• Nenhum resultado encontrado

5.1 Análise das Interações no Fórum Temático: Construindo conhecimento

5.1.1 Interação professor-aluno

O recorte analisado foi de uma interação ocorrida em setembro de 2010, no período 2010-2. As estratégias de interação categorizadas foram analisadas à luz da concepção de linguagem de Bakhtin, de seus conceitos de enunciação, palavra, dialogismo, interação e compreensão responsiva ativa, e, também, da concepção de EaD

presente nos estudos de Belloni (2003) e de Palloff & Pratt (2004). Os interlocutores discursivos, na interação analisada, são professor e aluno da disciplina MLP. No recorte transcrito a seguir, o aluno 41 dirige-se ao tutor 1 pedindo algumas explicações em relação ao tópico de estudo, Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional:

Re: Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional 70

por ALUNO 41 - sexta, 3 setembro 2010, 15:44

[Tutor(a)] 1, não é por falta de leitura , acho que é pela complexidade do assunto, pois quanto mais leio mas tenho dúvidas:

Gostaria que explicasse o que é exatamente uma palavra pertencer ao mesmo paradigma que outra. Seria por exemplo : Palavras que mantêm o mesmo radical quando flexionadas?

Ex: mandava, mandava belo, bela

e quanto a : beleza, belezinha mandado, mandamento

São exemplos de morfologia flexional ou derivacional?

Visto que elas também mantiveram o mesmo radical depois que formaram novas palavras As categorias gramaticais são exatamente o quê?

As desinências de modo ,número pessoa, tempo, em verbos ? Ex: cantarei, cantei , canto cantava, cantasse, cantou... De número- singular ou plural ?

Ex: bolo , bolos, bola , bolas De gênero- masculino e feminino Gato, gata, menino, menina

E quanto ao grau do adjetivo, os sufixos de aumentativo e diminutivo, são exemplos de morfologia derivacional ou flexional?

Ex: beleza, belezinha

Os sufixos são exemplos de categorias gramaticais?

Recorte de interação aluno-tutor/ professor, ocorrida em setembro de 2010

Ao consideramos a interação do aluno 41, categorizamos as seguintes estratégias de interação: Estratégia de interação de propostas e/ ou pedidos de ajuda e/ou

esclarecimentos; e estratégia de interação de questionamentos, indagações e/ ou problematizações acerca do conteúdo trabalhado na disciplina. O aluno 41, no recorte

analisado, dirige-se ao tutor a distância da disciplina (T1) solicitando ajuda. Ele pede explicações sobre “o que é exatamente uma palavra pertencer ao mesmo paradigma

que outra”. O aluno 41 lança, também, a seguinte indagação: “E quanto à beleza, belezinha, mandado, mandamento? São exemplos de morfologia flexional ou derivacional? As categorias gramaticais são exatamente o que?”. Posteriormente, o

mesmo aluno lança a questão: “Os sufixos são exemplos de categorias gramaticais? A análise deste recorte revela que, nas diversas esferas da atividade humana, os

interlocutores da enunciação71 ocupam diferentes posições. Tais posições são peculiares

ao contexto de situação e de produção do enunciado.

No caso do gênero Fórum Educacional, o qual se configura como um gênero secundário da esfera da educação, e que surge nas condições de um convívio cultural organizado, seus interlocutores desempenham um papel específico e particular na intermediação múltipla. O aluno, dentro dessa nova modalidade de educação, entretanto, apresenta um diferencial na interação: a ele é dado um papel principal, o de construtor de conhecimento. Ele se configura como protagonista de uma construção colaborativa do saber, a partir do monitoramento e da mediação do professor e do tutor. No recorte transcrito, o aluno 41 utiliza-se da estratégia de interação centrada em pedido de esclarecimentos e se dirige ao mediador da interação, colocando-se disponível para essa construção. Para isso, ele não apenas pede esclarecimentos, mas, também, problematiza, coloca alguns questionamentos, frutos de sua leitura anterior e resultados de sua reflexão e compreensão: “E quanto à beleza, belezinha, mandado, mandamento? São

exemplos de morfologia flexional ou derivacional?”. As estratégias de interação, dessa

forma, se sobrepõem e se confundem: o aluno, na construção coletiva de conhecimento, pede esclarecimento. Ao mesmo tempo, entretanto, ele questiona e suscita questões, o que lhe coloca como detentor de um papel de destaque na construção de conhecimento coletivo. Nesse sentido, os interlocutores da enunciação ocupam diferentes posições, posições essas peculiares ao contexto de situação, de produção e de circulação do enunciado.

