justificado pelo fato do gênero fórum ser secundário, ou seja, pertencer à esfera das atividades mais complexas, organizadas e evoluídas e, por isso, prescindir de uma reflexão e amadurecimento maiores, para que a compreensão seja gradativamente construída. Além disso, é importante considerar a sua característica particular de assincronia. No fórum educacional as mensagens são trocadas dentro de um tempo que não é real, mas, do contrário, atemporal. Ainda assim, podemos observar que locutor e interlocutor respondem, antecipam, refutam, confirmam e procuram colaboração. A interação se dá, dessa forma, a partir de um “tecer” contínuo e incompleto, em contínuo processo de definição, de constituição e de reconstituição, onde locutores e interlocutores alteram posições e dizeres. Percebemos que os enunciados são gerados a partir de uma atitude responsiva ativa, embora, algumas vezes, com um efeito retardado, simulando uma compreensão responsiva silenciosa.

Verificamos, no recorte transcrito, que o professor da disciplina MLP interage com o aluno 6, acerca da dúvida levantada, no sentido de deixar a dificuldade sanada. Diante da dúvida levantada pelo aluno 6, o(a) professor(a) se propõe a ajudar, dando alguns esclarecimentos e utilizando as estratégias de síntese e de retomada, o que reforça a compreensão do(a) aluno(a) 6:

Re: dúvida92

por ALUNO 6 - segunda, 23 agosto 2010, 21:16

Professora 1 ,depois da sua esclarecedora explicação pude entender que a morfologia flexional também trata das categorias gramaticais referentes aos nomes e não só dos verbos.

Os sufixos flexionais nominais são as desinências que identificam as categorias gramaticais referentes ao número e ao gênero dos nomes ou substantivos. Por exemplo: professor-professora

professores- professoras

Obrigada pela contribuição. Saiba que isso só incentiva a busca por novos conhecimentos e nos dá motivação para continuar refletindo e participando.

Atenciosamente. ALUNO 6.

Recorte da interação professor-aluno em agosto de 2010

As interações entre os interlocutores professor/aluno no Fórum de Dúvidas nos permitiram visualizar que a compreensão e o sentido são construídos num processo de interação a partir de modos de dizer de retomada, de indagação e de síntese. Percebemos, pelo retorno do aluno 6, a eficácia da interação construída de forma colaborativa, a partir da troca dialógica entre os interlocutores. Entendemos que o diálogo colaborativo dos tutores, professores e alunos promove o crescimento, o amadurecimento e a aprendizagem nas salas de aula virtuais, conhecidas como fóruns educacionais a distância. Esse “tecer” de ideias funciona como um processo de constituição em que locutores e interlocutores trocam papéis e geram atitudes responsivas. No item 5.2.2, prosseguimos com a análise, detalhando a interação tutor- aluno no Fórum de Dúvidas.