• Nenhum resultado encontrado

Interpretação das situações de ensino de acordo com o modelo

Capítulo 4. Entrevistas com professores de design de tipos

4.2 Análise dos dados: relatos dos professores

4.2.3 Interpretação das situações de ensino de acordo com o modelo

Após a análise das entrevistas, foi possível delinear o que seria o sistema de atividades de cada uma das situações de ensino abordadas nas entrevistas. Esses sistemas foram traduzidos graficamente utilizando o modelo de Engeström (1989), e podem ser vistos nas páginas seguintes (figuras 27 a 31).

67

Figura 28. Sistema de Atividades da disciplina Tipografia 1, ministrada pelo prof. Damião Santana.

68

Figura 30. Sistema de Atividades da disciplina Tipografia Básica, ministrada pelo prof. Leonardo Buggy.

Figura 31. Sistema de Atividades da disciplina Memória Gráfica Pernambucana, ministrada pela prof. Fátima

69 A principal similaridade entre os contextos diz respeito às ferramentas pedagógicas utilizadas, que foram elencadas nos diagramas em ordem de importância. Em todas as situações de ensino descritas, a realização de exercícios práticos de design tipográfico ocupa a posição mais importante ao longo do período. O caráter desses exercícios, entretanto, varia bastante, conforme foi discutido anteriormente. O uso de apresentações digitais de slides também é recorrente nos momentos de exposição de conteúdo, e os livros sobre design de tipos são apenas sugeridos aos alunos como fonte adicional de conhecimento.

O objetivo de cada situação de ensino é largamente influenciado pelos fatores sociais (comunidade e regras sociais), tais como carga horária e obrigatoriedade da disciplina no currículo do curso, caráter do curso em que está inserida (bacharelado ou tecnológico) e até pela história pessoal dos professores, como já discutimos anteriormente. Apesar de terem sido descritos contextos bastante diversos, o resultado material obtido ao final do período letivo é sempre um conjunto de faces ou tipografias digitais, desenvolvidas pelos alunos.

Conforme os diagramas demonstram, nem todos os professores consultados possuem experiência prática de design de tipografias digitais. Dos cinco entrevistados, apenas Buggy chegou a projetar uma tipografia de texto, e nem Barbosa nem Aragão criaram fontes para uso comercial. Entretanto, a falta de experiência prática não parece exercer influência negativa sobre os resultados. A professora Aragão, cujo interesse por tipografia gravita mais em torno da teoria do que da prática, se mostrou bastante satisfeita com as tipografias projetadas nas duas edições de sua disciplina.

Um fenômeno evidenciado nos relatos sobre as duas disciplinas obrigatórias (Design de Tipos/IFPE e Tipografia 1/AESO, figuras 27 e 28) é a ocorrência de falso engajamento na atividade de design de tipos, pelo menos em parte das turmas, apesar dos esforços dos docentes para tornar a atividade mais estimulante. Enquanto o objetivo dos professores é ensinar os alunos a projetar tipografias digitais, o objetivo dos alunos nem sempre é o de aprender design de tipos. Os que não entram na disciplina genuinamente interessados pelo tema, e não adquirem esse interesse por meio das aulas e atividades realizadas, têm como objetivo apenas a obtenção das notas necessárias para aprovação e cumprimento dos créditos. Embora este fenômeno também ocorra com alunos das disciplinas eletivas, o falso engajamento é menos comum nessas situações.

Barbosa relata que, na edição mais recente de sua disciplina, cerca de 50% da turma não aparentava estar motivada, e o desinteresse se refletiu negativamente nos resultados obtidos. No caso da disciplina de Santana, em que os projetos tipográficos eram realizados em equipe, a ocorrência mais comum era uma divisão desigual da carga de trabalho entre os membros do grupo.

É importante salientar que nenhum dos professores entrevistados possui a pretensão de formar designers de tipos profissionais e completos em suas experiências de ensino, que não duram mais do que um período letivo. É unânime a opinião de que a função das disciplinas de design de tipos dentro de cursos de graduação é a de fornecer as

70

ferramentas e o conhecimento iniciais para a prática do design de tipos, e caso algum aluno decida investir na carreira de typedesigner após a disciplina, o aprofundamento nos estudos e na prática depende exclusivamente de cada um.

Barbosa ressalta também que a maior parte das habilidades obtidas pelos alunos em sua disciplina, que podem ser extrapoladas para todas as outras disciplinas abordadas nesta pesquisa – a capacidade de identificação visual e semântica de fontes, a criatividade no uso de referências para um projeto, a desenvoltura na manipulação de softwares de desenho e edição de imagens – não servem exclusivamente para o desenho de tipografias, mas podem ser usadas amplamente na profissão de designer em sua acepção mais geral.

71

Capítulo 5. Estudo de uma situação

de ensino

5.1 O objeto de estudo

Para entender em profundidade o funcionamento de uma situação de ensino, decidimos observar longitudinalmente a disciplina Design de Tipos, do curso de graduação em Design da UFPE, campus Recife. A história da disciplina e sua situação dentro do curso de design serão apresentadas em detalhes mais adiante (seção 5.4.2, p. 79).

A escolha desta disciplina específica teve como principal motivação o fato de que o curso de design da UFPE é referência em Pernambuco, e é também a instituição em que a maioria dos professores de tipografia da geração atual obteve sua formação acadêmica. Entre os professores entrevistados na primeira parte da pesquisa de campo, apenas um não cursou a graduação na UFPE, e todos possuem pelo menos um nível de formação superior nesta universidade.

A exposição desta geração de professores de design de tipos às mesmas referências teóricas, metodologias e práticas pedagógicas, dentro do ambiente da universidade, ocasionou a ocorrência de várias similaridades entre os contextos de ensino, já descritas no capítulo anterior. Acreditamos então que a observação em profundidade da disciplina Design de Tipos seja um bom ponto de partida para a compreensão desta prática a nível estadual.

Outros fatores também influenciaram a escolha da situação de ensino a ser observada, como a facilidade de comunicação com a professora e a estagiária docente, e a liberdade de circulação dentro do departamento de design da UFPE. A relação anterior da

72

aluna e depois como estagiária docente – possibilitou, adicionalmente, uma comparação entre a dinâmica do sistema de atividades nas três edições.

Com o objetivo de conhecer o modelo de análise da Teoria da Atividade na prática, e também testar a eficácia dos instrumentos de coleta de dados, foi realizada uma observação em caráter de piloto. O contexto guardava algumas semelhanças com a disciplina que seria analisada posteriormente, dentro das possibilidades disponíveis no momento.

Documentos relacionados