No recorte a seguir, o professor, a partir de uma compreensão responsiva ativa, interage com o aluno 41 e lhe dá um feedback em relação às questões por ele levantadas.

71 A natureza da enunciação deve ser entendida enquanto um produto de interação social e situa-se no meio social que envolve o indivíduo.

Recorte de interação professor-aluno ocorrida em setembro de 2010

Verificamos o embate acadêmico de um locutor (aluno 41) diante de um interlocutor (professor 1) a partir da interação verbal e tendo em vista um propósito comunicativo bem definido, a construção de conhecimento. A língua, constituída da interação verbal, é realizada pela enunciação ou pelas enunciações. É importante observar, nesse sentido, que o fórum temático tem sempre uma temática fixa, única, proposta pelo professor e/ou tutor, e tendo por base o programa trabalhado na disciplina/ curso. Dessa forma, ele se constitui como um espaço em que se aborda e se discute um conjunto restrito de temas, a partir de enunciados concretos, irrepetíveis e únicos. Na interação acima transcrita, entre os interlocutores professor e aluno, o professor, ao dar o feedback ao aluno, retoma o tema em destaque e utiliza-se das seguintes estratégias de interação:

Estratégia de interação centrada em colaboração (relativa ao conteúdo trabalhado na disciplina): o professor, enquanto participante legítimo do fórum educacional se propõe a ajudar, e coloca-se como um dos protagonistas da cena da enunciação: “Vamos por

parte”. Nesse instante, o interlocutor professor é o “dono” da palavra, mesmo que por

72 Interação número 160, apresentada no apêndice. Re: Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional72 por PROFESSOR 1 - quarta, 8 setembro 2010, 21:15

ALUNO 41,

Vamos por parte:

1º) Não é a palavra que é aleatória e sim o processo de derivação.

A derivação é considerada um processo facultativo, de caráter aleatório, porque não se impõe como obrigação para o falante.

Veja, eu posso dizer: “Comprei um carrão”, ou simplesmente “Comprei um carro”. Usar o substantivo no grau aumentativo depende de meu propósito comunicativo. Se eu quero, por exemplo, chamar a atenção para o que estou dizendo, eu faço uso do substantivo no grau aumentativo. Mas esse uso não é obrigatório.Diferentemente do que ocorre na flexão, que é um processo que se impõe como obrigação.

Observe a frase: As alunas são estudiosas. O uso do verbo na terceira pessoa do plural não depende da minha

vontade, mas é obrigatório, uma vez que é uma regra estabelecida.” Por regra, o verbo concorda com o sujeito em

número e pessoa. Já o adjetivo (estudiosas) concorda, por regra, com o substantivo. Usar o adjetivo flexionado em gênero e número não é uma opção do falante.

2º) Na estrutura das palavras, identificamos elementos mórficos denominados de prefixos e sufixos. Não usamos a terminologia morfemas derivacionais específicos, ou sufixos específicos. O que há são sufixos derivacionais formadores de:

a) substantivos: casamento, beleza, facilidade; b) adjetivos: gostoso, maternal, admirável; c) verbos, como amanhecer, cortejar, civilizar; d) advérbios: facilmente

3º) A derivação é uma operação morfológica em que se faz uso de prefixos e de sufixos derivacionais. Como vimos, o uso desses elementos não é obrigatório, como ocorre com os morfemas flexionais.

Colocamos um texto de apoio sobre morfologia flexional e morfologia derivacional, a leitura desse texto é indispensável para que você compreenda bem o assunto.

Boa leitura. Um abraço,

um dado momento. Ao fazer uso da estratégia de colaboração no que se relaciona à orientação sobre o conteúdo, ele inicia os esclarecimentos: “Veja, eu posso dizer:

“Comprei um carrão”, ou simplesmente “Comprei um carro”. Usar o substantivo no grau aumentativo depende de meu propósito comunicativo. Se eu quero, por exemplo, chamar a atenção para o que estou dizendo, eu faço uso do substantivo no grau aumentativo. Mas esse uso não é obrigatório. Diferentemente do que ocorre na flexão, que é um processo que se impõe como obrigação”. O interlocutor professor, ao fazer

uso da palavra, a partir de uma competência legítima, colabora com o conteúdo trabalhado na disciplina e dá os esclarecimentos solicitados pelo aluno. Tais esclarecimentos são dirigidos não apenas ao aluno 41, para o qual ele se reporta no início da interação, mas também à totalidade da audiência social, aos demais participantes discursivos, que podem, cada um a seu tempo (no que se relaciona à compreensão responsiva ativa), retomar a interação e continuar o “tecer” dialógico, tanto através da “reflexão interior”, como através do “tecer” que se dá com o “outro”, ou com os “outros”, que compõem o ambiente do fórum educacional.

Estratégia de recondução/ redirecionamento: o professor continua se prontificando a colaborar com o esclarecimento da dúvida do aluno, dando direcionamentos a serem seguidos: “Colocamos um texto de apoio sobre morfologia flexional e morfologia

derivacional, a leitura desse texto é indispensável para que você compreenda bem o assunto. Boa leitura”. Observamos, no discurso do professor, um convite à leitura e à

construção a partir dos direcionamentos oferecidos; o professor 1 não dá respostas prontas, definitivas e/ou acabadas, mas chama o aluno a tecer, conjuntamente, o conhecimento acadêmico. Esse tipo de interação é bem presente e visível no discurso dos interlocutores professores, nos fóruns educacionais da Educação a Distância. É a partir do modo de dizer que implica recondução e redirecionamento que a aprendizagem é construída e que novos caminhos são traçados.

Estratégia de interação centrada em retomada: o professor recorre muitas vezes à estratégia de retomada para resgatar as leituras, as vozes enunciativas dos interlocutores que compõem o fórum, o conhecimento prévio inerente a cada interlocutor, e o conhecimento que o aluno traz dentro de si, tanto ao longo das leituras solicitadas na disciplina como a partir do discurso de outrem. Podemos observar esse movimento espiralado de retomada pelo recorte transcrito: “A derivação é uma operação

morfológica em que se faz uso de prefixos e de sufixos derivacionais. Como vimos, o uso desses elementos não é obrigatório, como ocorre com os morfemas flexionais”.

Cada interlocutor registra a sua contribuição a partir de uma proposição anteriormente levantada. Estão presentes, nesse sentido, as vozes sociais e acadêmicas participantes da costura coletiva e do tecer discursivo. Cada interlocutor resgata e reconstrói, de alguma forma, os registros anteriores, criando um ambiente de interação em que a palavra que eu enuncio está sempre entrelaçada à palavra que a antecede (a palavra do outro) e às vozes que a constituem: os interlocutores vivem, assim, no universo das palavras do outro/ dos outros, reagindo às suas palavras e às contra-palavras, assimilando-as ou não, a partir de um processo de retomada do eterno inacabado e incompleto, conforme os princípios bakhtinianos de Linguagem. Essa interação é bem visível e presente na interação nos fóruns educacionais analisados, e é parte integrante da pedagogia usada no trabalho com os conteúdos dos fóruns educacionais. Acreditamos que os movimentos de retomada sejam importantes na organização composicional dos fóruns educacionais pelo fato de que as interações postadas não obedecem à cronologia de suas postagens. Em virtude disso, os movimentos de retomada são necessários para que os interlocutores estejam sempre situados em relação ao desenvolvimento e andamento da discussão como um todo.

Verificamos, no que se relaciona às estratégias de interação entre professor e aluno, que o interlocutor professor participa das interações de modo a colaborar com o aluno no esclarecimento de dúvidas relativas ao conteúdo tratado no Fórum Temático e conduzi-lo/ reconduzi-lo a passos que promovam a sua maior autonomia. No que se relaciona ao interlocutor aluno, este se utiliza, em grande parte, da estratégia de interação centrada, tanto em pedido de esclarecimento, quanto em indagações e questionamentos, o que é comum na relação entre os interlocutores professor e aluno. Verificamos, também, que o uso de tais estratégias na estrutura composicional do fórum educacional promove o movimento de alternância de papeis discursivos, onde o interlocutor “ouvinte” se torna falante e o interlocutor “falante” se torna ouvinte, num tecer constante de ideias a partir das trocas de papéis e de dizeres.

Paralelamente, observamos que o Ambiente Virtual de Aprendizagem do MOODLE, por ser baseado em uma filosofia educacional e em uma estrutura pedagógica de construcionismo social, elegendo o discurso colaborativo como um meio de intercâmbio, construção e reconstrução de diferentes saberes, apresenta-se em

consonância com a concepção de linguagem que tem foco na interação. 73No item

5.1.2, a atenção é centrada na análise da interação entre os interlocutores tutor-aluno.